Subprefeito defende remover barraca de sem-teto e diz que lixo é principal problema do centro de SP


Coronel Alvaro Camilo, novo à frente da regional da Sé, defende intensificar ações de zeladoria e manter durante o dia as calçadas livres dos abrigos improvisados por moradores de rua

Por Ítalo Lo Re
Atualização:
Foto: WERTHER
Entrevista comCoronel Alvaro CamiloSubprefeito da Sé

Menos de um mês após assumir, o novo subprefeito da Sé, coronel Alvaro Camilo, diz que vai intensificar ações de zeladoria e quer manter o plano de desmontar barracas usadas pela população de rua durante o dia – medida que recebeu críticas e foi barrada por liminar. A Justiça cobrou dados e plano de acolhimento dos sem-teto.

“A gestão já vinha fazendo isso. O que nos comprometemos a fazer é aumentar essas ações em locais onde está ficando muita coisa”, disse, em entrevista ao Estadão. A remoção, segundo ele, visa a diminuir a “desordem” no centro e tornar mais efetivas as ações de segurança. A dispersão da Cracolândia no último ano, para o coronel, facilitou internar os usuários, mas resultou em outros problemas – como sensação maior de insegurança e espalhamento da sujeira em alguns pontos. “O lixo é o grande problema da região central”, disse Camilo, que foi secretário executivo da Polícia Militar até o fim de 2022. Leia os principais trechos:

Como avalia a subprefeitura e qual será seu foco?

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A subprefeitura está muito bem organizada. Coronel (Marcelo) Salles (ex-subprefeito, que assumiu uma vaga de vereador) deixou um trabalho fantástico. Tanto é que não troquei a equipe, é a mesma. As demandas que vêm a gente consegue atender com rapidez, mas o volume é grande. São 430 mil moradores e uns 2 milhões de circulantes. Nosso foco são as pessoas do centro. Para pessoas em situação de rua, vamos fazer ações para que consigam superar essa situação, junto com assistente social, saúde. E ao mesmo tempo manter o próprio ambiente onde eles estão sadio para eles próprios, que é o caso da zeladoria. Diante dessa desordem urbana que se tem hoje, a ideia é dar uma ordenada, mesmo que isso tenha outras consequências. Isso aumenta a qualidade de vida, cria autoestima maior e aumenta o sentimento de pertencimento das pessoas. Se tem um lugar organizado, você cuida naturalmente. Isso também afasta o crime.

A Justiça barrou a remoção das barracas de sem-teto na rua. O que vai fazer?

Houve interpretação equivocada. Há três grupos com tratamentos diferentes: 1º) a pessoa em situação de rua, que merece acolhimento – a Prefeitura tem mais de 10 programas, como a Vila Reencontro –; 2º) a Cracolândia, com pessoas que precisam de auxílio, prioritariamente de saúde – há o Programa Redenção, Siat (acolhida terapêutica), proteção continuada –; e 3º) o infrator, caso de polícia. Sobre barraca: o pessoal da Cracolândia monta tendas que até abandonam. Onde há mais barraca? Na situação de rua. De forma equivocada, associaram ações que falei que poderiam ser feitas contra dependentes da Cracolândia (ele já defendeu usar munição química, como gás lacrimogêneo, na área de uso de droga, mas diz que essa é prerrogativa da polícia, não da subprefeitura) com a população de rua. Como subprefeitura, entro apoiando principalmente a limpeza: 22 toneladas de lixo são retiradas por dia na Cracolândia. No centro, de 600 a 650 toneladas ao dia. (Sobre os sem-teto), na realidade, não retiramos a barraca. Falamos para tirar para limpar, até para deixar mais sadio. Ali tem doença, tudo. Que desmonte e não monte durante o dia. Foi permitido (manter a tenda) na pandemia; antes não podia. A ideia é retomar (o veto), pois as barracas causam ambiente de degradação.

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Barracas ocupadas por moradores em situação de rua, no centro de São Paulo  Foto: Marcelo Chello

Mas melhorar a limpeza passa necessariamente por remover as barracas?

