Marginal Tietê: SP estuda criar vias para moto e bike suspensas e rampas em ‘caracol’; veja como ficaria


Proposta precisará ser autorizada pelo governo do Estado e divide opinião entre especialistas; previsão é que eventual obra levaria até dois anos para ser concluída

Por Priscila Mengue
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo estuda a implantação de uma ciclovia e uma “motovia” suspensas sobre os taludes do Rio Tietê ao longo dos 25 quilômetros da marginal, da Rodovia Castelo Branco, no chamado Cebolão, até as imediações do Parque Ecológico do Tietê. A proposta prevê também a construção de acessos para as bicicletas e motocicletas por “rampas caracóis” ao lado de cada ponte. A proposta tem dividido opiniões entre especialistas em urbanismo e tráfego.

O estudo é inicial e propõe que a “motovia” fique em uma das margens do rio, marcada em azul e com duas pistas em cada um dos sentidos. Já a ciclovia seria implantada no lado oposto, em vermelho, com o mesmo número de pistas e futuramente interligada com a ciclovia do Rio Pinheiros.

Ao Estadão, o secretário municipal de Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, destacou que se trata de uma ideia em desenvolvimento desde janeiro, que ainda não entrou em fase de projeto. A estimativa é que obra levaria de um ano e meio a dois anos para ser implementada, porém o custo está em detalhamento e será divulgado na segunda quinzena de abril.

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Para evitar colisões entre motociclistas em sentidos distintos, a ideia é construir uma divisão de concreto e impor um limite de velocidade mais baixo do que o da via expressa. “A velocidade nessa nova pista (elevada) seria de 40, 50 quilômetros por hora no máximo, com radar para fiscalizar”, destacou.

As estruturas estarão acima do nível de vazão das cheias, nos taludes da marginal. A proposta inclui a colocação de floreiras, parte delas com 1,5 mil árvores de pequeno porte, a fim de criar 25 mil metros quadrados de novas áreas verdes, que idealmente ajudariam na recuperação do rio. Em março, o governador Tarcísio Freitas (Republicanos) anunciou um programa bilionário de despoluição para o Tietê, aos moldes do aplicado no Rio Pinheiros.

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A implantação das novas pistas depende de anuência do Estado, responsável pelo rio, como apontou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em uma agenda pública sobre outro tema na quarta-feira, 12. “Como está em fase de estudo, a gente precisa ver agora se há uma concordância do governo do Estado, lembrando que ali estamos nas margens do rio”, respondeu após ser questionado.

Ele ressaltou que a proposta nasceu a partir do projeto Faixa Azul, de pistas exclusivas para motocicletas, hoje em operação nas Avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes, mas que terá outros moldes, com a via elevada. “A Faixa Azul nas margens dos rios é uma outra etapa que a gente espera que dê certo. É importante estar sempre buscando alternativas, para poder melhor e diminuir o número de acidentes de trânsito na cidade de São Paulo.”

Proposta prevê acessos em formato de caracol para os motociclistas e ciclistas Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação
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Ao Estadão, o secretário municipal da Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, descreveu a proposta como uma junção de exemplos que a Prefeitura conheceu na Malásia (país com uma alta frota de motocicletas e com variedade de vias segregadas) e da ciclovia Tim Maia, no Rio. Sobre os quatro desabamentos enfrentados pela inspiração brasileira, de 2016 a 2019, ele destacou a competência da engenharia brasileira e o fato de que a marginal não ser vizinha do mar, como no caso carioca.

Teixeira diz que a proposta é principalmente uma estratégia para reduzir o número de acidentes graves nas marginais. Somente na Tietê, a média que cita é cerca de 10 mortes de motociclistas por ano. Como a do Pinheiros tem estações de trem e um parque, percebeu-se que a alternativa da via segregada seria recomendada e viável apenas nas margens do Tietê.

Pelo tráfego pesado e a característica de via expressa da marginal, a Prefeitura chegou à conclusão de que uma faixa azul nos moldes das já implantadas na cidade (separada basicamente por sinalização) deixaria os motociclistas vulneráveis. “Tem um risco muito grande de dar errado, com a agressividade que o tráfego tem na região”, diz o secretário.

