Homicídio retoma alta com embate 'PM x PCC'


Antes em queda, índice volta a crescer após atentados a policiais e mortes de suspeitos

Por Bruno Paes Manso

O primeiro trabalho do soldado Paulo Cesar Lopes Carvalho na Polícia Militar foi na base comunitária do Jardim Ângela, na zona sul, em 1998. Carvalho tinha 26 anos e nos anos seguintes faria parte de um dos projetos mais premiados da corporação paulista. Antes de começar a funcionar, a base comunitária organizou discussões na Paróquia Santos Mártires, do padre Jaime Crowe, onde os PMs conheceram mais de 200 lideranças da zona sul no Fórum em Defesa da Vida. O grupo se juntou para reverter o quadro do bairro que, em 1995, havia sido considerado o mais violento do mundo, com 108 homicídios por 100 mil habitantes.Uma das ideias surgidas foi a criação da Caminhada em Defesa da Vida, feita no Dia de Finados, até o Cemitério São Luís, conhecido como o "cemitério dos jovens" pelo número de vítimas de homicídios. Os PMs da base estavam sempre presentes.Carvalho fazia cooper uniformizado pelas ruas do bairro para interagir com a população. Na Páscoa, ele e outros policiais distribuíam ovos para as crianças, concorrendo com o crime que usava a mesma estratégia. PMs também abriram a base para integrantes do hip-hop organizarem cursos e oficinas. Em 21 de junho, aos 40 anos de idade, Carvalho foi assassinado enquanto fazia compras. O policial estava de folga. Antes de matá-lo, um jovem mexeu nos pacotes do supermercado para desviar sua atenção. Outros três chegaram atirando.Nos dias seguintes, oito pessoas foram mortas nos arredores, em crimes com características parecidas. Na morte do copeiro Eleandro Cavalcante de Abreu, testemunhas disseram que homens com toucas ninjas em carro e moto mataram com pistolas silenciosas e de calibre 12 de cano serrado.Retomada. Assim como ocorreu em 2009, neste ano as disputas sangrentas envolvendo mortes de policiais e de suspeitos voltaram a mudar a tendência da curva de homicídios, que vinha caindo aceleradamente. Em 2009, na Baixada Santista, o embate envolvendo matadores ninjas já havia causado leve aumento de homicídios no Estado.Neste ano, a situação começou a degringolar em março. Nos oito primeiros meses, os homicídios cresceram 15,4% na capital e 6,3% no Estado. Até ontem, 81 policiais haviam sido assassinados. Desses, segundo apuração da Polícia Civil, 39 homens da ativa e 4 da reserva foram executados. Outros 27 foram mortos em ocorrências esclarecidas como roubos. Grampos mostraram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) dando ordens para matar PMs - as chamadas "xeque-mate". Sequências suspeitas de mortes ocorreram logo após assassinato de policiais. Em Osasco, oito morreram dois dias depois do atentado a um soldado que sobreviveu. Duas semanas mais tarde, seis pessoas foram executadas em Guarulhos após um PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) levar um tiro. Moradores disseram que os PMs da Rota passaram na região ordenando toque de recolher. Parte dos assassinatos ocorreu a 200 metros do atentado. Até agora, os casos não foram esclarecidos. Na semana passada, 20 mortes ocorreram na Baixada Santista e na região de Taboão da Serra depois de atentados a PMs. Ainda é cedo para afirmar sobre o futuro, se a tendência é para valer ou apenas um espasmo, como explica o economista João Manoel Pinho de Mello (PUC-RJ), que estuda a curva de homicídios em São Paulo. "Isso pode ser conjuntural - uma onda de conflitos fora do nível de equilíbrio - ou estrutural - quando, por alguma razão, aumenta o número e a letalidade dos conflitos", afirma. "Será importante estudar a natureza desses conflitos para evitar que algo conjuntural se torne estrutural."Conclusões. É importante, contudo, prestar atenção aos ensinamentos que os 52 anos de assassinatos oferecem. Para os especialistas, o principal deles é que os homicídios não podem ser mais aceitos como resposta de autoridades de segurança pública. A grande quantidade de resistências seguidas de morte revelam - segundo eles - despreparo da Polícia Militar e incapacidade de prender criminosos com estratégias e métodos inteligentes. Dão brecha também para que agentes de segurança acabem se tornando assassinos e integrantes de grupos de extermínio e outras quadrilhas.Como esta série de reportagens mostrou de domingo a hoje, homicídios provocam novos homicídios. Em vez de funcionarem como ferramenta de controle, eles aumentam a desordem e fazem o vírus da epidemia se espalhar rapidamente.

