Um chimpanzé de 26 anos virou alvo de uma disputa judicial entre entidades não governamentais nacionais e internacionais, associações científicas e a Fundação Jardim Zoológico de Niterói, no Rio. Jimmy, que até os 3 anos viveu em um circo e há 12 anos está no zoológico, teve o habeas corpus pedido na 2.ª Câmara Criminal do Rio. Os autores da ação defendem que o chimpanzé seja levado para um santuário ecológico em Sorocaba, no interior de São Paulo.Defendendo que os chimpanzés são como os seres humanos e não podem viver isolados e enjaulados, os autores da ação alegam que Jimmy sofre maus-tratos e precisa de uma família para viver feliz. "Isolar é maltratar e ele está numa jaula para exibição ao público. Somos contra a exibição de qualquer chimpanzé. Jimmy está estressado. No santuário, ele terá 1 mil m² para brincar, correr e ter uma família", afirmou o microbiologista Pedro Ynterian, presidente internacional do Projeto Gap, ONG afiliada da entidade internacional Great Ape Project, defensora dos grandes primatas.Contestação. Presidente da Fundação Jardim Zoológico de Niterói, Giselda Candiotto contesta o habeas corpus, afirmando que, caso Jimmy seja levado para Sorocaba, ele continuará preso. "Como podem falar em liberdade em um local todo murado, sem verde? Se ele fosse transferido para a África, de onde veio, para ter uma família, eu seria a primeira a colocá-lo no avião. O Jimmy já criou um vínculo afetivo conosco. O tratamento que damos a ele é altamente humanizado." Numa cela de 120 m², Jimmy recebe alimentação duas vezes ao dia, toma banho diariamente e faz pinturas. "Ele tem todas as adaptações necessárias à espécie. E nunca oferece resistência quando preciso aplicar remédio ou dar vitaminas. Se fosse maltratado, eu não teria essa facilidade", argumenta o veterinário do zoológico, Marco Janackovic. O julgamento do caso deve ocorrer somente em novembro e, de acordo com o desembargador responsável, José Muiños Piñeiro Filho, há duas questões: se os chimpanzés podem viver em cativeiro, já que são a espécie mais próxima do homem, e a constitucionalidade do habeas corpus para um animal. DNA. Em 2007, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) discutiu se macacos também têm direito a habeas corpus - uma das alegações é de que eles teriam 99% do DNA humano. A ação envolve os chimpanzés Lili e Megh. Rubens Forte, dono e depositário fiel dos animais, recorreu ao STJ contra decisão do Tribunal Regional da 3.ª Região (SP e MS), que mandou tirar os animais do cativeiro para voltarem à natureza. Decidiu-se que a Constituição só permite esse benefício a humanos. Houve recurso e ainda não há decisão final.