Jockey Club tem queda de público após lei proibir corridas de cavalo: ‘Pessoas ficaram com medo’


Frequentadores de um dos espaços mais tradicionais de São Paulo falam em um movimento 50% menor

Por Gonçalo Junior

Um dia depois de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionar o projeto de lei que proíbe corridas de animais para apostas e jogos de azar em São Paulo, o Jockey Club registrou sensível queda de movimento nesta sexta-feira, 28. Frequentadores falam em um movimento 50% menor; gestores calculam em 30%.

Vários sentimentos justificam a ausência. O primeiro deles é o medo. Apostadores ficaram assustados com as declarações do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que chegou a afirmar que irá ao maior hipódromo do País acompanhado de agentes do Controle de Zoonoses e da polícia para impedir competições.

Movimentação nesta sexta-feira no Jockey Club de São Paulo após a proibição de corridas de animais com apostas ou em jogos de azar na cidade de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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“Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão e preferiram ficar apostando de casa”, afirma o advogado Flavio Markman, de 82 anos, proprietário de animais e frequentador do espaço há 50 anos.

O hipódromo realiza tanto apostas presenciais quanto online, ambas vetadas pela nova lei.

Esse esvaziamento do Jockey podia ser comprovado nas mesas vazias do restaurante principal, no primeiro andar, que era ocupado por cinco mesas por volta das 15h. Normalmente, a ocupação é de 80%, contam os funcionários.

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O mesmo cenário se repete em outros bares e restaurantes do Jockey. “Mesmo numa sexta-feira, um dia com menos movimento, essas mesas estariam cheias. A gente se sente chateado com essa insegurança”, afirma o tradicional leiloeiro Leo Friedberg.

A queda do movimento se refletia diretamente no volume de apostas. O páreo das 16h registrava um volume de investimentos de R$ 390 mil no primeiro colocado pouco antes do início. Em dias “normais”, os volumes oscilam em torno de R$ 600 mil. A possibilidade do fim das corridas dominou várias mesas de apostas, em espaços distintos.

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“A gente tem de tomar todo cuidado principalmente com essas notícias de invasão”, disse um funcionário da área de segurança ao justificar a demora para a liberação da entrada da reportagem do Estadão.

Flavio Markman é frequentador do Jockey há 50 anos: “Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão". Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Outro sentimento predominante é a incerteza quanto ao futuro. Os apostadores não sabem o que vai acontecer com um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. De acordo com a nova lei, a cessão das atividades de corrida de animais deve ocorrer em um período de 180 dias.

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Por outro lado, o entendimento da Prefeitura é diferente: o espaço passa a pertencer ao Município com o encerramento das corridas, “conforme cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade previstas no registro do imóvel”.

A maioria dos frequentadores acredita na judicialização da questão. A alegação central é a Lei 7191/84, que dispõe sobre as atividades da equideocultura no País e determina que a coordenação, fiscalização e orientação do setor são de responsabilidade do Ministério da Agricultura. De acordo com esse entendimento, a lei municipal não pode revogar a federal.

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Jockey Club é um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A possibilidade de as corridas de cavalo serem consideradas ilegais abalou até os atletas, que estão acostumados a manter o foco e a concentração. “A gente tenta fazer o melhor possível, mas essa insegurança é constante. Isso afeta psicologicamente todas as pessoas envolvidas. As corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo? O turfe é uma indústria, existe uma cadeia em torno dos cavalos de corrida”, afirma o jóquei Jorge Ricardo, recordista mundial de vitórias com 13.308 triunfos. “Essa alegação de maus tratos vem de pessoas que não sabem como um cavalo é tratado. Isso é um disparate.”

Jorge Ricardo defende continuidade das atividades no Jockey: "Corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo?" Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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A Prefeitura pretende transformar o hipódromo em parque. Na nova lei do Plano Diretor, o parque proposto para o local de corridas aparece com o nome de João Carlos Di Gênio, empresário fundador do grupo educacional Unip-Objetivo, que morreu em 2022.

Hoje, o Jockey costuma abrir ao público e receber corridas, principalmente aos sábados.  Gestores rebatem a ideia do parque. “Além de demonstrar total desconhecimento sobre o esporte, a proposta sinaliza para a população um claro interesse em tentar desconstruir a história centenária do Jockey Club de São Paulo, bem como de abrir espaço para absurda tentativa de desapropriar o terreno do Hipódromo de Cidade Jardim para possível especulação imobiliária. O Jockey adotará medidas legais cabíveis para garantir seus direitos e das milhares de famílias que dependem das atividades turfísticas”, disse o clube em nota.

