Lorena lidera ranking de violência; polícia pede reforço


Delegado da cidade considera a mais exposta à criminalidade no Estado reclama da estrutura policial à sua disposição; psicóloga criou grupo de apoio para mães que perderam filhos para a violência

Por Marco Antônio Carvalho

SÃO PAULO - Ernani Braga é delegado de polícia há 15 anos em Lorena, cidade 200 quilômetros distante de São Paulo em direção ao Rio. No meio da manhã da sexta-feira passada, ele lanchava em seu gabinete enquanto liberava uma papelada para despachar uma arma de fogo, um revólver calibre 38 preto, apreendida pela sua equipe no turno anterior. “Aqui, há mais arma do que deveria. Há mais do droga do que deveria haver para uma cidade desse tamanho. E o aumento da violência não nos transforma numa prioridade dentro da polícia. Olha só o meu prédio. Não dá para fazer milagre”, reclama.

Policiais reclamaram de estrutura de delegacia Foto: Felipe Rau/Estadão

Da sala dele, no primeiro andar de um prédio visivelmente sem a manutenção devida, ele sai para mostrar rachaduras nas salas vizinhas, a porta quebrada e as janelas estilhaçadas no térreo e o mato alto do lado de fora. Na equipe, ressente-se de escrivães, que poderiam acelerar o trabalho cartorial, facilitando as investigações. “A equipe se desmotiva com isso tudo”, diz. 

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Confira o Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV) de todas as 138 cidades que integram a análise do Instituto Sou da Paz

A queda na motivação é notada na taxa de esclarecimento de homicídios. Diz Braga que em 2016, 90% dos 30 homicídios da cidade foram esclarecidos. Em 2017, foram só 50% dos 28 assassinatos. “Tem que haver a repressão contra esses casos. Quando não há, o tráfico fica mais à vontade. Precisamos de prioridade para melhorias”, diz. Braga diz que a maioria dos assassinatos se dá pela disputa entre diferentes quadrilhas que vendem droga na cidade, na disputa por território. Cobra ainda uma ação mais intensa na Rodovia Presidente Dutra.

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Apoio. Braga ainda não era o delegado da cidade quando em 1991 quatro homens entraram em uma residência ampla no centro de Lorena. A intenção era furtar o que vissem pela frente, mas o resultado acabou sendo muito mais trágico. Mataram Cristiano, de 18 anos, morador da casa, que ao chegar e perceber a movimentação estranha empunhou uma espingarda, presente do avô, arma que não conseguiu usar antes de ser atingido. Mataram também Graziela, de 15, com o telefone na mão. Fugiram, mas acabaram sendo pegos e condenados pelo crime que chocou a cidade. Os detalhes ainda estão vivos na lembrança da psicóloga Alda Patrícia Fernandes Nunes Rangel, de 69 anos.

Alda perdeu os dois filhos assassinados e montou grupo de apoio que atrai mães até de cidades vizinhas Foto: Felipe Rau/Estadão

Os detalhes estão vivos, mas não são mais tão dolorosos para ela, que estudou no seu doutorado o que chama de luto parental, a dor de pais que perdem filhos. “O caminho natural é que os filhos enterrem seus pais”, diz no seu consultório, uma sala conjugada que dá acesso a sua residência, a mesma onde chegou naquela noite do seu aniversário e se deparou com os corpos dos seus filhos na sala e no quarto. Do consultório, também há um acesso para uma sala onde ficam dispostas cerca de 20 cadeiras e um quadro de fotografias na parede. É ali onde há 12 anos recebe mães que perderam filhos de forma inesperada, muitos vítimas da violência, para conversar sobre luto. 

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No grupo, que Alda diz ser “terapêutico como consequência”, as mães contam as histórias dos filhos e recebe apoio das colegas. A notícia do trabalho já se espalhou pelas cidades vizinhas e é comum que as reuniões contem com a participação de mães vindas de Guaratinguetá, Aparecida e Cunha. “As memórias dos entes têm de ser preservadas, mas o luto de ser feito com o lema de superação. Contar e recontar a história ajuda a criar uma narrativa e lidar melhor com a situação, mesmo que às vezes não haja uma explicação lógica para o que aconteceu”, diz. 

