Mototáxi cresce em vários bairros de SP, mesmo antes da Uber, e oferece até Wi-Fi


Motocicletas para transporte remunerado de passageiros concorrem com vans, ônibus e veículos por aplicativos em bairros da zona sul

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Alheios à polêmica sobre a liberação dos serviços de viagens com motocicletas para passageiros – a Prefeitura de São Paulo suspendeu o Uber Moto na semana passada e promete regulamentar a atividade –, moradores de vários bairros já enxergam a garupa das motos como uma opção de transporte no dia a dia. Principalmente nos terminais urbanos da zona sul da cidade, as motos dividem espaço com veículos por aplicativos, vans e ônibus. Para atrair mais passageiros, os mototáxis oferecem de capacetes higienizados a Wi-Fi gratuito.

No Grajaú, na zona sul, cerca de 50 motos se dividem em três terminais (Varginha, Estação Grajaú e Estação Mendes Vila Natal) diariamente. Elas ficam estacionadas em fila, como nos pontos de táxi, mas muitos mototaxistas “passam a vez” quando a corrida não é atrativa – existe uma tabela de preço, baseada na distância até o destino, mas há espaço para pechincha. Eles trabalham uniformizados do lado de fora dos terminais. Por causa da informalidade da atividade, os profissionais se mostraram receosos com a presença do Estadão na noite da última segunda-feira. Desconversam e evitam detalhes sobre o trabalho; a maioria prefere usar nomes fictícios.

Serviço de mototáxi já faz parte do dia a dia dos moradores do Grajaú, na zona sul da cidade.  Foto: Alex Silva/Estadão
continua após a publicidade

O negócio é agitado, a moto fica desligada apenas de 10 a 15 minutos à espera de clientes. Mas há limitações. A tarifa é menor que os veículos por aplicativo, mas supera os ônibus e as vans. O eletricista Antonio Carlos, de 45 anos, considera a moto uma boa alternativa para situações de emergência, mas diz que não dá para usá-la todo dia. Ele conseguiu baixar o preço de R$ 18 para R$ 15 de uma viagem para um bairro próximo da estação.

A discussão sobre os mototáxis ganhou força na semana passada depois que a empresa de transporte por aplicativo Uber anunciou o serviço em São Paulo. Um dia depois, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou um decreto suspendendo o serviço por tempo indeterminado. A Prefeitura vai criar um grupo de trabalho para analisar a viabilidade e a segurança do serviço. No Rio, o prefeito Eduardo Paes também se mostrou contrário ao Uber Moto.

Edgar Souza afirma que trabalha como mototaxista desde 2017, sempre com crescimento da demanda. Foto: Alex Silva/Estadão
continua após a publicidade

O grande desafio é a segurança. Os motociclistas estão entre as principais vítimas de acidentes de trânsito. Em 2021, foram 380 mortes em acidentes na capital, de acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). Isso representa 45% dos óbitos no trânsito no ano passado.

Para contornar o problema, João Neto, de 35 anos, afirma que os profissionais são orientados a tomar precauções adicionais, como evitar passar pelo canto das lombadas, por exemplo. Para os clientes, principalmente os iniciantes, a principal recomendação é acompanhar as curvas e deixar o “corpo mole”. Edgar Souza afirma que nunca houve um acidente sério com mototáxi em sua equipe em seis anos de atividades.

A balconista Andressa Pereira, de 32 anos, pede para o motorista não correr. “A moto ganha bastante tempo cortando os engarrafamentos”, diz a moradora da Vila Natal que saía do Terminal Varginha. A exemplo da maioria dos passageiros, ela está habituada a usar moto – própria ou de terceiros. Não havia marinheiro (ou passageiro) de primeira viagem.

continua após a publicidade

Wi-Fi grátis e capa de chuva

Para conquistar passageiros, os mototáxis oferecem alguns atrativos. No Terminal Santo Amaro, Jeremias da Silva, nome fictício, higieniza os capacetes com álcool 70% a cada viagem, oferece capa de chuva e até Wi-Fi grátis – o sinal é cedido a partir do seu próprio celular por meio do roteador. “É uma estratégia para atrair os clientes. Depois, ele volta por causa do atendimento e da qualidade”, diz o motorista que atua no local desde 2017.