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Ele explica que um dos motivos para a opção da via elevada é o desconforto ambiental de andar de bicicleta ou motocicleta na margem do rio e pela dimensão do espaço, mais estreito do que no Pinheiros. “Se colocar a bicicleta andando naquele verde, vai andar muito perto do carro. É um ruído ensurdecedor, depois e 15 minutos, a pessoa não aguenta. A bicicleta mais distante da pista proporciona ter mais prazer para pedalar.”

Sobre um eventual desconforto pelo cheiro, o secretário cita a expectativa pela despoluição, com uma mudança significativa como ocorreu no Pinheiros. Segundo ele, a proposta das vias elevadas será em breve apresentado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado.

Embora desenvolvida na gestão atual, a entrega da obra seria feita pelo próximo prefeito eleito. Como na Faixa Azul, a proposta tem apoio do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP).

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Simulações de estudo da CET mostram implantação de ciclovia e motovia sobre o Rio Tietê Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação

Um dos autores do desenho preliminar da proposta, o arquiteto e engenheiro Maxi Modina explica que buscou uma solução com pouca interferência, “como algo que flutuasse no rio e traria uma elegância”. Sobre os acessos em caracol, sustentados por um pilar e arco, explicou ao Estadão que permitem o menor percurso e uma redução na velocidade.

Por estarem acima do nível da vazia, as vias elevadas não seriam afetadas por enchentes nos moldes das que são registradas na várzea do Tietê, segundo o engenheiro. “A gente quer que seja um presente para a cidade, que ela funcione melhor e fique mais bonita.”

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Pontos negativos x positivos da proposta: o que dizem os especialistas

A proposta de pistas elevadas divide opiniões entre especialistas, tanto do ponto de vista de segurança viária quanto urbanístico. O tema é delicado por envolver também a Marginal do Tietê, uma obra datada da década de 1950 a 1970 e que priorizou o transporte de automóveis em detrimento da valorização do rio.

Pós-doutoranda Engenharia Ambiental e Urbana na UFABC e autora do livro Várzea do Tietê: projeto e urbanização marginal, Jordana Zola comenta que a proposta da Prefeitura pode fazer sentido do ponto de vista da mobilidade, mas que “carrega a herança de um modelo de urbanização século 20″, do entorno dos rios como vias de circulação expressa.

“Vão construir duas novas infraestruturas de 25 quilômetros, 50 quilômetros no total, sobre a calha do rio, tão maltratado. Isso precisa ser mais aprofundado no que significa para a cidade e para o rio”, avalia. “É uma oportunidade de discutir o desenho da cidade estruturalmente e não construir mais duas vias expressas. É o momento para se debater”, diz.

Ela pontua que as autopistas são consideradas ultrapassadas e que a tendência internacional é de intervenções para reduzir ou “acalmar” as vias expressas. “Com, por exemplo, um novo desenho de pistas, mais amigável, com a redução do número faixas e incentivos para outros modos de deslocamento”, afirma. Como exemplo, avalia que as intervenções recentes do Estado no Rio Pinheiros (com o parque e a ciclovia) apontam para uma direção mais alinhada com a tendência global, de reaproximação da população com os cursos d’água.

Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na USP com uma pesquisa sobre as várzeas de São Paulo, Anita Freire diz que uma eventual motovia suspensa “é mais um sistema modal viário que se sobrepõem ao espaço do rio”. “Significa mais uma vez ceder o espaço do rio para o sistema de mobilidade individual motorizado e de alta velocidade, é mais uma barreira que se coloca entre a cidade e o rio”.

A pesquisadora avalia que a proposta da ciclovia elevada talvez não seja a melhor alternativa, por se sobrepor ao rio, embora tenha pontos positivos, por aproximar a população do Tietê. “As margens dos rios são áreas muito sensíveis do ponto de vista urbano e ambiental, grandes áreas ao longo do Rio Tietê são consideradas áreas de risco por inundação, e, em um contexto de mudanças climáticas, cada vez mais a ocupação destas áreas vai demandar projetos urbanos que levem em consideração essas questões ambientais e urbanas”, explica.

