Entenda como os blocos LGBTI+ impulsionaram o ‘boom’ do carnaval de rua em SP


Megablocos paulistanos até ‘exportam’ desfiles para o Rio e Salvador; agremiações trazem novo público à folia

Por Priscila Mengue

Não é incomum que blocos de outros Estados desfilem no carnaval de rua de São Paulo, mas o oposto é praticamente um feito inédito. O Agrada Gregos e o Minhoqueens, no entanto, até ‘exportam’ desfiles para Salvador e do Rio, o que expõe a força e influência das agremiações paulistanas alinhadas com a comunidade LGBTI+, que influenciaram no “boom” da folia na cidade como um todo.

Para organizações e pesquisadores do setor, blocos como Agrada Gregos, Minhoqueens, Meu Santo É Pop, Sereianos, Siga Bem Caminhoneira e outras dezenas conseguiram atrair um público que não era tão próximo do carnaval de rua. Ainda tornaram São Paulo talvez o polo com mais opções para a população LGBTI+ no carnaval, atraindo foliões de outras cidades e Estados, como ocorre na Parada do Orgulho, além de viabilizar megadesfiles de artistas drag queens, como Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Fundadora do Agrada Gregos, Nathalia Takenobu comenta que o bloco se tornou uma referência nacional, mas que inicialmente foi preciso criar estratégias para atrair essa população para o carnaval. “No primeiro ano (2016), o discurso era: ‘se você acha que não gosta de carnaval, está errado: você não gosta de marchinha’”, comenta. Por isso, inicialmente, os desfiles tiveram uma proposta mais próxima de balada, com DJ. Conforme conquistou os foliões, adotou uma banda ao vivo.

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Desfile do Minhoqueens arrastou multidão de foliões pelas ruas do centro de São Paulo; próxima parada é no Rio no dia 25 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sucesso do Agrada Gregos (que reúne centenas de milhares de foliões) em parte vem por causa desse pioneirismo, quando tinha poucos blocos”, afirma Nathalia. Como outras agremiações e pesquisadores ouvidos pelo Estadão, ela avalia que os blocos de outras cidades em geral não reafirmam essa identidade de abraçar o público LGBTI+ e ser “heterofriendly”. “Nosso público nos conhece, sabe o que vai tocar.”

Ela diz que o bloco estende essa visão na contratação de funcionários, na busca por maior inclusão, e ao fechar patrocínios. “A gente já negou patrocinador que tinha se envolvido em casos de homofobia.”

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Nos desfiles desses blocos, parte dos foliões comparece com acessórios, roupas e bandeiras com cores de bandeiras LGBTI+. O clima lembra uma uma Parada do Orgulho LGBTI+ fora de época.

Fundador de outro megabloco LGBTI+, o Minhoqueens, Fernando Magrin vê uma afinidade com a própria proposta da festividade. “O carnaval tem essa coisa de se liberar, de se soltar”, comenta ele, que interpreta a drag queen Mama Darlin e realiza ainda o Bloco da Mama, de menor porte, “para brincar”. “O nosso trio perece um trio da Parada (do Orgulho), com as cores, mas estamos ali não só para a nossa comunidade, mas para qualquer pessoa.”

Bloco das Gloriosas, da drag queen Gloria Groove, lotou a Avenida Brigadeiro Faria Lima, São Paulo; desfile teve de terminar antes por causa da superlotação Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Ex-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) e fundador do Bloco dos Invertidos, Fernando Quaresma vê semelhanças entre os dois eventos. “São formas de ter visibilidade, mostrar que estamos em todos os lugares e em todos os momentos. É uma forma de expressar a nossa luta, a nossa resistência.”

Para ele, o crescimento do conservadorismo nos últimos anos renovou a necessidade da população LGBTI+ não se deixar invisibilizar. “Saímos de um período em que vimos que todos os avanços que tivemos poderiam ir ralo abaixo”, afirma.

