SÃO PAULO - O interrogatório de Farah Jorge Farah, o ex-cirurgião que matou e esquartejou a paciente Maria do Carmo Alves em 2003, terminou nesta quarta-feira, 14, após cerca de 5 horas que resultaram em mais uma confissão do acusado, com fortes referências a Deus e aos pais. Com uma longa bengala no colo, o réu disse calmamente que não tinha lembrança de todos os fatos, alegou que agiu em legítima defesa e não assumiu o esquartejamento. "Eu vou continuar dizendo até que Jesus volte, eu não tenho certeza da ordem dos fatos", afirmou.
A principal tese da defesa é que o ex-cirurgião estava fora de si e não pode ser julgado pelos crimes que cometeu naquele momento. Farah usou no interrogatório uma voz suave, com o mesmo tom descrito pelos peritos do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), que o declararam lúcido, mas com personalidade "dramática". O réu contou que sentiu vontade de morrer no dia em que matou a vítima. "Ainda tenho vontade de morrer."
"Eu não estava no meu normal e não lembro de nada, nem de colocar os sacos no carro", disse ele. "Foi terrível. Não dá pra lembrar, pois não foi premeditado e nem consciente. No domingo, quando caiu minha ficha e me dei conta do que havia ocorrido, eu disse que queria morrer e talvez eu ainda queira", afirmou Farah.
Segundo Farah, o assassinato foi um ato de "legítima defesa" pela sua vida e por seu pai e sua mãe. Ambos foram citados constantemente no depoimento - o laudo oficial feito a pedido do juiz afirmou que Farah tinha sérios problemas por causa do relacionamento com os pais, no qual a mãe assumia um poder fálico na sua mente.
Agora, o julgamento chega à fase de debates. Depois, o conselho de jurados se reunirá na sala secreta para dar o veredicto. A intenção do juiz Rodrigo Tellini é seguir com os trabalhos até se chegar a uma sentença. Isso deverá ocorrer entre a noite desta quarta e a madrugada de quinta-feira.