Paulistices, cultura geral e outras curiosidades

"Vambora, vambora, olha a hora..."


Por Edison Veiga

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Não deve haver paulistano que não conheça a musiquinha do vídeo acima. Pelo menos o refrão. Na edição impressa de hoje do Estadão, o intrépido repórter Paulo Saldaña, meu colega aqui do caderno Metrópole, escreve sobre o paradeiro de Billy Blanco, o autor da canção. Reproduzo a seguir o seu texto (e, mais abaixo, disponibilizo a letra completa da sinfonia):

Compositor de tema de SP está internado"Vambora, vambora, olha a hora, vambora", diz o refrão que mais define o paulistano. O tema de São Paulo está na Sinfonia Paulistana, composição de 1974 do paraense Billy Blanco. Aos 86 anos, estava em plena atividade até dois meses atrás, quando sofreu um derrame e permanece internado no Hospital Panamericano, no Rio. "Billy não é de São Paulo, mas ama a cidade. Qualquer paulistano que não conheça sua obra, não teve a formação completa como paulistano", afirma o filho Paulo Aranha. Segundo ele, o pai estava com os dias cheios. "Continuava compondo e trabalhando." Tinha acabado de compor uma música para o Pelé. William Blanco Trindade nasceu em Belém em 1924 e chegou a São Paulo nos anos 1940. Estudou Arquitetura no Mackenzie, mas logo se envolveu com a música. Mudou para o Rio no fim da mesma década e começou a conviver com figuras como Radamés Gnattali e Tom Jobim. A Sinfonia Paulistana, com 15 músicas, levou 10 anos para ser composta. A mais famosa das canções diz que "a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição" e se mistura com o dia a dia da metrópole: desde 1974, faz parte da vinheta do Jornal da Manhã, da rádio Jovem Pan. O quadro clínico de Billy é estável. Como sequela, porém, ele não consegue se comunicar com palavras.

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Confira as letras das 15 canções que integram a sinfonia:

Paulistana - Retrato de uma CidadeSinfonia de Billy Blanco Arranjos originais de Chiquinho de Moraes

LOUVAÇÃO DE ANCHIETA Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos No mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos E o homem entre mar e céu, tem canção por todo lado Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia Qualquer rota que ele siga, se não canta, ele assobia

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BARTIRA Cabelo cor da noite, pele de alvorada Cacique entregou ao branco, a filha amada Raízes de Brasil, chegaram até aqui Abençoado o colo dessa mãe antiga Por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo Da canção Tupi Na tez de uma paulista em cheiro de floresta A cor de jambo é a índia, que ninguém contesta De uma altivez que o Império nunca vira É a tradição, é a raça, é a nossa origem As coisas da história de São Paulo exigem A honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira

MONÇÕES Era tudo, era o nada rio acima Que o paulista no peito ia vencer Pra fazer mais Brasil do que existia Já o tempo era pouco pra perder Reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal Caçador da esmeralda perseguida Foi fazendo a unidade nacional Bandeiras, monções Já se dava por glória ao que se ia Porque mal se sabia se voltava E a benção levada já servia De unção para quem por lá ficava Nas monções quem seguia, na verdade Já partia cheirando à santidade Quem não via esmeralda ou não morria Povoava cidade mais cidade Bandeiras, monções

TEMA DE SÃO PAULO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

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CAPITAL DO TEMPO Bastante italiano, sírio e japonês Além do africano, índio e português Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça Na capital do tempo, tempo é ouro e hora Quem vive de espera, é juros de mora Não tem mais-mais nem menos, ou é sim ou não No máximo se espera pela condução Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim E vi o mundo aumentando, o Brasil passando por mim Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão Fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão

O DINHEIRO Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona Que leva a gente ao fundo Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor Que faz a paz e a guerra, que trouxe a Lua pra Terra No mais aumenta a barriga do comendador Dinheiro, juras e juros, que ergue todos os muros Pra ele próprio depois, derrubar, derrubar É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte Também só compra o que pode comprar

COISAS DA NOITE* Casais entram no Catedral O fino pra curtir um som Do Beco ao TelecoTeco, amanhecem no TomTom A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer Assim existe esperança, no amanhecer São coisas da noite, anúncios conhecidos Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for Do La Licorne ou Ceasa, de alguma coisa do amor Tem sempre mais um, que vem pela calçada Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá Olha o Sol, olha o Sol, cadê o Sol? Onde o Sol? Sumiu, sumiu, sumiu.