Junto com um sócio, Jeremias faz cerca de 10 viagens por dia. O volume é baixo, em sua avaliação, porque as distâncias são longas. De Santo Amaro até o centro da cidade são 50 minutos ao custo de R$ 50 a R$ 60. “Sempre aparecem novos clientes, sempre tem gente que precisa. O movimento cresce em dias de greve de ônibus e nos finais de ano.”

continua após a publicidade
Mototaxistas atuam uniformizados e possuem uma tabela de preços que abre espaço para negociações e pechinchas. Foto: Alex Silva/Estadão

Quem se aproxima para perguntar o preço, em geral, está com pressa. A empregada doméstica Aline Silva, de 32 anos, precisava chegar em casa rápido para que sua filha de 5 anos não ficasse sozinha após a saída da babá. O tempo estimado do terminal Grajaú até o Parque Residencial Cocaia era de 20 minutos; de ônibus, não levaria menos que 1h30.

Em alguns locais, no entanto, as motos são o único jeito de chegar. Em Paraisópolis, moradores contam que diversas empresas de transporte por aplicativo não atendem alguns endereços por questões de segurança pública ou pela dificuldade de acesso, como ruas de terra ou muito estreitas. “Os mototáxis funcionam bem, como acontece na maioria das favelas do Brasil. É uma alternativa onde o transporte formal não chega. E tem crescido”, diz o líder comunitário Gilson Rodrigues.

continua após a publicidade

Os desafios da falta de regulamentação

No Brasil, a profissão de mototaxista é regulamentada pela Lei Nº 12.009, de 2009, a mesma que trata do serviço dos motoboys. Em junho de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. Um ano depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que a lei é inconstitucional e liberou a atividade na cidade, embora não exista regulamentação.

João Neto, um dos líderes da categoria, defende o cadastramento dos mototaxistas na Prefeitura, com capacitação e treinamento sobre manutenção, fiscalização, transporte e conduta. Ele defende a padronização do serviço em todas as regiões da cidade. Uma das metas da categoria é inaugurar duas bases de cadastramento de profissionais, uma na Barra Funda, na zona oeste, e outra na região da Santa Ifigênia, no centro, no mês que vem.

continua após a publicidade
Demanda por mototaxistas cresce em alguns bairros mesmo antes da chegada do serviço da Uber a São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura de São Paulo informou, em nota que, “a segurança dos motociclistas, a redução no número de acidentes fatais no trânsito e o impacto no sistema público de saúde são preocupações do prefeito Ricardo Nunes”. A redução no número de óbitos por sinistros no trânsito consta, inclusive, como meta 39 do Programa de Metas da Prefeitura. O objetivo é reduzir o número de casos fatais por 100 mil habitantes, que, em dezembro de 2020, indicava 6,56 para 4,5 em 2024.

“As questões relacionadas a acidente de motos levam a situações gravíssimas, inclusive óbitos. Então, não é possível que a cidade de São Paulo vá poder assistir a uma empresa que é importante para a cidade, sediada aqui, fazer alguma atividade sem que nos apresente qual é o plano, quantas pessoas podem ser transportadas, se tem segurança, se vai ter o capacete”, disse Nunes em entrevista à Rádio Eldorado nesta terça-feira, 10. “Precisamos salvar as vidas. Não posso deixar que qualquer atividade na cidade seja implementada sem que a gente possa garantir a vida das pessoas.”

A partir da proibição, em decreto, do Uber Moto, um grupo de trabalho foi formado para discutir sobre como a atividade pode ser oferecida de forma legal e com a maior segurança possível para todos os envolvidos. Os representantes vão analisar o serviço, que ainda depende de regulamentação municipal, com base em estudos e dados.

A Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado também estudam uma parceria para reduzir a fila de espera de cirurgias ortopédicas na cidade. A gestão municipal apresenta 88.945 pacientes para cirurgia em várias especialidades, como joelho, quadril, ombro, cotovelo, coluna, pé e mão. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, da Secretaria Municipal de Saúde, registrou 11.795 ocorrências com automóveis versus motos e bicicletas em 2022 e 12.385 em 2021. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) indicou um número de 345 vítimas fatais por acidentes de motocicletas em 2020.

