PCC ofereceu recompensa de R$ 3 milhões para quem matasse empresário delator; ouça gravação


‘Estadão’ teve acesso à conversa entre policial e advogado ligado à facção gravada por Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, executado na sexta-feira no Aeroporto de Guarulhos com dez tiros de fuzil; SSP diz que corregedorias das polícias apuram a atuação de seus agentes no caso

Por Marcelo Godoy
Atualização:

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.

O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.

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O áudio que menciona a recompensa, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

No bate-papo por telefone, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

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O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.

O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.

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Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.

O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Me liga e fala comigo. Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?” O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime faz uma última pergunta antes de desligar: “Passarinho tá voando direto?” E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

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Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”

Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinato Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.

Bilhetes deixados pelo PCC ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. Foto: Polícia Civil/Reprodução
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Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.

Os sequestradores decidiram soltá-lo diante do fato de que se o matassem não poderiam mais recuperar as criptomoedas, pois só Gritzbach sabia as chaves para o resgate das criptomoedas – matá-lo, seria perder o dinheiro para sempre.

A decisão causou contrariedade da cúpula da facção, que resolveu punir Django. Ele foi conduzido a um tribunal do crime e enforcado. Depois, seu corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste. Era 23 de janeiro de 2022. Com a prisão decretada em vários processos, Cebola continua foragido. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cebola.

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Empresário prestou seis depoimentos antes de morrer

Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé, na zona leste da capital. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Gritzbach era um jovem corretor de imóveis quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.

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Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi baleado no Terminal 2

Investigações apontam que, na véspera do Natal de 2023, quando o empresário ainda estava em prisão domiciliar, um tiro de fuzil foi disparado em direção a Gritzbach, que estava na janela de seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A bala atingiu sua janela, mas errou o alvo.

“Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem”, disse o advogado Ivelson Salotto. “A delação foi a sentença de morte dele.”

Segurança particular

Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.

Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. O ataque ocorreu por volta das 16 horas e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.

Resultado inicial da perícia apontou que ao menos 27 tiros de fuzil foram disparados contra Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Foto: Ítalo Lo Re/Estadão

As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.

Informações preliminares indicam que Gritzbach seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.

No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).

A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.

“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores.

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.

O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.

O áudio que menciona a recompensa, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

No bate-papo por telefone, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

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O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.

O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.

Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.

O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Me liga e fala comigo. Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?” O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime faz uma última pergunta antes de desligar: “Passarinho tá voando direto?” E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”

Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinato Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.

Bilhetes deixados pelo PCC ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. Foto: Polícia Civil/Reprodução

Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.

Os sequestradores decidiram soltá-lo diante do fato de que se o matassem não poderiam mais recuperar as criptomoedas, pois só Gritzbach sabia as chaves para o resgate das criptomoedas – matá-lo, seria perder o dinheiro para sempre.

A decisão causou contrariedade da cúpula da facção, que resolveu punir Django. Ele foi conduzido a um tribunal do crime e enforcado. Depois, seu corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste. Era 23 de janeiro de 2022. Com a prisão decretada em vários processos, Cebola continua foragido. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cebola.

Empresário prestou seis depoimentos antes de morrer

Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé, na zona leste da capital. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Gritzbach era um jovem corretor de imóveis quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.

Seu navegador não suporta esse video.

Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi baleado no Terminal 2

Investigações apontam que, na véspera do Natal de 2023, quando o empresário ainda estava em prisão domiciliar, um tiro de fuzil foi disparado em direção a Gritzbach, que estava na janela de seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A bala atingiu sua janela, mas errou o alvo.

“Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem”, disse o advogado Ivelson Salotto. “A delação foi a sentença de morte dele.”

Segurança particular

Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.

Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. O ataque ocorreu por volta das 16 horas e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.

Resultado inicial da perícia apontou que ao menos 27 tiros de fuzil foram disparados contra Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Foto: Ítalo Lo Re/Estadão

As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.

Informações preliminares indicam que Gritzbach seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.

No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).

A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.

“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores.

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.

O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.

O áudio que menciona a recompensa, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

No bate-papo por telefone, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

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O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.

O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.

Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.

O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Me liga e fala comigo. Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?” O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime faz uma última pergunta antes de desligar: “Passarinho tá voando direto?” E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”

Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinato Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.

Bilhetes deixados pelo PCC ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. Foto: Polícia Civil/Reprodução

Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.

Os sequestradores decidiram soltá-lo diante do fato de que se o matassem não poderiam mais recuperar as criptomoedas, pois só Gritzbach sabia as chaves para o resgate das criptomoedas – matá-lo, seria perder o dinheiro para sempre.

A decisão causou contrariedade da cúpula da facção, que resolveu punir Django. Ele foi conduzido a um tribunal do crime e enforcado. Depois, seu corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste. Era 23 de janeiro de 2022. Com a prisão decretada em vários processos, Cebola continua foragido. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cebola.

Empresário prestou seis depoimentos antes de morrer

Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé, na zona leste da capital. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Gritzbach era um jovem corretor de imóveis quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.

Seu navegador não suporta esse video.

Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi baleado no Terminal 2

Investigações apontam que, na véspera do Natal de 2023, quando o empresário ainda estava em prisão domiciliar, um tiro de fuzil foi disparado em direção a Gritzbach, que estava na janela de seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A bala atingiu sua janela, mas errou o alvo.

“Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem”, disse o advogado Ivelson Salotto. “A delação foi a sentença de morte dele.”