Já o Siga Bem Caminhoneira é liderado por uma bateria majoritariamente de mulheres lésbicas e bissexuais, embora também seja aberta a homens transgênero e pessoas não binárias (que não se percebem em um gênero específico). “A gente achava o carnaval um espaço muito masculino”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “O carnaval é muito machista e tem muito assédio.”

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Para ela, as mulheres unidas no desfile conseguem construir um ambiente mais amigável e seguro. Além disso, há um lado simbólico: “são pessoas invisíveis para a sociedade.”

Outro bloco liderado pelo público LGBTI+ é o Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e também atrai um grande volume de foliões cisgênero (que se identificam com o gênero biológico) e heterossexuais. Em 2020, duas cofundadoras da agremiação se casaram durante o desfile. “O nosso bloco é onde as pessoas se sentem muito livres, independente da identidade gênero”, diz Raphaela Barcalla, também uma das fundadoras.

Desfile do Tarado Ni Você em 2020 teve até casamento em público Foto: Felipe Rau/Estadão
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Blocos LGBTI+ surgiram principalmente no centro

Pesquisador de carnaval e doutorando em Sociologia na USP, Vinicius Ribeiro Teixeira, vê uma relação da multiplicidade de blocos LGBTI+ com o fortalecimento dessa comunidade na cidade, com a Parada como ápice. Um indício é a territorialidade desses cortejos, majoritariamente lançados no centro, no entorno do Largo da Arouche, da Rua Augusta e outros endereços frequentados por esse público, embora hoje parte dos blocos tenha mudado o trajeto.

“Quando o carnaval de rua se torna uma realidade em São Paulo, as LGBTQIA+ logo se apropriaram da folia e foram para as ruas. Como historicamente a Parada sempre foi o momento de visibilidade e reivindicação da população LGBTQIA+ e, de certa forma, a grande festa nas ruas de São Paulo, quando o carnaval de rua floresce aqui, essas pessoas estão mais do que preparadas para colocarem seus corpos nas ruas com muita irreverência, ousadia e alegria”, declara.

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Também pesquisador de carnaval e professor na UFBA, Guilherme Varella cita também a diversidade de blocos dentro desse perfil. Há agremiações vinculadas a diferentes estilos musicais, como eletrônica e pop, portes (do megabloco ao pequeno) e manifestações culturais, como drag queens.

Para ele, tanto o carnaval quanto a Parada existem sobre os mesmos pilares. “A manifestação cultural, o protesto, a liberdade de expressão e a ocupação pública da rua são expressões carnavalescas, no sentido dos valores fundantes do carnaval, de transgressão, de exposição do corpo como elemento político, de uso da cidade de uma forma inabitual.”

Não é incomum que blocos de outros Estados desfilem no carnaval de rua de São Paulo, mas o oposto é praticamente um feito inédito. O Agrada Gregos e o Minhoqueens, no entanto, até ‘exportam’ desfiles para Salvador e do Rio, o que expõe a força e influência das agremiações paulistanas alinhadas com a comunidade LGBTI+, que influenciaram no “boom” da folia na cidade como um todo.

Para organizações e pesquisadores do setor, blocos como Agrada Gregos, Minhoqueens, Meu Santo É Pop, Sereianos, Siga Bem Caminhoneira e outras dezenas conseguiram atrair um público que não era tão próximo do carnaval de rua. Ainda tornaram São Paulo talvez o polo com mais opções para a população LGBTI+ no carnaval, atraindo foliões de outras cidades e Estados, como ocorre na Parada do Orgulho, além de viabilizar megadesfiles de artistas drag queens, como Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Fundadora do Agrada Gregos, Nathalia Takenobu comenta que o bloco se tornou uma referência nacional, mas que inicialmente foi preciso criar estratégias para atrair essa população para o carnaval. “No primeiro ano (2016), o discurso era: ‘se você acha que não gosta de carnaval, está errado: você não gosta de marchinha’”, comenta. Por isso, inicialmente, os desfiles tiveram uma proposta mais próxima de balada, com DJ. Conforme conquistou os foliões, adotou uma banda ao vivo.