O primeiro trabalho do soldado Paulo Cesar Lopes Carvalho na Polícia Militar foi na base comunitária do Jardim Ângela, na zona sul, em 1998. Carvalho tinha 26 anos e nos anos seguintes faria parte de um dos projetos mais premiados da corporação paulista. Antes de começar a funcionar, a base comunitária organizou discussões na Paróquia Santos Mártires, do padre Jaime Crowe, onde os PMs conheceram mais de 200 lideranças da zona sul no Fórum em Defesa da Vida. O grupo se juntou para reverter o quadro do bairro que, em 1995, havia sido considerado o mais violento do mundo, com 108 homicídios por 100 mil habitantes.Uma das ideias surgidas foi a criação da Caminhada em Defesa da Vida, feita no Dia de Finados, até o Cemitério São Luís, conhecido como o "cemitério dos jovens" pelo número de vítimas de homicídios. Os PMs da base estavam sempre presentes.Carvalho fazia cooper uniformizado pelas ruas do bairro para interagir com a população. Na Páscoa, ele e outros policiais distribuíam ovos para as crianças, concorrendo com o crime que usava a mesma estratégia. PMs também abriram a base para integrantes do hip-hop organizarem cursos e oficinas. Em 21 de junho, aos 40 anos de idade, Carvalho foi assassinado enquanto fazia compras. O policial estava de folga. Antes de matá-lo, um jovem mexeu nos pacotes do supermercado para desviar sua atenção. Outros três chegaram atirando.Nos dias seguintes, oito pessoas foram mortas nos arredores, em crimes com características parecidas. Na morte do copeiro Eleandro Cavalcante de Abreu, testemunhas disseram que homens com toucas ninjas em carro e moto mataram com pistolas silenciosas e de calibre 12 de cano serrado.Retomada. Assim como ocorreu em 2009, neste ano as disputas sangrentas envolvendo mortes de policiais e de suspeitos voltaram a mudar a tendência da curva de homicídios, que vinha caindo aceleradamente. Em 2009, na Baixada Santista, o embate envolvendo matadores ninjas já havia causado leve aumento de homicídios no Estado.Neste ano, a situação começou a degringolar em março. Nos oito primeiros meses, os homicídios cresceram 15,4% na capital e 6,3% no Estado. Até ontem, 81 policiais haviam sido assassinados. Desses, segundo apuração da Polícia Civil, 39 homens da ativa e 4 da reserva foram executados. Outros 27 foram mortos em ocorrências esclarecidas como roubos. Grampos mostraram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) dando ordens para matar PMs - as chamadas "xeque-mate". Sequências suspeitas de mortes ocorreram logo após assassinato de policiais. Em Osasco, oito morreram dois dias depois do atentado a um soldado que sobreviveu. Duas semanas mais tarde, seis pessoas foram executadas em Guarulhos após um PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) levar um tiro. Moradores disseram que os PMs da Rota passaram na região ordenando toque de recolher. Parte dos assassinatos ocorreu a 200 metros do atentado. Até agora, os casos não foram esclarecidos. Na semana passada, 20 mortes ocorreram na Baixada Santista e na região de Taboão da Serra depois de atentados a PMs. Ainda é cedo para afirmar sobre o futuro, se a tendência é para valer ou apenas um espasmo, como explica o economista João Manoel Pinho de Mello (PUC-RJ), que estuda a curva de homicídios em São Paulo. "Isso pode ser conjuntural - uma onda de conflitos fora do nível de equilíbrio - ou estrutural - quando, por alguma razão, aumenta o número e a letalidade dos conflitos", afirma. "Será importante estudar a natureza desses conflitos para evitar que algo conjuntural se torne estrutural."Conclusões. É importante, contudo, prestar atenção aos ensinamentos que os 52 anos de assassinatos oferecem. Para os especialistas, o principal deles é que os homicídios não podem ser mais aceitos como resposta de autoridades de segurança pública. A grande quantidade de resistências seguidas de morte revelam - segundo eles - despreparo da Polícia Militar e incapacidade de prender criminosos com estratégias e métodos inteligentes. Dão brecha também para que agentes de segurança acabem se tornando assassinos e integrantes de grupos de extermínio e outras quadrilhas.Como esta série de reportagens mostrou de domingo a hoje, homicídios provocam novos homicídios. Em vez de funcionarem como ferramenta de controle, eles aumentam a desordem e fazem o vírus da epidemia se espalhar rapidamente.

