Não curte carnaval? Peça em SP reúne músicos e atores para refletir sobre a velhice negra


‘Bom dia, Eternidade’, do grupo O Bonde, em cartaz no Sesc Consolação, propõe novos olhares para o envelhecimento de pretos e pretas

Por Gonçalo Junior

Quatro irmãos negros que sofreram um despejo na infância recebem o terreno de volta após quase 60 anos. Agora, reunidos no quintal da antiga moradia e embalados pelas lembranças, eles precisam decidir o que fazer. A peça Bom dia, Eternidade, em cartaz no Sesc Consolação, aborda a passagem do tempo com um recorte especial: o envelhecimento das pessoas negras.

Em cena, uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos contracena com o elenco da companhia O Bonde. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, o espetáculo vive o presente, olhando para as migrações, contos, teses, lutas e tudo o que constitui a sociabilidade dos corpos negros e velhos.

“A ideia do Bonde era fazer uma peça sobre a velhice das pessoas negras. A pesquisa trazia estatísticas de uma realidade dura. Aí nasce o desejo de uma resposta com utopia, uma vontade de mostrar as vitórias, possibilidades de outros percursos”, diz o diretor. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.

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Elenco da peça 'Bom dia, Eternidade', em cartaz no Sesc Consolação Foto: Julio Cesar Almeida

O título da peça, por sua vez, é uma referência direta ao filme de Rogério de Moura, produzido em 2010. “Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi.

A realidade dura do envelhecimento negro no Brasil, citada por Lubi, está retratada, por exemplo, na pesquisa “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e o Itaú Viver Mais. Os dados apontam desigualdades no envelhecimento de pessoas negras e brancas em São Paulo, Salvador e Porto Alegre, capitais com altos índices de envelhecimento populacional.

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Metade das pessoas negras com mais de 50 anos considera difícil ou muito difícil pagar as contas; entre as brancas, esse percentual é de 44%. Na saúde, negros acessam 16% menos os serviços privados. Há diferenças também na inclusão digital: negros acessam 14% menos a internet que os brancos.

A música como protagonista no palco

O texto de Bom dia, Eternidade é um conjunto de fragmentos, e o público gentilmente está convidado a juntá-los. Histórias reais e ficcionais se misturam, embaralhadas pelo tempo. Conforme redescobrem objetos afetivos, os personagens se descortinam. “Nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo, estamos ressoando e representando muitas outras numa denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, afirma o diretor.

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A música é protagonista. Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “A musicalidade aponta o resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo.

A peça é a última parte da Trilogia da Morte do grupo O Bonde, iniciada com a peça infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues. Em seguida veio Desfazenda - Me enterrem fora desse lugar, com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020.

O Bonde é um coletivo criado em 2017 por artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. O grupo reúne Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves para investigar, nos trabalhos mais recentes, as experiências de quase morte do corpo negro, refletindo sobre as heranças do período escravocrata.

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Celestino afirma que momento atual da trajetória dos coletivos negros é a busca da subjetividade, a particularidade dos artistas e de suas linguagens únicas, e da projeção de novos horizontes simbólicos para a população negra. “Quando a gente fala que vive num sistema que unifica a gente, é um sistema que sempre nos coloca diante da morte, o corpo matável que vive sempre em constante relação com a morte imposta pelo sistema”, afirma.

“Nós, artistas negros, temos a necessidade de falar sobre horizonte utópico possível. Que futuro é esse que a gente está criando como sociedade e como artistas? A ideia é colocar essa narrativa, essa discussão e essa reflexão em cima do palco para que a gente possa começar a pensar, sobre novas possibilidades para a existência de corpos negros”.

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* Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo O Bonde, constituído por artistas negros e periféricos formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André (SP).

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Serviço

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  • Peça de teatro: Bom dia, Eternidade
  • Temporada: 20 de janeiro a 25 de fevereiro de 2024
  • Dias: Sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h
  • Sessões nas tardes de 15 e 22 de fevereiro, quintas, às 15h
  • Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação – R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque
  • Ingresso: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)
  • Compre por este link a partir do dia 9 de janeiro: https://centralrelacionamento.sescsp.org.br e no app Credencial Sesc SP e a partir do dia 10 de janeiro na bilheteria das Unidades
  • Duração: 120 min
  • Classificação etária indicativa: 14 anos

Quatro irmãos negros que sofreram um despejo na infância recebem o terreno de volta após quase 60 anos. Agora, reunidos no quintal da antiga moradia e embalados pelas lembranças, eles precisam decidir o que fazer. A peça Bom dia, Eternidade, em cartaz no Sesc Consolação, aborda a passagem do tempo com um recorte especial: o envelhecimento das pessoas negras.

