SÃO PAULO - "Minha primeira atitude foi cobrir a minha filha com todo o amor que eu tenho." Foi desta forma que a mãe da estudante de 12 anos, estuprada por outros três adolescentes dentro do banheiro de uma escola estadual no Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, reagiu aos pedidos de desculpa da menina ao dizer para a família que havia sido vítima de um ataque sexual que durou 50 minutos.
"Ela só me pedia desculpas e se sentia muito culpada pelo que tinha acontecido com ela. Nós da família estamos sofrendo muito, mas quem fecha os olhos e se lembra de tudo o que acontece é ela, por isso vamos continuar dando todo o nosso amor para que ela volte ser contagiada por sentimentos bons", disse a mãe da vítima.
A aluna da 7ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Leonor Quadros foi estuprada na tarde do último dia 12. Nos dias seguintes ao ataque, um dos adolescentes que participou da agressão sexual, ainda procurou a menina no Facebook.
"Ele mandou uma mensagem dizendo que não tinha sido ele. Minha filha ainda teve o sangue frio de responder, falando que olhou nos olhos dele e sabia muito bem o que o menino tinha feito."
Filha de família evangélica, a estudante fazia aulas de break na igreja que a família frequenta, além de participar de um grupo de dança de rua. Caseira, a menina gostava de ouvir música, assistir a programas de culinária e tinha o sonho de ser psicóloga.
"Meu medo é que tenham tirado o brilho da minha filha. Ela é apenas uma criança linda, sem maldade nenhuma e que agora passa o dia na cama sentindo os efeitos colaterais dos remédios que precisa tomar. O corpo dela ainda é muito frágil para tanto medicamento", contou a mãe. Por um mês, a menina, que até então era virgem, terá que ingerir coquetéis para não engravidar ou pegar doenças sexualmente transmissíveis.
Após ser estuprada, a vítima saiu do banheiro masculino por um portão que dá acesso ao pátio e procurou um inspetor. Segundo a mãe, o funcionário achou que a menina estivesse cabulando aula e a fez aguardar no local. "Nessa hora, ela desmaiou e só então a escola teve noção do que tinha acontecido." A jovem foi colocada dentro de um ambulância do Serviço de Atendimento Médico Ambulatorial (Samu).
Primeiro, foi levada ao Hospital Municipal Doutor Arthur Saboya, no Jabaquara, também na zona sul, para só depois ser encaminhada para o Hospital Pérola Byington, na região central, especializado no atendimento às vítimas de violência sexual. O caso foi registrado no 78º Distrito Policial (Jardins), o mais próximo da unidade de saúde e, em seguida, encaminhado para o 97º DP (Imigrantes), que é responsável pela investigação.
A Secretaria de Estado da Educação disse que abriu uma "apuração preliminar para averiguar a conduta da direção da escola". Para a mãe, a unidade de ensino foi omissa. "Eles tinham que ter acreditado nela na hora e chamado a polícia. Se o estupro não tivesse saído na imprensa, o caso não estaria sendo esclarecido com a mesma velocidade dos último dias. Bastava alguém ligar para o 190."
Vulnerável. Apenas um dos adolescentes conhecia a vítima. Segundo a mãe, a filha disse que foi ele quem liderou o ataque e incentivou outros dois jovens a participarem do estupro. "Eles tiraram toda a roupa dela. Nessa quase uma hora que ela ficou no banheiro, em nenhum momento ela desmaiou. Infelizmente ela se lembra de tudo o que aconteceu." Os adolescente faziam uma espécie de revezamento. Enquanto um segurava a porta, outros dois estupravam a menina.
No dia seguinte, a estudante ainda teve de voltar à escola. O diretor da unidade mostrou fotos dos meninos. A vítima reconheceu na hora, teve uma crise de choro e foi levada para casa imediatamente pela mãe e por um tio. Nesta terça-feira, 19, a jovem foi ao 97º DP prestar depoimento pela primeira vez. No local, ela fez o reconhecimento fotográfico de um dos adolescentes. Os policiais precisaram deixar os dois em ambientes separados, já que o menor chegou à delegacia enquanto a estudante ainda estava no local.
Nesta quarta-feira, 20, a Polícia Civil deve encaminhar um inquérito para a Vara da Infância e Juventude, órgão responsável por pedir a internação dos adolescentes na Fundação Casa. O laudo médico comprovou que a estudante ficou com ferimentos na região da vagina. Pouco antes do caso ser divulgado, um dos menores se mudou com a família e até agora não foi localizado.