No Morumbi, piscinões contra enchentes são alvo de queixas de moradores e especialistas


Críticas incluem método defasado e impactos no bairro; Prefeitura afirma que estudo indica necessidade de grandes intervenções e diz prever mais medidas; Estado cita benefício a mais de um milhão de pessoas

Por Giovanna Castro
Atualização: Correção:

Grupos de moradores do Morumbi, zona sul de São Paulo, têm questionado a Prefeitura e o governo do Estado sobre a construção de dois piscinões na região do estádio MorumBis. As obras foram anunciadas em janeiro e visam a resolver os alagamentos na região.

A vizinhança e especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram a medida “cara” e defasada diante das mudanças climáticas. Entre as alternativas, citam tecnologias para monitorar o entupimento de bueiros, descanalização de córregos, implementação de parques lineares e jardins de chuva, além da regularização de moradias.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), da Prefeitura, diz que estudos mostram que medidas complementares não são suficientes para evitar enchentes, por isso a necessidade de grandes intervenções. Já a pasta de Subprefeituras diz fazer a zeladoria, como limpar córregos, reparar bocas de lobo e coletar resíduos.

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O Estado afirma que está implementando o piscinão RA-01 Antonico, “beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, mas que o projeto de ambos os piscinões foram desenvolvidos pela Prefeitura – o Estado apenas assumiu uma das construções. De acordo com o governo, há previsão de ações complementares para melhorar a drenagem, assim como plantio de nova vegetação.

  • A 1ª obra, do governo do Estado, foi iniciada em fevereiro e corresponde a um reservatório subterrâneo com capacidade de armazenamento de 44 mil m³ de água abaixo da Praça Alfredo Gomes, próximo ao Colégio Porto Seguro.
  • A 2ª obra, da Prefeitura, já foi contratada, mas ainda não tem data de início. É um reservatório subterrâneo de 133,5 mil m³, a ser construído abaixo do posto policial ao lado da Praça Roberto Gomes Pedrosa, na região do Portão 1 do MorumBis – e inclui 664 metros de novas galerias de água na região.
  • Ambas têm prazo de conclusão de 24 meses após início das obras.
  • A CET diz que vai monitorar a interdição e orientar o trânsito na região para manter a fluidez e a segurança. “A empresa executante implantou o projeto de sinalização e rotatória da Praça Alfredo Gomes, conforme descrito no termo de permissão de obra viária”, diz o órgão.
Obra de um dos piscinões, de 44 milhões de litros, feita pelo governo do Estado de São Paulo ao lado do Estádio do Morumbi, começou em fevereiro. Foto: Felipe Rau/Estadão
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No início de abril, moradores e ativistas ambientais se reuniram com o titular da Siurb e responsáveis técnicos por um dos piscinões na sede do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi. A população se queixa de falta de consulta pública sobre a definição dos piscinões.

Moradores e parte dos especialistas reclamam ainda da falta de propostas ambientais. Além disso, o piscinão construído pelo Município inclui a derrubada de árvores centenárias da região.

Ao todo, serão retiradas 225 árvores para permitir a abertura de canteiros de obras. Segundo a equipe da Siurb, 228 mudas nativas serão replantadas no entorno após a obra. Mas perguntada sobre qual o volume do sequestro de carbono, a pasta não soube responder.

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“É extremamente grave que, em momento de crise climática, (seja feito) um projeto desse porte, com soluções cinza. Não passou antes por consulta pública, audiências com especialistas em tecnologia verde, reuniões com moradores para discutir impactos e alternativas com soluções baseadas na natureza”, diz Fabíola Lago, membro da Rede Ambiental Butantã.

“Será que não existiam alternativas mesmo? A água vai escorrer para os piscinões, mas continuar cheia de lixo?”, questiona Pedro Antônio Bastos, outro morador da região.

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‘Solução ultrapassada’

Por meio de bombas, piscinões funcionam como válvula de escape para córregos e rios canalizados nas cheias e podem ser descobertos ou cobertos, como no caso no Morumbi. Armazenam o excesso de água para, depois, liberá-la lentamente, mantendo o sistema de drenagem funcionando.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o método ajuda a reduzir enchentes, mas não funciona como único meio contra alagamentos, sobretudo diante das mudanças causadas pelo aquecimento global.

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Segundo Paulo Pellegrino, arquiteto urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP), o piscinão é “solução ultrapassada” que segue a lógica antiga de enterrar e canalizar rios e córregos.

Para ele, o remédio passa por criar jardins de chuva em todo o bairro, descanalizar rios, regularizar moradias e construir parques lineares nas encostas.

“Por que não aplicar modelos mais avançados, com desenho mais adequado para a cidade em meio às mudanças climáticas? São Paulo tem de fazer as pazes com suas águas, abandonando a visão de que elas são nossas inimigas e devem ser enterradas”, sugere.

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“Precisamos de retenção do máximo possível de água nos pontos de origem da bacia e na descida, reduzindo a velocidade da água nos canais que chegam lá embaixo (onde são feitos os piscinões)”, acrescenta Pellegrino.

Fernando Ribeiro, professor de Engenharia Civil da FEI, compara piscinões a pontes de safena: “serve para emergência, mas não trata o problema na raiz”.

“Estamos em meio a mudanças climáticas, vendo o regime de chuvas mudar o tempo todo. Os dados usados nessas obras já nascem ultrapassados. Uma obra como essa leva anos, é caríssima e, quando pronta, pode ser que a capacidade do reservatório não seja mais suficiente”, afirma.

Para o professor da FEI, a Prefeitura deve aprimorar o uso de tecnologias para medir chuvas e detectar o nível de enchentes e entupimento de bueiros, aplicando medidas pontuais nas áreas mais afetadas.

Segundo ele, o uso de cestas de captação de lixo em bocas de lobo, por exemplo, é barato e “muito eficaz” contra enchentes. Piscinões, na opinião de Ribeiro, deveriam ser o último recurso.

Solução ambiental complementa obra maior, diz engenheira da Prefeitura

Antonia Guglielmi, engenheira da Secretaria de Obras responsável pelo projeto dos piscinões, explicou durante a reunião do Conseg que cálculos feitos com base nos maiores volumes de água de chuva já registrados na região indicaram que apenas soluções ambientais não seriam suficientes para resolver o problema.

“A solução ambiental deve ser complementar, junto com essas soluções maiores. Mas quem faz essa parte (de implementação de jardins de chuva, telas em bocas de lobo etc) é a subprefeitura“, afirmou ela.