Sim. Quando desmonta, fica tudo visível. A assistente social vai um dia antes, fala com eles: ‘vai ter zeladoria amanhã. Não querem acolhimento? Tem essas opções’. Alguns vão. No dia seguinte, na limpeza. Pedimos para desmontar a barraca, a maioria desmonta. Saem do local e ficam não muito longe. Ali, fica o lixo. Tira, lava, para deixar o ambiente sadio, e (os sem-teto) voltam. Cria sentimento diferente, aumenta de novo a autoestima. Fazemos em toda a cidade normalmente, mas onde tem barraca estamos impedidos pela decisão judicial. Há 20 mil vagas (de acolhimento da população vulnerável) para serem usadas.

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E haverá 32 mil vagas de acolhimento (tamanho da população de rua estimada na cidade)? Até quando?

O prefeito (Ricardo Nunes) trabalha para que, ainda na gestão dele, isso aconteça. A cidade aumenta a cada dia. Não justifica a pessoa ficar (na barraca de dia), com todo o acolhimento que a cidade oferece. É mais digno ir para o acolhimento do que a rua. Não está em vulnerabilidade e tem dignidade.

E o lixo aumentou?

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Com a diluição de pessoas em situação de rua, aumentou a distribuição de comida, e até pela pandemia, não era em lugar digno. Agora (o atendimento organizado) volta, dentro do Bom Prato. Mas, na época, se dava marmita e comia na rua. Infelizmente, num comportamento de descartar em qualquer lugar. Tem lugar que limpamos três vezes, cinco, principalmente na Cracolândia. Como eles não têm noção de viver em comunidade, é aquele jeito. Estamos fazendo um trabalho também de mudar horário, conversar com comerciantes para não por lixo na rua, ser entregue no caminhão, ir para cooperativa. O lixo é o grande problema da região central.

Coronel Álvaro Camilo, subprefeito da Sé. Foto: Werther Santana/Estadão

Em 2022, roubos e furtos cresciam mais na área central do que nos subúrbios. Pelos dados recentes, isso se mantém. O que fazer?

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Prevenção primária. Num local iluminado, sem pichação, sem desordem urbana, o infrator fica com receio, pois está visível e pode ser pego. O contrário também é verdadeiro: um ambiente degradado, pichado, com camelôs irregulares, lixo, fica mais fácil para praticar crime e se esconder.

Há arrastões em Santa Cecília, gangues de bicicleta na República...

A ideia é ter mais PMs trabalhando para Prefeitura (Operação Delegada) em regiões de aglomeração. Largo de Santa Cecília, 25 de Março, Rua José Paulino. Aumentar o número de policiais na fiscalização do comércio irregular. Inibe gangues, não só a pé, mas de bicicleta. Eram 1,2 mil vagas (para PMs). O prefeito, há 10 dias, aumentou para 2,4 mil. As primeiras 1,2 mil são usadas por 19 subprefeituras e a ideia é que as outras 1,2 mil vão para a região central, não só na sub da Sé, mas Mooca, Vila Mariana. É lógico que tudo isso é uma expectativa, vai depender da adesão dos policiais. Paralelamente, começamos a desenvolver algumas ações em conjunto, com Polícia Civil e Militar e Guarda Civil, para fiscalização das receptações desses produtos. Se for o caso, fechando os estabelecimentos que não tenham condições de atuar ou que estejam com mercadorias de origem duvidosa.

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A Prefeitura anunciou megaeventos para este ano no Vale do Anhangabaú, espaço concedido à iniciativa privada recentemente. Eventos como esse vão demandar também nova estratégia?

Entramos com a parte de prevenção. Como no carnaval, fazemos em outros eventos. No caso do Anhangabaú, não dentro do local (durante os eventos), porque lá fica sob gestão da empresa, mas em todo o entorno: onde as pessoas vão caminhar, nas saída de trem, de metrô, de ônibus. Fazer prevenção, tirar o que tem de lixo, caçamba, camelôs irregulares nesses locais para que as pessoas possam caminhar, chegar até o evento, e sair. No carnaval, em cada bloquinho a gente percorreu o trajeto e fez um saneamento onde o bloco ia passar.