Se aprendeu a conviver com a lembrança da morte dos filhos, Alda ainda demonstra receio de ser novamente vítima da criminalidade. Na sua casa são dez câmeras de segurança monitorandoe ela não se engana com o clima aparentemente pacato da cidade: sempre tranca o cadeado da grade do consultório quando não há ninguém no cômodo. “Fiquei com medo de sair e entrar em casa. Eu vivo assim”, diz.

Tendência de queda. Sobre Lorena, a Secretaria da Segurança Pública disse que as ações realizadas por ambas as polícias “possibilitaram que os indicadores criminais seguissem a tendência de queda de todo Estado”. “Em 2017, os homicídios dolosos caíram 6,66%, sendo que cerca de 50% dos casos foram esclarecidos. Os roubos (incluindo carga e banco) também reduziram 33,3%. As operações no município são ininterruptas e somente no ano passado 599 pessoas foram presas por ambas as polícias, 22% a mais que em 2016. Também foram apreendidas mais armas de fogo em 2017, 18,4% a mais que no ano anterior.” Sobre as reclamações sobre a estrutura da delegacia, a SSP disse que está em andamento um projeto de reforma, mas não informou em qual estágio de execução se encontra tal projeto, já que a reportagem não constatou qualquer obra no local na sexta-feira passada.

SÃO PAULO - Ernani Braga é delegado de polícia há 15 anos em Lorena, cidade 200 quilômetros distante de São Paulo em direção ao Rio. No meio da manhã da sexta-feira passada, ele lanchava em seu gabinete enquanto liberava uma papelada para despachar uma arma de fogo, um revólver calibre 38 preto, apreendida pela sua equipe no turno anterior. “Aqui, há mais arma do que deveria. Há mais do droga do que deveria haver para uma cidade desse tamanho. E o aumento da violência não nos transforma numa prioridade dentro da polícia. Olha só o meu prédio. Não dá para fazer milagre”, reclama.

Policiais reclamaram de estrutura de delegacia Foto: Felipe Rau/Estadão

Da sala dele, no primeiro andar de um prédio visivelmente sem a manutenção devida, ele sai para mostrar rachaduras nas salas vizinhas, a porta quebrada e as janelas estilhaçadas no térreo e o mato alto do lado de fora. Na equipe, ressente-se de escrivães, que poderiam acelerar o trabalho cartorial, facilitando as investigações. “A equipe se desmotiva com isso tudo”, diz. 

Confira o Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV) de todas as 138 cidades que integram a análise do Instituto Sou da Paz

A queda na motivação é notada na taxa de esclarecimento de homicídios. Diz Braga que em 2016, 90% dos 30 homicídios da cidade foram esclarecidos. Em 2017, foram só 50% dos 28 assassinatos. “Tem que haver a repressão contra esses casos. Quando não há, o tráfico fica mais à vontade. Precisamos de prioridade para melhorias”, diz. Braga diz que a maioria dos assassinatos se dá pela disputa entre diferentes quadrilhas que vendem droga na cidade, na disputa por território. Cobra ainda uma ação mais intensa na Rodovia Presidente Dutra.

Apoio. Braga ainda não era o delegado da cidade quando em 1991 quatro homens entraram em uma residência ampla no centro de Lorena. A intenção era furtar o que vissem pela frente, mas o resultado acabou sendo muito mais trágico. Mataram Cristiano, de 18 anos, morador da casa, que ao chegar e perceber a movimentação estranha empunhou uma espingarda, presente do avô, arma que não conseguiu usar antes de ser atingido. Mataram também Graziela, de 15, com o telefone na mão. Fugiram, mas acabaram sendo pegos e condenados pelo crime que chocou a cidade. Os detalhes ainda estão vivos na lembrança da psicóloga Alda Patrícia Fernandes Nunes Rangel, de 69 anos.

