O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, vinculado à Universidade Estadual Paulista (Unesp), será pioneiro na eliminação completa da iluminação fluorescente que contém mercúrio. Esse elemento é considerado altamente tóxico e, quando as lâmpadas se quebram, os vapores de mercúrio são liberados no ar. Sua absorção por bebês e crianças aumenta o risco de deficiência no desenvolvimento para toda a vida. Para mulheres grávidas expostas, o risco é para o feto.
Há um esforço global para abolir a iluminação fluorescente que contém mercúrio, adotando luminárias sem o componente tóxico e que ainda consomem menos energia. Para divulgar a importância dessa transição para o meio ambiente e para a saúde pública, várias organizações se uniram em projeto de modernização do sistema de iluminação em hospitais de três países: Brasil, Nigéria e Filipinas.
No Brasil, a iniciativa chamada Projeto Iluminação Livre de Mercúrio na Saúde, promovida pela Coalização pela Iluminação Limpa (CliC), e coordenada pelo Projeto Hospitais Saudáveis (PHS), vai acontecer no hospital de Botucatu e foi anunciada nesta quarta-feira, 9. O HC de Botucatu já tem uma trajetória em ações de sustentabilidade e desde 2013 é membro da Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis, liderada pela organização internacional Saúde sem Dano.
O HC já baniu os equipamentos médicos contendo mercúrio. Também reduziu em 33,4% suas emissões de gases de efeito estufa em 2020, além de ter aderido à campanha Race to Zero, visando zerar as emissões até 2050. Ao todo, o hospital vai trocar 3 mil lâmpadas, o que corresponderá a uma economia de até 43% em relação ao sistema anterior.
A intervenção será feita em uma área ambulatorial de 3 mil m2, onde são realizadas diariamente 580 consultas médicas. "Ao substituir as fluorescentes por LEDs, além da sustentabilidade ambiental e proteção à saúde, poderemos diminuir a conta de energia do hospital, reduzindo os custos operacionais. Estas economias são fundamentais para um hospital público", avaliou a professora Karina Pavão, dirigente do núcleo "Hospitais Sustentáveis" da HCFMB.
Nas últimas décadas, as lâmpadas fluorescentes foram a melhor alternativa em relação às incandescentes e halógenas, e os riscos associados ao mercúrio eram tolerados. Graças ao avanço na tecnologia dos diodos emissores de luz (LED), as lâmpadas LED sem mercúrio podem substituir de forma rentável as fluorescente, pois consomem menos energia e duram mais. Assim, a remoção do mercúrio ficou tão fácil quando trocar uma lâmpada.
Na Convenção de Minamata sobre o Mercúrio (Cop14), um tratado global para a proteção à saúde humana e ao meio ambiente dos efeitos adversos do mercúrio, 140 países devem ratificar o texto que inclui o banimento das minas de mercúrio e a descontinuação de seu uso em diversos produtos e processos. No evento, entre os dias 21 e 24 de março, o governo brasileiro terá a oportunidade de somar forças pelo fim do uso do mercúrio.