O secretário de Obras, Marcos Monteiro, afirmou na reunião que soluções ambientais têm potencial de reduzir pela metade o impacto das chuvas no sistema de drenagem.

“A gente fez um estudo na bacia do Aclimação (zona sul), justamente para analisar a efetividade dessas soluções complementares (...) Fazendo tudo isso, ainda assim, conseguiu reduzir o volume dos reservatórios pela metade, ou seja, não foi efetivo (a ponto de excluir o uso dos piscinões em áreas de alagamento)”.

Ao longo das obras, 225 árvores devem ser retiradas do Morumbi. Prefeitura diz que mesma quantidade, em mudas, deve ser plantada na região. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na reunião, a equipe se comprometeu em trabalhar para trazer mais verde ao projeto, com um parque linear no entorno do trecho do Córrego Antonico que passa pelo Colégio Porto Seguro, e melhorias na arborização das duas praças impactadas pela obra – a Alfredo Gomes e a Roberto Gomes Pedrosa.

Procurada sobre as medidas contra enchentes, a Secretaria de Subprefeituras disse que “executa serviços de zeladoria, poda e remoção de árvores, além de reformas de galerias, bocas de lobo e poços de visita e limpeza de córregos, piscinões, limpezas de túneis, antecipação das coletas de resíduos de varrição e coleta de pontos críticos e pontos viciados”.

Também informou que, “por meio do Sistema Urano, o cenário meteorológico e os equipamentos de contenção de enchentes da cidade (piscinões) são monitorados 24h”,

A gestão municipal também diz que as intervenções no Córrego Antonico, especificamente, fazem parte do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura. As obras contratadas pela Secretaria de Habitação “incluem canalização, remoção de construções de áreas de risco, readequação de unidades habitacionais, drenagem pública, redes de água e esgoto, e pavimentação.” A previsão de entrega é setembro de 2027.

Já a secretaria estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que o projeto “é idealizado pela Prefeitura e prevê ainda a canalização do Córrego Antonico e interligação a outro reservatório, este a cargo da municipalidade”.

“Na região do Morumbi e Paraisópolis, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está implantando o piscinão RA-01 Antonico, visando minimizar a ocorrência de enchentes nesses bairros e beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, diz.

O DAEE “realiza medidas complementares às municipais para auxiliar na melhoria do sistema de drenagem urbana”. Conforme a pasta, o projeto prevê o plantio de vegetação, “o que inclui espécies como Ipês (brancos e amarelos), Pata de Vaca, Uvaia e Jacarandá Carobinha”.

Problema crônico no Morumbi

As enchentes são um problema crônico no Morumbi. As características do relevo (o estádio fica na porção mais baixa do bairro, que conta com muitas ladeiras) favorecem o alagamento.

Por ali, passa o Córrego Antonico, que transborda em dias de muita chuva – canalizado, como a maioria dos córregos da cidade, ele tem pouca espaço para crescer durante cheias.

O corpo d’água faz parte da bacia do Rio Pirajussara, que desemboca no Pinheiros. Nasce na favela de Paraisópolis, já poluído, pela falta de saneamento básico na região.

Depois, desce ao lado do Colégio Porto Seguro e passa por baixo do Morumbis – que já sofreu episódios de alagamento por isso.

Região do estádio MorumBis fica em parte mais baixa do relevo do bairro, por isso alaga quando há chuva forte. Foto: Felipe Rau/Estadão

A infraestrutura de drenagem insuficiente – o que ocorre, principalmente, quando o bairro cresce rápido e tem ocupações irregulares, como favelas – piora a situação. A predominância de solo asfaltado e impermeável e a grande quantidade de lixo despejado irregularmente, entupindo bueiros, são agravantes.

Todos estes fatores são encontrados também em outros bairros da capital. Nos últimos meses, a cidade enfrentou alagamentos em diferentes regiões.

Ponto de alagamento na Av. Raimundo Pereira de Magalhães na zona norte de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2024. Foto: Werther Santana/Estadão

Os piscinões são, há décadas, a maneira como a Prefeitura tem remediado os problemas de enchentes. Alguns dos mais famosos são o do Jabaquara (360 mil m³), os do Aricanduva (200, 150, 320 e 167 mil m³), do Guaraú (240 mil m³) e de Pedreira (1,5 milhão m³).

Grupos de moradores do Morumbi, zona sul de São Paulo, têm questionado a Prefeitura e o governo do Estado sobre a construção de dois piscinões na região do estádio MorumBis. As obras foram anunciadas em janeiro e visam a resolver os alagamentos na região.

A vizinhança e especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram a medida “cara” e defasada diante das mudanças climáticas. Entre as alternativas, citam tecnologias para monitorar o entupimento de bueiros, descanalização de córregos, implementação de parques lineares e jardins de chuva, além da regularização de moradias.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), da Prefeitura, diz que estudos mostram que medidas complementares não são suficientes para evitar enchentes, por isso a necessidade de grandes intervenções. Já a pasta de Subprefeituras diz fazer a zeladoria, como limpar córregos, reparar bocas de lobo e coletar resíduos.

O Estado afirma que está implementando o piscinão RA-01 Antonico, “beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, mas que o projeto de ambos os piscinões foram desenvolvidos pela Prefeitura – o Estado apenas assumiu uma das construções. De acordo com o governo, há previsão de ações complementares para melhorar a drenagem, assim como plantio de nova vegetação.

  • A 1ª obra, do governo do Estado, foi iniciada em fevereiro e corresponde a um reservatório subterrâneo com capacidade de armazenamento de 44 mil m³ de água abaixo da Praça Alfredo Gomes, próximo ao Colégio Porto Seguro.
  • A 2ª obra, da Prefeitura, já foi contratada, mas ainda não tem data de início. É um reservatório subterrâneo de 133,5 mil m³, a ser construído abaixo do posto policial ao lado da Praça Roberto Gomes Pedrosa, na região do Portão 1 do MorumBis – e inclui 664 metros de novas galerias de água na região.
  • Ambas têm prazo de conclusão de 24 meses após início das obras.
  • A CET diz que vai monitorar a interdição e orientar o trânsito na região para manter a fluidez e a segurança. “A empresa executante implantou o projeto de sinalização e rotatória da Praça Alfredo Gomes, conforme descrito no termo de permissão de obra viária”, diz o órgão.
Obra de um dos piscinões, de 44 milhões de litros, feita pelo governo do Estado de São Paulo ao lado do Estádio do Morumbi, começou em fevereiro. Foto: Felipe Rau/Estadão

No início de abril, moradores e ativistas ambientais se reuniram com o titular da Siurb e responsáveis técnicos por um dos piscinões na sede do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi. A população se queixa de falta de consulta pública sobre a definição dos piscinões.

