O destino de uma área verde a cerca de 300 metros de dois parques municipais tem gerado mobilização em uma vizinhança da zona norte de São Paulo. Uma parte dos moradores dos distritos São Domingos e Pirituba questiona a construção de um condomínio vertical para a população de baixa renda em um terreno arborizado próximo de uma Zona Especial de Proteção Ambiental.
O empreendimento foi autorizado à construção de apartamentos no endereço onde funcionou a empresa Manah por anos, depois substituída pela empresa ABB, na Avenida do Anastácio. Ao todo, 179 árvores foram cortadas pela construtora, do grupo Cury.
Em nota, a Cury destacou que os projetos são de interesse social e foram aprovados “nos órgãos ambientais e urbanísticos competentes”. Também salientou que preservará 140 árvores do terreno e outras 21 da calçada.
“O manejo das áreas verdes contempla parte das espécies arbóreas existentes no local, mantendo-se vegetação nos limites impostos pelas autoridades, tudo sob a mais absoluta legalidade”, indicou.
Os moradores reuniram 2,2 mil apoios em um abaixo-assinado virtual desde o fim de agosto. Na justificativa, diz-se que a permanência de uma parte das árvores (não de todas) seria um “conta-gotas” diante da biodiversidade local.
O tema também foi pautado na última reunião do Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura de Pirituba/Jaraguá (Cades-PJ). Nas redes sociais, críticas têm se espalhado, enquanto uma parte da população também se manifesta favoravelmente.
O imóvel está em uma Zona Mista (ZM) — cujo zoneamento não foi alterado nas últimas revisões. É cercado por uma Zona Especial de Proteção Ambiental (Zepam). Isto é, permite-se construções medianas no local do empreendimento desde que não ocorra verticalização na área protegida.
No Termo de Compromisso Ambiental (TCA), a Cury apontou que não irá construir na área de Zepam. Além disso, responsabilizou-se pelo plantio de 930 mudas dentro do empreendimento e, também, pela destinação de outras 4.171 mudas de espécies nativas como compensação ambiental em parques municipais. Ao todo, o imóvel tem 54,2 mil m², dos quais 32,5 mil m² são de área verde.
Dessa forma, a construtora foi autorizada pela Prefeitura a fazer o corte de ao menos 87 árvores nativas e de outras 92 de espécies exóticas localizadas dentro do terreno. Também obteve a permissão para a remoção de 19 árvores mortas e tocos.