O índice de mulheres reprovadas no teste do bafômetro durante as blitze da lei seca na capital paulista cresceu vertiginosamente. Levantamento feito pela Polícia Militar (PM) a pedido do Estado mostra que, em janeiro, 5,16% das motoristas que foram paradas pela fiscalização haviam bebido antes de pegar o volante. Em outubro, esse porcentual passou para 38,6%, quase quatro em cada dez fiscalizadas.Veja também:
Mulheres agora também estão bebendo mais do que antes. Foto: José Patrício/AE - 01/12/09
Nos bares, os namorados, acompanhantes e amigos confirmam a tese do ministro. Eles não se intimidam em dar a chave do carro às mulheres, ainda que tenham bebido, com a certeza de que passariam com mais tranquilidade nas blitze. Entretanto, o novo método de fiscalização - chamado esquema "drive thru" - dificulta a manobra. Agora, a PM aborda todos os automóveis que trafegam pela via, independentemente do sexo de quem está no volante. "A maioria dos abordados ainda é homem, mas as mulheres cada vez mais são paradas", afirmou o capitão da PM Sérgio Marques, responsável pelas blitze.
Quanto ao fator saúde, as pesquisas mais recentes mostram maior prevalência do hábito de beber entre as mulheres e aí está um outro motivo para o crescimento delas nos números de alcoolizados ao volante. Um dos levantamentos que endossa a invasão feminina nos índices de alcoolismo, feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo, aponta que em dois anos cresceu em 80% as que buscam consultas por vício em bebida alcoólica.
"Elas estão mais presentes nos bares, nos consultórios clínicos e também nas pesquisas sobre o tema", confirma o presidente do Centro de Informações Sobre o Álcool (Cisa) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Arthur Guerra. "Todas as idades aparecem como foco do problema. As mais novas querem ficar alteradas para ter diversão a qualquer custo, com um prejuízo de autoimagem altíssimo. E as de meia idade buscam o álcool por alguma insatisfação pessoal, solidão e problemas pessoais."
Dessa forma, as mulheres bebem mais socialmente e também aparecem mais nas estatísticas dos problemas associados ao álcool. Levantamento feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo aponta que cresceu em 28,8% as mulheres das classes econômicas A e B (que ganham acima de 15 salários mínimos por mês) em tratamento por vício em bebida alcoólica.
Não é a única estatística sobre essa tendência. Entre as garotas com menos de 18 anos, o mesmo fenômeno é atestado. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ligado à Unifesp, 6,4% das moradoras de São Paulo entre 12 e 17 anos apresentam sinais de dependência do álcool. Nos garotos da mesma idade, o índice é de 4,9% - com base em uma pesquisa com 4.117 entrevistas.
Violência
O reflexo de mais mulheres com o hábito nocivo de beber já impacta no perfil de mortes violentas, lembra o sociólogo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo Túlio Kahn. Enquanto no ano 2000 elas respondiam por 12% dos casos que englobam mortes por assassinatos e também batidas de veículos, em 2008 o grupo feminino passou para 25%.