SÃO PAULO - Por toda a extensão das Ruas Polônia, Sampaio Vidal e Mariana Correia, cartazes pendurados nas fachadas de casas trazem frases contra o projeto da nova Lei de Uso e Ocupação do Solo, apresentado pela Prefeitura à Câmara na semana passada. A proposta do prefeito Fernando Haddad (PT) é transformar dez ruas do bairro dos Jardins em Zonas Corredor (ZCors), o que permitiria a entrada do comércio em Zonas Exclusivamente Residenciais (ZERs).
Mobilizados há aproximadamente um ano pela Associação dos Moradores dos Jardins (AME Jardins), os moradores querem conservar a área da forma como está. O projeto de urbanização dos Jardins foi implementado em 1913 por urbanistas ingleses da Cia. City.
Protesto nos Jardins
A psicóloga Isabel Levy, de 49 anos, mora há 16 no Jardim Europa e foi criada no Jardim América. Assim como outros moradores da Rua Polônia que penduraram faixas na porta de casa, ela diz que as Zonas Corredores trarão um aumento indesejado na circulação de carros e pessoas. "Uma das alegações (a favor da mudança) é que as pessoas precisariam trabalhar perto de casa", ela pondera. "Mas, entre as pessoas que moram aqui, todo mundo está muito feliz com o trabalho um pouco mais afastado."
Presidente da AME Jardins, Fernando José da Costa diz que não se trata de isolar os Jardins dos demais bairros e do comércio, mas manter as características originais do projeto urbanístico e a arborização. "O que o morador dos Jardins pleitea não é afastar o comércio, mas sim ter um comércio planejado."
Proprietário há três anos de uma casa no Jardim América e membro da AME Jardins, o advogado Frederico Pessoa, de 34 anos, diz que o principal problema com a proposta de zoneamento da Prefeitura é desconsiderar as características de cada bairro. "Pode ter lugares na cidade onde essa regra se encaixe perfeitamente, mas na área em que a gente vive isso tem um impacto gigantesco", afirma. "Aqui, a grande teoria dos corredores já está aplicada, pois num raio de dois quilômetros da minha casa tenho a Avenida Faria Lima e a Rua Gabriel Monteiro da Silva, áreas com comércio."
A mobilização no bairro está sendo feita em parte graças à paisagista Sylvia Luz, de 57 anos, que ficou responsável pela distribuição de cartazes no último mês. Apenas na última semana, cerca de 15 cartazes já foram encomendados a Sylvia.
"Olha, é isso que a gente não quer", diz a paisagista, diante de um carro Ford Del Rëy de parachoque enferrujado, que estava estacionado em frente à sua casa. Mais de um morador relata aumento de assaltos a casas desde o começo do ano. "Outro dia assaltaram uma casa aqui e o bandido estava estacionado horas na frente da casa, atrás do insulfime preto." Minutos depois de Sylvia entrar em casa, o dono do carro apareceu para deixar uma blusa no porta-malas. Era um ajudante contratado pela construtora que faz o recapeamento da Rua Polônia, devidamente uniformizado, que saía para seu horário de almoço.
Arquitetos. Juliano Thomé, de 25 anos, mora na Rua das Perdizes e pedala pelo Jardim Europa todos os dias da semana para chegar ao trabalho, um escritório de arquitetura na Avenida Europa. Formado em Arquitetura e Urbanismo há quatro anos, ele se diz favorável aos corredores propostos pela prefeitura. "O que eu gosto bastante do novo plano é que ele cria formas lineares para a cidade e não mais zonas, isso é um ponto interessante", diz Thomé. "Este bairro é muito particular porque é inteiro de casas, com muros altos e cheio de câmeras. É um bairro pelo qual você só passa, não vive."
A opinião da arquiteta Isabela Leonetti, de 43 anos, é diferente. Estudiosa do projeto do Cia. City na faculdade, a arquitetera corporativa defende a manutenção da proposta original. "Eu morei a vida inteira na Rua Groenlândia e a partir de um certo ponto ficou inabitável. As pessoas que vieram morar aqui é porque gostam dessas características."