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O CÉU DE SÃO PAULO Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação Nublado, cansado, um Sol de rotina Se bem ilumina, nem dão atenção É que o bandeirante não perde o seu tempo Olhando pro alto, o Sol verdadeiro está no asfalto Na terra, no homem e na produção A cor diferente do céu de São Paulo não é da garôa É véu de fumaça, que passa, que voa Na guerra paulista das mil chaminés São Paulo, que amanhece trabalhando

AMANHECENDO Começou um novo dia, já volta quem ia, O tempo é de chegar Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro Melhor, vou faturar Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer Vai o paulista na sua, para o que der e vier A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição Porque tudo se repete, são sete E às sete explode em multidão: Portas de aço levantam, todos parecem correr Não correm de, correm para Para São Paulo crescer Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora

O TEMPO E A HORA Que o tempo não espera, a vida é derradeira Quem é vai ser, já era de qualquer maneira O mundo é do "eu quero" Quem me der é triste, tristeza basta a guerra E o adeus no amor Você onde é que estava quando o tempo andou? Na terra que não pára, só você parou Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora Que vale é a versão, pouco interessa o fato Porque a sensação maior é a do boato Em coisa de um segundo, noite é madrugada Notícia ganha o mundo, e a gente não é nada Você onde é que estava quando o tempo andou? São Paulo nunca pára, só você, parou

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REFRÃO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

VIVA O CAMELÔ Na Praça do Patriarca, rua Direita, São Bento Na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá Lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira Pra esquimó curtir verão Papo firme é isso aí, desse dono da calçada Rei da comunicação Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza Que chegou da Argentina, examina, examina De brinde pra seu marido Nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido Tem Parker 73, compre uma e ganhe seis Nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor Leve a Lei do Inquilinato, mesmo não sendo inquilino Morar na lei é um barato, e ele prova à sua maneira Que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário Cursando numa avenida o vestibular da vida Para ser bom empresário

PRO ESPORTE Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras É ter o fino em futebol durante o ano Em tênis, remo, natação, nas domingueiras Bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano Com Ademir, com Rivelino no gramado Com rei Pelé, suas jogadas de veludo Não é de graça que São Paulo é chamado Melhor da América Latina em quase tudo Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição Lá por setembro o estudante nos ensina Aquele esporte pelo esporte que não cede E o meu Mackenzie, dá um show com a Medicina Na grande guerra que se chama MacMed Em campeonato mundial estamos nessa Com Éder Jofre e os Fittipaldi, é pra valer Só em São Paulo que é a terra do depressa A São Silvestre poderia acontecer Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição

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SÃO PAULO JOVEM São Paulo jovem, dos que promovem velocidade Nos seus cavalos, de roda e ferro, na sua forma de liberdade O peito agarra, a costa de aço Que deu garupa na Yamaha, no upa-upa Feito de abraço e muito amor São Paulo jovem, na mesma cela Vão ele e ela, por onde seja Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor

RUA AUGUSTA Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga Até da São João às vezes também dá O chá, o show, o chops, uísque, boa pinga E o molho das mulheres que transam por lá Tem loja, tem butique, tem pizzaria Boate, restaurante, até casa lotérica É rua que de nada mais precisaria Com todo aquele charme do Jardim América América! Rua Augusta E agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Rua Augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Bartira e João Ramalho nunca imaginaram Que a tanga e a miçanga vinham outra vez Agora nos diriam vendo que acertaram: Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês A moça quando passa ninguém vê mais nada Quando ela vai na dela, é pra machucar É a paulistana boa, despreocupada De short ou de pulôver**, bota pra quebrar, pra quebrar Rua augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá

GRANDE SÃO PAULO Na sinfonia, que é de todos os barulhos De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos Grande São Paulo, como eu gosto de você São Paulo, que amanhece trabalhando São Paulo que não pode amanhecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer.

* Catedral, Beco, TelecoTeco, TomTom, La Licorne: todas conhecidas casas noturnas de São Paulo nos anos 70. A Ceasa depois virou Ceagesp.

