Um jovem de 20 anos foi morto após ser baleado pela Polícia Militar no domingo, 8, durante operação na favela de Sambaiatuba, na comunidade Bugre, em São Vicente, litoral de São Paulo. A vítima foi identificada como Vinícius Fidelis dos Santos de Brito.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra a ação da PM. É possível ver a mãe do jovem andando por uma viela e dizendo em direção a uma casa: “Me deixem entrar, caramba. Eu sou a mãe dele.” Na sequência, se ouve um estampido, semelhante a um tiro. “O que que é isso? Vocês estão matando o meu filho”, grita ela.
Em seguida, um policial abre o portão e sai da casa armado. Ele pede para a mulher sair de perto e fala para ela “entrar” (indicando outra casa). Ela obedece. O agente se vira para o portão de onde saiu e outro disparo é ouvido.
Questionadas pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) disse que a Polícia Militar instaurou inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias do caso, e que analisará as imagens divulgadas. A delegacia de Praia Grande também investiga os fatos, segundo a pasta.
“O policiamento no local foi reforçado, visando exclusivamente identificar e prender os outros envolvidos”, informou a SSP-SP.
Segundo o boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso, os PMs narram que foram surpreendidos na entrada de uma viela por cinco homens - três deles portavam arma de fogo. Conforme o relato, os agentes de segurança foram alvo de tiros por parte desse grupo e revidaram.
Os cinco homens correram para dentro da comunidade, ainda segundo o BO, deixando para trás sacolas com crack, maconha e entorpecentes semelhantes a lança-perfume. No chão, também havia um simulacro de arma de fogo.
Ao entrarem na Viela Cinco, um dos indivíduos teria atirado contra os policias e entrado em um imóvel. Na versão dos PMs, os agentes entraram na casa e foram recebidos com tiros. Os militarem atiraram de volta e o suspeito, que seria Vinícius, caiu ferido no chão.
Conforme narrado no Boletim de Ocorrência, o Samu foi acionado e levou Vinícius para pronto-socorro central, onde “evoluiu à óbito, às 22h25″. O caso foi registrado como homicídio decorrente de oposição à intervenção policial.
A Ouvidoria das Polícias informou, em nota, que o órgão oficiou a seccional de Santos do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo do Interior (Deinter 6) e solicitou providências tomadas pela Polícia Judiciária na ocorrência, os laudos periciais e o relatório de conclusão do Inquérito Policial.
“Encaminhamos, também, à Corregedoria da Polícia Militar solicitando informações sobre os procedimentos instaurados no âmbito daquela Casa Corregedora e as imagens das câmeras utilizadas pelos policiais que participaram da ocorrência”, acrescentou a Ouvidoria, no comunicado.
Aumento da letalidade policial
A polícia de São Paulo matou neste ano 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número para o período desde 2020, quando foram registrados 575 óbitos do tipo. Desde o ano passado, a alta da letalidade pelas forças de segurança foi impulsionada por operações policiais na Baixada Santista, mesmo local onde Vinicius foi morto.
Um dos casos de maior destaque foi o do garoto Ryan Andrade, criança de 4 anos que morreu após ser baleado na barriga enquanto brincava em uma calçada no Morro São Bento, em Santos, no começo de novembro. Ele foi atingido durante confronto entre PMs e suspeitos, segundo o boletim de ocorrência. A corporação reconheceu que “provavelmente” o projétil teria partido da arma de um policial.
A sequência de casos de violência policial no último mês aumentou a pressão sobre a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que admitiu a necessidade de revisar protocolos e reforçar a vigilância por câmeras nos uniformes dos PMs. O governador, entretanto, descartou demitir o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.