Novo sindicato de motorista de aplicativo promete ‘proteção’ contra assaltos em SP


Entidade surge após expansão desse serviço na periferia – só o Uber fala em aumento médio de 150%; sob anonimato, motoristas temem que associação possa trazer insegurança. Presidente admite ajuda contra crimes e sugere botão de pânico

Por Fabio Leite
Com novas regras, motoristas passam a temer exposição a criminosos; sindicato prevê identificação de carros Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

SÃO PAULO - Ex-motoristas de ônibus e lotações ligados ao ex-vereador Vavá do Transporte (Podemos, ex-PT) estão montando um sindicato para agregar motoristas de aplicativos da cidade, como Uber, 99 e Cabify. A primeira assembleia da nova entidade, convocada em publicação feita no Diário Oficial da União em dezembro, está marcada para amanhã. Em grupos de conversa do WhatsApp, motoristas dos apps afirmam que a entidade dará “proteção” contra assaltos em áreas violentas da capital.

++ Regras mudam dia 10; carros de fora da capital terão restrição

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O sindicato surge em um momento de expansão do transporte por aplicativos na periferia, acompanhado de retração nas viagens de transporte coletivo. “(O sindicato) vai dar uma ajuda real, em termos de assalto, essas coisas”, diz um dos áudios do WhatsApp obtidos pelo Estado. Afirma-se ainda que “vai dar uma amenizada em assaltos, dentro da favela, então já fiquem cientes”, continua a gravação.

O futuro presidente do Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transporte Terrestre Intermunicipal do Estado de São Paulo (Stattesp), Leandro da Cruz Medeiros, confirma que a proteção dos motoristas contra crimes é uma das bandeiras da nova entidade, mas nega qualquer atuação fora das atividades sindicais. “Vimos que os motoristas não estavam tendo êxito em suas reivindicações em relação às empresas. Elas tratam as associações como pessoas individuais”, afirma. Daí a necessidade de uma organização. Ele defende ainda que os aplicativos padronizem as cores dos carros e instalem, por exemplo, botões de pânico nos veículos.

Insegurança. Motoristas de aplicativos, ouvidos sob condição de anonimato, se mostram receosos de que a nova entidade possa trazer-lhes o clima de insegurança que ronda o transporte coletivo da cidade. As eleições do sindicato dos motoristas de ônibus em 2013 ocorreram após um tiroteio. No caso dos lotações, só nos últimos dois meses duas integrantes de uma antiga cooperativa, hoje transformada em empresa, foram assassinadas, em casos registrados no 69.º Distrito Policial (Teotônio Vilela), na zona leste.  “Não são motoristas de aplicativo. Não sabemos muito bem o que esperar”, contou um deles. “Os motoristas não estão se filiando. Vão esperar ver o que vai acontecer”, relatou outro.

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Medeiros nega ligação com os perueiros e diz que, depois de integrar o sindicato dos motoristas por nove anos e meio, virou motorista de aplicativo. Já sobre os temores dos motoristas, afirma: “Não sei de onde parte esse tipo de conversa. Mesmo porque, como você vai controlar se quem não for do sindicato não vai ser roubado, quem for não vai ser?” “É uma coisa que, infelizmente, não tem nem o que falar.” Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou o assunto. A Secretaria de Segurança Pública do Estado disse que qualquer pessoa que se sentir insegura, pode procurar a Polícia.

Outro temor é que as novas regras para aplicativos, que passam a valer semana que vem, e são apoiadas pelo futuro sindicato, possa expô-los a criminosos – uma das normas prevê identificação dos veículos com adesivos (mais informações nesta página). 

Histórico. Medeiros foi chefe de gabinete da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo durante a gestão Fernando Haddad (PT), por indicação do ex-vereador Vavá. Outro ex-funcionário do parlamentar, José Leal de Castro, também fará parte da direção da entidade. Segundo dirigentes petistas ouvidos pela reportagem, Vavá, sindicalista dos motoristas dos lotações, entrou no PT em 2011 a convite do então deputado estadual Luiz Moura. O ex-vereador confirma ter feito campanhas para Moura, mas nega que o convite para filiação tenha partido dele. Vavá não mantém mais relações com o ex-deputado, que não foi encontrado ontem pela reportagem.