Desfile do Minhoqueens arrastou multidão de foliões pelas ruas do centro de São Paulo; próxima parada é no Rio no dia 25 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sucesso do Agrada Gregos (que reúne centenas de milhares de foliões) em parte vem por causa desse pioneirismo, quando tinha poucos blocos”, afirma Nathalia. Como outras agremiações e pesquisadores ouvidos pelo Estadão, ela avalia que os blocos de outras cidades em geral não reafirmam essa identidade de abraçar o público LGBTI+ e ser “heterofriendly”. “Nosso público nos conhece, sabe o que vai tocar.”

Ela diz que o bloco estende essa visão na contratação de funcionários, na busca por maior inclusão, e ao fechar patrocínios. “A gente já negou patrocinador que tinha se envolvido em casos de homofobia.”

Nos desfiles desses blocos, parte dos foliões comparece com acessórios, roupas e bandeiras com cores de bandeiras LGBTI+. O clima lembra uma uma Parada do Orgulho LGBTI+ fora de época.

Fundador de outro megabloco LGBTI+, o Minhoqueens, Fernando Magrin vê uma afinidade com a própria proposta da festividade. “O carnaval tem essa coisa de se liberar, de se soltar”, comenta ele, que interpreta a drag queen Mama Darlin e realiza ainda o Bloco da Mama, de menor porte, “para brincar”. “O nosso trio perece um trio da Parada (do Orgulho), com as cores, mas estamos ali não só para a nossa comunidade, mas para qualquer pessoa.”

Bloco das Gloriosas, da drag queen Gloria Groove, lotou a Avenida Brigadeiro Faria Lima, São Paulo; desfile teve de terminar antes por causa da superlotação Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ex-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) e fundador do Bloco dos Invertidos, Fernando Quaresma vê semelhanças entre os dois eventos. “São formas de ter visibilidade, mostrar que estamos em todos os lugares e em todos os momentos. É uma forma de expressar a nossa luta, a nossa resistência.”

Para ele, o crescimento do conservadorismo nos últimos anos renovou a necessidade da população LGBTI+ não se deixar invisibilizar. “Saímos de um período em que vimos que todos os avanços que tivemos poderiam ir ralo abaixo”, afirma.

Já o Siga Bem Caminhoneira é liderado por uma bateria majoritariamente de mulheres lésbicas e bissexuais, embora também seja aberta a homens transgênero e pessoas não binárias (que não se percebem em um gênero específico). “A gente achava o carnaval um espaço muito masculino”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “O carnaval é muito machista e tem muito assédio.”

Para ela, as mulheres unidas no desfile conseguem construir um ambiente mais amigável e seguro. Além disso, há um lado simbólico: “são pessoas invisíveis para a sociedade.”

Outro bloco liderado pelo público LGBTI+ é o Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e também atrai um grande volume de foliões cisgênero (que se identificam com o gênero biológico) e heterossexuais. Em 2020, duas cofundadoras da agremiação se casaram durante o desfile. “O nosso bloco é onde as pessoas se sentem muito livres, independente da identidade gênero”, diz Raphaela Barcalla, também uma das fundadoras.

Desfile do Tarado Ni Você em 2020 teve até casamento em público Foto: Felipe Rau/Estadão

Blocos LGBTI+ surgiram principalmente no centro

Pesquisador de carnaval e doutorando em Sociologia na USP, Vinicius Ribeiro Teixeira, vê uma relação da multiplicidade de blocos LGBTI+ com o fortalecimento dessa comunidade na cidade, com a Parada como ápice. Um indício é a territorialidade desses cortejos, majoritariamente lançados no centro, no entorno do Largo da Arouche, da Rua Augusta e outros endereços frequentados por esse público, embora hoje parte dos blocos tenha mudado o trajeto.

