O Corpo de Bombeiros atendeu a 15 incêndios causados por balões no Estado de São Paulo de janeiro a julho, ante cinco no mesmo período do ano passado. Desde o início deste ano, foram aplicados 65 autos de infração ambiental pela soltura de balões no Estado.
Há riscos a voos, à fiação elétrica e de queimadas. As multas por fabricar, vender, transportar ou soltar balões passaram de R$ 1,2 milhão, diz a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.
Em duas operações, a polícia fechou 30 fábricas e apreendeu 23 balões prontos. A prática pode ser punida até com prisão.
No domingo, 28, um balão caiu no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, sem deixar feridos. Na madrugada de 22 de julho, um balão gigante havia causado transtornos em Aricanduva, após passar por Itaquera, na zona leste.
A suspeita é de que o artefato foi solto em São Miguel Paulista. A estrutura toda tinha mais de 60 metros, equivalente a um prédio de 20 andares.
O balão foi solto com a cangalha, estrutura metálica que sustenta os fogos, pendurada em cordas de sustentação. Com isso, atingiu postes, casas e o veículos. Um carro foi arrastado e tombou na Rua Jaguaruna.
Na mesma rua, uma moto foi içada pela estrutura e ficou presa à fiação de um poste. O dono da moto, Kauê Ribeiro, de 20 anos, disse em redes sociais que o carro atingido pelo balão pertence à mãe. Os dois, segundo ele, ficaram sem os veículos para trabalhar.
Parte do balão caiu no pátio do Centro de Educação Infantil Ingrid Vitória, na Rua Petrobras, na Vila Antonieta. Diretora da escola, Michele Brito relata o susto. “Pedaços do balão caíram no pátio da creche e estavam por toda parte. Felizmente não tinha ninguém no prédio, pois eram 4h20 da madrugada”, afirma.
“Fizemos mutirão para limpar tudo, pois as aulas iam começar na quarta-feira.” O incidente prejudicou as reuniões de planejamento, que seriam realizadas na segunda e na terça-feira, mas não impediu a reabertura da escola na quarta-feira, 31.
Outra parte do balão caiu sobre a casa de Daniel Galhardo, vizinho à escola. “Eu estava meio acordado quando ouvi um barulho muito forte, parecia um temporal. Quando fui ver, tinha um balão gigantesco enroscado na árvore lá no fundo da casa. Só deu tempo de chamar todo mundo e correr para fora. Chamamos também a vizinhança, porque já estava pegando fogo”, diz.
Vários pontos da rede elétrica foram atingidos pelo balão, deixando no escuro ao menos sete bairros da zona leste. O delegado João Blasi, da Divisão de Investigações sobre Infrações contra o Meio Ambiente, diz que a polícia já tem informações que podem levar aos autores do crime.
“Soltar balão é crime punido com prisão, mas os baloeiros ignoram a perspectiva criminal e insistem na soltura. Esse caso fugiu do padrão pelas dimensões do balão e a sequência de danos que causou, mas estamos na pista dos autores”, disse, sem entrar em detalhes para não atrapalhar a investigação.
Segundo ele, os baloeiros mantêm fabriquetas para construir balões em casas alugadas na periferia da capital e na região metropolitana. “Já mapeamos os bairros críticos e alguns ficam na região de São Miguel Paulista. Muitos grupos de baloeiros se organizam pelas redes sociais, mantendo páginas sem administrador para dificultar a identificação”, afirma.
“É um crime sazonal, pois a soltura é geralmente entre junho e julho, período de festas. Trata-se de atividade criminosa porque causa incêndios e coloca vidas em risco. Imagine um balão a rota de um avião em manobra de pouso ou decolagem”, acrescenta.
Risco de explosão na rede de energia
Conforme a distribuidora de energia Enel São Paulo, só de janeiro a maio foram 30 balões atingindo a rede elétrica da região metropolitana. No total, 6.199 clientes (cerca de 24 mil pessoas) foram afetados pela interrupção no fornecimento de energia por causa da queda de balões na rede.