Um dos argumentos em favor da transformação em parque municipal é a dívida de IPTU do clube. Segundo a plataforma de Dívida Ativa, o montante é de ao menos R$ 532,6 milhões. O Jockey questiona esse valor.

As dívidas são decorrentes de uma longa crise financeira que se agravou com a queda do interesse pelo turfe, o que levou à inadimplência de sócios. Muitos criadores transferiram seus cavalos a outras cidades, como Campinas (SP), Curitiba e Rio de Janeiro.

Dívidas de IPTU do Jockey chegam a mais de R$ 532,6 milhões; espaço pode virar parque. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O turfe procura se recuperar economicamente depois de uma queda vertiginosa nas últimas décadas. A pandemia interrompeu a entrada de dinheiro com o aluguel de espaço para eventos; as corridas de cavalo continuaram, mas sem público.

O mercado vem reagindo principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. O estágio atual ainda está longe do auge dos anos 1970, quando nasciam 7.000 cavalos por ano no País - hoje, são 1.700. Na Argentina, maior criador da América do Sul, são 8.000 nascimentos.

Para Julio Camargo, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Corrida, uma das saídas para a recuperação financeira dos jockeys, não só em São Paulo, mas em outras cidades, é a exploração comercial dos espaços, com a abertura de restaurantes, lojas e centros comerciais.

Um dia depois de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionar o projeto de lei que proíbe corridas de animais para apostas e jogos de azar em São Paulo, o Jockey Club registrou sensível queda de movimento nesta sexta-feira, 28. Frequentadores falam em um movimento 50% menor; gestores calculam em 30%.

Vários sentimentos justificam a ausência. O primeiro deles é o medo. Apostadores ficaram assustados com as declarações do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que chegou a afirmar que irá ao maior hipódromo do País acompanhado de agentes do Controle de Zoonoses e da polícia para impedir competições.

Movimentação nesta sexta-feira no Jockey Club de São Paulo após a proibição de corridas de animais com apostas ou em jogos de azar na cidade de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão e preferiram ficar apostando de casa”, afirma o advogado Flavio Markman, de 82 anos, proprietário de animais e frequentador do espaço há 50 anos.

O hipódromo realiza tanto apostas presenciais quanto online, ambas vetadas pela nova lei.

Esse esvaziamento do Jockey podia ser comprovado nas mesas vazias do restaurante principal, no primeiro andar, que era ocupado por cinco mesas por volta das 15h. Normalmente, a ocupação é de 80%, contam os funcionários.

O mesmo cenário se repete em outros bares e restaurantes do Jockey. “Mesmo numa sexta-feira, um dia com menos movimento, essas mesas estariam cheias. A gente se sente chateado com essa insegurança”, afirma o tradicional leiloeiro Leo Friedberg.

A queda do movimento se refletia diretamente no volume de apostas. O páreo das 16h registrava um volume de investimentos de R$ 390 mil no primeiro colocado pouco antes do início. Em dias “normais”, os volumes oscilam em torno de R$ 600 mil. A possibilidade do fim das corridas dominou várias mesas de apostas, em espaços distintos.

“A gente tem de tomar todo cuidado principalmente com essas notícias de invasão”, disse um funcionário da área de segurança ao justificar a demora para a liberação da entrada da reportagem do Estadão.

Flavio Markman é frequentador do Jockey há 50 anos: “Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão". Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Outro sentimento predominante é a incerteza quanto ao futuro. Os apostadores não sabem o que vai acontecer com um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. De acordo com a nova lei, a cessão das atividades de corrida de animais deve ocorrer em um período de 180 dias.

Por outro lado, o entendimento da Prefeitura é diferente: o espaço passa a pertencer ao Município com o encerramento das corridas, “conforme cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade previstas no registro do imóvel”.

A maioria dos frequentadores acredita na judicialização da questão. A alegação central é a Lei 7191/84, que dispõe sobre as atividades da equideocultura no País e determina que a coordenação, fiscalização e orientação do setor são de responsabilidade do Ministério da Agricultura. De acordo com esse entendimento, a lei municipal não pode revogar a federal.

Jockey Club é um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A possibilidade de as corridas de cavalo serem consideradas ilegais abalou até os atletas, que estão acostumados a manter o foco e a concentração. “A gente tenta fazer o melhor possível, mas essa insegurança é constante. Isso afeta psicologicamente todas as pessoas envolvidas. As corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo? O turfe é uma indústria, existe uma cadeia em torno dos cavalos de corrida”, afirma o jóquei Jorge Ricardo, recordista mundial de vitórias com 13.308 triunfos. “Essa alegação de maus tratos vem de pessoas que não sabem como um cavalo é tratado. Isso é um disparate.”