Já o doutor em Engenharia com foco em Mobilidade Urbana, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, avalia a proposta como positiva, mas que precisa de alguns ajustes técnicos. Ele propõe que a implantação seja por trechos, a fim de facilitar eventuais ajustes, e destaca que será necessário regular quais veículos poderão utilizar a ciclovia, especialmente no caso de elétricos.

“Uma campanha de conscientização antes de iniciar os acessos é primordial, pois os usuários vão querer ‘testar’ as faixas com abusos de velocidade e riscos de acidente, que podem impactar negativamente na segurança e posteriormente numa opinião pública desfavorável.”

Ele salienta que são necessárias ações para reduzir os acidentes com motos. “A via expressa tem muitos veículos pesados, o motociclista fica muito fragilizado. É um risco iminente de acidentes”, diz. “A motocicleta é, em si, um risco”, resume, ao citar as características de não ter um casco de proteção, possuir apenas duas rodas e funcionar com uma menor capacidade de frenagem.

Opinião oposta tem Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Ele considera que proposta tem problemas de insegurança, acessibilidade e custo e, ainda, que a Prefeitura deveria pensar formas de tornar a marginal mais segura, em vez de segregar parte dos veículos da via. “Uma ciclovia elevada custo muito mais caro que uma ciclovia normal.”

A Prefeitura de São Paulo estuda a implantação de uma ciclovia e uma “motovia” suspensas sobre os taludes do Rio Tietê ao longo dos 25 quilômetros da marginal, da Rodovia Castelo Branco, no chamado Cebolão, até as imediações do Parque Ecológico do Tietê. A proposta prevê também a construção de acessos para as bicicletas e motocicletas por “rampas caracóis” ao lado de cada ponte. A proposta tem dividido opiniões entre especialistas em urbanismo e tráfego.

O estudo é inicial e propõe que a “motovia” fique em uma das margens do rio, marcada em azul e com duas pistas em cada um dos sentidos. Já a ciclovia seria implantada no lado oposto, em vermelho, com o mesmo número de pistas e futuramente interligada com a ciclovia do Rio Pinheiros.

Ao Estadão, o secretário municipal de Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, destacou que se trata de uma ideia em desenvolvimento desde janeiro, que ainda não entrou em fase de projeto. A estimativa é que obra levaria de um ano e meio a dois anos para ser implementada, porém o custo está em detalhamento e será divulgado na segunda quinzena de abril.

Para evitar colisões entre motociclistas em sentidos distintos, a ideia é construir uma divisão de concreto e impor um limite de velocidade mais baixo do que o da via expressa. “A velocidade nessa nova pista (elevada) seria de 40, 50 quilômetros por hora no máximo, com radar para fiscalizar”, destacou.

As estruturas estarão acima do nível de vazão das cheias, nos taludes da marginal. A proposta inclui a colocação de floreiras, parte delas com 1,5 mil árvores de pequeno porte, a fim de criar 25 mil metros quadrados de novas áreas verdes, que idealmente ajudariam na recuperação do rio. Em março, o governador Tarcísio Freitas (Republicanos) anunciou um programa bilionário de despoluição para o Tietê, aos moldes do aplicado no Rio Pinheiros.

A implantação das novas pistas depende de anuência do Estado, responsável pelo rio, como apontou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em uma agenda pública sobre outro tema na quarta-feira, 12. “Como está em fase de estudo, a gente precisa ver agora se há uma concordância do governo do Estado, lembrando que ali estamos nas margens do rio”, respondeu após ser questionado.

Ele ressaltou que a proposta nasceu a partir do projeto Faixa Azul, de pistas exclusivas para motocicletas, hoje em operação nas Avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes, mas que terá outros moldes, com a via elevada. “A Faixa Azul nas margens dos rios é uma outra etapa que a gente espera que dê certo. É importante estar sempre buscando alternativas, para poder melhor e diminuir o número de acidentes de trânsito na cidade de São Paulo.”