“Quando o carnaval de rua se torna uma realidade em São Paulo, as LGBTQIA+ logo se apropriaram da folia e foram para as ruas. Como historicamente a Parada sempre foi o momento de visibilidade e reivindicação da população LGBTQIA+ e, de certa forma, a grande festa nas ruas de São Paulo, quando o carnaval de rua floresce aqui, essas pessoas estão mais do que preparadas para colocarem seus corpos nas ruas com muita irreverência, ousadia e alegria”, declara.

Também pesquisador de carnaval e professor na UFBA, Guilherme Varella cita também a diversidade de blocos dentro desse perfil. Há agremiações vinculadas a diferentes estilos musicais, como eletrônica e pop, portes (do megabloco ao pequeno) e manifestações culturais, como drag queens.

Para ele, tanto o carnaval quanto a Parada existem sobre os mesmos pilares. “A manifestação cultural, o protesto, a liberdade de expressão e a ocupação pública da rua são expressões carnavalescas, no sentido dos valores fundantes do carnaval, de transgressão, de exposição do corpo como elemento político, de uso da cidade de uma forma inabitual.”

Não é incomum que blocos de outros Estados desfilem no carnaval de rua de São Paulo, mas o oposto é praticamente um feito inédito. O Agrada Gregos e o Minhoqueens, no entanto, até ‘exportam’ desfiles para Salvador e do Rio, o que expõe a força e influência das agremiações paulistanas alinhadas com a comunidade LGBTI+, que influenciaram no “boom” da folia na cidade como um todo.

Para organizações e pesquisadores do setor, blocos como Agrada Gregos, Minhoqueens, Meu Santo É Pop, Sereianos, Siga Bem Caminhoneira e outras dezenas conseguiram atrair um público que não era tão próximo do carnaval de rua. Ainda tornaram São Paulo talvez o polo com mais opções para a população LGBTI+ no carnaval, atraindo foliões de outras cidades e Estados, como ocorre na Parada do Orgulho, além de viabilizar megadesfiles de artistas drag queens, como Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Fundadora do Agrada Gregos, Nathalia Takenobu comenta que o bloco se tornou uma referência nacional, mas que inicialmente foi preciso criar estratégias para atrair essa população para o carnaval. “No primeiro ano (2016), o discurso era: ‘se você acha que não gosta de carnaval, está errado: você não gosta de marchinha’”, comenta. Por isso, inicialmente, os desfiles tiveram uma proposta mais próxima de balada, com DJ. Conforme conquistou os foliões, adotou uma banda ao vivo.

Desfile do Minhoqueens arrastou multidão de foliões pelas ruas do centro de São Paulo; próxima parada é no Rio no dia 25 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sucesso do Agrada Gregos (que reúne centenas de milhares de foliões) em parte vem por causa desse pioneirismo, quando tinha poucos blocos”, afirma Nathalia. Como outras agremiações e pesquisadores ouvidos pelo Estadão, ela avalia que os blocos de outras cidades em geral não reafirmam essa identidade de abraçar o público LGBTI+ e ser “heterofriendly”. “Nosso público nos conhece, sabe o que vai tocar.”

Ela diz que o bloco estende essa visão na contratação de funcionários, na busca por maior inclusão, e ao fechar patrocínios. “A gente já negou patrocinador que tinha se envolvido em casos de homofobia.”

Nos desfiles desses blocos, parte dos foliões comparece com acessórios, roupas e bandeiras com cores de bandeiras LGBTI+. O clima lembra uma uma Parada do Orgulho LGBTI+ fora de época.

Fundador de outro megabloco LGBTI+, o Minhoqueens, Fernando Magrin vê uma afinidade com a própria proposta da festividade. “O carnaval tem essa coisa de se liberar, de se soltar”, comenta ele, que interpreta a drag queen Mama Darlin e realiza ainda o Bloco da Mama, de menor porte, “para brincar”. “O nosso trio perece um trio da Parada (do Orgulho), com as cores, mas estamos ali não só para a nossa comunidade, mas para qualquer pessoa.”