Moradores e parte dos especialistas reclamam ainda da falta de propostas ambientais. Além disso, o piscinão construído pelo Município inclui a derrubada de árvores centenárias da região.

Ao todo, serão retiradas 225 árvores para permitir a abertura de canteiros de obras. Segundo a equipe da Siurb, 228 mudas nativas serão replantadas no entorno após a obra. Mas perguntada sobre qual o volume do sequestro de carbono, a pasta não soube responder.

“É extremamente grave que, em momento de crise climática, (seja feito) um projeto desse porte, com soluções cinza. Não passou antes por consulta pública, audiências com especialistas em tecnologia verde, reuniões com moradores para discutir impactos e alternativas com soluções baseadas na natureza”, diz Fabíola Lago, membro da Rede Ambiental Butantã.

“Será que não existiam alternativas mesmo? A água vai escorrer para os piscinões, mas continuar cheia de lixo?”, questiona Pedro Antônio Bastos, outro morador da região.

‘Solução ultrapassada’

Por meio de bombas, piscinões funcionam como válvula de escape para córregos e rios canalizados nas cheias e podem ser descobertos ou cobertos, como no caso no Morumbi. Armazenam o excesso de água para, depois, liberá-la lentamente, mantendo o sistema de drenagem funcionando.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o método ajuda a reduzir enchentes, mas não funciona como único meio contra alagamentos, sobretudo diante das mudanças causadas pelo aquecimento global.

Segundo Paulo Pellegrino, arquiteto urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP), o piscinão é “solução ultrapassada” que segue a lógica antiga de enterrar e canalizar rios e córregos.

Para ele, o remédio passa por criar jardins de chuva em todo o bairro, descanalizar rios, regularizar moradias e construir parques lineares nas encostas.

“Por que não aplicar modelos mais avançados, com desenho mais adequado para a cidade em meio às mudanças climáticas? São Paulo tem de fazer as pazes com suas águas, abandonando a visão de que elas são nossas inimigas e devem ser enterradas”, sugere.

“Precisamos de retenção do máximo possível de água nos pontos de origem da bacia e na descida, reduzindo a velocidade da água nos canais que chegam lá embaixo (onde são feitos os piscinões)”, acrescenta Pellegrino.

Fernando Ribeiro, professor de Engenharia Civil da FEI, compara piscinões a pontes de safena: “serve para emergência, mas não trata o problema na raiz”.

“Estamos em meio a mudanças climáticas, vendo o regime de chuvas mudar o tempo todo. Os dados usados nessas obras já nascem ultrapassados. Uma obra como essa leva anos, é caríssima e, quando pronta, pode ser que a capacidade do reservatório não seja mais suficiente”, afirma.

Para o professor da FEI, a Prefeitura deve aprimorar o uso de tecnologias para medir chuvas e detectar o nível de enchentes e entupimento de bueiros, aplicando medidas pontuais nas áreas mais afetadas.

Segundo ele, o uso de cestas de captação de lixo em bocas de lobo, por exemplo, é barato e “muito eficaz” contra enchentes. Piscinões, na opinião de Ribeiro, deveriam ser o último recurso.

Solução ambiental complementa obra maior, diz engenheira da Prefeitura

Antonia Guglielmi, engenheira da Secretaria de Obras responsável pelo projeto dos piscinões, explicou durante a reunião do Conseg que cálculos feitos com base nos maiores volumes de água de chuva já registrados na região indicaram que apenas soluções ambientais não seriam suficientes para resolver o problema.

“A solução ambiental deve ser complementar, junto com essas soluções maiores. Mas quem faz essa parte (de implementação de jardins de chuva, telas em bocas de lobo etc) é a subprefeitura“, afirmou ela.

O secretário de Obras, Marcos Monteiro, afirmou na reunião que soluções ambientais têm potencial de reduzir pela metade o impacto das chuvas no sistema de drenagem.

“A gente fez um estudo na bacia do Aclimação (zona sul), justamente para analisar a efetividade dessas soluções complementares (...) Fazendo tudo isso, ainda assim, conseguiu reduzir o volume dos reservatórios pela metade, ou seja, não foi efetivo (a ponto de excluir o uso dos piscinões em áreas de alagamento)”.

Ao longo das obras, 225 árvores devem ser retiradas do Morumbi. Prefeitura diz que mesma quantidade, em mudas, deve ser plantada na região. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na reunião, a equipe se comprometeu em trabalhar para trazer mais verde ao projeto, com um parque linear no entorno do trecho do Córrego Antonico que passa pelo Colégio Porto Seguro, e melhorias na arborização das duas praças impactadas pela obra – a Alfredo Gomes e a Roberto Gomes Pedrosa.

Procurada sobre as medidas contra enchentes, a Secretaria de Subprefeituras disse que “executa serviços de zeladoria, poda e remoção de árvores, além de reformas de galerias, bocas de lobo e poços de visita e limpeza de córregos, piscinões, limpezas de túneis, antecipação das coletas de resíduos de varrição e coleta de pontos críticos e pontos viciados”.

Também informou que, “por meio do Sistema Urano, o cenário meteorológico e os equipamentos de contenção de enchentes da cidade (piscinões) são monitorados 24h”,

A gestão municipal também diz que as intervenções no Córrego Antonico, especificamente, fazem parte do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura. As obras contratadas pela Secretaria de Habitação “incluem canalização, remoção de construções de áreas de risco, readequação de unidades habitacionais, drenagem pública, redes de água e esgoto, e pavimentação.” A previsão de entrega é setembro de 2027.

Já a secretaria estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que o projeto “é idealizado pela Prefeitura e prevê ainda a canalização do Córrego Antonico e interligação a outro reservatório, este a cargo da municipalidade”.

“Na região do Morumbi e Paraisópolis, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está implantando o piscinão RA-01 Antonico, visando minimizar a ocorrência de enchentes nesses bairros e beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, diz.

O DAEE “realiza medidas complementares às municipais para auxiliar na melhoria do sistema de drenagem urbana”. Conforme a pasta, o projeto prevê o plantio de vegetação, “o que inclui espécies como Ipês (brancos e amarelos), Pata de Vaca, Uvaia e Jacarandá Carobinha”.

Problema crônico no Morumbi

As enchentes são um problema crônico no Morumbi. As características do relevo (o estádio fica na porção mais baixa do bairro, que conta com muitas ladeiras) favorecem o alagamento.