Em cena, uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos contracena com o elenco da companhia O Bonde. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, o espetáculo vive o presente, olhando para as migrações, contos, teses, lutas e tudo o que constitui a sociabilidade dos corpos negros e velhos.

“A ideia do Bonde era fazer uma peça sobre a velhice das pessoas negras. A pesquisa trazia estatísticas de uma realidade dura. Aí nasce o desejo de uma resposta com utopia, uma vontade de mostrar as vitórias, possibilidades de outros percursos”, diz o diretor. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.

Elenco da peça 'Bom dia, Eternidade', em cartaz no Sesc Consolação Foto: Julio Cesar Almeida

O título da peça, por sua vez, é uma referência direta ao filme de Rogério de Moura, produzido em 2010. “Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi.

A realidade dura do envelhecimento negro no Brasil, citada por Lubi, está retratada, por exemplo, na pesquisa “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e o Itaú Viver Mais. Os dados apontam desigualdades no envelhecimento de pessoas negras e brancas em São Paulo, Salvador e Porto Alegre, capitais com altos índices de envelhecimento populacional.

Metade das pessoas negras com mais de 50 anos considera difícil ou muito difícil pagar as contas; entre as brancas, esse percentual é de 44%. Na saúde, negros acessam 16% menos os serviços privados. Há diferenças também na inclusão digital: negros acessam 14% menos a internet que os brancos.

A música como protagonista no palco

O texto de Bom dia, Eternidade é um conjunto de fragmentos, e o público gentilmente está convidado a juntá-los. Histórias reais e ficcionais se misturam, embaralhadas pelo tempo. Conforme redescobrem objetos afetivos, os personagens se descortinam. “Nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo, estamos ressoando e representando muitas outras numa denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, afirma o diretor.

A música é protagonista. Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “A musicalidade aponta o resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo.

A peça é a última parte da Trilogia da Morte do grupo O Bonde, iniciada com a peça infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues. Em seguida veio Desfazenda - Me enterrem fora desse lugar, com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020.

O Bonde é um coletivo criado em 2017 por artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. O grupo reúne Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves para investigar, nos trabalhos mais recentes, as experiências de quase morte do corpo negro, refletindo sobre as heranças do período escravocrata.

Celestino afirma que momento atual da trajetória dos coletivos negros é a busca da subjetividade, a particularidade dos artistas e de suas linguagens únicas, e da projeção de novos horizontes simbólicos para a população negra. “Quando a gente fala que vive num sistema que unifica a gente, é um sistema que sempre nos coloca diante da morte, o corpo matável que vive sempre em constante relação com a morte imposta pelo sistema”, afirma.

“Nós, artistas negros, temos a necessidade de falar sobre horizonte utópico possível. Que futuro é esse que a gente está criando como sociedade e como artistas? A ideia é colocar essa narrativa, essa discussão e essa reflexão em cima do palco para que a gente possa começar a pensar, sobre novas possibilidades para a existência de corpos negros”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo O Bonde, constituído por artistas negros e periféricos formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André (SP).

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  • Dias: Sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h
  • Sessões nas tardes de 15 e 22 de fevereiro, quintas, às 15h
  • Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação – R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque
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Quatro irmãos negros que sofreram um despejo na infância recebem o terreno de volta após quase 60 anos. Agora, reunidos no quintal da antiga moradia e embalados pelas lembranças, eles precisam decidir o que fazer. A peça Bom dia, Eternidade, em cartaz no Sesc Consolação, aborda a passagem do tempo com um recorte especial: o envelhecimento das pessoas negras.

Em cena, uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos contracena com o elenco da companhia O Bonde. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, o espetáculo vive o presente, olhando para as migrações, contos, teses, lutas e tudo o que constitui a sociabilidade dos corpos negros e velhos.

“A ideia do Bonde era fazer uma peça sobre a velhice das pessoas negras. A pesquisa trazia estatísticas de uma realidade dura. Aí nasce o desejo de uma resposta com utopia, uma vontade de mostrar as vitórias, possibilidades de outros percursos”, diz o diretor. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.

Elenco da peça 'Bom dia, Eternidade', em cartaz no Sesc Consolação Foto: Julio Cesar Almeida

O título da peça, por sua vez, é uma referência direta ao filme de Rogério de Moura, produzido em 2010. “Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi.

A realidade dura do envelhecimento negro no Brasil, citada por Lubi, está retratada, por exemplo, na pesquisa “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e o Itaú Viver Mais. Os dados apontam desigualdades no envelhecimento de pessoas negras e brancas em São Paulo, Salvador e Porto Alegre, capitais com altos índices de envelhecimento populacional.

Metade das pessoas negras com mais de 50 anos considera difícil ou muito difícil pagar as contas; entre as brancas, esse percentual é de 44%. Na saúde, negros acessam 16% menos os serviços privados. Há diferenças também na inclusão digital: negros acessam 14% menos a internet que os brancos.