** No original era minissaia, mas na gravação alguém disse: "é lindo, mas São Paulo é muito frio". Então o Billy trocou por pulôver.

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Não deve haver paulistano que não conheça a musiquinha do vídeo acima. Pelo menos o refrão. Na edição impressa de hoje do Estadão, o intrépido repórter Paulo Saldaña, meu colega aqui do caderno Metrópole, escreve sobre o paradeiro de Billy Blanco, o autor da canção. Reproduzo a seguir o seu texto (e, mais abaixo, disponibilizo a letra completa da sinfonia):

Compositor de tema de SP está internado"Vambora, vambora, olha a hora, vambora", diz o refrão que mais define o paulistano. O tema de São Paulo está na Sinfonia Paulistana, composição de 1974 do paraense Billy Blanco. Aos 86 anos, estava em plena atividade até dois meses atrás, quando sofreu um derrame e permanece internado no Hospital Panamericano, no Rio. "Billy não é de São Paulo, mas ama a cidade. Qualquer paulistano que não conheça sua obra, não teve a formação completa como paulistano", afirma o filho Paulo Aranha. Segundo ele, o pai estava com os dias cheios. "Continuava compondo e trabalhando." Tinha acabado de compor uma música para o Pelé. William Blanco Trindade nasceu em Belém em 1924 e chegou a São Paulo nos anos 1940. Estudou Arquitetura no Mackenzie, mas logo se envolveu com a música. Mudou para o Rio no fim da mesma década e começou a conviver com figuras como Radamés Gnattali e Tom Jobim. A Sinfonia Paulistana, com 15 músicas, levou 10 anos para ser composta. A mais famosa das canções diz que "a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição" e se mistura com o dia a dia da metrópole: desde 1974, faz parte da vinheta do Jornal da Manhã, da rádio Jovem Pan. O quadro clínico de Billy é estável. Como sequela, porém, ele não consegue se comunicar com palavras.

Confira as letras das 15 canções que integram a sinfonia:

Paulistana - Retrato de uma CidadeSinfonia de Billy Blanco Arranjos originais de Chiquinho de Moraes

LOUVAÇÃO DE ANCHIETA Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos No mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos E o homem entre mar e céu, tem canção por todo lado Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia Qualquer rota que ele siga, se não canta, ele assobia

BARTIRA Cabelo cor da noite, pele de alvorada Cacique entregou ao branco, a filha amada Raízes de Brasil, chegaram até aqui Abençoado o colo dessa mãe antiga Por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo Da canção Tupi Na tez de uma paulista em cheiro de floresta A cor de jambo é a índia, que ninguém contesta De uma altivez que o Império nunca vira É a tradição, é a raça, é a nossa origem As coisas da história de São Paulo exigem A honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira

MONÇÕES Era tudo, era o nada rio acima Que o paulista no peito ia vencer Pra fazer mais Brasil do que existia Já o tempo era pouco pra perder Reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal Caçador da esmeralda perseguida Foi fazendo a unidade nacional Bandeiras, monções Já se dava por glória ao que se ia Porque mal se sabia se voltava E a benção levada já servia De unção para quem por lá ficava Nas monções quem seguia, na verdade Já partia cheirando à santidade Quem não via esmeralda ou não morria Povoava cidade mais cidade Bandeiras, monções

TEMA DE SÃO PAULO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

CAPITAL DO TEMPO Bastante italiano, sírio e japonês Além do africano, índio e português Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça Na capital do tempo, tempo é ouro e hora Quem vive de espera, é juros de mora Não tem mais-mais nem menos, ou é sim ou não No máximo se espera pela condução Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim E vi o mundo aumentando, o Brasil passando por mim Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão Fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão

O DINHEIRO Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona Que leva a gente ao fundo Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor Que faz a paz e a guerra, que trouxe a Lua pra Terra No mais aumenta a barriga do comendador Dinheiro, juras e juros, que ergue todos os muros Pra ele próprio depois, derrubar, derrubar É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte Também só compra o que pode comprar

COISAS DA NOITE* Casais entram no Catedral O fino pra curtir um som Do Beco ao TelecoTeco, amanhecem no TomTom A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer Assim existe esperança, no amanhecer São coisas da noite, anúncios conhecidos Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for Do La Licorne ou Ceasa, de alguma coisa do amor Tem sempre mais um, que vem pela calçada Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá Olha o Sol, olha o Sol, cadê o Sol? Onde o Sol? Sumiu, sumiu, sumiu.