A Avenida Paulista virou um símbolo no pós-pandemia de maior sensação de insegurança na cidade. Como tornar a via mais segura?

Cada caso é estudado de forma diferente. Já chamamos a Associação Paulista Viva para ouvir as ideias, também o Conseg (conselho de segurança) da região. Mas, de novo, lá a ideia é trabalhar em conjunto com Guarda Municipal, Operação Delegada. Fiscalização daquilo que não é permitido. Há lá muitos camelôs, principalmente em locais que não poderiam, e pessoas que se colocam em risco. Embaixo do viaduto no final da Paulista, no encontro com a Avenida Dr. Arnaldo, há pessoas em risco. A ideia é fazer um trabalho de acolhimento dessas pessoas para um centro da Prefeitura ou outro local. Não é incomum a gente ver até um pet, um animal, que sai no meio da rua ali, porque estão vivendo embaixo do viaduto. A ideia é não ser nada agressivo, tudo gradativo, com calma, respeitando as pessoas, mas trabalhar com inteligência e antecipação. Não vamos chegar lá um dia e falar que vamos fazer varredura e tirar tudo. A ideia é começar a tomar o espaço que estava sendo tomado pela irregularidade. Chegar mais cedo, não deixar que barracas irregulares se montem, não deixar camelô irregular na Paulista, mas só aqueles com termo de permissão para usar o espaço.

Menos de um mês após assumir, o novo subprefeito da Sé, coronel Alvaro Camilo, diz que vai intensificar ações de zeladoria e quer manter o plano de desmontar barracas usadas pela população de rua durante o dia – medida que recebeu críticas e foi barrada por liminar. A Justiça cobrou dados e plano de acolhimento dos sem-teto.

“A gestão já vinha fazendo isso. O que nos comprometemos a fazer é aumentar essas ações em locais onde está ficando muita coisa”, disse, em entrevista ao Estadão. A remoção, segundo ele, visa a diminuir a “desordem” no centro e tornar mais efetivas as ações de segurança. A dispersão da Cracolândia no último ano, para o coronel, facilitou internar os usuários, mas resultou em outros problemas – como sensação maior de insegurança e espalhamento da sujeira em alguns pontos. “O lixo é o grande problema da região central”, disse Camilo, que foi secretário executivo da Polícia Militar até o fim de 2022. Leia os principais trechos:

Como avalia a subprefeitura e qual será seu foco?

A subprefeitura está muito bem organizada. Coronel (Marcelo) Salles (ex-subprefeito, que assumiu uma vaga de vereador) deixou um trabalho fantástico. Tanto é que não troquei a equipe, é a mesma. As demandas que vêm a gente consegue atender com rapidez, mas o volume é grande. São 430 mil moradores e uns 2 milhões de circulantes. Nosso foco são as pessoas do centro. Para pessoas em situação de rua, vamos fazer ações para que consigam superar essa situação, junto com assistente social, saúde. E ao mesmo tempo manter o próprio ambiente onde eles estão sadio para eles próprios, que é o caso da zeladoria. Diante dessa desordem urbana que se tem hoje, a ideia é dar uma ordenada, mesmo que isso tenha outras consequências. Isso aumenta a qualidade de vida, cria autoestima maior e aumenta o sentimento de pertencimento das pessoas. Se tem um lugar organizado, você cuida naturalmente. Isso também afasta o crime.

A Justiça barrou a remoção das barracas de sem-teto na rua. O que vai fazer?