Bloco das Gloriosas, da drag queen Gloria Groove, lotou a Avenida Brigadeiro Faria Lima, São Paulo; desfile teve de terminar antes por causa da superlotação Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ex-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) e fundador do Bloco dos Invertidos, Fernando Quaresma vê semelhanças entre os dois eventos. “São formas de ter visibilidade, mostrar que estamos em todos os lugares e em todos os momentos. É uma forma de expressar a nossa luta, a nossa resistência.”

Para ele, o crescimento do conservadorismo nos últimos anos renovou a necessidade da população LGBTI+ não se deixar invisibilizar. “Saímos de um período em que vimos que todos os avanços que tivemos poderiam ir ralo abaixo”, afirma.

Já o Siga Bem Caminhoneira é liderado por uma bateria majoritariamente de mulheres lésbicas e bissexuais, embora também seja aberta a homens transgênero e pessoas não binárias (que não se percebem em um gênero específico). “A gente achava o carnaval um espaço muito masculino”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “O carnaval é muito machista e tem muito assédio.”

Para ela, as mulheres unidas no desfile conseguem construir um ambiente mais amigável e seguro. Além disso, há um lado simbólico: “são pessoas invisíveis para a sociedade.”

Outro bloco liderado pelo público LGBTI+ é o Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e também atrai um grande volume de foliões cisgênero (que se identificam com o gênero biológico) e heterossexuais. Em 2020, duas cofundadoras da agremiação se casaram durante o desfile. “O nosso bloco é onde as pessoas se sentem muito livres, independente da identidade gênero”, diz Raphaela Barcalla, também uma das fundadoras.

Desfile do Tarado Ni Você em 2020 teve até casamento em público Foto: Felipe Rau/Estadão

Blocos LGBTI+ surgiram principalmente no centro

Pesquisador de carnaval e doutorando em Sociologia na USP, Vinicius Ribeiro Teixeira, vê uma relação da multiplicidade de blocos LGBTI+ com o fortalecimento dessa comunidade na cidade, com a Parada como ápice. Um indício é a territorialidade desses cortejos, majoritariamente lançados no centro, no entorno do Largo da Arouche, da Rua Augusta e outros endereços frequentados por esse público, embora hoje parte dos blocos tenha mudado o trajeto.

“Quando o carnaval de rua se torna uma realidade em São Paulo, as LGBTQIA+ logo se apropriaram da folia e foram para as ruas. Como historicamente a Parada sempre foi o momento de visibilidade e reivindicação da população LGBTQIA+ e, de certa forma, a grande festa nas ruas de São Paulo, quando o carnaval de rua floresce aqui, essas pessoas estão mais do que preparadas para colocarem seus corpos nas ruas com muita irreverência, ousadia e alegria”, declara.

Também pesquisador de carnaval e professor na UFBA, Guilherme Varella cita também a diversidade de blocos dentro desse perfil. Há agremiações vinculadas a diferentes estilos musicais, como eletrônica e pop, portes (do megabloco ao pequeno) e manifestações culturais, como drag queens.

Para ele, tanto o carnaval quanto a Parada existem sobre os mesmos pilares. “A manifestação cultural, o protesto, a liberdade de expressão e a ocupação pública da rua são expressões carnavalescas, no sentido dos valores fundantes do carnaval, de transgressão, de exposição do corpo como elemento político, de uso da cidade de uma forma inabitual.”

Não é incomum que blocos de outros Estados desfilem no carnaval de rua de São Paulo, mas o oposto é praticamente um feito inédito. O Agrada Gregos e o Minhoqueens, no entanto, até ‘exportam’ desfiles para Salvador e do Rio, o que expõe a força e influência das agremiações paulistanas alinhadas com a comunidade LGBTI+, que influenciaram no “boom” da folia na cidade como um todo.