O CÉU DE SÃO PAULO Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação Nublado, cansado, um Sol de rotina Se bem ilumina, nem dão atenção É que o bandeirante não perde o seu tempo Olhando pro alto, o Sol verdadeiro está no asfalto Na terra, no homem e na produção A cor diferente do céu de São Paulo não é da garôa É véu de fumaça, que passa, que voa Na guerra paulista das mil chaminés São Paulo, que amanhece trabalhando

AMANHECENDO Começou um novo dia, já volta quem ia, O tempo é de chegar Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro Melhor, vou faturar Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer Vai o paulista na sua, para o que der e vier A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição Porque tudo se repete, são sete E às sete explode em multidão: Portas de aço levantam, todos parecem correr Não correm de, correm para Para São Paulo crescer Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora

O TEMPO E A HORA Que o tempo não espera, a vida é derradeira Quem é vai ser, já era de qualquer maneira O mundo é do "eu quero" Quem me der é triste, tristeza basta a guerra E o adeus no amor Você onde é que estava quando o tempo andou? Na terra que não pára, só você parou Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora Que vale é a versão, pouco interessa o fato Porque a sensação maior é a do boato Em coisa de um segundo, noite é madrugada Notícia ganha o mundo, e a gente não é nada Você onde é que estava quando o tempo andou? São Paulo nunca pára, só você, parou

REFRÃO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

VIVA O CAMELÔ Na Praça do Patriarca, rua Direita, São Bento Na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá Lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira Pra esquimó curtir verão Papo firme é isso aí, desse dono da calçada Rei da comunicação Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza Que chegou da Argentina, examina, examina De brinde pra seu marido Nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido Tem Parker 73, compre uma e ganhe seis Nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor Leve a Lei do Inquilinato, mesmo não sendo inquilino Morar na lei é um barato, e ele prova à sua maneira Que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário Cursando numa avenida o vestibular da vida Para ser bom empresário

PRO ESPORTE Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras É ter o fino em futebol durante o ano Em tênis, remo, natação, nas domingueiras Bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano Com Ademir, com Rivelino no gramado Com rei Pelé, suas jogadas de veludo Não é de graça que São Paulo é chamado Melhor da América Latina em quase tudo Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição Lá por setembro o estudante nos ensina Aquele esporte pelo esporte que não cede E o meu Mackenzie, dá um show com a Medicina Na grande guerra que se chama MacMed Em campeonato mundial estamos nessa Com Éder Jofre e os Fittipaldi, é pra valer Só em São Paulo que é a terra do depressa A São Silvestre poderia acontecer Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição

SÃO PAULO JOVEM São Paulo jovem, dos que promovem velocidade Nos seus cavalos, de roda e ferro, na sua forma de liberdade O peito agarra, a costa de aço Que deu garupa na Yamaha, no upa-upa Feito de abraço e muito amor São Paulo jovem, na mesma cela Vão ele e ela, por onde seja Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor

RUA AUGUSTA Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga Até da São João às vezes também dá O chá, o show, o chops, uísque, boa pinga E o molho das mulheres que transam por lá Tem loja, tem butique, tem pizzaria Boate, restaurante, até casa lotérica É rua que de nada mais precisaria Com todo aquele charme do Jardim América América! Rua Augusta E agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Rua Augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Bartira e João Ramalho nunca imaginaram Que a tanga e a miçanga vinham outra vez Agora nos diriam vendo que acertaram: Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês A moça quando passa ninguém vê mais nada Quando ela vai na dela, é pra machucar É a paulistana boa, despreocupada De short ou de pulôver**, bota pra quebrar, pra quebrar Rua augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá

GRANDE SÃO PAULO Na sinfonia, que é de todos os barulhos De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos Grande São Paulo, como eu gosto de você São Paulo, que amanhece trabalhando São Paulo que não pode amanhecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer.

* Catedral, Beco, TelecoTeco, TomTom, La Licorne: todas conhecidas casas noturnas de São Paulo nos anos 70. A Ceasa depois virou Ceagesp.

** No original era minissaia, mas na gravação alguém disse: "é lindo, mas São Paulo é muito frio". Então o Billy trocou por pulôver.