Houve interpretação equivocada. Há três grupos com tratamentos diferentes: 1º) a pessoa em situação de rua, que merece acolhimento – a Prefeitura tem mais de 10 programas, como a Vila Reencontro –; 2º) a Cracolândia, com pessoas que precisam de auxílio, prioritariamente de saúde – há o Programa Redenção, Siat (acolhida terapêutica), proteção continuada –; e 3º) o infrator, caso de polícia. Sobre barraca: o pessoal da Cracolândia monta tendas que até abandonam. Onde há mais barraca? Na situação de rua. De forma equivocada, associaram ações que falei que poderiam ser feitas contra dependentes da Cracolândia (ele já defendeu usar munição química, como gás lacrimogêneo, na área de uso de droga, mas diz que essa é prerrogativa da polícia, não da subprefeitura) com a população de rua. Como subprefeitura, entro apoiando principalmente a limpeza: 22 toneladas de lixo são retiradas por dia na Cracolândia. No centro, de 600 a 650 toneladas ao dia. (Sobre os sem-teto), na realidade, não retiramos a barraca. Falamos para tirar para limpar, até para deixar mais sadio. Ali tem doença, tudo. Que desmonte e não monte durante o dia. Foi permitido (manter a tenda) na pandemia; antes não podia. A ideia é retomar (o veto), pois as barracas causam ambiente de degradação.

Barracas ocupadas por moradores em situação de rua, no centro de São Paulo  Foto: Marcelo Chello

Mas melhorar a limpeza passa necessariamente por remover as barracas?

Sim. Quando desmonta, fica tudo visível. A assistente social vai um dia antes, fala com eles: ‘vai ter zeladoria amanhã. Não querem acolhimento? Tem essas opções’. Alguns vão. No dia seguinte, na limpeza. Pedimos para desmontar a barraca, a maioria desmonta. Saem do local e ficam não muito longe. Ali, fica o lixo. Tira, lava, para deixar o ambiente sadio, e (os sem-teto) voltam. Cria sentimento diferente, aumenta de novo a autoestima. Fazemos em toda a cidade normalmente, mas onde tem barraca estamos impedidos pela decisão judicial. Há 20 mil vagas (de acolhimento da população vulnerável) para serem usadas.

E haverá 32 mil vagas de acolhimento (tamanho da população de rua estimada na cidade)? Até quando?

O prefeito (Ricardo Nunes) trabalha para que, ainda na gestão dele, isso aconteça. A cidade aumenta a cada dia. Não justifica a pessoa ficar (na barraca de dia), com todo o acolhimento que a cidade oferece. É mais digno ir para o acolhimento do que a rua. Não está em vulnerabilidade e tem dignidade.

E o lixo aumentou?

Com a diluição de pessoas em situação de rua, aumentou a distribuição de comida, e até pela pandemia, não era em lugar digno. Agora (o atendimento organizado) volta, dentro do Bom Prato. Mas, na época, se dava marmita e comia na rua. Infelizmente, num comportamento de descartar em qualquer lugar. Tem lugar que limpamos três vezes, cinco, principalmente na Cracolândia. Como eles não têm noção de viver em comunidade, é aquele jeito. Estamos fazendo um trabalho também de mudar horário, conversar com comerciantes para não por lixo na rua, ser entregue no caminhão, ir para cooperativa. O lixo é o grande problema da região central.

Coronel Álvaro Camilo, subprefeito da Sé. Foto: Werther Santana/Estadão

Em 2022, roubos e furtos cresciam mais na área central do que nos subúrbios. Pelos dados recentes, isso se mantém. O que fazer?

Prevenção primária. Num local iluminado, sem pichação, sem desordem urbana, o infrator fica com receio, pois está visível e pode ser pego. O contrário também é verdadeiro: um ambiente degradado, pichado, com camelôs irregulares, lixo, fica mais fácil para praticar crime e se esconder.

Há arrastões em Santa Cecília, gangues de bicicleta na República...