Por ali, passa o Córrego Antonico, que transborda em dias de muita chuva – canalizado, como a maioria dos córregos da cidade, ele tem pouca espaço para crescer durante cheias.

O corpo d’água faz parte da bacia do Rio Pirajussara, que desemboca no Pinheiros. Nasce na favela de Paraisópolis, já poluído, pela falta de saneamento básico na região.

Depois, desce ao lado do Colégio Porto Seguro e passa por baixo do Morumbis – que já sofreu episódios de alagamento por isso.

Região do estádio MorumBis fica em parte mais baixa do relevo do bairro, por isso alaga quando há chuva forte. Foto: Felipe Rau/Estadão

A infraestrutura de drenagem insuficiente – o que ocorre, principalmente, quando o bairro cresce rápido e tem ocupações irregulares, como favelas – piora a situação. A predominância de solo asfaltado e impermeável e a grande quantidade de lixo despejado irregularmente, entupindo bueiros, são agravantes.

Todos estes fatores são encontrados também em outros bairros da capital. Nos últimos meses, a cidade enfrentou alagamentos em diferentes regiões.

Ponto de alagamento na Av. Raimundo Pereira de Magalhães na zona norte de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2024. Foto: Werther Santana/Estadão

Os piscinões são, há décadas, a maneira como a Prefeitura tem remediado os problemas de enchentes. Alguns dos mais famosos são o do Jabaquara (360 mil m³), os do Aricanduva (200, 150, 320 e 167 mil m³), do Guaraú (240 mil m³) e de Pedreira (1,5 milhão m³).

Grupos de moradores do Morumbi, zona sul de São Paulo, têm questionado a Prefeitura e o governo do Estado sobre a construção de dois piscinões na região do estádio MorumBis. As obras foram anunciadas em janeiro e visam a resolver os alagamentos na região.

A vizinhança e especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram a medida “cara” e defasada diante das mudanças climáticas. Entre as alternativas, citam tecnologias para monitorar o entupimento de bueiros, descanalização de córregos, implementação de parques lineares e jardins de chuva, além da regularização de moradias.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), da Prefeitura, diz que estudos mostram que medidas complementares não são suficientes para evitar enchentes, por isso a necessidade de grandes intervenções. Já a pasta de Subprefeituras diz fazer a zeladoria, como limpar córregos, reparar bocas de lobo e coletar resíduos.

O Estado afirma que está implementando o piscinão RA-01 Antonico, “beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, mas que o projeto de ambos os piscinões foram desenvolvidos pela Prefeitura – o Estado apenas assumiu uma das construções. De acordo com o governo, há previsão de ações complementares para melhorar a drenagem, assim como plantio de nova vegetação.

  • A 1ª obra, do governo do Estado, foi iniciada em fevereiro e corresponde a um reservatório subterrâneo com capacidade de armazenamento de 44 mil m³ de água abaixo da Praça Alfredo Gomes, próximo ao Colégio Porto Seguro.
  • A 2ª obra, da Prefeitura, já foi contratada, mas ainda não tem data de início. É um reservatório subterrâneo de 133,5 mil m³, a ser construído abaixo do posto policial ao lado da Praça Roberto Gomes Pedrosa, na região do Portão 1 do MorumBis – e inclui 664 metros de novas galerias de água na região.
  • Ambas têm prazo de conclusão de 24 meses após início das obras.
  • A CET diz que vai monitorar a interdição e orientar o trânsito na região para manter a fluidez e a segurança. “A empresa executante implantou o projeto de sinalização e rotatória da Praça Alfredo Gomes, conforme descrito no termo de permissão de obra viária”, diz o órgão.
Obra de um dos piscinões, de 44 milhões de litros, feita pelo governo do Estado de São Paulo ao lado do Estádio do Morumbi, começou em fevereiro. Foto: Felipe Rau/Estadão

No início de abril, moradores e ativistas ambientais se reuniram com o titular da Siurb e responsáveis técnicos por um dos piscinões na sede do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi. A população se queixa de falta de consulta pública sobre a definição dos piscinões.

Moradores e parte dos especialistas reclamam ainda da falta de propostas ambientais. Além disso, o piscinão construído pelo Município inclui a derrubada de árvores centenárias da região.

Ao todo, serão retiradas 225 árvores para permitir a abertura de canteiros de obras. Segundo a equipe da Siurb, 228 mudas nativas serão replantadas no entorno após a obra. Mas perguntada sobre qual o volume do sequestro de carbono, a pasta não soube responder.

“É extremamente grave que, em momento de crise climática, (seja feito) um projeto desse porte, com soluções cinza. Não passou antes por consulta pública, audiências com especialistas em tecnologia verde, reuniões com moradores para discutir impactos e alternativas com soluções baseadas na natureza”, diz Fabíola Lago, membro da Rede Ambiental Butantã.

“Será que não existiam alternativas mesmo? A água vai escorrer para os piscinões, mas continuar cheia de lixo?”, questiona Pedro Antônio Bastos, outro morador da região.

‘Solução ultrapassada’

Por meio de bombas, piscinões funcionam como válvula de escape para córregos e rios canalizados nas cheias e podem ser descobertos ou cobertos, como no caso no Morumbi. Armazenam o excesso de água para, depois, liberá-la lentamente, mantendo o sistema de drenagem funcionando.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o método ajuda a reduzir enchentes, mas não funciona como único meio contra alagamentos, sobretudo diante das mudanças causadas pelo aquecimento global.

Segundo Paulo Pellegrino, arquiteto urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP), o piscinão é “solução ultrapassada” que segue a lógica antiga de enterrar e canalizar rios e córregos.

Para ele, o remédio passa por criar jardins de chuva em todo o bairro, descanalizar rios, regularizar moradias e construir parques lineares nas encostas.

“Por que não aplicar modelos mais avançados, com desenho mais adequado para a cidade em meio às mudanças climáticas? São Paulo tem de fazer as pazes com suas águas, abandonando a visão de que elas são nossas inimigas e devem ser enterradas”, sugere.

“Precisamos de retenção do máximo possível de água nos pontos de origem da bacia e na descida, reduzindo a velocidade da água nos canais que chegam lá embaixo (onde são feitos os piscinões)”, acrescenta Pellegrino.

Fernando Ribeiro, professor de Engenharia Civil da FEI, compara piscinões a pontes de safena: “serve para emergência, mas não trata o problema na raiz”.

“Estamos em meio a mudanças climáticas, vendo o regime de chuvas mudar o tempo todo. Os dados usados nessas obras já nascem ultrapassados. Uma obra como essa leva anos, é caríssima e, quando pronta, pode ser que a capacidade do reservatório não seja mais suficiente”, afirma.

