SÃO PAULO - Durante a última reunião da comissão de graduação do Curso de Ciências Moleculares da USP, em 15 de dezembro passado, a fala de uma professora gerou repercussão e até a publicação de uma carta de repúdio dos alunos. Segundo os estudantes, quando se discutia o trancamento de matrícula de um aluno que pedia afastamento por problemas psíquicos, a professora afirmou que era preciso "limpar o curso" de pessoas com transtornos psiquiátricos. A docente nega e diz que sua história profissional e pessoal foi sempre em busca da inclusão. Na carta, alunos representantes de três turmas afirmam que as declarações da professora Regina Markus, biomédica e doutora em Farmacologia, foram "'psicofóbicas', ofensivas e discriminatórias". Segundo os representantes de classe, que estavam na reunião, além de falar em limpar o curso, a professora ainda teria dito que "o aluno que não consegue lidar com a pressão não está apto para a carreira acadêmica (...) é melhor para os alunos e para o curso (que o aluno com problemas seja desligado)". Ainda de acordo com os estudantes, a professora chegou a afirmar que "não ia querer entrar em um ônibus guiado por um motorista cego, porque ele não está apto para essa tarefa". Para os estudantes, "a professora feriu a dignidade e o decoro dos alunos, em especial daqueles que passam ou passaram por tratamento psiquiátrico, dentre os quais há um considerável número de estudantes". Regina afirma que nunca fez menção à "limpeza de alunos que sofrem com transtornos". "Isso não faz parte da minha história de vida, que tem sido uma história de inclusão." Ela afirma que teria defendido que se autorizasse o trancamento do aluno na ocasião e, depois que todos os membros já haviam votado pelo trancamento, fez um comentário geral. "A segunda frase foi desviada (do contexto). Acho que para carreira acadêmica, você precisa ser capaz de sofrer um tipo de pressão. Na vida acadêmica, todos vão ser submetidos a avaliações, mas de forma alguma a ideia é retirar da carreira", diz. "Se a gente quer ter sucesso, o sucesso depende de a gente estar habilitado a sofrer aquele tipo de pressão. Se a pessoa não tiver capacidade de fazer isso, ela vai estar no lugar errado, na hora errada, e isso causa uma disfunção." A professora afirma não se lembrar de ter feito a comparação com o motorista, mas que poderia ter dito. "Eu não tenho dúvida de que na realidade, contextualmente, as pessoas têm de estar aptas para aquilo que fazem. Acho que essa é uma situação em que falta uma parte da aptidão. Para guiar um ônibus eu preciso enxergar", diz ela. "Acho que quando se fala que o fulano que vem da Biologia está tendo problema na Matemática, tem alguns que suplantam e outros, não. Nem todos precisam ter essa múltipla linguagem. E todos têm suas próprias habilidades."Carta. O coordenador Antonio Figueiredo, que estava na reunião, disse que não se lembra de menções à "limpeza do curso". "Eu não notei isso, entendi o contexto de que pessoas que não estão adaptadas estão sofrendo e a gente tem o dever de orientá-las." Ele afirmou que o caso da carta será discutido na próxima reunião, marcada para o dia 18 de julho.