Proposta prevê acessos em formato de caracol para os motociclistas e ciclistas Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação

Ao Estadão, o secretário municipal da Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, descreveu a proposta como uma junção de exemplos que a Prefeitura conheceu na Malásia (país com uma alta frota de motocicletas e com variedade de vias segregadas) e da ciclovia Tim Maia, no Rio. Sobre os quatro desabamentos enfrentados pela inspiração brasileira, de 2016 a 2019, ele destacou a competência da engenharia brasileira e o fato de que a marginal não ser vizinha do mar, como no caso carioca.

Teixeira diz que a proposta é principalmente uma estratégia para reduzir o número de acidentes graves nas marginais. Somente na Tietê, a média que cita é cerca de 10 mortes de motociclistas por ano. Como a do Pinheiros tem estações de trem e um parque, percebeu-se que a alternativa da via segregada seria recomendada e viável apenas nas margens do Tietê.

Pelo tráfego pesado e a característica de via expressa da marginal, a Prefeitura chegou à conclusão de que uma faixa azul nos moldes das já implantadas na cidade (separada basicamente por sinalização) deixaria os motociclistas vulneráveis. “Tem um risco muito grande de dar errado, com a agressividade que o tráfego tem na região”, diz o secretário.

Ele explica que um dos motivos para a opção da via elevada é o desconforto ambiental de andar de bicicleta ou motocicleta na margem do rio e pela dimensão do espaço, mais estreito do que no Pinheiros. “Se colocar a bicicleta andando naquele verde, vai andar muito perto do carro. É um ruído ensurdecedor, depois e 15 minutos, a pessoa não aguenta. A bicicleta mais distante da pista proporciona ter mais prazer para pedalar.”

Sobre um eventual desconforto pelo cheiro, o secretário cita a expectativa pela despoluição, com uma mudança significativa como ocorreu no Pinheiros. Segundo ele, a proposta das vias elevadas será em breve apresentado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado.

Embora desenvolvida na gestão atual, a entrega da obra seria feita pelo próximo prefeito eleito. Como na Faixa Azul, a proposta tem apoio do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP).

Simulações de estudo da CET mostram implantação de ciclovia e motovia sobre o Rio Tietê Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação

Um dos autores do desenho preliminar da proposta, o arquiteto e engenheiro Maxi Modina explica que buscou uma solução com pouca interferência, “como algo que flutuasse no rio e traria uma elegância”. Sobre os acessos em caracol, sustentados por um pilar e arco, explicou ao Estadão que permitem o menor percurso e uma redução na velocidade.

Por estarem acima do nível da vazia, as vias elevadas não seriam afetadas por enchentes nos moldes das que são registradas na várzea do Tietê, segundo o engenheiro. “A gente quer que seja um presente para a cidade, que ela funcione melhor e fique mais bonita.”

Pontos negativos x positivos da proposta: o que dizem os especialistas

A proposta de pistas elevadas divide opiniões entre especialistas, tanto do ponto de vista de segurança viária quanto urbanístico. O tema é delicado por envolver também a Marginal do Tietê, uma obra datada da década de 1950 a 1970 e que priorizou o transporte de automóveis em detrimento da valorização do rio.

Pós-doutoranda Engenharia Ambiental e Urbana na UFABC e autora do livro Várzea do Tietê: projeto e urbanização marginal, Jordana Zola comenta que a proposta da Prefeitura pode fazer sentido do ponto de vista da mobilidade, mas que “carrega a herança de um modelo de urbanização século 20″, do entorno dos rios como vias de circulação expressa.

“Vão construir duas novas infraestruturas de 25 quilômetros, 50 quilômetros no total, sobre a calha do rio, tão maltratado. Isso precisa ser mais aprofundado no que significa para a cidade e para o rio”, avalia. “É uma oportunidade de discutir o desenho da cidade estruturalmente e não construir mais duas vias expressas. É o momento para se debater”, diz.