Para organizações e pesquisadores do setor, blocos como Agrada Gregos, Minhoqueens, Meu Santo É Pop, Sereianos, Siga Bem Caminhoneira e outras dezenas conseguiram atrair um público que não era tão próximo do carnaval de rua. Ainda tornaram São Paulo talvez o polo com mais opções para a população LGBTI+ no carnaval, atraindo foliões de outras cidades e Estados, como ocorre na Parada do Orgulho, além de viabilizar megadesfiles de artistas drag queens, como Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Fundadora do Agrada Gregos, Nathalia Takenobu comenta que o bloco se tornou uma referência nacional, mas que inicialmente foi preciso criar estratégias para atrair essa população para o carnaval. “No primeiro ano (2016), o discurso era: ‘se você acha que não gosta de carnaval, está errado: você não gosta de marchinha’”, comenta. Por isso, inicialmente, os desfiles tiveram uma proposta mais próxima de balada, com DJ. Conforme conquistou os foliões, adotou uma banda ao vivo.

Desfile do Minhoqueens arrastou multidão de foliões pelas ruas do centro de São Paulo; próxima parada é no Rio no dia 25 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sucesso do Agrada Gregos (que reúne centenas de milhares de foliões) em parte vem por causa desse pioneirismo, quando tinha poucos blocos”, afirma Nathalia. Como outras agremiações e pesquisadores ouvidos pelo Estadão, ela avalia que os blocos de outras cidades em geral não reafirmam essa identidade de abraçar o público LGBTI+ e ser “heterofriendly”. “Nosso público nos conhece, sabe o que vai tocar.”

Ela diz que o bloco estende essa visão na contratação de funcionários, na busca por maior inclusão, e ao fechar patrocínios. “A gente já negou patrocinador que tinha se envolvido em casos de homofobia.”

Nos desfiles desses blocos, parte dos foliões comparece com acessórios, roupas e bandeiras com cores de bandeiras LGBTI+. O clima lembra uma uma Parada do Orgulho LGBTI+ fora de época.

Fundador de outro megabloco LGBTI+, o Minhoqueens, Fernando Magrin vê uma afinidade com a própria proposta da festividade. “O carnaval tem essa coisa de se liberar, de se soltar”, comenta ele, que interpreta a drag queen Mama Darlin e realiza ainda o Bloco da Mama, de menor porte, “para brincar”. “O nosso trio perece um trio da Parada (do Orgulho), com as cores, mas estamos ali não só para a nossa comunidade, mas para qualquer pessoa.”

Bloco das Gloriosas, da drag queen Gloria Groove, lotou a Avenida Brigadeiro Faria Lima, São Paulo; desfile teve de terminar antes por causa da superlotação Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ex-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) e fundador do Bloco dos Invertidos, Fernando Quaresma vê semelhanças entre os dois eventos. “São formas de ter visibilidade, mostrar que estamos em todos os lugares e em todos os momentos. É uma forma de expressar a nossa luta, a nossa resistência.”

Para ele, o crescimento do conservadorismo nos últimos anos renovou a necessidade da população LGBTI+ não se deixar invisibilizar. “Saímos de um período em que vimos que todos os avanços que tivemos poderiam ir ralo abaixo”, afirma.

Já o Siga Bem Caminhoneira é liderado por uma bateria majoritariamente de mulheres lésbicas e bissexuais, embora também seja aberta a homens transgênero e pessoas não binárias (que não se percebem em um gênero específico). “A gente achava o carnaval um espaço muito masculino”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “O carnaval é muito machista e tem muito assédio.”

Para ela, as mulheres unidas no desfile conseguem construir um ambiente mais amigável e seguro. Além disso, há um lado simbólico: “são pessoas invisíveis para a sociedade.”

Outro bloco liderado pelo público LGBTI+ é o Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e também atrai um grande volume de foliões cisgênero (que se identificam com o gênero biológico) e heterossexuais. Em 2020, duas cofundadoras da agremiação se casaram durante o desfile. “O nosso bloco é onde as pessoas se sentem muito livres, independente da identidade gênero”, diz Raphaela Barcalla, também uma das fundadoras.