Jorge Ricardo defende continuidade das atividades no Jockey: "Corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo?" Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura pretende transformar o hipódromo em parque. Na nova lei do Plano Diretor, o parque proposto para o local de corridas aparece com o nome de João Carlos Di Gênio, empresário fundador do grupo educacional Unip-Objetivo, que morreu em 2022.

Hoje, o Jockey costuma abrir ao público e receber corridas, principalmente aos sábados.  Gestores rebatem a ideia do parque. “Além de demonstrar total desconhecimento sobre o esporte, a proposta sinaliza para a população um claro interesse em tentar desconstruir a história centenária do Jockey Club de São Paulo, bem como de abrir espaço para absurda tentativa de desapropriar o terreno do Hipódromo de Cidade Jardim para possível especulação imobiliária. O Jockey adotará medidas legais cabíveis para garantir seus direitos e das milhares de famílias que dependem das atividades turfísticas”, disse o clube em nota.

Um dos argumentos em favor da transformação em parque municipal é a dívida de IPTU do clube. Segundo a plataforma de Dívida Ativa, o montante é de ao menos R$ 532,6 milhões. O Jockey questiona esse valor.

As dívidas são decorrentes de uma longa crise financeira que se agravou com a queda do interesse pelo turfe, o que levou à inadimplência de sócios. Muitos criadores transferiram seus cavalos a outras cidades, como Campinas (SP), Curitiba e Rio de Janeiro.

Dívidas de IPTU do Jockey chegam a mais de R$ 532,6 milhões; espaço pode virar parque. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O turfe procura se recuperar economicamente depois de uma queda vertiginosa nas últimas décadas. A pandemia interrompeu a entrada de dinheiro com o aluguel de espaço para eventos; as corridas de cavalo continuaram, mas sem público.

O mercado vem reagindo principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. O estágio atual ainda está longe do auge dos anos 1970, quando nasciam 7.000 cavalos por ano no País - hoje, são 1.700. Na Argentina, maior criador da América do Sul, são 8.000 nascimentos.

Para Julio Camargo, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Corrida, uma das saídas para a recuperação financeira dos jockeys, não só em São Paulo, mas em outras cidades, é a exploração comercial dos espaços, com a abertura de restaurantes, lojas e centros comerciais.

Um dia depois de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionar o projeto de lei que proíbe corridas de animais para apostas e jogos de azar em São Paulo, o Jockey Club registrou sensível queda de movimento nesta sexta-feira, 28. Frequentadores falam em um movimento 50% menor; gestores calculam em 30%.

Vários sentimentos justificam a ausência. O primeiro deles é o medo. Apostadores ficaram assustados com as declarações do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que chegou a afirmar que irá ao maior hipódromo do País acompanhado de agentes do Controle de Zoonoses e da polícia para impedir competições.

Movimentação nesta sexta-feira no Jockey Club de São Paulo após a proibição de corridas de animais com apostas ou em jogos de azar na cidade de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão e preferiram ficar apostando de casa”, afirma o advogado Flavio Markman, de 82 anos, proprietário de animais e frequentador do espaço há 50 anos.

O hipódromo realiza tanto apostas presenciais quanto online, ambas vetadas pela nova lei.

Esse esvaziamento do Jockey podia ser comprovado nas mesas vazias do restaurante principal, no primeiro andar, que era ocupado por cinco mesas por volta das 15h. Normalmente, a ocupação é de 80%, contam os funcionários.

O mesmo cenário se repete em outros bares e restaurantes do Jockey. “Mesmo numa sexta-feira, um dia com menos movimento, essas mesas estariam cheias. A gente se sente chateado com essa insegurança”, afirma o tradicional leiloeiro Leo Friedberg.

A queda do movimento se refletia diretamente no volume de apostas. O páreo das 16h registrava um volume de investimentos de R$ 390 mil no primeiro colocado pouco antes do início. Em dias “normais”, os volumes oscilam em torno de R$ 600 mil. A possibilidade do fim das corridas dominou várias mesas de apostas, em espaços distintos.

“A gente tem de tomar todo cuidado principalmente com essas notícias de invasão”, disse um funcionário da área de segurança ao justificar a demora para a liberação da entrada da reportagem do Estadão.

Flavio Markman é frequentador do Jockey há 50 anos: “Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão". Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Outro sentimento predominante é a incerteza quanto ao futuro. Os apostadores não sabem o que vai acontecer com um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. De acordo com a nova lei, a cessão das atividades de corrida de animais deve ocorrer em um período de 180 dias.