As cidades com mais casos foram São Paulo (21), Santo André (3) e Cotia (2). Os outros casos foram em São Bernardo, Mauá, Cajamar e Santana de Parnaíba.
Conforme o gerente do Centro de Operação da companhia, Shigueo Yonashiro Neto, o material inflamável dos balões é outra ameaça. “Pode causar acidentes, aumentando o risco de incêndios.”
A recomendação para quem vê um balão na rede elétrica é não tentar removê-lo dos fios, devido à possibilidade de acidente, e acionar a distribuidora. Se cair dentro de uma subestação de energia, há risco de explosão.
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Desde 1998, a prática é considerada crime pela Lei 9.605, com pena de 1 a 3 anos de prisão, além de multa. Os crimes ambientais são inafiançáveis. Os balões já causaram este ano cinco incêndios em reservas florestais, segundo a Fundação Florestal. Na noite de 27 de abril, um balão caiu no Parque Estadual do Jaraguá, na capital, destruindo uma área de preservação de 34 mil m².
Outros dois balões causaram incêndios perto da Serra do Japi, área de preservação ambiental com 55% do território em Jundiaí. Conforme a prefeitura, como a área é monitorada por câmeras, a divisão florestal da Guarda Municipal conseguiu evitar que as chamas se propagassem.
Em duas operações este ano, a polícia fechou 30 fábricas de balões e apreendeu 23 artefatos prontos para soltura. A Operação Huracán, feita em maio em todo o Estado pela Polícia Militar Ambiental e Ministério Público estadual, fechou 18 fábricas clandestinas e apreendeu 19 balões. Foram vistoriadas quase 500 propriedades. Já a Operação Guardião das Florestas, em julho, fechou 12 fábricas e apreendeu quatro balões.
Riscos para a aviação
Em 17 de março, um avião que havia acabado de decolar do Aeroporto de Parobé, no Rio Grande do Sul, se deparou com um balão em sua rota. O piloto tentou manobra, mas o artefato bateu na cauda do aparelho, segundo registro do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa).
O piloto se viu obrigado a fazer um pouso de emergência, como medida de precaução, para verificar as condições da aeronave. O registro informa que não houve vítimas.
Nos últimos cinco anos, o Cenipa recebeu 4,2 mil informes sobre balões no espaço aéreo, média de 830 por ano. Os registros são feitos em um único portal que registra os reportes repassados por pilotos, passageiros ou operadores de voo.
Segundo o Cenipa, os dados fornecidos no sistema são provenientes das fichas preenchidas pelos usuários, sendo possível que um mesmo balão tenha sido reportado por mais de uma pessoa.
O Cenipa informou que, apesar da quantidade de reportes, não há registros recentes de acidentes envolvendo aeronaves com balões no Brasil. O último registro de incidente grave, segundo o órgão, envolveu um Airbus A319 da TAM, em 17 de julho de 2011. A aeronave decolou do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, levando 95 passageiros e seis tripulantes, com destino ao terminal de Confins, em Belo Horizonte.
Seis minutos após a decolagem, a aeronave se chocou com um balão a cerca de 3 mil metros de altura. Um banner no balão obstruiu um dos sensores de velocidade e altitude do Airbus. Os pilotos desligaram o piloto automático, mantendo o avião manualmente até o pouso, em Mina. Na época, a TAM informou que a tripulação seguiu “os procedimentos necessários para garantir a segurança”.
A concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) informou que foram recolhidos 20 balões que caíram na zona aeroportuária. Em junho e julho, período de maior incidência, foram dez.
O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, lidera os avistamentos de balões em São Paulo com 21 reportes até junho, segundo o Cenipa. Estatística própria da concessionária Viracopos aponta 64 avistamentos até junho e 15 quedas de balões dentro do aeroporto. No ano passado, foram 78 avistamentos e 18 quedas.
Desde 2003, a gestão do aeroporto desenvolve a campanha ‘Guardiões de Viracopos’ com a população do entorno, incluindo a conscientização sobre os riscos de soltar balão.