Para o professor da FEI, a Prefeitura deve aprimorar o uso de tecnologias para medir chuvas e detectar o nível de enchentes e entupimento de bueiros, aplicando medidas pontuais nas áreas mais afetadas.

Segundo ele, o uso de cestas de captação de lixo em bocas de lobo, por exemplo, é barato e “muito eficaz” contra enchentes. Piscinões, na opinião de Ribeiro, deveriam ser o último recurso.

Solução ambiental complementa obra maior, diz engenheira da Prefeitura

Antonia Guglielmi, engenheira da Secretaria de Obras responsável pelo projeto dos piscinões, explicou durante a reunião do Conseg que cálculos feitos com base nos maiores volumes de água de chuva já registrados na região indicaram que apenas soluções ambientais não seriam suficientes para resolver o problema.

“A solução ambiental deve ser complementar, junto com essas soluções maiores. Mas quem faz essa parte (de implementação de jardins de chuva, telas em bocas de lobo etc) é a subprefeitura“, afirmou ela.

O secretário de Obras, Marcos Monteiro, afirmou na reunião que soluções ambientais têm potencial de reduzir pela metade o impacto das chuvas no sistema de drenagem.

“A gente fez um estudo na bacia do Aclimação (zona sul), justamente para analisar a efetividade dessas soluções complementares (...) Fazendo tudo isso, ainda assim, conseguiu reduzir o volume dos reservatórios pela metade, ou seja, não foi efetivo (a ponto de excluir o uso dos piscinões em áreas de alagamento)”.

Ao longo das obras, 225 árvores devem ser retiradas do Morumbi. Prefeitura diz que mesma quantidade, em mudas, deve ser plantada na região. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na reunião, a equipe se comprometeu em trabalhar para trazer mais verde ao projeto, com um parque linear no entorno do trecho do Córrego Antonico que passa pelo Colégio Porto Seguro, e melhorias na arborização das duas praças impactadas pela obra – a Alfredo Gomes e a Roberto Gomes Pedrosa.

Procurada sobre as medidas contra enchentes, a Secretaria de Subprefeituras disse que “executa serviços de zeladoria, poda e remoção de árvores, além de reformas de galerias, bocas de lobo e poços de visita e limpeza de córregos, piscinões, limpezas de túneis, antecipação das coletas de resíduos de varrição e coleta de pontos críticos e pontos viciados”.

Também informou que, “por meio do Sistema Urano, o cenário meteorológico e os equipamentos de contenção de enchentes da cidade (piscinões) são monitorados 24h”,

A gestão municipal também diz que as intervenções no Córrego Antonico, especificamente, fazem parte do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura. As obras contratadas pela Secretaria de Habitação “incluem canalização, remoção de construções de áreas de risco, readequação de unidades habitacionais, drenagem pública, redes de água e esgoto, e pavimentação.” A previsão de entrega é setembro de 2027.

Já a secretaria estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que o projeto “é idealizado pela Prefeitura e prevê ainda a canalização do Córrego Antonico e interligação a outro reservatório, este a cargo da municipalidade”.

“Na região do Morumbi e Paraisópolis, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está implantando o piscinão RA-01 Antonico, visando minimizar a ocorrência de enchentes nesses bairros e beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, diz.

O DAEE “realiza medidas complementares às municipais para auxiliar na melhoria do sistema de drenagem urbana”. Conforme a pasta, o projeto prevê o plantio de vegetação, “o que inclui espécies como Ipês (brancos e amarelos), Pata de Vaca, Uvaia e Jacarandá Carobinha”.

Problema crônico no Morumbi

As enchentes são um problema crônico no Morumbi. As características do relevo (o estádio fica na porção mais baixa do bairro, que conta com muitas ladeiras) favorecem o alagamento.

Por ali, passa o Córrego Antonico, que transborda em dias de muita chuva – canalizado, como a maioria dos córregos da cidade, ele tem pouca espaço para crescer durante cheias.

O corpo d’água faz parte da bacia do Rio Pirajussara, que desemboca no Pinheiros. Nasce na favela de Paraisópolis, já poluído, pela falta de saneamento básico na região.

Depois, desce ao lado do Colégio Porto Seguro e passa por baixo do Morumbis – que já sofreu episódios de alagamento por isso.

Região do estádio MorumBis fica em parte mais baixa do relevo do bairro, por isso alaga quando há chuva forte. Foto: Felipe Rau/Estadão

A infraestrutura de drenagem insuficiente – o que ocorre, principalmente, quando o bairro cresce rápido e tem ocupações irregulares, como favelas – piora a situação. A predominância de solo asfaltado e impermeável e a grande quantidade de lixo despejado irregularmente, entupindo bueiros, são agravantes.

Todos estes fatores são encontrados também em outros bairros da capital. Nos últimos meses, a cidade enfrentou alagamentos em diferentes regiões.

Ponto de alagamento na Av. Raimundo Pereira de Magalhães na zona norte de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2024. Foto: Werther Santana/Estadão

Os piscinões são, há décadas, a maneira como a Prefeitura tem remediado os problemas de enchentes. Alguns dos mais famosos são o do Jabaquara (360 mil m³), os do Aricanduva (200, 150, 320 e 167 mil m³), do Guaraú (240 mil m³) e de Pedreira (1,5 milhão m³).

Grupos de moradores do Morumbi, zona sul de São Paulo, têm questionado a Prefeitura e o governo do Estado sobre a construção de dois piscinões na região do estádio MorumBis. As obras foram anunciadas em janeiro e visam a resolver os alagamentos na região.

A vizinhança e especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram a medida “cara” e defasada diante das mudanças climáticas. Entre as alternativas, citam tecnologias para monitorar o entupimento de bueiros, descanalização de córregos, implementação de parques lineares e jardins de chuva, além da regularização de moradias.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), da Prefeitura, diz que estudos mostram que medidas complementares não são suficientes para evitar enchentes, por isso a necessidade de grandes intervenções. Já a pasta de Subprefeituras diz fazer a zeladoria, como limpar córregos, reparar bocas de lobo e coletar resíduos.

O Estado afirma que está implementando o piscinão RA-01 Antonico, “beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, mas que o projeto de ambos os piscinões foram desenvolvidos pela Prefeitura – o Estado apenas assumiu uma das construções. De acordo com o governo, há previsão de ações complementares para melhorar a drenagem, assim como plantio de nova vegetação.