O primeiro trabalho do soldado Paulo Cesar Lopes Carvalho na Polícia Militar foi na base comunitária do Jardim Ângela, na zona sul, em 1998. Carvalho tinha 26 anos e nos anos seguintes faria parte de um dos projetos mais premiados da corporação paulista. Antes de começar a funcionar, a base comunitária organizou discussões na Paróquia Santos Mártires, do padre Jaime Crowe, onde os PMs conheceram mais de 200 lideranças da zona sul no Fórum em Defesa da Vida. O grupo se juntou para reverter o quadro do bairro que, em 1995, havia sido considerado o mais violento do mundo, com 108 homicídios por 100 mil habitantes.Uma das ideias surgidas foi a criação da Caminhada em Defesa da Vida, feita no Dia de Finados, até o Cemitério São Luís, conhecido como o "cemitério dos jovens" pelo número de vítimas de homicídios. Os PMs da base estavam sempre presentes.Carvalho fazia cooper uniformizado pelas ruas do bairro para interagir com a população. Na Páscoa, ele e outros policiais distribuíam ovos para as crianças, concorrendo com o crime que usava a mesma estratégia. PMs também abriram a base para integrantes do hip-hop organizarem cursos e oficinas. Em 21 de junho, aos 40 anos de idade, Carvalho foi assassinado enquanto fazia compras. O policial estava de folga. Antes de matá-lo, um jovem mexeu nos pacotes do supermercado para desviar sua atenção. Outros três chegaram atirando.Nos dias seguintes, oito pessoas foram mortas nos arredores, em crimes com características parecidas. Na morte do copeiro Eleandro Cavalcante de Abreu, testemunhas disseram que homens com toucas ninjas em carro e moto mataram com pistolas silenciosas e de calibre 12 de cano serrado.Retomada. Assim como ocorreu em 2009, neste ano as disputas sangrentas envolvendo mortes de policiais e de suspeitos voltaram a mudar a tendência da curva de homicídios, que vinha caindo aceleradamente. Em 2009, na Baixada Santista, o embate envolvendo matadores ninjas já havia causado leve aumento de homicídios no Estado.Neste ano, a situação começou a degringolar em março. Nos oito primeiros meses, os homicídios cresceram 15,4% na capital e 6,3% no Estado. Até ontem, 81 policiais haviam sido assassinados. Desses, segundo apuração da Polícia Civil, 39 homens da ativa e 4 da reserva foram executados. Outros 27 foram mortos em ocorrências esclarecidas como roubos. Grampos mostraram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) dando ordens para matar PMs - as chamadas "xeque-mate". Sequências suspeitas de mortes ocorreram logo após assassinato de policiais. Em Osasco, oito morreram dois dias depois do atentado a um soldado que sobreviveu. Duas semanas mais tarde, seis pessoas foram executadas em Guarulhos após um PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) levar um tiro. Moradores disseram que os PMs da Rota passaram na região ordenando toque de recolher. Parte dos assassinatos ocorreu a 200 metros do atentado. Até agora, os casos não foram esclarecidos. Na semana passada, 20 mortes ocorreram na Baixada Santista e na região de Taboão da Serra depois de atentados a PMs. Ainda é cedo para afirmar sobre o futuro, se a tendência é para valer ou apenas um espasmo, como explica o economista João Manoel Pinho de Mello (PUC-RJ), que estuda a curva de homicídios em São Paulo. "Isso pode ser conjuntural - uma onda de conflitos fora do nível de equilíbrio - ou estrutural - quando, por alguma razão, aumenta o número e a letalidade dos conflitos", afirma. "Será importante estudar a natureza desses conflitos para evitar que algo conjuntural se torne estrutural."Conclusões. É importante, contudo, prestar atenção aos ensinamentos que os 52 anos de assassinatos oferecem. Para os especialistas, o principal deles é que os homicídios não podem ser mais aceitos como resposta de autoridades de segurança pública. A grande quantidade de resistências seguidas de morte revelam - segundo eles - despreparo da Polícia Militar e incapacidade de prender criminosos com estratégias e métodos inteligentes. Dão brecha também para que agentes de segurança acabem se tornando assassinos e integrantes de grupos de extermínio e outras quadrilhas.Como esta série de reportagens mostrou de domingo a hoje, homicídios provocam novos homicídios. Em vez de funcionarem como ferramenta de controle, eles aumentam a desordem e fazem o vírus da epidemia se espalhar rapidamente.

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