Em 2021, quando a pandemia já havia se firmado como realidade no Brasil, o empresário Daniel Pedroso, de 36 anos, notou que a quantidade de terrenos comprados e casas sendo construídas crescia no condomínio residencial onde vive há quatro anos, em Cotia, na Grande São Paulo. “Acho que as pessoas se incomodavam com o barulho e a falta de privacidade nos apartamentos, e queriam um lugar mais confortável”, afirma ele.
Mesmo não sendo especialista na área, a percepção de Pedroso tem embasamento. Uma pesquisa feita pela consultoria Brain, que ouviu 1,2 mil pessoas que compraram imóveis entre agosto de 2021 e agosto de 2022, revelou que 15% delas optaram por adquirir um terreno ou casa em condomínio fechado.
“Os loteamentos, principalmente os fechados, oferecem duas coisas que as classes média alta e alta buscam –segurança e qualidade de vida”, observa Fábio Tadeu Araújo, diretor da Brain. Ele lembra que, em São Paulo e na maior parte das capitais, falta espaço para empreendimentos do tipo e, por isso, eles são lançados em seus arredores. Para Araújo, vantagens associadas aos apartamentos, como praticidade, foram afetadas por questões urbanas como violência e trânsito – o que fez com que muitas pessoas reconsiderassem seu estilo de vida.
Fuga
Até o ano passado, o economista Helio Kwon, de 36 anos, morava num apartamento em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, com a mulher e os dois filhos, de 2 e 5 anos. A decisão de se mudar para uma casa em Alphaville, em Santana do Parnaíba, veio no começo de 2021, quando o Brasil enfrentou uma nova onda de casos de covid-19.
“Com a mudança da cultura de estar sempre no escritório, pudemos pensar em outro estilo de vida e não nos limitar a pensar em morar perto do trabalho”, diz Kwon. “Aliado a isso, estava difícil nós dois trabalhando no apartamento, com duas crianças pequenas. Precisávamos pensar em algo melhor para eles.”
Mas, antes de se mudar de forma definitiva, o casal fez um teste. “Quando foi decretado o segundo lockdown mais severo, entre 2020 e 2021, resolvemos nos mudar para um (imóvel alugado via) Airbnb e passar esse período de isolamento em uma casa fora de São Paulo. Depois que a locação terminou, no sábado seguinte, já estávamos procurando uma casa”, lembra ele.
Embora gostasse da vida paulistana e da praticidade que tinha ao fazer as coisas a pé, o economista não pensa em voltar para São Paulo. “As crianças podem ter mais espaço (no condomínio), e dá sensação maior de segurança do que se tivéssemos a casa voltada diretamente para a rua.”
Um puxa o outro
Para a publicitária Miriam Germano, seu apartamento de 63 m², na Vila Mariana, zona sul paulistana, ficou pequeno após a chegada do primeiro filho. A família, que ainda acolhe dois gatos e conta com a ajuda de uma babá nos cuidados com a criança, precisava de um espaço maior. E foi o que ela encontrou em Jundiaí, onde mora desde abril.
“Com um bebê de 6 meses e prestes a voltar da licença-maternidade, alugamos nosso apartamento na Vila Mariana e, com o valor, locamos uma casa em Jundiaí”, conta ela, de 39 anos. O condomínio escolhido, segundo ela, está ocupado basicamente por pessoas que moravam na capital. “Vários amigos fizeram essa mudança. Um acaba puxando o outro.”
Além de tranquilidade e maior segurança – ela diz que tinha medo de sair à noite em São Paulo –, há a possibilidade de maior contato com a natureza. Miriam cita ainda o custo-benefício como outro motivo que a fez trocar a capital pelo interior. “Eu queria manter o mesmo padrão de vida. Com o valor do aluguel do meu apartamento, eu teria de mudar de bairro e ir para um periférico, mas conseguimos bancar a casa em Jundiaí”, conta.
Futuro melhor
Para proporcionar mais segurança e tranquilidade aos filhos, Luciano Ramos e Carla Fonseca decidiram se mudar para um condomínio em Itupeva. “Um dos motivos que me trouxeram para cá foi a possibilidade de criar meus filhos sabendo que não vou precisar me preocupar com a segurança”, afirma ele, empresário do ramo de transportes, de 45 anos.
“Antes, morávamos em uma casa numa vila, e eu não tinha confiança de deixá-los brincar na rua; agora é diferente”, relata. Se pensar no futuro da família é sempre importante para os pais, nas pesquisas que coordena sobre o mercado imobiliário, feitas pela Brain, Fábio Tadeu Araújo identificou que as migrações para condomínios, além dos benefícios objetivos, estão relacionadas a um sentimento de nostalgia por uma vida que os adultos tiveram quando eram mais jovens.
“Nos loteamentos fechados, a possibilidade de as crianças brincarem nas ruas em segurança e a conexão que se cria entre as famílias remete a um tempo que as famílias viveram no passado”, observa. Assim, a ida para um condomínio, acrescenta ele, “é também o resgate de uma lembrança que o comprador tem de sua infância e adolescência - o de viver em um ambiente seguro”.
Aposentadoria
Aos 60 anos, mãe de três adultos e aposentada da carreira de educadora infantil, a professora Sofia de Souza se mudou de São Paulo com o marido em 2021 e, hoje, aluga uma casa em um condomínio residencial em Boituva, no interior.
“O motivo de a gente ter se mudado é para ter mais tranquilidade. São Paulo mudou muito”, avalia Sofia, que nasceu e cresceu na capital. “Até os meus 13 anos, eu via São Paulo mais calma e menos populosa. Depois, me casei e a situação só piorou – muita fila e muita correria.”
Antes, ela diz que contava os dias para chegar o fim de semana e poder viajar para a chácara da família, em Itirapina, também no interior. “Antes de me mudar, eu tinha medo de não me adaptar. Mas tem sido bem tranquilo, e estamos gostando. Agora, estamos procurando uma casa (Paulo)”, continua Sofia.