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Não deve haver paulistano que não conheça a musiquinha do vídeo acima. Pelo menos o refrão. Na edição impressa de hoje do Estadão, o intrépido repórter Paulo Saldaña, meu colega aqui do caderno Metrópole, escreve sobre o paradeiro de Billy Blanco, o autor da canção. Reproduzo a seguir o seu texto (e, mais abaixo, disponibilizo a letra completa da sinfonia):

Compositor de tema de SP está internado"Vambora, vambora, olha a hora, vambora", diz o refrão que mais define o paulistano. O tema de São Paulo está na Sinfonia Paulistana, composição de 1974 do paraense Billy Blanco. Aos 86 anos, estava em plena atividade até dois meses atrás, quando sofreu um derrame e permanece internado no Hospital Panamericano, no Rio. "Billy não é de São Paulo, mas ama a cidade. Qualquer paulistano que não conheça sua obra, não teve a formação completa como paulistano", afirma o filho Paulo Aranha. Segundo ele, o pai estava com os dias cheios. "Continuava compondo e trabalhando." Tinha acabado de compor uma música para o Pelé. William Blanco Trindade nasceu em Belém em 1924 e chegou a São Paulo nos anos 1940. Estudou Arquitetura no Mackenzie, mas logo se envolveu com a música. Mudou para o Rio no fim da mesma década e começou a conviver com figuras como Radamés Gnattali e Tom Jobim. A Sinfonia Paulistana, com 15 músicas, levou 10 anos para ser composta. A mais famosa das canções diz que "a cidade não desperta, apenas acerta a sua posição" e se mistura com o dia a dia da metrópole: desde 1974, faz parte da vinheta do Jornal da Manhã, da rádio Jovem Pan. O quadro clínico de Billy é estável. Como sequela, porém, ele não consegue se comunicar com palavras.

Confira as letras das 15 canções que integram a sinfonia:

Paulistana - Retrato de uma CidadeSinfonia de Billy Blanco Arranjos originais de Chiquinho de Moraes

LOUVAÇÃO DE ANCHIETA Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos No mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos E o homem entre mar e céu, tem canção por todo lado Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia Qualquer rota que ele siga, se não canta, ele assobia

BARTIRA Cabelo cor da noite, pele de alvorada Cacique entregou ao branco, a filha amada Raízes de Brasil, chegaram até aqui Abençoado o colo dessa mãe antiga Por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo Da canção Tupi Na tez de uma paulista em cheiro de floresta A cor de jambo é a índia, que ninguém contesta De uma altivez que o Império nunca vira É a tradição, é a raça, é a nossa origem As coisas da história de São Paulo exigem A honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira

MONÇÕES Era tudo, era o nada rio acima Que o paulista no peito ia vencer Pra fazer mais Brasil do que existia Já o tempo era pouco pra perder Reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal Caçador da esmeralda perseguida Foi fazendo a unidade nacional Bandeiras, monções Já se dava por glória ao que se ia Porque mal se sabia se voltava E a benção levada já servia De unção para quem por lá ficava Nas monções quem seguia, na verdade Já partia cheirando à santidade Quem não via esmeralda ou não morria Povoava cidade mais cidade Bandeiras, monções

TEMA DE SÃO PAULO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

CAPITAL DO TEMPO Bastante italiano, sírio e japonês Além do africano, índio e português Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça Na capital do tempo, tempo é ouro e hora Quem vive de espera, é juros de mora Não tem mais-mais nem menos, ou é sim ou não No máximo se espera pela condução Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim E vi o mundo aumentando, o Brasil passando por mim Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão Fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão

O DINHEIRO Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona Que leva a gente ao fundo Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor Que faz a paz e a guerra, que trouxe a Lua pra Terra No mais aumenta a barriga do comendador Dinheiro, juras e juros, que ergue todos os muros Pra ele próprio depois, derrubar, derrubar É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte Também só compra o que pode comprar

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O CÉU DE SÃO PAULO Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação Nublado, cansado, um Sol de rotina Se bem ilumina, nem dão atenção É que o bandeirante não perde o seu tempo Olhando pro alto, o Sol verdadeiro está no asfalto Na terra, no homem e na produção A cor diferente do céu de São Paulo não é da garôa É véu de fumaça, que passa, que voa Na guerra paulista das mil chaminés São Paulo, que amanhece trabalhando

