Em depoimento à polícia, a mulher que estava com o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, na noite em que ele foi morto durante uma abordagem policial, disse que Acosta tinha consumido bebida alcóolica e que eles tinham discutido horas antes da polícia chegar.
O Estadão teve acesso ao depoimento dela. No relato, a jovem de 21 anos ainda afirma que foi agredida pelo rapaz. Ele bateu em sua cabeça tentando impedir que ela deixasse o quarto em que estavam hospedados. O caso ocorreu na Vila Mariana, na madrugada de quarta, 20. Marco Aurélio morreu no hospital após ser atingido por um tiro à queima roupa disparado por um PM.
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Caso ocorreu na madrugada de quarta, 20, dentro de hotel na Zona Sul da capital.
Aos investigadores, a jovem contou que trabalha como garota de programa e que conhecia o estudante havia dois anos. Nesse período, eles tiveram um relacionamento amoroso, mas ela afirma que não deixou de cobra-lo e, por isso, ele teria uma dívida com ela de cerca de R$ 20 mil. A discussão entre os dois teria sido motivada por conta dessas questões.
“Era normal as discussões verbais entre a depoente e Marco Aurélio, tanto por questões de dívidas financeiras, quanto ao fato da família de Marco Aurélio não aceitar a relação da depoente com Marco Aurélio”, diz o termo de depoimento da mulher.
Ainda de acordo com o depoimento, a jovem relata que encontrou Marco Aurélio por acaso em um bar na Vila Mariana, na terça à noite, e viu que o rapaz estava ingerindo bebida alcoólica. De acordo com ela, eles se cumprimentaram e ficaram distantes um do outro. Ele foi embora do bar sozinho, mas horas depois, já na madrugada de quarta, 20, o estudante teria enviado uma mensagem dizendo que queria “ficar com ela novamente”.
Ela diz que aceitou encontrá-lo na intenção de cobrar o que ele devia, mas que não pretendia ter relações sexuais. Ele teria pedido um Uber da casa dele e feito uma parada para buscá-la na casa dela. Depois, foram até o hotel na Rua Cubatão, onde, segundo a jovem, eles costumavam se encontrar.
Já dentro do quarto, o estudante teria dado R$ 250 a ela e, ao ser cobrado do restante, começou a discutir com a mulher. A jovem afirma que tentou diversas vezes sair do quarto, mas foi impedida pelo estudante. Neste momento, conta que foi agredida fisicamente por ele.
“A depoente tentou novamente sair do quarto, quando Marco Aurélio bateu na cabeça da depoente, a empurrando para longe da porta”, diz o depoimento.
Segundo ela, o recepcionista do hotel teria chamado a polícia após escutar a discussão. A jovem diz que conseguiu sair do quarto, desceu as escadas do hotel e se escondeu próximo à recepção. Marco Aurélio teria seguido a jovem e ido até a rua. Ela afirma que, na sequência, escutou um policial entrar no estabelecimento e perguntar por que o estudante teria batido na viatura. Em seguida, escutou o disparo de arma de fogo.
“O recepcionista pegou a depoente e a colocou na lateral, a impedindo de avistar os fatos”, diz o depoimento. “A depoente apenas ouviu um disparo de arma de fogo e avistou posteriormente Marco Aurélio caído no chão.”
Ele foi socorrido acordado, gritando, e levado ao Hospital Ipiranga. Ela o acompanhou.
No hospital, a mulher disse que foi hostilizada pela família do estudante. “A família de Marco Aurélio chegou e começou a ofender a depoente, sendo que o irmão de Marco Aurélio, de nome Pedro, desferiu um soco no rosto da depoente, gritando que iria matá-la; (ela disse) que, os policiais militares afastaram a família de Marco Aurélio da depoente, e a trouxeram para esta especializada (delegacia de polícia, a DHPP).”
Ao Estadão, a família disse que, embora tivessem relação conturbada, os dois se gostavam. A mãe destacou que prova disso é que, depois de ele ser baleado, a jovem o acompanhou até o hospital e que mandou mensagem para um dos irmãos para avisar a família.
O estudante de medicina estava desarmado e aparece em imagens de uma câmera de segurança do hotel correndo da polícia. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) diz que os policiais envolvidos na ocorrência foram indiciados e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações.
“Toda a conduta dos agentes é investigada. As imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)”, afirma a SSP.
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