A ideia é ter mais PMs trabalhando para Prefeitura (Operação Delegada) em regiões de aglomeração. Largo de Santa Cecília, 25 de Março, Rua José Paulino. Aumentar o número de policiais na fiscalização do comércio irregular. Inibe gangues, não só a pé, mas de bicicleta. Eram 1,2 mil vagas (para PMs). O prefeito, há 10 dias, aumentou para 2,4 mil. As primeiras 1,2 mil são usadas por 19 subprefeituras e a ideia é que as outras 1,2 mil vão para a região central, não só na sub da Sé, mas Mooca, Vila Mariana. É lógico que tudo isso é uma expectativa, vai depender da adesão dos policiais. Paralelamente, começamos a desenvolver algumas ações em conjunto, com Polícia Civil e Militar e Guarda Civil, para fiscalização das receptações desses produtos. Se for o caso, fechando os estabelecimentos que não tenham condições de atuar ou que estejam com mercadorias de origem duvidosa.

A Prefeitura anunciou megaeventos para este ano no Vale do Anhangabaú, espaço concedido à iniciativa privada recentemente. Eventos como esse vão demandar também nova estratégia?

Entramos com a parte de prevenção. Como no carnaval, fazemos em outros eventos. No caso do Anhangabaú, não dentro do local (durante os eventos), porque lá fica sob gestão da empresa, mas em todo o entorno: onde as pessoas vão caminhar, nas saída de trem, de metrô, de ônibus. Fazer prevenção, tirar o que tem de lixo, caçamba, camelôs irregulares nesses locais para que as pessoas possam caminhar, chegar até o evento, e sair. No carnaval, em cada bloquinho a gente percorreu o trajeto e fez um saneamento onde o bloco ia passar.

A Avenida Paulista virou um símbolo no pós-pandemia de maior sensação de insegurança na cidade. Como tornar a via mais segura?

Cada caso é estudado de forma diferente. Já chamamos a Associação Paulista Viva para ouvir as ideias, também o Conseg (conselho de segurança) da região. Mas, de novo, lá a ideia é trabalhar em conjunto com Guarda Municipal, Operação Delegada. Fiscalização daquilo que não é permitido. Há lá muitos camelôs, principalmente em locais que não poderiam, e pessoas que se colocam em risco. Embaixo do viaduto no final da Paulista, no encontro com a Avenida Dr. Arnaldo, há pessoas em risco. A ideia é fazer um trabalho de acolhimento dessas pessoas para um centro da Prefeitura ou outro local. Não é incomum a gente ver até um pet, um animal, que sai no meio da rua ali, porque estão vivendo embaixo do viaduto. A ideia é não ser nada agressivo, tudo gradativo, com calma, respeitando as pessoas, mas trabalhar com inteligência e antecipação. Não vamos chegar lá um dia e falar que vamos fazer varredura e tirar tudo. A ideia é começar a tomar o espaço que estava sendo tomado pela irregularidade. Chegar mais cedo, não deixar que barracas irregulares se montem, não deixar camelô irregular na Paulista, mas só aqueles com termo de permissão para usar o espaço.

Menos de um mês após assumir, o novo subprefeito da Sé, coronel Alvaro Camilo, diz que vai intensificar ações de zeladoria e quer manter o plano de desmontar barracas usadas pela população de rua durante o dia – medida que recebeu críticas e foi barrada por liminar. A Justiça cobrou dados e plano de acolhimento dos sem-teto.

“A gestão já vinha fazendo isso. O que nos comprometemos a fazer é aumentar essas ações em locais onde está ficando muita coisa”, disse, em entrevista ao Estadão. A remoção, segundo ele, visa a diminuir a “desordem” no centro e tornar mais efetivas as ações de segurança. A dispersão da Cracolândia no último ano, para o coronel, facilitou internar os usuários, mas resultou em outros problemas – como sensação maior de insegurança e espalhamento da sujeira em alguns pontos. “O lixo é o grande problema da região central”, disse Camilo, que foi secretário executivo da Polícia Militar até o fim de 2022. Leia os principais trechos:

Como avalia a subprefeitura e qual será seu foco?