Ela pontua que as autopistas são consideradas ultrapassadas e que a tendência internacional é de intervenções para reduzir ou “acalmar” as vias expressas. “Com, por exemplo, um novo desenho de pistas, mais amigável, com a redução do número faixas e incentivos para outros modos de deslocamento”, afirma. Como exemplo, avalia que as intervenções recentes do Estado no Rio Pinheiros (com o parque e a ciclovia) apontam para uma direção mais alinhada com a tendência global, de reaproximação da população com os cursos d’água.

Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na USP com uma pesquisa sobre as várzeas de São Paulo, Anita Freire diz que uma eventual motovia suspensa “é mais um sistema modal viário que se sobrepõem ao espaço do rio”. “Significa mais uma vez ceder o espaço do rio para o sistema de mobilidade individual motorizado e de alta velocidade, é mais uma barreira que se coloca entre a cidade e o rio”.

A pesquisadora avalia que a proposta da ciclovia elevada talvez não seja a melhor alternativa, por se sobrepor ao rio, embora tenha pontos positivos, por aproximar a população do Tietê. “As margens dos rios são áreas muito sensíveis do ponto de vista urbano e ambiental, grandes áreas ao longo do Rio Tietê são consideradas áreas de risco por inundação, e, em um contexto de mudanças climáticas, cada vez mais a ocupação destas áreas vai demandar projetos urbanos que levem em consideração essas questões ambientais e urbanas”, explica.

Já o doutor em Engenharia com foco em Mobilidade Urbana, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, avalia a proposta como positiva, mas que precisa de alguns ajustes técnicos. Ele propõe que a implantação seja por trechos, a fim de facilitar eventuais ajustes, e destaca que será necessário regular quais veículos poderão utilizar a ciclovia, especialmente no caso de elétricos.

“Uma campanha de conscientização antes de iniciar os acessos é primordial, pois os usuários vão querer ‘testar’ as faixas com abusos de velocidade e riscos de acidente, que podem impactar negativamente na segurança e posteriormente numa opinião pública desfavorável.”

Ele salienta que são necessárias ações para reduzir os acidentes com motos. “A via expressa tem muitos veículos pesados, o motociclista fica muito fragilizado. É um risco iminente de acidentes”, diz. “A motocicleta é, em si, um risco”, resume, ao citar as características de não ter um casco de proteção, possuir apenas duas rodas e funcionar com uma menor capacidade de frenagem.

Opinião oposta tem Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Ele considera que proposta tem problemas de insegurança, acessibilidade e custo e, ainda, que a Prefeitura deveria pensar formas de tornar a marginal mais segura, em vez de segregar parte dos veículos da via. “Uma ciclovia elevada custo muito mais caro que uma ciclovia normal.”

A Prefeitura de São Paulo estuda a implantação de uma ciclovia e uma “motovia” suspensas sobre os taludes do Rio Tietê ao longo dos 25 quilômetros da marginal, da Rodovia Castelo Branco, no chamado Cebolão, até as imediações do Parque Ecológico do Tietê. A proposta prevê também a construção de acessos para as bicicletas e motocicletas por “rampas caracóis” ao lado de cada ponte. A proposta tem dividido opiniões entre especialistas em urbanismo e tráfego.

O estudo é inicial e propõe que a “motovia” fique em uma das margens do rio, marcada em azul e com duas pistas em cada um dos sentidos. Já a ciclovia seria implantada no lado oposto, em vermelho, com o mesmo número de pistas e futuramente interligada com a ciclovia do Rio Pinheiros.

Ao Estadão, o secretário municipal de Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, destacou que se trata de uma ideia em desenvolvimento desde janeiro, que ainda não entrou em fase de projeto. A estimativa é que obra levaria de um ano e meio a dois anos para ser implementada, porém o custo está em detalhamento e será divulgado na segunda quinzena de abril.

Para evitar colisões entre motociclistas em sentidos distintos, a ideia é construir uma divisão de concreto e impor um limite de velocidade mais baixo do que o da via expressa. “A velocidade nessa nova pista (elevada) seria de 40, 50 quilômetros por hora no máximo, com radar para fiscalizar”, destacou.