A administração já adota diversas ações de segurança voltadas aos motociclistas, como a Faixa Azul, instalada na Avenida 23 de Maio e na Avenida Bandeirantes.

Alheios à polêmica sobre a liberação dos serviços de viagens com motocicletas para passageiros – a Prefeitura de São Paulo suspendeu o Uber Moto na semana passada e promete regulamentar a atividade –, moradores de vários bairros já enxergam a garupa das motos como uma opção de transporte no dia a dia. Principalmente nos terminais urbanos da zona sul da cidade, as motos dividem espaço com veículos por aplicativos, vans e ônibus. Para atrair mais passageiros, os mototáxis oferecem de capacetes higienizados a Wi-Fi gratuito.

No Grajaú, na zona sul, cerca de 50 motos se dividem em três terminais (Varginha, Estação Grajaú e Estação Mendes Vila Natal) diariamente. Elas ficam estacionadas em fila, como nos pontos de táxi, mas muitos mototaxistas “passam a vez” quando a corrida não é atrativa – existe uma tabela de preço, baseada na distância até o destino, mas há espaço para pechincha. Eles trabalham uniformizados do lado de fora dos terminais. Por causa da informalidade da atividade, os profissionais se mostraram receosos com a presença do Estadão na noite da última segunda-feira. Desconversam e evitam detalhes sobre o trabalho; a maioria prefere usar nomes fictícios.

Serviço de mototáxi já faz parte do dia a dia dos moradores do Grajaú, na zona sul da cidade.  Foto: Alex Silva/Estadão

O negócio é agitado, a moto fica desligada apenas de 10 a 15 minutos à espera de clientes. Mas há limitações. A tarifa é menor que os veículos por aplicativo, mas supera os ônibus e as vans. O eletricista Antonio Carlos, de 45 anos, considera a moto uma boa alternativa para situações de emergência, mas diz que não dá para usá-la todo dia. Ele conseguiu baixar o preço de R$ 18 para R$ 15 de uma viagem para um bairro próximo da estação.

A discussão sobre os mototáxis ganhou força na semana passada depois que a empresa de transporte por aplicativo Uber anunciou o serviço em São Paulo. Um dia depois, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou um decreto suspendendo o serviço por tempo indeterminado. A Prefeitura vai criar um grupo de trabalho para analisar a viabilidade e a segurança do serviço. No Rio, o prefeito Eduardo Paes também se mostrou contrário ao Uber Moto.

Edgar Souza afirma que trabalha como mototaxista desde 2017, sempre com crescimento da demanda. Foto: Alex Silva/Estadão

O grande desafio é a segurança. Os motociclistas estão entre as principais vítimas de acidentes de trânsito. Em 2021, foram 380 mortes em acidentes na capital, de acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). Isso representa 45% dos óbitos no trânsito no ano passado.

Para contornar o problema, João Neto, de 35 anos, afirma que os profissionais são orientados a tomar precauções adicionais, como evitar passar pelo canto das lombadas, por exemplo. Para os clientes, principalmente os iniciantes, a principal recomendação é acompanhar as curvas e deixar o “corpo mole”. Edgar Souza afirma que nunca houve um acidente sério com mototáxi em sua equipe em seis anos de atividades.

A balconista Andressa Pereira, de 32 anos, pede para o motorista não correr. “A moto ganha bastante tempo cortando os engarrafamentos”, diz a moradora da Vila Natal que saía do Terminal Varginha. A exemplo da maioria dos passageiros, ela está habituada a usar moto – própria ou de terceiros. Não havia marinheiro (ou passageiro) de primeira viagem.

Wi-Fi grátis e capa de chuva

Para conquistar passageiros, os mototáxis oferecem alguns atrativos. No Terminal Santo Amaro, Jeremias da Silva, nome fictício, higieniza os capacetes com álcool 70% a cada viagem, oferece capa de chuva e até Wi-Fi grátis – o sinal é cedido a partir do seu próprio celular por meio do roteador. “É uma estratégia para atrair os clientes. Depois, ele volta por causa do atendimento e da qualidade”, diz o motorista que atua no local desde 2017.