Por outro lado, o entendimento da Prefeitura é diferente: o espaço passa a pertencer ao Município com o encerramento das corridas, “conforme cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade previstas no registro do imóvel”.

A maioria dos frequentadores acredita na judicialização da questão. A alegação central é a Lei 7191/84, que dispõe sobre as atividades da equideocultura no País e determina que a coordenação, fiscalização e orientação do setor são de responsabilidade do Ministério da Agricultura. De acordo com esse entendimento, a lei municipal não pode revogar a federal.

Jockey Club é um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A possibilidade de as corridas de cavalo serem consideradas ilegais abalou até os atletas, que estão acostumados a manter o foco e a concentração. “A gente tenta fazer o melhor possível, mas essa insegurança é constante. Isso afeta psicologicamente todas as pessoas envolvidas. As corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo? O turfe é uma indústria, existe uma cadeia em torno dos cavalos de corrida”, afirma o jóquei Jorge Ricardo, recordista mundial de vitórias com 13.308 triunfos. “Essa alegação de maus tratos vem de pessoas que não sabem como um cavalo é tratado. Isso é um disparate.”

Jorge Ricardo defende continuidade das atividades no Jockey: "Corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo?" Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura pretende transformar o hipódromo em parque. Na nova lei do Plano Diretor, o parque proposto para o local de corridas aparece com o nome de João Carlos Di Gênio, empresário fundador do grupo educacional Unip-Objetivo, que morreu em 2022.

Hoje, o Jockey costuma abrir ao público e receber corridas, principalmente aos sábados.  Gestores rebatem a ideia do parque. “Além de demonstrar total desconhecimento sobre o esporte, a proposta sinaliza para a população um claro interesse em tentar desconstruir a história centenária do Jockey Club de São Paulo, bem como de abrir espaço para absurda tentativa de desapropriar o terreno do Hipódromo de Cidade Jardim para possível especulação imobiliária. O Jockey adotará medidas legais cabíveis para garantir seus direitos e das milhares de famílias que dependem das atividades turfísticas”, disse o clube em nota.

Um dos argumentos em favor da transformação em parque municipal é a dívida de IPTU do clube. Segundo a plataforma de Dívida Ativa, o montante é de ao menos R$ 532,6 milhões. O Jockey questiona esse valor.

As dívidas são decorrentes de uma longa crise financeira que se agravou com a queda do interesse pelo turfe, o que levou à inadimplência de sócios. Muitos criadores transferiram seus cavalos a outras cidades, como Campinas (SP), Curitiba e Rio de Janeiro.

Dívidas de IPTU do Jockey chegam a mais de R$ 532,6 milhões; espaço pode virar parque. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O turfe procura se recuperar economicamente depois de uma queda vertiginosa nas últimas décadas. A pandemia interrompeu a entrada de dinheiro com o aluguel de espaço para eventos; as corridas de cavalo continuaram, mas sem público.

O mercado vem reagindo principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. O estágio atual ainda está longe do auge dos anos 1970, quando nasciam 7.000 cavalos por ano no País - hoje, são 1.700. Na Argentina, maior criador da América do Sul, são 8.000 nascimentos.

Para Julio Camargo, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Corrida, uma das saídas para a recuperação financeira dos jockeys, não só em São Paulo, mas em outras cidades, é a exploração comercial dos espaços, com a abertura de restaurantes, lojas e centros comerciais.

Um dia depois de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionar o projeto de lei que proíbe corridas de animais para apostas e jogos de azar em São Paulo, o Jockey Club registrou sensível queda de movimento nesta sexta-feira, 28. Frequentadores falam em um movimento 50% menor; gestores calculam em 30%.

Vários sentimentos justificam a ausência. O primeiro deles é o medo. Apostadores ficaram assustados com as declarações do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), que chegou a afirmar que irá ao maior hipódromo do País acompanhado de agentes do Controle de Zoonoses e da polícia para impedir competições.

Movimentação nesta sexta-feira no Jockey Club de São Paulo após a proibição de corridas de animais com apostas ou em jogos de azar na cidade de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão e preferiram ficar apostando de casa”, afirma o advogado Flavio Markman, de 82 anos, proprietário de animais e frequentador do espaço há 50 anos.

O hipódromo realiza tanto apostas presenciais quanto online, ambas vetadas pela nova lei.

Esse esvaziamento do Jockey podia ser comprovado nas mesas vazias do restaurante principal, no primeiro andar, que era ocupado por cinco mesas por volta das 15h. Normalmente, a ocupação é de 80%, contam os funcionários.