As estruturas estarão acima do nível de vazão das cheias, nos taludes da marginal. A proposta inclui a colocação de floreiras, parte delas com 1,5 mil árvores de pequeno porte, a fim de criar 25 mil metros quadrados de novas áreas verdes, que idealmente ajudariam na recuperação do rio. Em março, o governador Tarcísio Freitas (Republicanos) anunciou um programa bilionário de despoluição para o Tietê, aos moldes do aplicado no Rio Pinheiros.

A implantação das novas pistas depende de anuência do Estado, responsável pelo rio, como apontou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em uma agenda pública sobre outro tema na quarta-feira, 12. “Como está em fase de estudo, a gente precisa ver agora se há uma concordância do governo do Estado, lembrando que ali estamos nas margens do rio”, respondeu após ser questionado.

Ele ressaltou que a proposta nasceu a partir do projeto Faixa Azul, de pistas exclusivas para motocicletas, hoje em operação nas Avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes, mas que terá outros moldes, com a via elevada. “A Faixa Azul nas margens dos rios é uma outra etapa que a gente espera que dê certo. É importante estar sempre buscando alternativas, para poder melhor e diminuir o número de acidentes de trânsito na cidade de São Paulo.”

Proposta prevê acessos em formato de caracol para os motociclistas e ciclistas Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação

Ao Estadão, o secretário municipal da Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, descreveu a proposta como uma junção de exemplos que a Prefeitura conheceu na Malásia (país com uma alta frota de motocicletas e com variedade de vias segregadas) e da ciclovia Tim Maia, no Rio. Sobre os quatro desabamentos enfrentados pela inspiração brasileira, de 2016 a 2019, ele destacou a competência da engenharia brasileira e o fato de que a marginal não ser vizinha do mar, como no caso carioca.

Teixeira diz que a proposta é principalmente uma estratégia para reduzir o número de acidentes graves nas marginais. Somente na Tietê, a média que cita é cerca de 10 mortes de motociclistas por ano. Como a do Pinheiros tem estações de trem e um parque, percebeu-se que a alternativa da via segregada seria recomendada e viável apenas nas margens do Tietê.

Pelo tráfego pesado e a característica de via expressa da marginal, a Prefeitura chegou à conclusão de que uma faixa azul nos moldes das já implantadas na cidade (separada basicamente por sinalização) deixaria os motociclistas vulneráveis. “Tem um risco muito grande de dar errado, com a agressividade que o tráfego tem na região”, diz o secretário.

Ele explica que um dos motivos para a opção da via elevada é o desconforto ambiental de andar de bicicleta ou motocicleta na margem do rio e pela dimensão do espaço, mais estreito do que no Pinheiros. “Se colocar a bicicleta andando naquele verde, vai andar muito perto do carro. É um ruído ensurdecedor, depois e 15 minutos, a pessoa não aguenta. A bicicleta mais distante da pista proporciona ter mais prazer para pedalar.”

Sobre um eventual desconforto pelo cheiro, o secretário cita a expectativa pela despoluição, com uma mudança significativa como ocorreu no Pinheiros. Segundo ele, a proposta das vias elevadas será em breve apresentado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado.

Embora desenvolvida na gestão atual, a entrega da obra seria feita pelo próximo prefeito eleito. Como na Faixa Azul, a proposta tem apoio do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP).

Simulações de estudo da CET mostram implantação de ciclovia e motovia sobre o Rio Tietê Foto: Maxi Eng Arq/CET/Divulgação

Um dos autores do desenho preliminar da proposta, o arquiteto e engenheiro Maxi Modina explica que buscou uma solução com pouca interferência, “como algo que flutuasse no rio e traria uma elegância”. Sobre os acessos em caracol, sustentados por um pilar e arco, explicou ao Estadão que permitem o menor percurso e uma redução na velocidade.

