Um vídeo divulgado nas redes sociais flagrou um policial militar jogando um homem do alto de uma ponte da cidade de São Paulo. Segundo a Ouvidoria da Polícia, o caso ocorreu na madrugada de segunda-feira, 2, na zona sul da capital. Ao menos outros três policiais aparecem nas imagens.
No Instagram, Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública do Estado, prometeu “severa punição” aos envolvidos. A corporação afastou 13 policiais envolvidos na ocorrência, mas as identidades dos envolvidos não foram reveladas. Os agentes são do 24⁰ Batalhão de Polícia Militar, de Diadema, região metropolitana da capital (veja mais abaixo).
Pelas gravação, é possível ver três agentes da PM sobre a ponte. Um deles levanta uma moto do chão e a encosta na mureta. Outro policial aparece segurando pelas costas um homem usando uma camiseta azul.
O vídeo registra o momento em que o policial levanta o rapaz pelas pernas e o joga do alto da ponte sobre um córrego. Na sequência, o corpo de um homem aparece boiando nas águas do córrego. Ainda não se sabe quem é ele ou se ele sobreviveu à queda.
Procuradoria-Geral pede punição exemplar
Procurador-geral de Justiça do Estado, Paulo Sergio de Oliveira e Costa considerou as imagens “estarrecedoras e inadmissíveis”.
Ele determinou nesta terça-feira, 3, que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp) associe-se ao promotor natural do caso para que o Ministério Público de São Paulo “envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população”.
Questionada, a Polícia Militar disse, em nota, repudiar “veementemente a conduta ilegal adotada pelos agentes públicos no vídeo mostrado.” No texto, a PM ainda afirma que instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos.
“Anos de legado da PM não podem ser manchados por condutas antiprofissionais. Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro. Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição”, disse.
Mortes por intervenção policial: aluno de Medicina e criança de 4 anos
A polícia de São Paulo matou neste ano 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número para o período desde 2020, quando houve 575 óbitos desse tipo. Desde o ano passado, a alta da letalidade pelas forças de segurança foi impulsionada por operações policiais na Baixada Santista e, em novembro, chamaram a atenção os casos de Ryan Andrade, de 4 anos, e do estudante de Medicina Marco Aurélio Acosta, de 22, baleado na Vila Mariana, zona sul da capital, no feriado.
O crescimento interrompeu a curva de redução de mortes pela PM que havia sido registrada a partir de 2021, com a implementação das câmeras corporais nas fardas dos agentes. Em 2022, o número de óbitos do tipo foi o menor da série histórica, iniciada em 2001.
Especialistas na área de segurança destacam que os casos reforçam a necessidade de preparar melhor as polícias - sobretudo para ocorrências cotidianas, como brigas -, reforçar mecanismos de controle sobre as tropas e investir em armas não letais sobre ocorrências em que isso é possível. A letalidade policial maior, acrescentam, não necessariamente leva ao combate mais eficaz ao crime organizado.
Esse cenário pode resultar até em confrontos ainda mais violentos, com perigo para moradores de áreas dominadas pelo narcotráfico, como o garoto Ryan. Também eleva o risco para os próprios PMs, que encontram bandidos mais dispostos a atirar durante ações policiais nas comunidades.
Veja a íntegra da nota do Ministério Público
“Estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis! Não há outra forma de classificar as imagens do momento no qual um policial militar atira um homem do alto de uma ponte, nesta segunda-feira. Pelo registro divulgado pela imprensa, fica evidente que o suspeito já estava dominado pelos agentes de segurança, que tinham o dever funcional de conduzi-lo, intacto, a um distrito policial para que a ocorrência fosse lavrada.
Somente dentro dos limites da lei se faz segurança pública, nunca fora deles. Assim, esta Procuradoria-Geral de Justiça determinará, ainda nesta terça-feira (3/12), que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (GAESP) associe-se ao promotor natural do caso para que o MPSP envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população.
Pelo contrário. Os episódios recorrentes de descumprimento dos comandos legais por parte de alguns agentes públicos nos deixam mais longe da tão almejada paz social, em favor da qual o Ministério Público, dentro de sua atribuição de exercer o controle externo da atividade policial, continuará atuando de maneira inequívoca, cobrando das autoridades a observância dos preceitos da Constituição Federal.”