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Vavá do Transporte confirma a ligação com os membros do novo sindicato e a indicação de seus nomes para cargos públicos. Mas nega participação na entidade. “Soube que eles estão formando esse sindicato, mas eu não mantive contato com eles depois que saí”, disse. 

Expansão. Segundo o Uber, as corridas fora do centro expandido tiveram aumento médio de 150% em 2017 (em regiões como Parelheiros, chegaria a 364%). Já dados da São Paulo Transporte (SPTrans) mostram uma queda de 4,5% no número de passageiros no sistema de lotações desde 2013.

Para lembrar - Polícia apurou elo com o PCC

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A relação entre donos de lotações da capital paulista e a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) foi objeto de apurações por parte da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual. No caso do ex-deputado Luiz Moura, expulso do PT em 2014, o elo foi a participação dele em uma reunião, em março daquele ano, de membros das antigas cooperativas de transporte da cidade – transformadas em empresas na gestão Fernando Haddad (PT) –, que contou com a presença de suspeitos de integrar a facção. 

Moura foi investigado após deliberação do Tribunal de Justiça do Estado (uma vez que tinha foro), mas o procedimento terminou arquivado. Ele sempre negou qualquer ligação com grupo criminoso. As investigações do MPE, ocorridas naquele ano, apuravam um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas da facção criminosa por meio de empresas de lotação que atuavam nas zonas leste e sul do Município.

Com novas regras, motoristas passam a temer exposição a criminosos; sindicato prevê identificação de carros Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

SÃO PAULO - Ex-motoristas de ônibus e lotações ligados ao ex-vereador Vavá do Transporte (Podemos, ex-PT) estão montando um sindicato para agregar motoristas de aplicativos da cidade, como Uber, 99 e Cabify. A primeira assembleia da nova entidade, convocada em publicação feita no Diário Oficial da União em dezembro, está marcada para amanhã. Em grupos de conversa do WhatsApp, motoristas dos apps afirmam que a entidade dará “proteção” contra assaltos em áreas violentas da capital.

++ Regras mudam dia 10; carros de fora da capital terão restrição

O sindicato surge em um momento de expansão do transporte por aplicativos na periferia, acompanhado de retração nas viagens de transporte coletivo. “(O sindicato) vai dar uma ajuda real, em termos de assalto, essas coisas”, diz um dos áudios do WhatsApp obtidos pelo Estado. Afirma-se ainda que “vai dar uma amenizada em assaltos, dentro da favela, então já fiquem cientes”, continua a gravação.

O futuro presidente do Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transporte Terrestre Intermunicipal do Estado de São Paulo (Stattesp), Leandro da Cruz Medeiros, confirma que a proteção dos motoristas contra crimes é uma das bandeiras da nova entidade, mas nega qualquer atuação fora das atividades sindicais. “Vimos que os motoristas não estavam tendo êxito em suas reivindicações em relação às empresas. Elas tratam as associações como pessoas individuais”, afirma. Daí a necessidade de uma organização. Ele defende ainda que os aplicativos padronizem as cores dos carros e instalem, por exemplo, botões de pânico nos veículos.

Insegurança. Motoristas de aplicativos, ouvidos sob condição de anonimato, se mostram receosos de que a nova entidade possa trazer-lhes o clima de insegurança que ronda o transporte coletivo da cidade. As eleições do sindicato dos motoristas de ônibus em 2013 ocorreram após um tiroteio. No caso dos lotações, só nos últimos dois meses duas integrantes de uma antiga cooperativa, hoje transformada em empresa, foram assassinadas, em casos registrados no 69.º Distrito Policial (Teotônio Vilela), na zona leste.  “Não são motoristas de aplicativo. Não sabemos muito bem o que esperar”, contou um deles. “Os motoristas não estão se filiando. Vão esperar ver o que vai acontecer”, relatou outro.