  • A 1ª obra, do governo do Estado, foi iniciada em fevereiro e corresponde a um reservatório subterrâneo com capacidade de armazenamento de 44 mil m³ de água abaixo da Praça Alfredo Gomes, próximo ao Colégio Porto Seguro.
  • A 2ª obra, da Prefeitura, já foi contratada, mas ainda não tem data de início. É um reservatório subterrâneo de 133,5 mil m³, a ser construído abaixo do posto policial ao lado da Praça Roberto Gomes Pedrosa, na região do Portão 1 do MorumBis – e inclui 664 metros de novas galerias de água na região.
  • Ambas têm prazo de conclusão de 24 meses após início das obras.
  • A CET diz que vai monitorar a interdição e orientar o trânsito na região para manter a fluidez e a segurança. “A empresa executante implantou o projeto de sinalização e rotatória da Praça Alfredo Gomes, conforme descrito no termo de permissão de obra viária”, diz o órgão.
Obra de um dos piscinões, de 44 milhões de litros, feita pelo governo do Estado de São Paulo ao lado do Estádio do Morumbi, começou em fevereiro. Foto: Felipe Rau/Estadão

No início de abril, moradores e ativistas ambientais se reuniram com o titular da Siurb e responsáveis técnicos por um dos piscinões na sede do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi. A população se queixa de falta de consulta pública sobre a definição dos piscinões.

Moradores e parte dos especialistas reclamam ainda da falta de propostas ambientais. Além disso, o piscinão construído pelo Município inclui a derrubada de árvores centenárias da região.

Ao todo, serão retiradas 225 árvores para permitir a abertura de canteiros de obras. Segundo a equipe da Siurb, 228 mudas nativas serão replantadas no entorno após a obra. Mas perguntada sobre qual o volume do sequestro de carbono, a pasta não soube responder.

“É extremamente grave que, em momento de crise climática, (seja feito) um projeto desse porte, com soluções cinza. Não passou antes por consulta pública, audiências com especialistas em tecnologia verde, reuniões com moradores para discutir impactos e alternativas com soluções baseadas na natureza”, diz Fabíola Lago, membro da Rede Ambiental Butantã.

“Será que não existiam alternativas mesmo? A água vai escorrer para os piscinões, mas continuar cheia de lixo?”, questiona Pedro Antônio Bastos, outro morador da região.

‘Solução ultrapassada’

Por meio de bombas, piscinões funcionam como válvula de escape para córregos e rios canalizados nas cheias e podem ser descobertos ou cobertos, como no caso no Morumbi. Armazenam o excesso de água para, depois, liberá-la lentamente, mantendo o sistema de drenagem funcionando.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o método ajuda a reduzir enchentes, mas não funciona como único meio contra alagamentos, sobretudo diante das mudanças causadas pelo aquecimento global.

Segundo Paulo Pellegrino, arquiteto urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP), o piscinão é “solução ultrapassada” que segue a lógica antiga de enterrar e canalizar rios e córregos.

Para ele, o remédio passa por criar jardins de chuva em todo o bairro, descanalizar rios, regularizar moradias e construir parques lineares nas encostas.

“Por que não aplicar modelos mais avançados, com desenho mais adequado para a cidade em meio às mudanças climáticas? São Paulo tem de fazer as pazes com suas águas, abandonando a visão de que elas são nossas inimigas e devem ser enterradas”, sugere.

“Precisamos de retenção do máximo possível de água nos pontos de origem da bacia e na descida, reduzindo a velocidade da água nos canais que chegam lá embaixo (onde são feitos os piscinões)”, acrescenta Pellegrino.

Fernando Ribeiro, professor de Engenharia Civil da FEI, compara piscinões a pontes de safena: “serve para emergência, mas não trata o problema na raiz”.

“Estamos em meio a mudanças climáticas, vendo o regime de chuvas mudar o tempo todo. Os dados usados nessas obras já nascem ultrapassados. Uma obra como essa leva anos, é caríssima e, quando pronta, pode ser que a capacidade do reservatório não seja mais suficiente”, afirma.

Para o professor da FEI, a Prefeitura deve aprimorar o uso de tecnologias para medir chuvas e detectar o nível de enchentes e entupimento de bueiros, aplicando medidas pontuais nas áreas mais afetadas.

Segundo ele, o uso de cestas de captação de lixo em bocas de lobo, por exemplo, é barato e “muito eficaz” contra enchentes. Piscinões, na opinião de Ribeiro, deveriam ser o último recurso.

Solução ambiental complementa obra maior, diz engenheira da Prefeitura

Antonia Guglielmi, engenheira da Secretaria de Obras responsável pelo projeto dos piscinões, explicou durante a reunião do Conseg que cálculos feitos com base nos maiores volumes de água de chuva já registrados na região indicaram que apenas soluções ambientais não seriam suficientes para resolver o problema.

“A solução ambiental deve ser complementar, junto com essas soluções maiores. Mas quem faz essa parte (de implementação de jardins de chuva, telas em bocas de lobo etc) é a subprefeitura“, afirmou ela.

O secretário de Obras, Marcos Monteiro, afirmou na reunião que soluções ambientais têm potencial de reduzir pela metade o impacto das chuvas no sistema de drenagem.

“A gente fez um estudo na bacia do Aclimação (zona sul), justamente para analisar a efetividade dessas soluções complementares (...) Fazendo tudo isso, ainda assim, conseguiu reduzir o volume dos reservatórios pela metade, ou seja, não foi efetivo (a ponto de excluir o uso dos piscinões em áreas de alagamento)”.

Ao longo das obras, 225 árvores devem ser retiradas do Morumbi. Prefeitura diz que mesma quantidade, em mudas, deve ser plantada na região. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na reunião, a equipe se comprometeu em trabalhar para trazer mais verde ao projeto, com um parque linear no entorno do trecho do Córrego Antonico que passa pelo Colégio Porto Seguro, e melhorias na arborização das duas praças impactadas pela obra – a Alfredo Gomes e a Roberto Gomes Pedrosa.

Procurada sobre as medidas contra enchentes, a Secretaria de Subprefeituras disse que “executa serviços de zeladoria, poda e remoção de árvores, além de reformas de galerias, bocas de lobo e poços de visita e limpeza de córregos, piscinões, limpezas de túneis, antecipação das coletas de resíduos de varrição e coleta de pontos críticos e pontos viciados”.

Também informou que, “por meio do Sistema Urano, o cenário meteorológico e os equipamentos de contenção de enchentes da cidade (piscinões) são monitorados 24h”,

A gestão municipal também diz que as intervenções no Córrego Antonico, especificamente, fazem parte do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura. As obras contratadas pela Secretaria de Habitação “incluem canalização, remoção de construções de áreas de risco, readequação de unidades habitacionais, drenagem pública, redes de água e esgoto, e pavimentação.” A previsão de entrega é setembro de 2027.

