Os destroços de um navio encalhado há mais de um século em uma das praias de Santos, no litoral de São Paulo, sempre intrigaram os moradores e acabaram virando atração turística. Agora, o navio fantasma, que foi identificado como o veleiro inglês Kestrel, pode ser visto por inteiro, como era quando encalhou em 1895, por meio do recurso da realidade aumentada. A tecnologia permite sobrepor elementos virtuais à nossa visão da realidade.
Para ver o veleiro em 3D, flutuando como um navio fantasma sobre as águas do mar, basta escanear o QR Code de uma placa instalada junto à mureta do Canal 5, na Praia do Boqueirão, e apontar o celular em direção aos destroços da embarcação.
Até a manhã desta quarta-feira, 1º, haviam sido registradas 1.962 visualizações do veleiro. A atração pode ser acessada a qualquer momento, mas a recomendação da prefeitura é de que a visualização seja feita à luz do dia para se obter uma imagem com melhor definição.
Além do acesso à imagem, reconstituída a partir de um retrato do navio feito pelo pintor Benedito Calixto, a pessoa visualiza um resumo da história da embarcação, disponível em português e inglês. A atração, de acesso gratuito, foi inaugurada no dia 28 de janeiro, durante as comemorações dos 477 anos de Santos.
A ideia de usar a realidade aumentada para projetar o veleiro original surgiu depois que estudo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mostrou que a retirada dos destroços da praia poderia levar à deterioração do material. O Iphan transformou o local em sítio arqueológico e determinou sua preservação. Já o Ministério Público recomendou à prefeitura a sinalização dos destroços para evitar acidentes e a colocação de placa indicativa de bem histórico.
Conforme o secretário de municipal de Serviços Públicos, Wagner Ramos, a experiência com a realidade aumentada está servindo para valorizar a história do local. “Muitas pessoas que moram em Santos desconheciam a história e agora estão muito interessadas em saber tudo sobre o navio”, disse.
Tempestade afundou embarcação que vinha da Europa
O veleiro britânico Kestrel, com três mastros para sustentar as velas, foi construído em 1871 com motores a vapor movidos a carvão. O navio era usado para transportar mercadorias através do Oceano Atlântico. Na última viagem, o Kestrel partiu da Europa para os Estados Unidos e, de Nova York, para o Brasil.
Em 11 de fevereiro de 1895, a embarcação estava ancorada em Santos quando foi atingida por uma tempestade tropical. A corrente da âncora arrebentou e o navio encalhou perto do Boqueirão. No momento do encalhe, estavam a bordo apenas o cozinheiro, um marinheiro e um ajudante. O capitão Cochrane e os demais membros da tripulação estavam em terra, pois o navio já tinha sido descarregado no porto.
Os restos da embarcação foram encobertos pela areia e só apareceram em 2017, devido ao movimento das marés, gerando uma onda de mistério e especulações sobre a origem do navio. A estrutura principal do barco está a três metros de profundidade. O veleiro foi identificado pelo historiador e presidente do Instituto Histórico de Santos, Sérgio Willians, que o reconheceu no quadro de Benedito Calixto, pintado no mesmo ano em que o navio encalhou.