A música como protagonista no palco

O texto de Bom dia, Eternidade é um conjunto de fragmentos, e o público gentilmente está convidado a juntá-los. Histórias reais e ficcionais se misturam, embaralhadas pelo tempo. Conforme redescobrem objetos afetivos, os personagens se descortinam. “Nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo, estamos ressoando e representando muitas outras numa denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, afirma o diretor.

A música é protagonista. Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “A musicalidade aponta o resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo.

A peça é a última parte da Trilogia da Morte do grupo O Bonde, iniciada com a peça infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues. Em seguida veio Desfazenda - Me enterrem fora desse lugar, com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020.

O Bonde é um coletivo criado em 2017 por artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. O grupo reúne Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves para investigar, nos trabalhos mais recentes, as experiências de quase morte do corpo negro, refletindo sobre as heranças do período escravocrata.

Celestino afirma que momento atual da trajetória dos coletivos negros é a busca da subjetividade, a particularidade dos artistas e de suas linguagens únicas, e da projeção de novos horizontes simbólicos para a população negra. “Quando a gente fala que vive num sistema que unifica a gente, é um sistema que sempre nos coloca diante da morte, o corpo matável que vive sempre em constante relação com a morte imposta pelo sistema”, afirma.

“Nós, artistas negros, temos a necessidade de falar sobre horizonte utópico possível. Que futuro é esse que a gente está criando como sociedade e como artistas? A ideia é colocar essa narrativa, essa discussão e essa reflexão em cima do palco para que a gente possa começar a pensar, sobre novas possibilidades para a existência de corpos negros”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo O Bonde, constituído por artistas negros e periféricos formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André (SP).

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Quatro irmãos negros que sofreram um despejo na infância recebem o terreno de volta após quase 60 anos. Agora, reunidos no quintal da antiga moradia e embalados pelas lembranças, eles precisam decidir o que fazer. A peça Bom dia, Eternidade, em cartaz no Sesc Consolação, aborda a passagem do tempo com um recorte especial: o envelhecimento das pessoas negras.

Em cena, uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos contracena com o elenco da companhia O Bonde. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, o espetáculo vive o presente, olhando para as migrações, contos, teses, lutas e tudo o que constitui a sociabilidade dos corpos negros e velhos.

“A ideia do Bonde era fazer uma peça sobre a velhice das pessoas negras. A pesquisa trazia estatísticas de uma realidade dura. Aí nasce o desejo de uma resposta com utopia, uma vontade de mostrar as vitórias, possibilidades de outros percursos”, diz o diretor. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.

Elenco da peça 'Bom dia, Eternidade', em cartaz no Sesc Consolação Foto: Julio Cesar Almeida

O título da peça, por sua vez, é uma referência direta ao filme de Rogério de Moura, produzido em 2010. “Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi.

A realidade dura do envelhecimento negro no Brasil, citada por Lubi, está retratada, por exemplo, na pesquisa “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e o Itaú Viver Mais. Os dados apontam desigualdades no envelhecimento de pessoas negras e brancas em São Paulo, Salvador e Porto Alegre, capitais com altos índices de envelhecimento populacional.

Metade das pessoas negras com mais de 50 anos considera difícil ou muito difícil pagar as contas; entre as brancas, esse percentual é de 44%. Na saúde, negros acessam 16% menos os serviços privados. Há diferenças também na inclusão digital: negros acessam 14% menos a internet que os brancos.

A música como protagonista no palco

O texto de Bom dia, Eternidade é um conjunto de fragmentos, e o público gentilmente está convidado a juntá-los. Histórias reais e ficcionais se misturam, embaralhadas pelo tempo. Conforme redescobrem objetos afetivos, os personagens se descortinam. “Nossa intenção é coletivizar os sujeitos do espetáculo, estamos ressoando e representando muitas outras numa denúncia ampla: o não envelhecimento digno da população negra no Brasil”, afirma o diretor.

A música é protagonista. Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “A musicalidade aponta o resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo.

A peça é a última parte da Trilogia da Morte do grupo O Bonde, iniciada com a peça infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues. Em seguida veio Desfazenda - Me enterrem fora desse lugar, com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020.

O Bonde é um coletivo criado em 2017 por artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. O grupo reúne Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves para investigar, nos trabalhos mais recentes, as experiências de quase morte do corpo negro, refletindo sobre as heranças do período escravocrata.

Celestino afirma que momento atual da trajetória dos coletivos negros é a busca da subjetividade, a particularidade dos artistas e de suas linguagens únicas, e da projeção de novos horizontes simbólicos para a população negra. “Quando a gente fala que vive num sistema que unifica a gente, é um sistema que sempre nos coloca diante da morte, o corpo matável que vive sempre em constante relação com a morte imposta pelo sistema”, afirma.