O mesmo cenário se repete em outros bares e restaurantes do Jockey. “Mesmo numa sexta-feira, um dia com menos movimento, essas mesas estariam cheias. A gente se sente chateado com essa insegurança”, afirma o tradicional leiloeiro Leo Friedberg.

A queda do movimento se refletia diretamente no volume de apostas. O páreo das 16h registrava um volume de investimentos de R$ 390 mil no primeiro colocado pouco antes do início. Em dias “normais”, os volumes oscilam em torno de R$ 600 mil. A possibilidade do fim das corridas dominou várias mesas de apostas, em espaços distintos.

“A gente tem de tomar todo cuidado principalmente com essas notícias de invasão”, disse um funcionário da área de segurança ao justificar a demora para a liberação da entrada da reportagem do Estadão.

Flavio Markman é frequentador do Jockey há 50 anos: “Muitas pessoas ficaram com medo de vir com receio de uma invasão". Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Outro sentimento predominante é a incerteza quanto ao futuro. Os apostadores não sabem o que vai acontecer com um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. De acordo com a nova lei, a cessão das atividades de corrida de animais deve ocorrer em um período de 180 dias.

Por outro lado, o entendimento da Prefeitura é diferente: o espaço passa a pertencer ao Município com o encerramento das corridas, “conforme cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade previstas no registro do imóvel”.

A maioria dos frequentadores acredita na judicialização da questão. A alegação central é a Lei 7191/84, que dispõe sobre as atividades da equideocultura no País e determina que a coordenação, fiscalização e orientação do setor são de responsabilidade do Ministério da Agricultura. De acordo com esse entendimento, a lei municipal não pode revogar a federal.

Jockey Club é um dos espaços mais tradicionais da cidade, situado há mais de 80 anos na Cidade Jardim. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A possibilidade de as corridas de cavalo serem consideradas ilegais abalou até os atletas, que estão acostumados a manter o foco e a concentração. “A gente tenta fazer o melhor possível, mas essa insegurança é constante. Isso afeta psicologicamente todas as pessoas envolvidas. As corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo? O turfe é uma indústria, existe uma cadeia em torno dos cavalos de corrida”, afirma o jóquei Jorge Ricardo, recordista mundial de vitórias com 13.308 triunfos. “Essa alegação de maus tratos vem de pessoas que não sabem como um cavalo é tratado. Isso é um disparate.”

Jorge Ricardo defende continuidade das atividades no Jockey: "Corridas de cavalo existem no mundo todo. Por que só proibir em São Paulo?" Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A Prefeitura pretende transformar o hipódromo em parque. Na nova lei do Plano Diretor, o parque proposto para o local de corridas aparece com o nome de João Carlos Di Gênio, empresário fundador do grupo educacional Unip-Objetivo, que morreu em 2022.

Hoje, o Jockey costuma abrir ao público e receber corridas, principalmente aos sábados.  Gestores rebatem a ideia do parque. “Além de demonstrar total desconhecimento sobre o esporte, a proposta sinaliza para a população um claro interesse em tentar desconstruir a história centenária do Jockey Club de São Paulo, bem como de abrir espaço para absurda tentativa de desapropriar o terreno do Hipódromo de Cidade Jardim para possível especulação imobiliária. O Jockey adotará medidas legais cabíveis para garantir seus direitos e das milhares de famílias que dependem das atividades turfísticas”, disse o clube em nota.

Um dos argumentos em favor da transformação em parque municipal é a dívida de IPTU do clube. Segundo a plataforma de Dívida Ativa, o montante é de ao menos R$ 532,6 milhões. O Jockey questiona esse valor.

As dívidas são decorrentes de uma longa crise financeira que se agravou com a queda do interesse pelo turfe, o que levou à inadimplência de sócios. Muitos criadores transferiram seus cavalos a outras cidades, como Campinas (SP), Curitiba e Rio de Janeiro.

Dívidas de IPTU do Jockey chegam a mais de R$ 532,6 milhões; espaço pode virar parque. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O turfe procura se recuperar economicamente depois de uma queda vertiginosa nas últimas décadas. A pandemia interrompeu a entrada de dinheiro com o aluguel de espaço para eventos; as corridas de cavalo continuaram, mas sem público.

O mercado vem reagindo principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. O estágio atual ainda está longe do auge dos anos 1970, quando nasciam 7.000 cavalos por ano no País - hoje, são 1.700. Na Argentina, maior criador da América do Sul, são 8.000 nascimentos.

Para Julio Camargo, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Corrida, uma das saídas para a recuperação financeira dos jockeys, não só em São Paulo, mas em outras cidades, é a exploração comercial dos espaços, com a abertura de restaurantes, lojas e centros comerciais.

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