A subprefeitura está muito bem organizada. Coronel (Marcelo) Salles (ex-subprefeito, que assumiu uma vaga de vereador) deixou um trabalho fantástico. Tanto é que não troquei a equipe, é a mesma. As demandas que vêm a gente consegue atender com rapidez, mas o volume é grande. São 430 mil moradores e uns 2 milhões de circulantes. Nosso foco são as pessoas do centro. Para pessoas em situação de rua, vamos fazer ações para que consigam superar essa situação, junto com assistente social, saúde. E ao mesmo tempo manter o próprio ambiente onde eles estão sadio para eles próprios, que é o caso da zeladoria. Diante dessa desordem urbana que se tem hoje, a ideia é dar uma ordenada, mesmo que isso tenha outras consequências. Isso aumenta a qualidade de vida, cria autoestima maior e aumenta o sentimento de pertencimento das pessoas. Se tem um lugar organizado, você cuida naturalmente. Isso também afasta o crime.

A Justiça barrou a remoção das barracas de sem-teto na rua. O que vai fazer?

Houve interpretação equivocada. Há três grupos com tratamentos diferentes: 1º) a pessoa em situação de rua, que merece acolhimento – a Prefeitura tem mais de 10 programas, como a Vila Reencontro –; 2º) a Cracolândia, com pessoas que precisam de auxílio, prioritariamente de saúde – há o Programa Redenção, Siat (acolhida terapêutica), proteção continuada –; e 3º) o infrator, caso de polícia. Sobre barraca: o pessoal da Cracolândia monta tendas que até abandonam. Onde há mais barraca? Na situação de rua. De forma equivocada, associaram ações que falei que poderiam ser feitas contra dependentes da Cracolândia (ele já defendeu usar munição química, como gás lacrimogêneo, na área de uso de droga, mas diz que essa é prerrogativa da polícia, não da subprefeitura) com a população de rua. Como subprefeitura, entro apoiando principalmente a limpeza: 22 toneladas de lixo são retiradas por dia na Cracolândia. No centro, de 600 a 650 toneladas ao dia. (Sobre os sem-teto), na realidade, não retiramos a barraca. Falamos para tirar para limpar, até para deixar mais sadio. Ali tem doença, tudo. Que desmonte e não monte durante o dia. Foi permitido (manter a tenda) na pandemia; antes não podia. A ideia é retomar (o veto), pois as barracas causam ambiente de degradação.

Barracas ocupadas por moradores em situação de rua, no centro de São Paulo  Foto: Marcelo Chello

Mas melhorar a limpeza passa necessariamente por remover as barracas?

Sim. Quando desmonta, fica tudo visível. A assistente social vai um dia antes, fala com eles: ‘vai ter zeladoria amanhã. Não querem acolhimento? Tem essas opções’. Alguns vão. No dia seguinte, na limpeza. Pedimos para desmontar a barraca, a maioria desmonta. Saem do local e ficam não muito longe. Ali, fica o lixo. Tira, lava, para deixar o ambiente sadio, e (os sem-teto) voltam. Cria sentimento diferente, aumenta de novo a autoestima. Fazemos em toda a cidade normalmente, mas onde tem barraca estamos impedidos pela decisão judicial. Há 20 mil vagas (de acolhimento da população vulnerável) para serem usadas.

E haverá 32 mil vagas de acolhimento (tamanho da população de rua estimada na cidade)? Até quando?

O prefeito (Ricardo Nunes) trabalha para que, ainda na gestão dele, isso aconteça. A cidade aumenta a cada dia. Não justifica a pessoa ficar (na barraca de dia), com todo o acolhimento que a cidade oferece. É mais digno ir para o acolhimento do que a rua. Não está em vulnerabilidade e tem dignidade.

E o lixo aumentou?

Com a diluição de pessoas em situação de rua, aumentou a distribuição de comida, e até pela pandemia, não era em lugar digno. Agora (o atendimento organizado) volta, dentro do Bom Prato. Mas, na época, se dava marmita e comia na rua. Infelizmente, num comportamento de descartar em qualquer lugar. Tem lugar que limpamos três vezes, cinco, principalmente na Cracolândia. Como eles não têm noção de viver em comunidade, é aquele jeito. Estamos fazendo um trabalho também de mudar horário, conversar com comerciantes para não por lixo na rua, ser entregue no caminhão, ir para cooperativa. O lixo é o grande problema da região central.