Junto com um sócio, Jeremias faz cerca de 10 viagens por dia. O volume é baixo, em sua avaliação, porque as distâncias são longas. De Santo Amaro até o centro da cidade são 50 minutos ao custo de R$ 50 a R$ 60. “Sempre aparecem novos clientes, sempre tem gente que precisa. O movimento cresce em dias de greve de ônibus e nos finais de ano.”

Mototaxistas atuam uniformizados e possuem uma tabela de preços que abre espaço para negociações e pechinchas. Foto: Alex Silva/Estadão

Quem se aproxima para perguntar o preço, em geral, está com pressa. A empregada doméstica Aline Silva, de 32 anos, precisava chegar em casa rápido para que sua filha de 5 anos não ficasse sozinha após a saída da babá. O tempo estimado do terminal Grajaú até o Parque Residencial Cocaia era de 20 minutos; de ônibus, não levaria menos que 1h30.

Em alguns locais, no entanto, as motos são o único jeito de chegar. Em Paraisópolis, moradores contam que diversas empresas de transporte por aplicativo não atendem alguns endereços por questões de segurança pública ou pela dificuldade de acesso, como ruas de terra ou muito estreitas. “Os mototáxis funcionam bem, como acontece na maioria das favelas do Brasil. É uma alternativa onde o transporte formal não chega. E tem crescido”, diz o líder comunitário Gilson Rodrigues.

Os desafios da falta de regulamentação

No Brasil, a profissão de mototaxista é regulamentada pela Lei Nº 12.009, de 2009, a mesma que trata do serviço dos motoboys. Em junho de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. Um ano depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que a lei é inconstitucional e liberou a atividade na cidade, embora não exista regulamentação.

João Neto, um dos líderes da categoria, defende o cadastramento dos mototaxistas na Prefeitura, com capacitação e treinamento sobre manutenção, fiscalização, transporte e conduta. Ele defende a padronização do serviço em todas as regiões da cidade. Uma das metas da categoria é inaugurar duas bases de cadastramento de profissionais, uma na Barra Funda, na zona oeste, e outra na região da Santa Ifigênia, no centro, no mês que vem.

Demanda por mototaxistas cresce em alguns bairros mesmo antes da chegada do serviço da Uber a São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura de São Paulo informou, em nota que, “a segurança dos motociclistas, a redução no número de acidentes fatais no trânsito e o impacto no sistema público de saúde são preocupações do prefeito Ricardo Nunes”. A redução no número de óbitos por sinistros no trânsito consta, inclusive, como meta 39 do Programa de Metas da Prefeitura. O objetivo é reduzir o número de casos fatais por 100 mil habitantes, que, em dezembro de 2020, indicava 6,56 para 4,5 em 2024.

“As questões relacionadas a acidente de motos levam a situações gravíssimas, inclusive óbitos. Então, não é possível que a cidade de São Paulo vá poder assistir a uma empresa que é importante para a cidade, sediada aqui, fazer alguma atividade sem que nos apresente qual é o plano, quantas pessoas podem ser transportadas, se tem segurança, se vai ter o capacete”, disse Nunes em entrevista à Rádio Eldorado nesta terça-feira, 10. “Precisamos salvar as vidas. Não posso deixar que qualquer atividade na cidade seja implementada sem que a gente possa garantir a vida das pessoas.”

A partir da proibição, em decreto, do Uber Moto, um grupo de trabalho foi formado para discutir sobre como a atividade pode ser oferecida de forma legal e com a maior segurança possível para todos os envolvidos. Os representantes vão analisar o serviço, que ainda depende de regulamentação municipal, com base em estudos e dados.

A Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado também estudam uma parceria para reduzir a fila de espera de cirurgias ortopédicas na cidade. A gestão municipal apresenta 88.945 pacientes para cirurgia em várias especialidades, como joelho, quadril, ombro, cotovelo, coluna, pé e mão. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, da Secretaria Municipal de Saúde, registrou 11.795 ocorrências com automóveis versus motos e bicicletas em 2022 e 12.385 em 2021. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) indicou um número de 345 vítimas fatais por acidentes de motocicletas em 2020.

