Expulso da Polícia Militar no fim dos anos 1980 por envolvimento na execução de dois jovens em um lixão, quando era sargento das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), Roberto Lopes Martinez ainda tem grande prestígio com os colegas de corporação. No desfile de 7 Setembro, ele participou em um carro histórico e tirou fotos dentro do quartel da Rota, o grupo de elite da Polícia Militar. As fotos e filmagens estão na página dele no Facebook.
O sargento Martinez, como era conhecido na Rota, foi processado por envolvimento no caso Rota 66, no qual três jovens foram executados por policiais nos Jardins, na zona sul, em abril de 1975, após tentar furtar um toca-fitas de um veículo. A investigação da época inocentou Martinez e seus colegas de viatura. Mais tarde, o então secretário da Segurança, Erasmo Dias, revelou que os policiais modificaram a cena do crime e simularam um confronto.
Em 1986, segundo a Justiça Militar, o então sargento se envolveu na execução de dois jovens. Acabou condenado e expulso da PM. Nas fotos que tirou no desfile de 7 de Setembro, no Anhembi, na zona norte, Martinez aparece usando um uniforme de “Rotariano”, com direito à boina preta.
Em um dos textos, ele escreve “desfilei na viatura histórica , a ‘pickup’ precursora do policiamento de Rota”. Ele explica que, em 1969, a PM criou a Ronda Bancária por causa do aumento dos assaltos a bancos na cidade. E nos anos 1970, com a chegada da famosa Veraneio, o nome foi mudado para Rota.
A viatura em questão é uma réplica do veículo original e pertence ao deputado estadual Coronel Telhada (PSDB). O parlamentar e outros oficiais desfilaram na viatura com Martinez. Antes do desfile, o ex-sargento tirou fotos com o veículo dentro do Batalhão da Rota, no centro, com colegas reformados e da ativa. Há também outras imagens no local com o símbolo da Rota nos fundos.
Para o coronel José Vicente da Silva, que é especialista em segurança pública, o fato mostra “um gravíssimo ato de indisciplina”. “O fato deve ser encarado como um insulto de quem autorizou isso.” Segundo ele, prestigiar ex-policiais expulsos da corporação por envolvimento em casos de execuções sumárias é incompatível com os valores da Polícia Militar. “Isso mostra um sinal ruim, de complacência com os crimes cometidos por esse ex-sargento”, afirmou.
Procurado pelo Estado, Martinez não respondeu. A reportagem também procurou o deputado estadual Coronel Telhada, que também não respondeu os contatos. A Secretaria da Segurança Pública informou que a organização do evento não é de responsabilidade da PM e Martinez desfilou em um veículo particular, que não pertence à corporação e foi usado no desfile cívico. A pasta não respondeu sobre as fotos feitas no quartel da Rota.