Já a secretaria estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que o projeto “é idealizado pela Prefeitura e prevê ainda a canalização do Córrego Antonico e interligação a outro reservatório, este a cargo da municipalidade”.

“Na região do Morumbi e Paraisópolis, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está implantando o piscinão RA-01 Antonico, visando minimizar a ocorrência de enchentes nesses bairros e beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, diz.

O DAEE “realiza medidas complementares às municipais para auxiliar na melhoria do sistema de drenagem urbana”. Conforme a pasta, o projeto prevê o plantio de vegetação, “o que inclui espécies como Ipês (brancos e amarelos), Pata de Vaca, Uvaia e Jacarandá Carobinha”.

Problema crônico no Morumbi

As enchentes são um problema crônico no Morumbi. As características do relevo (o estádio fica na porção mais baixa do bairro, que conta com muitas ladeiras) favorecem o alagamento.

Por ali, passa o Córrego Antonico, que transborda em dias de muita chuva – canalizado, como a maioria dos córregos da cidade, ele tem pouca espaço para crescer durante cheias.

O corpo d’água faz parte da bacia do Rio Pirajussara, que desemboca no Pinheiros. Nasce na favela de Paraisópolis, já poluído, pela falta de saneamento básico na região.

Depois, desce ao lado do Colégio Porto Seguro e passa por baixo do Morumbis – que já sofreu episódios de alagamento por isso.

Região do estádio MorumBis fica em parte mais baixa do relevo do bairro, por isso alaga quando há chuva forte. Foto: Felipe Rau/Estadão

A infraestrutura de drenagem insuficiente – o que ocorre, principalmente, quando o bairro cresce rápido e tem ocupações irregulares, como favelas – piora a situação. A predominância de solo asfaltado e impermeável e a grande quantidade de lixo despejado irregularmente, entupindo bueiros, são agravantes.

Todos estes fatores são encontrados também em outros bairros da capital. Nos últimos meses, a cidade enfrentou alagamentos em diferentes regiões.

Ponto de alagamento na Av. Raimundo Pereira de Magalhães na zona norte de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2024. Foto: Werther Santana/Estadão

Os piscinões são, há décadas, a maneira como a Prefeitura tem remediado os problemas de enchentes. Alguns dos mais famosos são o do Jabaquara (360 mil m³), os do Aricanduva (200, 150, 320 e 167 mil m³), do Guaraú (240 mil m³) e de Pedreira (1,5 milhão m³).

Grupos de moradores do Morumbi, zona sul de São Paulo, têm questionado a Prefeitura e o governo do Estado sobre a construção de dois piscinões na região do estádio MorumBis. As obras foram anunciadas em janeiro e visam a resolver os alagamentos na região.

A vizinhança e especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram a medida “cara” e defasada diante das mudanças climáticas. Entre as alternativas, citam tecnologias para monitorar o entupimento de bueiros, descanalização de córregos, implementação de parques lineares e jardins de chuva, além da regularização de moradias.

A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), da Prefeitura, diz que estudos mostram que medidas complementares não são suficientes para evitar enchentes, por isso a necessidade de grandes intervenções. Já a pasta de Subprefeituras diz fazer a zeladoria, como limpar córregos, reparar bocas de lobo e coletar resíduos.

O Estado afirma que está implementando o piscinão RA-01 Antonico, “beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, mas que o projeto de ambos os piscinões foram desenvolvidos pela Prefeitura – o Estado apenas assumiu uma das construções. De acordo com o governo, há previsão de ações complementares para melhorar a drenagem, assim como plantio de nova vegetação.

  • A 1ª obra, do governo do Estado, foi iniciada em fevereiro e corresponde a um reservatório subterrâneo com capacidade de armazenamento de 44 mil m³ de água abaixo da Praça Alfredo Gomes, próximo ao Colégio Porto Seguro.
  • A 2ª obra, da Prefeitura, já foi contratada, mas ainda não tem data de início. É um reservatório subterrâneo de 133,5 mil m³, a ser construído abaixo do posto policial ao lado da Praça Roberto Gomes Pedrosa, na região do Portão 1 do MorumBis – e inclui 664 metros de novas galerias de água na região.
  • Ambas têm prazo de conclusão de 24 meses após início das obras.
  • A CET diz que vai monitorar a interdição e orientar o trânsito na região para manter a fluidez e a segurança. “A empresa executante implantou o projeto de sinalização e rotatória da Praça Alfredo Gomes, conforme descrito no termo de permissão de obra viária”, diz o órgão.
Obra de um dos piscinões, de 44 milhões de litros, feita pelo governo do Estado de São Paulo ao lado do Estádio do Morumbi, começou em fevereiro. Foto: Felipe Rau/Estadão

No início de abril, moradores e ativistas ambientais se reuniram com o titular da Siurb e responsáveis técnicos por um dos piscinões na sede do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi. A população se queixa de falta de consulta pública sobre a definição dos piscinões.

Moradores e parte dos especialistas reclamam ainda da falta de propostas ambientais. Além disso, o piscinão construído pelo Município inclui a derrubada de árvores centenárias da região.

Ao todo, serão retiradas 225 árvores para permitir a abertura de canteiros de obras. Segundo a equipe da Siurb, 228 mudas nativas serão replantadas no entorno após a obra. Mas perguntada sobre qual o volume do sequestro de carbono, a pasta não soube responder.

“É extremamente grave que, em momento de crise climática, (seja feito) um projeto desse porte, com soluções cinza. Não passou antes por consulta pública, audiências com especialistas em tecnologia verde, reuniões com moradores para discutir impactos e alternativas com soluções baseadas na natureza”, diz Fabíola Lago, membro da Rede Ambiental Butantã.

“Será que não existiam alternativas mesmo? A água vai escorrer para os piscinões, mas continuar cheia de lixo?”, questiona Pedro Antônio Bastos, outro morador da região.

‘Solução ultrapassada’

Por meio de bombas, piscinões funcionam como válvula de escape para córregos e rios canalizados nas cheias e podem ser descobertos ou cobertos, como no caso no Morumbi. Armazenam o excesso de água para, depois, liberá-la lentamente, mantendo o sistema de drenagem funcionando.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o método ajuda a reduzir enchentes, mas não funciona como único meio contra alagamentos, sobretudo diante das mudanças causadas pelo aquecimento global.