Alda perdeu os dois filhos assassinados e montou grupo de apoio que atrai mães até de cidades vizinhas Foto: Felipe Rau/Estadão

Os detalhes estão vivos, mas não são mais tão dolorosos para ela, que estudou no seu doutorado o que chama de luto parental, a dor de pais que perdem filhos. “O caminho natural é que os filhos enterrem seus pais”, diz no seu consultório, uma sala conjugada que dá acesso a sua residência, a mesma onde chegou naquela noite do seu aniversário e se deparou com os corpos dos seus filhos na sala e no quarto. Do consultório, também há um acesso para uma sala onde ficam dispostas cerca de 20 cadeiras e um quadro de fotografias na parede. É ali onde há 12 anos recebe mães que perderam filhos de forma inesperada, muitos vítimas da violência, para conversar sobre luto. 

No grupo, que Alda diz ser “terapêutico como consequência”, as mães contam as histórias dos filhos e recebe apoio das colegas. A notícia do trabalho já se espalhou pelas cidades vizinhas e é comum que as reuniões contem com a participação de mães vindas de Guaratinguetá, Aparecida e Cunha. “As memórias dos entes têm de ser preservadas, mas o luto de ser feito com o lema de superação. Contar e recontar a história ajuda a criar uma narrativa e lidar melhor com a situação, mesmo que às vezes não haja uma explicação lógica para o que aconteceu”, diz. 

Se aprendeu a conviver com a lembrança da morte dos filhos, Alda ainda demonstra receio de ser novamente vítima da criminalidade. Na sua casa são dez câmeras de segurança monitorandoe ela não se engana com o clima aparentemente pacato da cidade: sempre tranca o cadeado da grade do consultório quando não há ninguém no cômodo. “Fiquei com medo de sair e entrar em casa. Eu vivo assim”, diz.

Tendência de queda. Sobre Lorena, a Secretaria da Segurança Pública disse que as ações realizadas por ambas as polícias “possibilitaram que os indicadores criminais seguissem a tendência de queda de todo Estado”. “Em 2017, os homicídios dolosos caíram 6,66%, sendo que cerca de 50% dos casos foram esclarecidos. Os roubos (incluindo carga e banco) também reduziram 33,3%. As operações no município são ininterruptas e somente no ano passado 599 pessoas foram presas por ambas as polícias, 22% a mais que em 2016. Também foram apreendidas mais armas de fogo em 2017, 18,4% a mais que no ano anterior.” Sobre as reclamações sobre a estrutura da delegacia, a SSP disse que está em andamento um projeto de reforma, mas não informou em qual estágio de execução se encontra tal projeto, já que a reportagem não constatou qualquer obra no local na sexta-feira passada.

SÃO PAULO - Ernani Braga é delegado de polícia há 15 anos em Lorena, cidade 200 quilômetros distante de São Paulo em direção ao Rio. No meio da manhã da sexta-feira passada, ele lanchava em seu gabinete enquanto liberava uma papelada para despachar uma arma de fogo, um revólver calibre 38 preto, apreendida pela sua equipe no turno anterior. “Aqui, há mais arma do que deveria. Há mais do droga do que deveria haver para uma cidade desse tamanho. E o aumento da violência não nos transforma numa prioridade dentro da polícia. Olha só o meu prédio. Não dá para fazer milagre”, reclama.

Policiais reclamaram de estrutura de delegacia Foto: Felipe Rau/Estadão

Da sala dele, no primeiro andar de um prédio visivelmente sem a manutenção devida, ele sai para mostrar rachaduras nas salas vizinhas, a porta quebrada e as janelas estilhaçadas no térreo e o mato alto do lado de fora. Na equipe, ressente-se de escrivães, que poderiam acelerar o trabalho cartorial, facilitando as investigações. “A equipe se desmotiva com isso tudo”, diz. 

