Conhecida como 'capital do milho verde' pela produção desse apreciado insumo culinário, a cidade de Capela do Alto, no interior paulista, caminha para mudar sua longa tradição agrícola. Desde que o município lançou, em 2017, um programa de benefícios para atrair indústrias, 32 empresas já se instalaram na cidade e outras 13 estão em processo de instalação. Mais de R$ 100 milhões já foram injetados na economia local. Aos poucos, a cidade de 21.257 habitantes, na região metropolitana de Sorocaba, vai se firmando com um importante polo industrial e de serviços.
A situação atual é bem diferente daquela mostrada em 2016, em reportagem do Estadão, quando Capela do Alto se via às voltas com alta taxa de desemprego, levando parte da população a fazer bicos para sobreviver. No ano seguinte, a prefeitura iniciou um esforço para atrair indústrias, lançando um atraente plano de benefícios para o empresário que desejasse investir no município.
Os resultados apareceram. Em 2021, a cidade criou três vezes mais empregos do que a média estadual e nacional, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Enquanto o país teve incremento de 5,60% na mão de obra empregada e São Paulo cresceu 5,75%, Capela do Alto obteve crescimento de 15,76%, gerando cerca de mil novos postos de trabalho em um ano em que o país estava imerso na crise causada pela pandemia de covid-19.
Além da destinação de áreas públicas para a instalação da empresa, por meio de venda, concessão ou mesmo doação, o programa instituiu por lei municipal benefícios fiscais, como redução de até 90% no IPTU (imposto predial e territorial urbano), de até 90% no ISSQN (imposto sobre serviços) sobre a obra, e redução nesse mesmo percentual nas taxas de aprovação das licenças.
Em poucas semanas, as empresas começaram a chegar. "A ideia era apostar em outras áreas que trouxessem de forma rápida mais desenvolvimento econômico. Oferecemos todo o suporte da prefeitura para quem quisesse investir em Capela do Alto e foi como se tivéssemos estendido um tapete vermelho para os empresários", disse o prefeito Péricles Gonçalves (PSDB), o Kéke.
O empresário Inacio Marchette, da Ekobé, fabricante de nutracêuticos e complementos nutricionais, foi um dos que atenderam à chamada do município. "Iniciamos a construção da nossa unidade em Capela do Alto em 2019; em outubro de 2020 inauguramos o prédio e, em janeiro de 2021 iniciamos a operação e produção", disse. A fábrica já emprega 86 pessoas.
Marchette conta que a empresas estava instalada em Franca, no norte do estado, mas se mudou porque Capela do Alto foi a cidade que ofereceu uma boa infraestrutura, além de acolhimento por parte da administração. "Tivemos incentivos, como a doação de um dos terrenos e descontos nos impostos municipais, mas o principal estímulo foi o acolhimento e as facilidades para início da nossa operação no município", disse.
No último dia 25, foi lançada a segunda fase do programa, com a presença de 200 pessoas, na maioria, empresários que já investem ou planejam investir na cidade. É o caso de João Batista de Oliveira, do setor de lavanderias, que encerrou as atividades em Sorocaba e abriu a unidade em Capela do Alto, gerando 20 empregos diretos e indiretos. A expectativa da prefeitura é chegar a R$ 180 milhões em investimentos e 1.700 empregos.
MILHO VERDE - A famosa pamonha paulista, feita com o creme do milho verde, ainda é uma das marcas da culinária de Capela do Alto. O município, que já foi o maior produtor nacional desse insumo, ainda mantém a produção em cerca de 800 hectares, garantindo o sustento de ao menos 500 famílias. Nas terras agrícolas locais, o milho verde é plantado como uma variedade exclusiva para ser colhida antes do amadurecimento. Capela cultiva também o milho seco, soja, mandioca, laranja e melancia.