O cinza que desponta em meio à retirada de parte do calçamento do centenário Viaduto Santa Ifigênia tem chamado a atenção de frequentadores do centro da cidade de São Paulo e das redes sociais. A obra foi iniciada na quarta-feira, 7, gerando dúvidas e temor de que a construção histórica seria descaracterizada, mas a Prefeitura tem destacado que se trata de restauro e recuperação estrutural.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) diz que o espaço continuará com as características icônicas, como o piso em mosaico — implementado por volta de 1978, após a transformação da via em calçadão e o fechamento para o tráfego de veículos. Também há quem use a grafia Viaduto Santa Efigênia.
A estimativa é de que a obra se estenda ao menos até agosto, com custo de R$ 6,5 milhões. O fluxo de pedestres está parcialmente liberado durante os trabalhos.
Segundo a Prefeitura, um laudo apontou problemas de segurança no viaduto, com fissuras, infiltrações e corrosões em parte da estrutura metálica (a chamada “armadura”), que comprometem a integridade da construção. “Essas medidas são essenciais para a segurança e a funcionalidade do viaduto a longo prazo”, destacou em comunicado.
A obra envolve a reconstrução e impermeabilização da laje, a recuperação dos revestimentos e o restauro do calçamento. O piso estava com lacunas pela falta de parte das pastilhas cerâmicas há anos, as quais serão repostas por unidades “idênticas às atuais”, de acordo com a gestão municipal.
A impermeabilização visa, por exemplo, a evitar novas infiltrações e, consequentemente, prevenir danos estruturais, diante da constatação de problemas no sistema de drenagem e na vedação das juntas. “Já a base será regularizada para garantir uma fundação sólida e duradoura”, acrescenta a publicação oficial.
Qual é a história do Viaduto Santa Ifigênia?
Com cerca de 225 metros de extensão, o viaduto foi inaugurado em 1913, em estilo art nouveau e estrutura trazida da Bélgica. Foi construído a fim de ligar o chamado “centro velho” (distrito Sé) — a partir do Largo São Bento — e o “centro novo” (República) — no entorno da Santa Ifigênia —, passando sobre a Avenida Prestes Maia.
A obra de implementação foi financiada junto ao governo inglês, com a última parcela paga nos anos 1970. O projeto original do viaduto é do escritório italiano Micheli e Chiappori.
Segundo informações do projeto de restauro, do Estúdio Sarasá, todo o material metálico da obra (de mais de mil toneladas) foi desembarcado no Porto de Santos e enviado de trem até a capital paulista.
“O Viaduto Santa Ifigênia é, atualmente, a estrutura metálica mais antiga da cidade de São Paulo. Sua importância não se dá, somente, pelo fato histórico, mas pela sua implantação contundente no Vale do Anhangabaú”, diz o documento.
Com os anos, o viaduto se tornou um dos principais cartões-postais do centro paulistano. Foi cenário de novelas e filmes brasileiros, além de ter sido celebrado em canção homônima de Adoniran Barbosa. “Venha ver Eugênia/ Como ficou bonito/ O Viaduto Santa Efigênia/ Venha ver/ Foi aqui/ Que você nasceu/ Foi aqui/ Que você cresceu/ Foi aqui que você conheceu/ O seu primeiro amor”, cantava o artista.
O viaduto é tombado como patrimônio cultural da cidade há décadas. A obra atual recebeu aval do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) no ano passado. Em 2017, a construção teve uma obra parcial entregue.
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