Medeiros nega ligação com os perueiros e diz que, depois de integrar o sindicato dos motoristas por nove anos e meio, virou motorista de aplicativo. Já sobre os temores dos motoristas, afirma: “Não sei de onde parte esse tipo de conversa. Mesmo porque, como você vai controlar se quem não for do sindicato não vai ser roubado, quem for não vai ser?” “É uma coisa que, infelizmente, não tem nem o que falar.” Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou o assunto. A Secretaria de Segurança Pública do Estado disse que qualquer pessoa que se sentir insegura, pode procurar a Polícia.

Outro temor é que as novas regras para aplicativos, que passam a valer semana que vem, e são apoiadas pelo futuro sindicato, possa expô-los a criminosos – uma das normas prevê identificação dos veículos com adesivos (mais informações nesta página). 

Histórico. Medeiros foi chefe de gabinete da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo durante a gestão Fernando Haddad (PT), por indicação do ex-vereador Vavá. Outro ex-funcionário do parlamentar, José Leal de Castro, também fará parte da direção da entidade. Segundo dirigentes petistas ouvidos pela reportagem, Vavá, sindicalista dos motoristas dos lotações, entrou no PT em 2011 a convite do então deputado estadual Luiz Moura. O ex-vereador confirma ter feito campanhas para Moura, mas nega que o convite para filiação tenha partido dele. Vavá não mantém mais relações com o ex-deputado, que não foi encontrado ontem pela reportagem.

Vavá do Transporte confirma a ligação com os membros do novo sindicato e a indicação de seus nomes para cargos públicos. Mas nega participação na entidade. “Soube que eles estão formando esse sindicato, mas eu não mantive contato com eles depois que saí”, disse. 

Expansão. Segundo o Uber, as corridas fora do centro expandido tiveram aumento médio de 150% em 2017 (em regiões como Parelheiros, chegaria a 364%). Já dados da São Paulo Transporte (SPTrans) mostram uma queda de 4,5% no número de passageiros no sistema de lotações desde 2013.

Para lembrar - Polícia apurou elo com o PCC

A relação entre donos de lotações da capital paulista e a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) foi objeto de apurações por parte da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual. No caso do ex-deputado Luiz Moura, expulso do PT em 2014, o elo foi a participação dele em uma reunião, em março daquele ano, de membros das antigas cooperativas de transporte da cidade – transformadas em empresas na gestão Fernando Haddad (PT) –, que contou com a presença de suspeitos de integrar a facção. 

Moura foi investigado após deliberação do Tribunal de Justiça do Estado (uma vez que tinha foro), mas o procedimento terminou arquivado. Ele sempre negou qualquer ligação com grupo criminoso. As investigações do MPE, ocorridas naquele ano, apuravam um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas da facção criminosa por meio de empresas de lotação que atuavam nas zonas leste e sul do Município.

Com novas regras, motoristas passam a temer exposição a criminosos; sindicato prevê identificação de carros Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

SÃO PAULO - Ex-motoristas de ônibus e lotações ligados ao ex-vereador Vavá do Transporte (Podemos, ex-PT) estão montando um sindicato para agregar motoristas de aplicativos da cidade, como Uber, 99 e Cabify. A primeira assembleia da nova entidade, convocada em publicação feita no Diário Oficial da União em dezembro, está marcada para amanhã. Em grupos de conversa do WhatsApp, motoristas dos apps afirmam que a entidade dará “proteção” contra assaltos em áreas violentas da capital.

++ Regras mudam dia 10; carros de fora da capital terão restrição

O sindicato surge em um momento de expansão do transporte por aplicativos na periferia, acompanhado de retração nas viagens de transporte coletivo. “(O sindicato) vai dar uma ajuda real, em termos de assalto, essas coisas”, diz um dos áudios do WhatsApp obtidos pelo Estado. Afirma-se ainda que “vai dar uma amenizada em assaltos, dentro da favela, então já fiquem cientes”, continua a gravação.