Por estarem acima do nível da vazia, as vias elevadas não seriam afetadas por enchentes nos moldes das que são registradas na várzea do Tietê, segundo o engenheiro. “A gente quer que seja um presente para a cidade, que ela funcione melhor e fique mais bonita.”

Pontos negativos x positivos da proposta: o que dizem os especialistas

A proposta de pistas elevadas divide opiniões entre especialistas, tanto do ponto de vista de segurança viária quanto urbanístico. O tema é delicado por envolver também a Marginal do Tietê, uma obra datada da década de 1950 a 1970 e que priorizou o transporte de automóveis em detrimento da valorização do rio.

Pós-doutoranda Engenharia Ambiental e Urbana na UFABC e autora do livro Várzea do Tietê: projeto e urbanização marginal, Jordana Zola comenta que a proposta da Prefeitura pode fazer sentido do ponto de vista da mobilidade, mas que “carrega a herança de um modelo de urbanização século 20″, do entorno dos rios como vias de circulação expressa.

“Vão construir duas novas infraestruturas de 25 quilômetros, 50 quilômetros no total, sobre a calha do rio, tão maltratado. Isso precisa ser mais aprofundado no que significa para a cidade e para o rio”, avalia. “É uma oportunidade de discutir o desenho da cidade estruturalmente e não construir mais duas vias expressas. É o momento para se debater”, diz.

Ela pontua que as autopistas são consideradas ultrapassadas e que a tendência internacional é de intervenções para reduzir ou “acalmar” as vias expressas. “Com, por exemplo, um novo desenho de pistas, mais amigável, com a redução do número faixas e incentivos para outros modos de deslocamento”, afirma. Como exemplo, avalia que as intervenções recentes do Estado no Rio Pinheiros (com o parque e a ciclovia) apontam para uma direção mais alinhada com a tendência global, de reaproximação da população com os cursos d’água.

Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo na USP com uma pesquisa sobre as várzeas de São Paulo, Anita Freire diz que uma eventual motovia suspensa “é mais um sistema modal viário que se sobrepõem ao espaço do rio”. “Significa mais uma vez ceder o espaço do rio para o sistema de mobilidade individual motorizado e de alta velocidade, é mais uma barreira que se coloca entre a cidade e o rio”.

A pesquisadora avalia que a proposta da ciclovia elevada talvez não seja a melhor alternativa, por se sobrepor ao rio, embora tenha pontos positivos, por aproximar a população do Tietê. “As margens dos rios são áreas muito sensíveis do ponto de vista urbano e ambiental, grandes áreas ao longo do Rio Tietê são consideradas áreas de risco por inundação, e, em um contexto de mudanças climáticas, cada vez mais a ocupação destas áreas vai demandar projetos urbanos que levem em consideração essas questões ambientais e urbanas”, explica.

Já o doutor em Engenharia com foco em Mobilidade Urbana, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, avalia a proposta como positiva, mas que precisa de alguns ajustes técnicos. Ele propõe que a implantação seja por trechos, a fim de facilitar eventuais ajustes, e destaca que será necessário regular quais veículos poderão utilizar a ciclovia, especialmente no caso de elétricos.

“Uma campanha de conscientização antes de iniciar os acessos é primordial, pois os usuários vão querer ‘testar’ as faixas com abusos de velocidade e riscos de acidente, que podem impactar negativamente na segurança e posteriormente numa opinião pública desfavorável.”

Ele salienta que são necessárias ações para reduzir os acidentes com motos. “A via expressa tem muitos veículos pesados, o motociclista fica muito fragilizado. É um risco iminente de acidentes”, diz. “A motocicleta é, em si, um risco”, resume, ao citar as características de não ter um casco de proteção, possuir apenas duas rodas e funcionar com uma menor capacidade de frenagem.

Opinião oposta tem Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Ele considera que proposta tem problemas de insegurança, acessibilidade e custo e, ainda, que a Prefeitura deveria pensar formas de tornar a marginal mais segura, em vez de segregar parte dos veículos da via. “Uma ciclovia elevada custo muito mais caro que uma ciclovia normal.”

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