Segundo Paulo Pellegrino, arquiteto urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP), o piscinão é “solução ultrapassada” que segue a lógica antiga de enterrar e canalizar rios e córregos.

Para ele, o remédio passa por criar jardins de chuva em todo o bairro, descanalizar rios, regularizar moradias e construir parques lineares nas encostas.

“Por que não aplicar modelos mais avançados, com desenho mais adequado para a cidade em meio às mudanças climáticas? São Paulo tem de fazer as pazes com suas águas, abandonando a visão de que elas são nossas inimigas e devem ser enterradas”, sugere.

“Precisamos de retenção do máximo possível de água nos pontos de origem da bacia e na descida, reduzindo a velocidade da água nos canais que chegam lá embaixo (onde são feitos os piscinões)”, acrescenta Pellegrino.

Fernando Ribeiro, professor de Engenharia Civil da FEI, compara piscinões a pontes de safena: “serve para emergência, mas não trata o problema na raiz”.

“Estamos em meio a mudanças climáticas, vendo o regime de chuvas mudar o tempo todo. Os dados usados nessas obras já nascem ultrapassados. Uma obra como essa leva anos, é caríssima e, quando pronta, pode ser que a capacidade do reservatório não seja mais suficiente”, afirma.

Para o professor da FEI, a Prefeitura deve aprimorar o uso de tecnologias para medir chuvas e detectar o nível de enchentes e entupimento de bueiros, aplicando medidas pontuais nas áreas mais afetadas.

Segundo ele, o uso de cestas de captação de lixo em bocas de lobo, por exemplo, é barato e “muito eficaz” contra enchentes. Piscinões, na opinião de Ribeiro, deveriam ser o último recurso.

Solução ambiental complementa obra maior, diz engenheira da Prefeitura

Antonia Guglielmi, engenheira da Secretaria de Obras responsável pelo projeto dos piscinões, explicou durante a reunião do Conseg que cálculos feitos com base nos maiores volumes de água de chuva já registrados na região indicaram que apenas soluções ambientais não seriam suficientes para resolver o problema.

“A solução ambiental deve ser complementar, junto com essas soluções maiores. Mas quem faz essa parte (de implementação de jardins de chuva, telas em bocas de lobo etc) é a subprefeitura“, afirmou ela.

O secretário de Obras, Marcos Monteiro, afirmou na reunião que soluções ambientais têm potencial de reduzir pela metade o impacto das chuvas no sistema de drenagem.

“A gente fez um estudo na bacia do Aclimação (zona sul), justamente para analisar a efetividade dessas soluções complementares (...) Fazendo tudo isso, ainda assim, conseguiu reduzir o volume dos reservatórios pela metade, ou seja, não foi efetivo (a ponto de excluir o uso dos piscinões em áreas de alagamento)”.

Ao longo das obras, 225 árvores devem ser retiradas do Morumbi. Prefeitura diz que mesma quantidade, em mudas, deve ser plantada na região. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na reunião, a equipe se comprometeu em trabalhar para trazer mais verde ao projeto, com um parque linear no entorno do trecho do Córrego Antonico que passa pelo Colégio Porto Seguro, e melhorias na arborização das duas praças impactadas pela obra – a Alfredo Gomes e a Roberto Gomes Pedrosa.

Procurada sobre as medidas contra enchentes, a Secretaria de Subprefeituras disse que “executa serviços de zeladoria, poda e remoção de árvores, além de reformas de galerias, bocas de lobo e poços de visita e limpeza de córregos, piscinões, limpezas de túneis, antecipação das coletas de resíduos de varrição e coleta de pontos críticos e pontos viciados”.

Também informou que, “por meio do Sistema Urano, o cenário meteorológico e os equipamentos de contenção de enchentes da cidade (piscinões) são monitorados 24h”,

A gestão municipal também diz que as intervenções no Córrego Antonico, especificamente, fazem parte do Programa de Urbanização de Favelas da Prefeitura. As obras contratadas pela Secretaria de Habitação “incluem canalização, remoção de construções de áreas de risco, readequação de unidades habitacionais, drenagem pública, redes de água e esgoto, e pavimentação.” A previsão de entrega é setembro de 2027.

Já a secretaria estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística afirma que o projeto “é idealizado pela Prefeitura e prevê ainda a canalização do Córrego Antonico e interligação a outro reservatório, este a cargo da municipalidade”.

“Na região do Morumbi e Paraisópolis, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) está implantando o piscinão RA-01 Antonico, visando minimizar a ocorrência de enchentes nesses bairros e beneficiando mais de 1 milhão de moradores”, diz.

O DAEE “realiza medidas complementares às municipais para auxiliar na melhoria do sistema de drenagem urbana”. Conforme a pasta, o projeto prevê o plantio de vegetação, “o que inclui espécies como Ipês (brancos e amarelos), Pata de Vaca, Uvaia e Jacarandá Carobinha”.

Problema crônico no Morumbi

As enchentes são um problema crônico no Morumbi. As características do relevo (o estádio fica na porção mais baixa do bairro, que conta com muitas ladeiras) favorecem o alagamento.

Por ali, passa o Córrego Antonico, que transborda em dias de muita chuva – canalizado, como a maioria dos córregos da cidade, ele tem pouca espaço para crescer durante cheias.

O corpo d’água faz parte da bacia do Rio Pirajussara, que desemboca no Pinheiros. Nasce na favela de Paraisópolis, já poluído, pela falta de saneamento básico na região.

Depois, desce ao lado do Colégio Porto Seguro e passa por baixo do Morumbis – que já sofreu episódios de alagamento por isso.

Região do estádio MorumBis fica em parte mais baixa do relevo do bairro, por isso alaga quando há chuva forte. Foto: Felipe Rau/Estadão

A infraestrutura de drenagem insuficiente – o que ocorre, principalmente, quando o bairro cresce rápido e tem ocupações irregulares, como favelas – piora a situação. A predominância de solo asfaltado e impermeável e a grande quantidade de lixo despejado irregularmente, entupindo bueiros, são agravantes.

Todos estes fatores são encontrados também em outros bairros da capital. Nos últimos meses, a cidade enfrentou alagamentos em diferentes regiões.

Ponto de alagamento na Av. Raimundo Pereira de Magalhães na zona norte de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2024. Foto: Werther Santana/Estadão

Os piscinões são, há décadas, a maneira como a Prefeitura tem remediado os problemas de enchentes. Alguns dos mais famosos são o do Jabaquara (360 mil m³), os do Aricanduva (200, 150, 320 e 167 mil m³), do Guaraú (240 mil m³) e de Pedreira (1,5 milhão m³).

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