O futuro presidente do Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transporte Terrestre Intermunicipal do Estado de São Paulo (Stattesp), Leandro da Cruz Medeiros, confirma que a proteção dos motoristas contra crimes é uma das bandeiras da nova entidade, mas nega qualquer atuação fora das atividades sindicais. “Vimos que os motoristas não estavam tendo êxito em suas reivindicações em relação às empresas. Elas tratam as associações como pessoas individuais”, afirma. Daí a necessidade de uma organização. Ele defende ainda que os aplicativos padronizem as cores dos carros e instalem, por exemplo, botões de pânico nos veículos.

Insegurança. Motoristas de aplicativos, ouvidos sob condição de anonimato, se mostram receosos de que a nova entidade possa trazer-lhes o clima de insegurança que ronda o transporte coletivo da cidade. As eleições do sindicato dos motoristas de ônibus em 2013 ocorreram após um tiroteio. No caso dos lotações, só nos últimos dois meses duas integrantes de uma antiga cooperativa, hoje transformada em empresa, foram assassinadas, em casos registrados no 69.º Distrito Policial (Teotônio Vilela), na zona leste.  “Não são motoristas de aplicativo. Não sabemos muito bem o que esperar”, contou um deles. “Os motoristas não estão se filiando. Vão esperar ver o que vai acontecer”, relatou outro.

Medeiros nega ligação com os perueiros e diz que, depois de integrar o sindicato dos motoristas por nove anos e meio, virou motorista de aplicativo. Já sobre os temores dos motoristas, afirma: “Não sei de onde parte esse tipo de conversa. Mesmo porque, como você vai controlar se quem não for do sindicato não vai ser roubado, quem for não vai ser?” “É uma coisa que, infelizmente, não tem nem o que falar.” Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou o assunto. A Secretaria de Segurança Pública do Estado disse que qualquer pessoa que se sentir insegura, pode procurar a Polícia.

Outro temor é que as novas regras para aplicativos, que passam a valer semana que vem, e são apoiadas pelo futuro sindicato, possa expô-los a criminosos – uma das normas prevê identificação dos veículos com adesivos (mais informações nesta página). 

Histórico. Medeiros foi chefe de gabinete da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo durante a gestão Fernando Haddad (PT), por indicação do ex-vereador Vavá. Outro ex-funcionário do parlamentar, José Leal de Castro, também fará parte da direção da entidade. Segundo dirigentes petistas ouvidos pela reportagem, Vavá, sindicalista dos motoristas dos lotações, entrou no PT em 2011 a convite do então deputado estadual Luiz Moura. O ex-vereador confirma ter feito campanhas para Moura, mas nega que o convite para filiação tenha partido dele. Vavá não mantém mais relações com o ex-deputado, que não foi encontrado ontem pela reportagem.

Vavá do Transporte confirma a ligação com os membros do novo sindicato e a indicação de seus nomes para cargos públicos. Mas nega participação na entidade. “Soube que eles estão formando esse sindicato, mas eu não mantive contato com eles depois que saí”, disse. 

Expansão. Segundo o Uber, as corridas fora do centro expandido tiveram aumento médio de 150% em 2017 (em regiões como Parelheiros, chegaria a 364%). Já dados da São Paulo Transporte (SPTrans) mostram uma queda de 4,5% no número de passageiros no sistema de lotações desde 2013.

Para lembrar - Polícia apurou elo com o PCC

A relação entre donos de lotações da capital paulista e a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) foi objeto de apurações por parte da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual. No caso do ex-deputado Luiz Moura, expulso do PT em 2014, o elo foi a participação dele em uma reunião, em março daquele ano, de membros das antigas cooperativas de transporte da cidade – transformadas em empresas na gestão Fernando Haddad (PT) –, que contou com a presença de suspeitos de integrar a facção. 

Moura foi investigado após deliberação do Tribunal de Justiça do Estado (uma vez que tinha foro), mas o procedimento terminou arquivado. Ele sempre negou qualquer ligação com grupo criminoso. As investigações do MPE, ocorridas naquele ano, apuravam um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas da facção criminosa por meio de empresas de lotação que atuavam nas zonas leste e sul do Município.

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