O medo ao me preparar para sair de casa e ir ao Vale do Anhangabaú cobrir a Virada Cultural no centro da cidade para o Estadão era perder o celular. Ou melhor, que me furtassem ele. Assim, me preparei para tal: pochete cruzada no peito, com zíper e lacre, pouquíssimos pertencentes e casaco grande, apesar do calor, para escondê-la por baixo.
Segui os conselhos dos colegas jornalistas: apenas sacava o aparelho da bolsa próximo a viaturas policiais e sempre longe de grandes grupos. Me senti segura. Mas o que aconteceu nas horas seguintes, e que me tirou toda essa sensação segurança, não tinha mais nada a ver com levarem meus preciosos pertences, mas sim, sair ilesa naquela noite.
Primeiro foram os relatos de dezenas de pessoas que se aproximavam sem parar das viaturas para avisar dos furtos por grandes grupos de jovens, um atrás do outro. Alerta amarelo. Na sequência, o primeiro arrastão. Um grupo de mais de 20 pessoas entra no meio do público, correndo em fila como se fosse um trenzinho que entra, sai e entra novamente na multidão, como se nada estivesse acontecendo. Nada aconteceu mesmo. Eles saíram correndo, deixando várias vítimas de furto para trás, e o show seguiu. Susto, mas previsível.
Não demorou muito para outro acontecer próximo dali. Desta vez eu estava longe, mas vi a correria do outro lado do palco - de um lado pessoas correndo e, do outro, o show continuava. Noite estranha com gente esquisita, eu não estava achando nada legal.
Mas não acaba aí. A cena de filme de apocalipse aconteceu não muito depois, no bar, quando um novo arrastão foi anunciado por quem vinha correndo enquanto fugia. Os bartenders decidiram pegar garrafas de vidro vazias e subir em caixotes - algo como guerrilheiros que vão defender a causa (qual eu não sei). Entre vai e fica, eu corri. A noite ainda seguiu com brigas e mais bagunça, mas eu já estava longe. Sim, voltei para casa com meu celular, mas perdi minha segurança de sair para fazer reportagens sozinha, na madrugada, no centro…