Desfile do Tarado Ni Você em 2020 teve até casamento em público Foto: Felipe Rau/Estadão

Blocos LGBTI+ surgiram principalmente no centro

Pesquisador de carnaval e doutorando em Sociologia na USP, Vinicius Ribeiro Teixeira, vê uma relação da multiplicidade de blocos LGBTI+ com o fortalecimento dessa comunidade na cidade, com a Parada como ápice. Um indício é a territorialidade desses cortejos, majoritariamente lançados no centro, no entorno do Largo da Arouche, da Rua Augusta e outros endereços frequentados por esse público, embora hoje parte dos blocos tenha mudado o trajeto.

“Quando o carnaval de rua se torna uma realidade em São Paulo, as LGBTQIA+ logo se apropriaram da folia e foram para as ruas. Como historicamente a Parada sempre foi o momento de visibilidade e reivindicação da população LGBTQIA+ e, de certa forma, a grande festa nas ruas de São Paulo, quando o carnaval de rua floresce aqui, essas pessoas estão mais do que preparadas para colocarem seus corpos nas ruas com muita irreverência, ousadia e alegria”, declara.

Também pesquisador de carnaval e professor na UFBA, Guilherme Varella cita também a diversidade de blocos dentro desse perfil. Há agremiações vinculadas a diferentes estilos musicais, como eletrônica e pop, portes (do megabloco ao pequeno) e manifestações culturais, como drag queens.

Para ele, tanto o carnaval quanto a Parada existem sobre os mesmos pilares. “A manifestação cultural, o protesto, a liberdade de expressão e a ocupação pública da rua são expressões carnavalescas, no sentido dos valores fundantes do carnaval, de transgressão, de exposição do corpo como elemento político, de uso da cidade de uma forma inabitual.”

Não é incomum que blocos de outros Estados desfilem no carnaval de rua de São Paulo, mas o oposto é praticamente um feito inédito. O Agrada Gregos e o Minhoqueens, no entanto, até ‘exportam’ desfiles para Salvador e do Rio, o que expõe a força e influência das agremiações paulistanas alinhadas com a comunidade LGBTI+, que influenciaram no “boom” da folia na cidade como um todo.

Para organizações e pesquisadores do setor, blocos como Agrada Gregos, Minhoqueens, Meu Santo É Pop, Sereianos, Siga Bem Caminhoneira e outras dezenas conseguiram atrair um público que não era tão próximo do carnaval de rua. Ainda tornaram São Paulo talvez o polo com mais opções para a população LGBTI+ no carnaval, atraindo foliões de outras cidades e Estados, como ocorre na Parada do Orgulho, além de viabilizar megadesfiles de artistas drag queens, como Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Fundadora do Agrada Gregos, Nathalia Takenobu comenta que o bloco se tornou uma referência nacional, mas que inicialmente foi preciso criar estratégias para atrair essa população para o carnaval. “No primeiro ano (2016), o discurso era: ‘se você acha que não gosta de carnaval, está errado: você não gosta de marchinha’”, comenta. Por isso, inicialmente, os desfiles tiveram uma proposta mais próxima de balada, com DJ. Conforme conquistou os foliões, adotou uma banda ao vivo.

Desfile do Minhoqueens arrastou multidão de foliões pelas ruas do centro de São Paulo; próxima parada é no Rio no dia 25 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sucesso do Agrada Gregos (que reúne centenas de milhares de foliões) em parte vem por causa desse pioneirismo, quando tinha poucos blocos”, afirma Nathalia. Como outras agremiações e pesquisadores ouvidos pelo Estadão, ela avalia que os blocos de outras cidades em geral não reafirmam essa identidade de abraçar o público LGBTI+ e ser “heterofriendly”. “Nosso público nos conhece, sabe o que vai tocar.”

Ela diz que o bloco estende essa visão na contratação de funcionários, na busca por maior inclusão, e ao fechar patrocínios. “A gente já negou patrocinador que tinha se envolvido em casos de homofobia.”

Nos desfiles desses blocos, parte dos foliões comparece com acessórios, roupas e bandeiras com cores de bandeiras LGBTI+. O clima lembra uma uma Parada do Orgulho LGBTI+ fora de época.