Coronel Álvaro Camilo, subprefeito da Sé. Foto: Werther Santana/Estadão

Em 2022, roubos e furtos cresciam mais na área central do que nos subúrbios. Pelos dados recentes, isso se mantém. O que fazer?

Prevenção primária. Num local iluminado, sem pichação, sem desordem urbana, o infrator fica com receio, pois está visível e pode ser pego. O contrário também é verdadeiro: um ambiente degradado, pichado, com camelôs irregulares, lixo, fica mais fácil para praticar crime e se esconder.

Há arrastões em Santa Cecília, gangues de bicicleta na República...

A ideia é ter mais PMs trabalhando para Prefeitura (Operação Delegada) em regiões de aglomeração. Largo de Santa Cecília, 25 de Março, Rua José Paulino. Aumentar o número de policiais na fiscalização do comércio irregular. Inibe gangues, não só a pé, mas de bicicleta. Eram 1,2 mil vagas (para PMs). O prefeito, há 10 dias, aumentou para 2,4 mil. As primeiras 1,2 mil são usadas por 19 subprefeituras e a ideia é que as outras 1,2 mil vão para a região central, não só na sub da Sé, mas Mooca, Vila Mariana. É lógico que tudo isso é uma expectativa, vai depender da adesão dos policiais. Paralelamente, começamos a desenvolver algumas ações em conjunto, com Polícia Civil e Militar e Guarda Civil, para fiscalização das receptações desses produtos. Se for o caso, fechando os estabelecimentos que não tenham condições de atuar ou que estejam com mercadorias de origem duvidosa.

A Prefeitura anunciou megaeventos para este ano no Vale do Anhangabaú, espaço concedido à iniciativa privada recentemente. Eventos como esse vão demandar também nova estratégia?

Entramos com a parte de prevenção. Como no carnaval, fazemos em outros eventos. No caso do Anhangabaú, não dentro do local (durante os eventos), porque lá fica sob gestão da empresa, mas em todo o entorno: onde as pessoas vão caminhar, nas saída de trem, de metrô, de ônibus. Fazer prevenção, tirar o que tem de lixo, caçamba, camelôs irregulares nesses locais para que as pessoas possam caminhar, chegar até o evento, e sair. No carnaval, em cada bloquinho a gente percorreu o trajeto e fez um saneamento onde o bloco ia passar.

A Avenida Paulista virou um símbolo no pós-pandemia de maior sensação de insegurança na cidade. Como tornar a via mais segura?

Cada caso é estudado de forma diferente. Já chamamos a Associação Paulista Viva para ouvir as ideias, também o Conseg (conselho de segurança) da região. Mas, de novo, lá a ideia é trabalhar em conjunto com Guarda Municipal, Operação Delegada. Fiscalização daquilo que não é permitido. Há lá muitos camelôs, principalmente em locais que não poderiam, e pessoas que se colocam em risco. Embaixo do viaduto no final da Paulista, no encontro com a Avenida Dr. Arnaldo, há pessoas em risco. A ideia é fazer um trabalho de acolhimento dessas pessoas para um centro da Prefeitura ou outro local. Não é incomum a gente ver até um pet, um animal, que sai no meio da rua ali, porque estão vivendo embaixo do viaduto. A ideia é não ser nada agressivo, tudo gradativo, com calma, respeitando as pessoas, mas trabalhar com inteligência e antecipação. Não vamos chegar lá um dia e falar que vamos fazer varredura e tirar tudo. A ideia é começar a tomar o espaço que estava sendo tomado pela irregularidade. Chegar mais cedo, não deixar que barracas irregulares se montem, não deixar camelô irregular na Paulista, mas só aqueles com termo de permissão para usar o espaço.

Entrevista por Ítalo Lo Re

Repórter da editoria de Metrópole em São Paulo, escreve sobre segurança pública e cidades. É jornalista formado pela UFMG.

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