AMANHECENDO Começou um novo dia, já volta quem ia, O tempo é de chegar Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro Melhor, vou faturar Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer Vai o paulista na sua, para o que der e vier A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição Porque tudo se repete, são sete E às sete explode em multidão: Portas de aço levantam, todos parecem correr Não correm de, correm para Para São Paulo crescer Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora

O TEMPO E A HORA Que o tempo não espera, a vida é derradeira Quem é vai ser, já era de qualquer maneira O mundo é do "eu quero" Quem me der é triste, tristeza basta a guerra E o adeus no amor Você onde é que estava quando o tempo andou? Na terra que não pára, só você parou Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora, Vambora, vambora, olha a hora Vambora, vambora Vambora Que vale é a versão, pouco interessa o fato Porque a sensação maior é a do boato Em coisa de um segundo, noite é madrugada Notícia ganha o mundo, e a gente não é nada Você onde é que estava quando o tempo andou? São Paulo nunca pára, só você, parou

REFRÃO São Paulo que amanheceu trabalhando São Paulo, que não sabe adormecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer São Paulo, todo frio quando amanhece Correndo no seu tanto o que fazer Na reza do paulista, trabalho é o Padre-Nosso É a prece de quem luta e quer vencer

VIVA O CAMELÔ Na Praça do Patriarca, rua Direita, São Bento Na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá Lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira Pra esquimó curtir verão Papo firme é isso aí, desse dono da calçada Rei da comunicação Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza Que chegou da Argentina, examina, examina De brinde pra seu marido Nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido Tem Parker 73, compre uma e ganhe seis Nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor Leve a Lei do Inquilinato, mesmo não sendo inquilino Morar na lei é um barato, e ele prova à sua maneira Que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário Cursando numa avenida o vestibular da vida Para ser bom empresário

PRO ESPORTE Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras É ter o fino em futebol durante o ano Em tênis, remo, natação, nas domingueiras Bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano Com Ademir, com Rivelino no gramado Com rei Pelé, suas jogadas de veludo Não é de graça que São Paulo é chamado Melhor da América Latina em quase tudo Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição Lá por setembro o estudante nos ensina Aquele esporte pelo esporte que não cede E o meu Mackenzie, dá um show com a Medicina Na grande guerra que se chama MacMed Em campeonato mundial estamos nessa Com Éder Jofre e os Fittipaldi, é pra valer Só em São Paulo que é a terra do depressa A São Silvestre poderia acontecer Pró-esporte, pró-esporte é a solução Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição

SÃO PAULO JOVEM São Paulo jovem, dos que promovem velocidade Nos seus cavalos, de roda e ferro, na sua forma de liberdade O peito agarra, a costa de aço Que deu garupa na Yamaha, no upa-upa Feito de abraço e muito amor São Paulo jovem, na mesma cela Vão ele e ela, por onde seja Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor

RUA AUGUSTA Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga Até da São João às vezes também dá O chá, o show, o chops, uísque, boa pinga E o molho das mulheres que transam por lá Tem loja, tem butique, tem pizzaria Boate, restaurante, até casa lotérica É rua que de nada mais precisaria Com todo aquele charme do Jardim América América! Rua Augusta E agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Rua Augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá Bartira e João Ramalho nunca imaginaram Que a tanga e a miçanga vinham outra vez Agora nos diriam vendo que acertaram: Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês A moça quando passa ninguém vê mais nada Quando ela vai na dela, é pra machucar É a paulistana boa, despreocupada De short ou de pulôver**, bota pra quebrar, pra quebrar Rua augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá

GRANDE SÃO PAULO Na sinfonia, que é de todos os barulhos De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos Grande São Paulo, como eu gosto de você São Paulo, que amanhece trabalhando São Paulo que não pode amanhecer Porque durante a noite, paulista vai pensando Nas coisas que de dia vai fazer.

* Catedral, Beco, TelecoTeco, TomTom, La Licorne: todas conhecidas casas noturnas de São Paulo nos anos 70. A Ceasa depois virou Ceagesp.

** No original era minissaia, mas na gravação alguém disse: "é lindo, mas São Paulo é muito frio". Então o Billy trocou por pulôver.

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