Confira o Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV) de todas as 138 cidades que integram a análise do Instituto Sou da Paz

A queda na motivação é notada na taxa de esclarecimento de homicídios. Diz Braga que em 2016, 90% dos 30 homicídios da cidade foram esclarecidos. Em 2017, foram só 50% dos 28 assassinatos. “Tem que haver a repressão contra esses casos. Quando não há, o tráfico fica mais à vontade. Precisamos de prioridade para melhorias”, diz. Braga diz que a maioria dos assassinatos se dá pela disputa entre diferentes quadrilhas que vendem droga na cidade, na disputa por território. Cobra ainda uma ação mais intensa na Rodovia Presidente Dutra.

Apoio. Braga ainda não era o delegado da cidade quando em 1991 quatro homens entraram em uma residência ampla no centro de Lorena. A intenção era furtar o que vissem pela frente, mas o resultado acabou sendo muito mais trágico. Mataram Cristiano, de 18 anos, morador da casa, que ao chegar e perceber a movimentação estranha empunhou uma espingarda, presente do avô, arma que não conseguiu usar antes de ser atingido. Mataram também Graziela, de 15, com o telefone na mão. Fugiram, mas acabaram sendo pegos e condenados pelo crime que chocou a cidade. Os detalhes ainda estão vivos na lembrança da psicóloga Alda Patrícia Fernandes Nunes Rangel, de 69 anos.

Alda perdeu os dois filhos assassinados e montou grupo de apoio que atrai mães até de cidades vizinhas Foto: Felipe Rau/Estadão

Os detalhes estão vivos, mas não são mais tão dolorosos para ela, que estudou no seu doutorado o que chama de luto parental, a dor de pais que perdem filhos. “O caminho natural é que os filhos enterrem seus pais”, diz no seu consultório, uma sala conjugada que dá acesso a sua residência, a mesma onde chegou naquela noite do seu aniversário e se deparou com os corpos dos seus filhos na sala e no quarto. Do consultório, também há um acesso para uma sala onde ficam dispostas cerca de 20 cadeiras e um quadro de fotografias na parede. É ali onde há 12 anos recebe mães que perderam filhos de forma inesperada, muitos vítimas da violência, para conversar sobre luto. 

No grupo, que Alda diz ser “terapêutico como consequência”, as mães contam as histórias dos filhos e recebe apoio das colegas. A notícia do trabalho já se espalhou pelas cidades vizinhas e é comum que as reuniões contem com a participação de mães vindas de Guaratinguetá, Aparecida e Cunha. “As memórias dos entes têm de ser preservadas, mas o luto de ser feito com o lema de superação. Contar e recontar a história ajuda a criar uma narrativa e lidar melhor com a situação, mesmo que às vezes não haja uma explicação lógica para o que aconteceu”, diz. 

Se aprendeu a conviver com a lembrança da morte dos filhos, Alda ainda demonstra receio de ser novamente vítima da criminalidade. Na sua casa são dez câmeras de segurança monitorandoe ela não se engana com o clima aparentemente pacato da cidade: sempre tranca o cadeado da grade do consultório quando não há ninguém no cômodo. “Fiquei com medo de sair e entrar em casa. Eu vivo assim”, diz.

Tendência de queda. Sobre Lorena, a Secretaria da Segurança Pública disse que as ações realizadas por ambas as polícias “possibilitaram que os indicadores criminais seguissem a tendência de queda de todo Estado”. “Em 2017, os homicídios dolosos caíram 6,66%, sendo que cerca de 50% dos casos foram esclarecidos. Os roubos (incluindo carga e banco) também reduziram 33,3%. As operações no município são ininterruptas e somente no ano passado 599 pessoas foram presas por ambas as polícias, 22% a mais que em 2016. Também foram apreendidas mais armas de fogo em 2017, 18,4% a mais que no ano anterior.” Sobre as reclamações sobre a estrutura da delegacia, a SSP disse que está em andamento um projeto de reforma, mas não informou em qual estágio de execução se encontra tal projeto, já que a reportagem não constatou qualquer obra no local na sexta-feira passada.

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