Trator, homens trabalhando, buracos enormes e trânsito caótico. Este é o cenário da Rua Bela Cintra, próximo ao cruzamento com a Estados Unidos, no Jardins, em São Paulo.
O transtorno tem sido causado por uma obra realizada pela Prefeitura de recuperação das galerias de águas pluviais, no subsolo, na tentativa de acabar com os problemas de alagamentos na região. Mas, a demora, o tamanho da reforma e os recorrentes problemas gerados pela obra têm irritado moradores e estabelecimentos comerciais.
Gerentes de restaurantes, bares e cafés reclamam que o movimento caiu drasticamente nos últimos meses por causa da obra. “Tem muito cliente que vê o trânsito e não vem. Até tem quem pede para entregar ou deixa o carro algumas ruas para trás e vem andando, mas a grande maioria prefere ir comer em outro lugar”, reclama Paula Zink, gerente do Prêt A Manger.
Segundo comerciantes e moradores da rua, é comum motoristas ficarem mais de 20 minutos parados no trânsito que se forma no trecho interditado na Bela Cintra, especialmente nos horários de pico. “Sair de casa se tornou um transtorno”, reclama Marcia Spachini, moradora da rua. “Entendemos que a obra é necessária e esses problemas fazem parte, a questão é que está demorando muito”, reclama Aristides Moreira Cardoso, gerente do restaurante A Bela Sintra.
De acordo com a placa colocada pela prefeitura no local, a obra foi decretada em caráter emergencial e deveria ter começado no fim de dezembro de 2022, com prazo de conclusão de 160 dias. No entanto, ela só começou de fato com mais de quatro meses de atraso, em abril deste ano, e ainda não foi concluída.
Procurada pelo Estadão, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), informou que a obra deve acabar no próximo mês. “Devido às interferências encontradas durante as escavações, como redes de concessionárias de telefonia e saneamento básico, que não estavam cadastradas no Controle de Infraestrutura Urbana (CONVIAS), o cronograma para finalização dos trabalhos precisou ser postergado”, justificou.
Ainda de acordo com a pasta, estão em construção 300 metros de novas galerias “por meio do método conhecido como ‘tunel linner’, quando as escavações acontecem diretamente no subsolo”. Os trabalhos acontecem 24 horas por dia, de segunda a sábado, e são feitos por uma empresa contratada.
A obra toma duas faixas de trânsito, deixando somente uma para a circulação de veículos. Funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da empresa contratada orientam os motoristas na tentativa de manter a fluidez do tráfego.
Próxima à Avenida Paulista, a região é movimentada devido à grande quantidade de bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Também há grande fluxo de veículos de moradores dos prédios da rua.
Quando chove, os alagamentos pioram ainda mais o trânsito e chegam a causar danos nos imóveis. “Entra água e lama entre a galeria e o prédio, vazando para a garagem, no subsolo”, contou um zelador de edifício residencial que preferiu não se identificar.
Transtornos
No último dia 5, um cano de gás foi danificado durante a obra e a rua precisou ser fechada por segurança, já que houve vazamento. O acidente aconteceu por volta das 13h, atrapalhando a preparação do almoço nos restaurantes. A Comgás, que abastece a região, foi chamada e realizou o reparo, mas a rua só foi reaberta no final do dia.
“Tive de sair com comidas daqui e assar em outro restaurante para não perder a mercadoria”, conta Paula. “Deixamos de servir algumas coisas por conta da falta de gás”, lembra Josemar Martins de Araújo, auxiliar de gerente do restaurante Corrientes 348 Jardins.
Nesta quarta e quinta-feira, 18 e 19 de outubro, o poço de visita utilizado pelos funcionários da obra para acessar o subsolo e a rede de esgoto foram danificados, causando vazamento.
“Uma equipe da Sabesp se encontra no local fazendo o reparo da tubulação e, após a passagem da galeria de águas pluviais que está sendo executada pela contratada da administração municipal, vai reconstruir o poço de visita”, informou a empresa fornecedora de água da região, Sabesp.
Por causa da movimentação da obra e do excesso de água não captada pelas galerias, alguns prédios também tiveram problemas, como danos em tubulações de esgoto, desníveis e rachaduras nas calçadas. “Toda hora fecha a água da rua e a energia cai”, reclama o vizinho Ricardo Adriano.
A Prefeitura de São Paulo informou que todas as calçadas que foram danificadas serão reparadas a partir de novembro.