Fundador de outro megabloco LGBTI+, o Minhoqueens, Fernando Magrin vê uma afinidade com a própria proposta da festividade. “O carnaval tem essa coisa de se liberar, de se soltar”, comenta ele, que interpreta a drag queen Mama Darlin e realiza ainda o Bloco da Mama, de menor porte, “para brincar”. “O nosso trio perece um trio da Parada (do Orgulho), com as cores, mas estamos ali não só para a nossa comunidade, mas para qualquer pessoa.”

Bloco das Gloriosas, da drag queen Gloria Groove, lotou a Avenida Brigadeiro Faria Lima, São Paulo; desfile teve de terminar antes por causa da superlotação Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ex-presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP) e fundador do Bloco dos Invertidos, Fernando Quaresma vê semelhanças entre os dois eventos. “São formas de ter visibilidade, mostrar que estamos em todos os lugares e em todos os momentos. É uma forma de expressar a nossa luta, a nossa resistência.”

Para ele, o crescimento do conservadorismo nos últimos anos renovou a necessidade da população LGBTI+ não se deixar invisibilizar. “Saímos de um período em que vimos que todos os avanços que tivemos poderiam ir ralo abaixo”, afirma.

Já o Siga Bem Caminhoneira é liderado por uma bateria majoritariamente de mulheres lésbicas e bissexuais, embora também seja aberta a homens transgênero e pessoas não binárias (que não se percebem em um gênero específico). “A gente achava o carnaval um espaço muito masculino”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “O carnaval é muito machista e tem muito assédio.”

Para ela, as mulheres unidas no desfile conseguem construir um ambiente mais amigável e seguro. Além disso, há um lado simbólico: “são pessoas invisíveis para a sociedade.”

Outro bloco liderado pelo público LGBTI+ é o Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e também atrai um grande volume de foliões cisgênero (que se identificam com o gênero biológico) e heterossexuais. Em 2020, duas cofundadoras da agremiação se casaram durante o desfile. “O nosso bloco é onde as pessoas se sentem muito livres, independente da identidade gênero”, diz Raphaela Barcalla, também uma das fundadoras.

Desfile do Tarado Ni Você em 2020 teve até casamento em público Foto: Felipe Rau/Estadão

Blocos LGBTI+ surgiram principalmente no centro

Pesquisador de carnaval e doutorando em Sociologia na USP, Vinicius Ribeiro Teixeira, vê uma relação da multiplicidade de blocos LGBTI+ com o fortalecimento dessa comunidade na cidade, com a Parada como ápice. Um indício é a territorialidade desses cortejos, majoritariamente lançados no centro, no entorno do Largo da Arouche, da Rua Augusta e outros endereços frequentados por esse público, embora hoje parte dos blocos tenha mudado o trajeto.

“Quando o carnaval de rua se torna uma realidade em São Paulo, as LGBTQIA+ logo se apropriaram da folia e foram para as ruas. Como historicamente a Parada sempre foi o momento de visibilidade e reivindicação da população LGBTQIA+ e, de certa forma, a grande festa nas ruas de São Paulo, quando o carnaval de rua floresce aqui, essas pessoas estão mais do que preparadas para colocarem seus corpos nas ruas com muita irreverência, ousadia e alegria”, declara.

Também pesquisador de carnaval e professor na UFBA, Guilherme Varella cita também a diversidade de blocos dentro desse perfil. Há agremiações vinculadas a diferentes estilos musicais, como eletrônica e pop, portes (do megabloco ao pequeno) e manifestações culturais, como drag queens.

Para ele, tanto o carnaval quanto a Parada existem sobre os mesmos pilares. “A manifestação cultural, o protesto, a liberdade de expressão e a ocupação pública da rua são expressões carnavalescas, no sentido dos valores fundantes do carnaval, de transgressão, de exposição do corpo como elemento político, de uso da cidade de uma forma inabitual.”

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