A administração já adota diversas ações de segurança voltadas aos motociclistas, como a Faixa Azul, instalada na Avenida 23 de Maio e na Avenida Bandeirantes.

Alheios à polêmica sobre a liberação dos serviços de viagens com motocicletas para passageiros – a Prefeitura de São Paulo suspendeu o Uber Moto na semana passada e promete regulamentar a atividade –, moradores de vários bairros já enxergam a garupa das motos como uma opção de transporte no dia a dia. Principalmente nos terminais urbanos da zona sul da cidade, as motos dividem espaço com veículos por aplicativos, vans e ônibus. Para atrair mais passageiros, os mototáxis oferecem de capacetes higienizados a Wi-Fi gratuito.

No Grajaú, na zona sul, cerca de 50 motos se dividem em três terminais (Varginha, Estação Grajaú e Estação Mendes Vila Natal) diariamente. Elas ficam estacionadas em fila, como nos pontos de táxi, mas muitos mototaxistas “passam a vez” quando a corrida não é atrativa – existe uma tabela de preço, baseada na distância até o destino, mas há espaço para pechincha. Eles trabalham uniformizados do lado de fora dos terminais. Por causa da informalidade da atividade, os profissionais se mostraram receosos com a presença do Estadão na noite da última segunda-feira. Desconversam e evitam detalhes sobre o trabalho; a maioria prefere usar nomes fictícios.

Serviço de mototáxi já faz parte do dia a dia dos moradores do Grajaú, na zona sul da cidade.  Foto: Alex Silva/Estadão

O negócio é agitado, a moto fica desligada apenas de 10 a 15 minutos à espera de clientes. Mas há limitações. A tarifa é menor que os veículos por aplicativo, mas supera os ônibus e as vans. O eletricista Antonio Carlos, de 45 anos, considera a moto uma boa alternativa para situações de emergência, mas diz que não dá para usá-la todo dia. Ele conseguiu baixar o preço de R$ 18 para R$ 15 de uma viagem para um bairro próximo da estação.

A discussão sobre os mototáxis ganhou força na semana passada depois que a empresa de transporte por aplicativo Uber anunciou o serviço em São Paulo. Um dia depois, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou um decreto suspendendo o serviço por tempo indeterminado. A Prefeitura vai criar um grupo de trabalho para analisar a viabilidade e a segurança do serviço. No Rio, o prefeito Eduardo Paes também se mostrou contrário ao Uber Moto.

Edgar Souza afirma que trabalha como mototaxista desde 2017, sempre com crescimento da demanda. Foto: Alex Silva/Estadão

O grande desafio é a segurança. Os motociclistas estão entre as principais vítimas de acidentes de trânsito. Em 2021, foram 380 mortes em acidentes na capital, de acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). Isso representa 45% dos óbitos no trânsito no ano passado.

Para contornar o problema, João Neto, de 35 anos, afirma que os profissionais são orientados a tomar precauções adicionais, como evitar passar pelo canto das lombadas, por exemplo. Para os clientes, principalmente os iniciantes, a principal recomendação é acompanhar as curvas e deixar o “corpo mole”. Edgar Souza afirma que nunca houve um acidente sério com mototáxi em sua equipe em seis anos de atividades.

A balconista Andressa Pereira, de 32 anos, pede para o motorista não correr. “A moto ganha bastante tempo cortando os engarrafamentos”, diz a moradora da Vila Natal que saía do Terminal Varginha. A exemplo da maioria dos passageiros, ela está habituada a usar moto – própria ou de terceiros. Não havia marinheiro (ou passageiro) de primeira viagem.

Wi-Fi grátis e capa de chuva

Para conquistar passageiros, os mototáxis oferecem alguns atrativos. No Terminal Santo Amaro, Jeremias da Silva, nome fictício, higieniza os capacetes com álcool 70% a cada viagem, oferece capa de chuva e até Wi-Fi grátis – o sinal é cedido a partir do seu próprio celular por meio do roteador. “É uma estratégia para atrair os clientes. Depois, ele volta por causa do atendimento e da qualidade”, diz o motorista que atua no local desde 2017.