Segurança particular

Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.

Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. O ataque ocorreu por volta das 16 horas e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.

Resultado inicial da perícia apontou que ao menos 27 tiros de fuzil foram disparados contra Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Foto: Ítalo Lo Re/Estadão

As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.

Informações preliminares indicam que Gritzbach seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.

No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).

A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.

“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores.

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.

O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.

O áudio que menciona a recompensa, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

No bate-papo por telefone, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

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O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.

O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.

Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.

O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Me liga e fala comigo. Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?” O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime faz uma última pergunta antes de desligar: “Passarinho tá voando direto?” E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”

Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinato Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.

Bilhetes deixados pelo PCC ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. Foto: Polícia Civil/Reprodução

Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.

Os sequestradores decidiram soltá-lo diante do fato de que se o matassem não poderiam mais recuperar as criptomoedas, pois só Gritzbach sabia as chaves para o resgate das criptomoedas – matá-lo, seria perder o dinheiro para sempre.

A decisão causou contrariedade da cúpula da facção, que resolveu punir Django. Ele foi conduzido a um tribunal do crime e enforcado. Depois, seu corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste. Era 23 de janeiro de 2022. Com a prisão decretada em vários processos, Cebola continua foragido. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cebola.

Empresário prestou seis depoimentos antes de morrer

Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé, na zona leste da capital. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Gritzbach era um jovem corretor de imóveis quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.

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Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi baleado no Terminal 2

Investigações apontam que, na véspera do Natal de 2023, quando o empresário ainda estava em prisão domiciliar, um tiro de fuzil foi disparado em direção a Gritzbach, que estava na janela de seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A bala atingiu sua janela, mas errou o alvo.

“Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem”, disse o advogado Ivelson Salotto. “A delação foi a sentença de morte dele.”

Segurança particular

Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.

Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. O ataque ocorreu por volta das 16 horas e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.

Resultado inicial da perícia apontou que ao menos 27 tiros de fuzil foram disparados contra Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Foto: Ítalo Lo Re/Estadão

As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.

Informações preliminares indicam que Gritzbach seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.

No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).

A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.

“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores.

Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.

O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.

O áudio que menciona a recompensa, ao qual o Estadão teve acesso, tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

No bate-papo por telefone, o advogado concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

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O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.

O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.

Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.

O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.

O homem ligado à cúpula da facção insiste: “Você acha que três vai? Me liga e fala comigo. Você acha que tá fácil de resolver ou tá complicado?” O investigador, então, diz ao seu interlocutor: “Tá facinho, mas tem os seguranças”. O homem que encomendava o crime faz uma última pergunta antes de desligar: “Passarinho tá voando direto?” E o policial responde: “Uma vez ou outra, mas tem um segurança”.

Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”

Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinato Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.

Bilhetes deixados pelo PCC ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. Foto: Polícia Civil/Reprodução

Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.

Os sequestradores decidiram soltá-lo diante do fato de que se o matassem não poderiam mais recuperar as criptomoedas, pois só Gritzbach sabia as chaves para o resgate das criptomoedas – matá-lo, seria perder o dinheiro para sempre.

A decisão causou contrariedade da cúpula da facção, que resolveu punir Django. Ele foi conduzido a um tribunal do crime e enforcado. Depois, seu corpo foi jogado sob o viaduto da Vila Matilde, na zona leste. Era 23 de janeiro de 2022. Com a prisão decretada em vários processos, Cebola continua foragido. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cebola.

Empresário prestou seis depoimentos antes de morrer

Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé, na zona leste da capital. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Gritzbach era um jovem corretor de imóveis quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção. Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.

Seu navegador não suporta esse video.

Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi baleado no Terminal 2

Investigações apontam que, na véspera do Natal de 2023, quando o empresário ainda estava em prisão domiciliar, um tiro de fuzil foi disparado em direção a Gritzbach, que estava na janela de seu apartamento no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A bala atingiu sua janela, mas errou o alvo.

“Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem”, disse o advogado Ivelson Salotto. “A delação foi a sentença de morte dele.”

Segurança particular

Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.

Gritzbach foi assassinado no Terminal 2 quando tinha acabado de chegar com a namorada de uma viagem. O ataque ocorreu por volta das 16 horas e os atiradores estavam com o carro estacionado, à espera da vítima. Uma dupla de criminosos realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, que transfixaram seu corpo.

Resultado inicial da perícia apontou que ao menos 27 tiros de fuzil foram disparados contra Antonio Vinicius Lopes Gritzbach. Foto: Ítalo Lo Re/Estadão

As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.

Informações preliminares indicam que Gritzbach seria recebido pelo filho, de 11 anos, e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário.

No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado um falha mecânica enquanto estava estacionado em um posto de gasolina. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo, enquanto o quarto seguiu com o filho da vítima e outro adulto, tido como amigo do menino (ele é descrito também por um dos PMs como sobrinho de Gritzbach).

A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados preventivamente. O objetivo é averiguar um possível envolvimento no caso. O aparelho telefônico da namorada da vítima, do filho e do amigo também foram apreendidos. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública, os dois carros utilizados pela escolta da vítima e um terceiro, supostamente usado pelos atiradores, foram apreendidos e periciados, assim como os celulares dos integrantes da escolta e da namorada do homem.

“Os policiais militares, que pertenciam à equipe de segurança da vítima, prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações”, disse a pasta. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores.

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