“Nós, artistas negros, temos a necessidade de falar sobre horizonte utópico possível. Que futuro é esse que a gente está criando como sociedade e como artistas? A ideia é colocar essa narrativa, essa discussão e essa reflexão em cima do palco para que a gente possa começar a pensar, sobre novas possibilidades para a existência de corpos negros”.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo O Bonde, constituído por artistas negros e periféricos formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André (SP).

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  • Temporada: 20 de janeiro a 25 de fevereiro de 2024
  • Dias: Sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h
  • Sessões nas tardes de 15 e 22 de fevereiro, quintas, às 15h
  • Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação – R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque
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Quatro irmãos negros que sofreram um despejo na infância recebem o terreno de volta após quase 60 anos. Agora, reunidos no quintal da antiga moradia e embalados pelas lembranças, eles precisam decidir o que fazer. A peça Bom dia, Eternidade, em cartaz no Sesc Consolação, aborda a passagem do tempo com um recorte especial: o envelhecimento das pessoas negras.

Em cena, uma banda de quatro músicos com mais de 60 anos contracena com o elenco da companhia O Bonde. Com dramaturgia de Jhonny Salaberg e direção de Luiz Fernando Marques Lubi, o espetáculo vive o presente, olhando para as migrações, contos, teses, lutas e tudo o que constitui a sociabilidade dos corpos negros e velhos.

“A ideia do Bonde era fazer uma peça sobre a velhice das pessoas negras. A pesquisa trazia estatísticas de uma realidade dura. Aí nasce o desejo de uma resposta com utopia, uma vontade de mostrar as vitórias, possibilidades de outros percursos”, diz o diretor. “Estamos construindo uma grande utopia, em que os negros envelhecem de forma saudável e digna”, comenta o ator Filipe Celestino.

Elenco da peça 'Bom dia, Eternidade', em cartaz no Sesc Consolação Foto: Julio Cesar Almeida

O título da peça, por sua vez, é uma referência direta ao filme de Rogério de Moura, produzido em 2010. “Criamos uma relação afetiva com essa produção, mas dela só pegamos emprestado o nome. Nossa dramaturgia não se assemelha com o que é contado na obra audiovisual”, detalha Lubi.

A realidade dura do envelhecimento negro no Brasil, citada por Lubi, está retratada, por exemplo, na pesquisa “Envelhecimento e desigualdades raciais”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e o Itaú Viver Mais. Os dados apontam desigualdades no envelhecimento de pessoas negras e brancas em São Paulo, Salvador e Porto Alegre, capitais com altos índices de envelhecimento populacional.

Metade das pessoas negras com mais de 50 anos considera difícil ou muito difícil pagar as contas; entre as brancas, esse percentual é de 44%. Na saúde, negros acessam 16% menos os serviços privados. Há diferenças também na inclusão digital: negros acessam 14% menos a internet que os brancos.

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A música é protagonista. Canções de Fernando Alabê, Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Roberto Mendes Barbosa, Luiz Alfredo Xavier, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf norteiam a narrativa. “A musicalidade aponta o resgate de cancioneiro e gêneros musicais difundidos entre os anos 1950 e 1980 mais elementos da cultura afrodiaspórica”, explica Fernando Alabê, diretor musical do espetáculo.

A peça é a última parte da Trilogia da Morte do grupo O Bonde, iniciada com a peça infantil Quando eu morrer vou contar tudo a Deus, com dramaturgia de Maria Shu e direção de Ícaro Rodrigues. Em seguida veio Desfazenda - Me enterrem fora desse lugar, com texto de Lucas Moura e direção de Roberta Estrela D’Alva, premiada como Melhor Espetáculo Virtual pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e indicada a Melhor Dramaturgia pelo prêmio Shell, em 2020.

O Bonde é um coletivo criado em 2017 por artistas negros e periféricos, formados em diferentes períodos na Escola Livre de Teatro de Santo André. O grupo reúne Ailton Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves para investigar, nos trabalhos mais recentes, as experiências de quase morte do corpo negro, refletindo sobre as heranças do período escravocrata.

Celestino afirma que momento atual da trajetória dos coletivos negros é a busca da subjetividade, a particularidade dos artistas e de suas linguagens únicas, e da projeção de novos horizontes simbólicos para a população negra. “Quando a gente fala que vive num sistema que unifica a gente, é um sistema que sempre nos coloca diante da morte, o corpo matável que vive sempre em constante relação com a morte imposta pelo sistema”, afirma.

“Nós, artistas negros, temos a necessidade de falar sobre horizonte utópico possível. Que futuro é esse que a gente está criando como sociedade e como artistas? A ideia é colocar essa narrativa, essa discussão e essa reflexão em cima do palco para que a gente possa começar a pensar, sobre novas possibilidades para a existência de corpos negros”.

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