Junto com um sócio, Jeremias faz cerca de 10 viagens por dia. O volume é baixo, em sua avaliação, porque as distâncias são longas. De Santo Amaro até o centro da cidade são 50 minutos ao custo de R$ 50 a R$ 60. “Sempre aparecem novos clientes, sempre tem gente que precisa. O movimento cresce em dias de greve de ônibus e nos finais de ano.”

Mototaxistas atuam uniformizados e possuem uma tabela de preços que abre espaço para negociações e pechinchas. Foto: Alex Silva/Estadão

Quem se aproxima para perguntar o preço, em geral, está com pressa. A empregada doméstica Aline Silva, de 32 anos, precisava chegar em casa rápido para que sua filha de 5 anos não ficasse sozinha após a saída da babá. O tempo estimado do terminal Grajaú até o Parque Residencial Cocaia era de 20 minutos; de ônibus, não levaria menos que 1h30.

Em alguns locais, no entanto, as motos são o único jeito de chegar. Em Paraisópolis, moradores contam que diversas empresas de transporte por aplicativo não atendem alguns endereços por questões de segurança pública ou pela dificuldade de acesso, como ruas de terra ou muito estreitas. “Os mototáxis funcionam bem, como acontece na maioria das favelas do Brasil. É uma alternativa onde o transporte formal não chega. E tem crescido”, diz o líder comunitário Gilson Rodrigues.

Os desafios da falta de regulamentação

No Brasil, a profissão de mototaxista é regulamentada pela Lei Nº 12.009, de 2009, a mesma que trata do serviço dos motoboys. Em junho de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. Um ano depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que a lei é inconstitucional e liberou a atividade na cidade, embora não exista regulamentação.

João Neto, um dos líderes da categoria, defende o cadastramento dos mototaxistas na Prefeitura, com capacitação e treinamento sobre manutenção, fiscalização, transporte e conduta. Ele defende a padronização do serviço em todas as regiões da cidade. Uma das metas da categoria é inaugurar duas bases de cadastramento de profissionais, uma na Barra Funda, na zona oeste, e outra na região da Santa Ifigênia, no centro, no mês que vem.

Demanda por mototaxistas cresce em alguns bairros mesmo antes da chegada do serviço da Uber a São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura de São Paulo informou, em nota que, “a segurança dos motociclistas, a redução no número de acidentes fatais no trânsito e o impacto no sistema público de saúde são preocupações do prefeito Ricardo Nunes”. A redução no número de óbitos por sinistros no trânsito consta, inclusive, como meta 39 do Programa de Metas da Prefeitura. O objetivo é reduzir o número de casos fatais por 100 mil habitantes, que, em dezembro de 2020, indicava 6,56 para 4,5 em 2024.

“As questões relacionadas a acidente de motos levam a situações gravíssimas, inclusive óbitos. Então, não é possível que a cidade de São Paulo vá poder assistir a uma empresa que é importante para a cidade, sediada aqui, fazer alguma atividade sem que nos apresente qual é o plano, quantas pessoas podem ser transportadas, se tem segurança, se vai ter o capacete”, disse Nunes em entrevista à Rádio Eldorado nesta terça-feira, 10. “Precisamos salvar as vidas. Não posso deixar que qualquer atividade na cidade seja implementada sem que a gente possa garantir a vida das pessoas.”

A partir da proibição, em decreto, do Uber Moto, um grupo de trabalho foi formado para discutir sobre como a atividade pode ser oferecida de forma legal e com a maior segurança possível para todos os envolvidos. Os representantes vão analisar o serviço, que ainda depende de regulamentação municipal, com base em estudos e dados.

A Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado também estudam uma parceria para reduzir a fila de espera de cirurgias ortopédicas na cidade. A gestão municipal apresenta 88.945 pacientes para cirurgia em várias especialidades, como joelho, quadril, ombro, cotovelo, coluna, pé e mão. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, da Secretaria Municipal de Saúde, registrou 11.795 ocorrências com automóveis versus motos e bicicletas em 2022 e 12.385 em 2021. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) indicou um número de 345 vítimas fatais por acidentes de motocicletas em 2020.

A administração já adota diversas ações de segurança voltadas aos motociclistas, como a Faixa Azul, instalada na Avenida 23 de Maio e na Avenida Bandeirantes.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.