A transformação da Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini de uma várzea alagadiça do Rio Pinheiros em um dos principais polos corporativos de São Paulo em muito se deve à atuação de Roberto Bratke. O construtor, arquiteto e urbanista morreu aos 88 anos no domingo, 22, no Hospital Albert Einstein, após décadas no desenvolvimento de dezenas de torres que mudaram a paisagem de uma das mais importantes avenidas paulistanas.
Nos anos 1970, os irmãos Roberto e Carlos Bratke (morto em 2017) e o primo Francisco Collet se instalaram na região da Berrini (na Rua Funchal) em um terreno que receberam como pagamento de um trabalho. Na sequência, deram início ao projeto de um novo polo administrativo na zona sul da capital paulista com a Bratke Collet, que atuava como construtora, incorporadora, imobiliária e administradora.
Os terrenos na Berrini eram mais baratos do que os das Avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, mas exigiram ações de drenagem. A expansão cresceu nas décadas seguintes, ainda mais nos anos 1990, com a Operação Urbana Água Espraiada.
Enquanto Carlos projetava, Roberto e Collet eram responsáveis pela parte de construção e incorporação. Os projetos inicialmente mais simples foram se tornando mais sofisticados com a maior procura e valorização da região.
Somente entre 1975 e o fim dos anos 1990, o Grupo Bratke Collet esteve à frente de cerca de 60 empreendimentos na região da Berrini, com mais de 800 mil m² de área construída. Até hoje, tem sede na avenida, no Edifício Oswaldo Bratke.
A atuação dos irmãos arquitetos (que seguiam a profissão do pai, o modernista Oswaldo Bratke) foi tamanha na região que o entorno da Berrini chegou a ser apelidado de “Bratkelândia”. Como os empreendimentos se concentraram na mesma construtora, a estética se assemelhava.
O tipo de urbanização e estética implantado na Berrini se tornou marcante na cidade. Ao mesmo tempo, as características dessa transformação geram controvérsia e debate até hoje.
Família e organizações prestam homenagens
Roberto Bratke deixou esposa, três filhos e netos. O corpo do arquiteto foi sepultado no Cemitério Gethsêmani, no Morumbi, na segunda-feira, 23.
A morte de Bratke foi lamentada por organizações, familiares e amigos. O pianista Marcelo Bratke homenageou o pai em rede social, com uma legenda singela. Escreveu: “Roberto: Meu Amado Pai 1935 - 2023″.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) emitiu uma nota, na qual fala do “legado significativo na cena arquitetônica e de construção civil de São Paulo” e “papel fundamental no desenvolvimento de São Paulo”. “Sua contribuição para a arquitetura e a construção civil em São Paulo deixa um legado duradouro que continuará a ser apreciado e lembrado”, destacou.
O ex-ministro Andrea Matarazzo também prestou homenagem ao amigo, que descreveu como “afetuoso, divertido e sempre presente”. “São Paulo perde um arquiteto apaixonado pela cidade”, apontou. “Roberto Bratke, como arquiteto e construtor sempre foi detalhista e perfeccionista. (...)Fica um imenso legado à cidade e muitas histórias, lembranças e exemplos para os amigos.”