PMs e guarda-civil alegam inocência no 3º dia de júri sobre chacina


Um agente disse que teve acesso ao depoimento da vítima; outro chorou e teve de deixar o plenário

Por Felipe Resk
Júri sobre chacina na Grande São Paulo chega ao terceiro dia Foto: Felipe Resk/Estadão

OSASCO - No terceiro dia do tribunal júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 mortos em agosto de 2015, os dois policiais militares e um guarda-civil, acusados pelos crimes, disseram que são inocentes. Houve momentos de tensão. Em um deles, o PM da Rota Fabrício Eleutério afirmou que teve acesso ao depoimento da vítima, sob segredo de Justiça, que o reconheceu. Chamado como testemunha, outro policial que chegou a ser preso no início das investigações prestou depoimento de frente para os jurados, que demonstraram incômodo.

"Tenho minhas provas de que eu sou inocente. A prova maior é essa testemunha protegida", disse Eleutério, que foi o primeiro dos réus a depor e afirmou em plenário que assistiu ao depoimento da vítima "Elias", que chegou a urinar de medo na audiência de instrução. Ela é considerada a principal prova contra o PM.

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Na hora, a juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o júri, demonstrou insatisfação. "Eu não autorizei você, autorizei os advogados a ter acesso", disse. Vítima de disparo no braço na Rua Suzano, em Osasco, "Elias" reconheceu o PM como o atirador em todas as fase do processo, da investigação ao júri.

O réu citou a testemunha no tribunal para apontar supostas contradições no depoimento dela. Entre elas, disse que a vítima trocou nome de ruas e a dinâmica de como foi alvejada. "Somente Deus pode falar", respondeu Eleutério, ao ser questionado sobre quais motivos "Elias" teria para mentir.

Na PM há sete anos, Eleutério chegou a ser preso antes por participação em outra chacina na Grande São Paulo, ocorrida em 2013. Aos jurados, negou participação nos dois crimes. "Eu sou inocente, não tirei a vida de nenhuma dessas pessoas. Não sou culpado desses delitos."

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Nervoso, ele interrompeu perguntas e se levantou da cadeira antes da hora, sendo advertido pela juíza. Também chorou brevemente ao falar da família e manteve uma Bíblia sobre a mesa durante o interrogatório.

Em sua versão sobre o dia da chacina, disse que tinha combinado de assistir a um filme com a namorada no cinema, mas o casal desistiu por causa da fila. Os dois, então, foram para a casa dela, onde adormeceram no momento dos ataques.

Na ocasião, Eleutério estava sob medida cautelar (por causa da chacina de 2013) e não podia ir para a residência da namorada. "Graças a Deus, descumpri a medida, senão não teria álibi", disse. Preso uma semana depois pela Corregedoria da PM, o policial disse que contribuiu com as investigações.

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Ele chegou a prestar depoimento como testemunha protegida, mas nenhuma informação que passou aos investigadores resultou em prisão de outro agente. Para o Ministério Público, tratou-se de estratégia para "desviar as investigações".

Um episódio no Presídio Romão Gomes, em que Eleutério foi acusado de agredir e ameaçar outro policial preso, também foi explorado. Ele foi absolvido da acusação. Os advogados de Eleutério não falaram após a sessão.

Henklain. Na sequência foi ouvido o soldado da PM Thiago Henklain que, pela primeira vez no júri, chorou. O interrogatório durou cerca de 30 minutos e o policial negou participação na chacina. 

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"Sou inocente. Não posso me colocar no mesmo patamar de sofrimento das famílias que tiveram seus entes queridos brutalmente extirpados, mas minha família também está em sofrimento", afirmou. Aos jurados, contou que "cresceu dentro do quartel" e precisou deixar o plenário para chorar ao falar sobre o pai, que é PM reformado.

Sobre a chacina, Henklain relatou ter ajudado um policial, instrutor de tiros, a montar os alvos para uma aula do dia seguinte. Depois foi para casa, só saindo para buscar a sogra, retornando rapidamente.

Testemunhas ouvidas pela polícia relataram ter presenciado uma briga entre Henklain e a esposa, após ela reconhecê-lo em imagens de um dos ataques, divulgas na TV. O policial negou a discussão.

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As testemunhas, próximas a Henklain, não voltaram a depor nas outras fases do processo, mas devem ser reveladas nesta quinta, durante a fase de debates entre promotoria e defesa. O advogado Fernando Capano, que representa o PM, classificou a prova como "disse-me-disse" e chamou as testemunhas de "fantasma".

Manhanhã. Último a depor, o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã disse aos jurados que era comandante do Gite, uma tropa de apoio da Guarda-Civil, mas que não tinha autonomia para deslocar viaturas para a região em que houve ataques. Ele é acusado de facilitar o trabalho dos matadores, afastando veículos dos locais de crime, entre eles o Bar do Juvenal, em Osasco.

Contra o GCM, pesa uma troca de mensagens com o PM Victor Cristilder, que também é réu no processo mas será julgado depois. Pelo WhatsApp, eles sinalizaram com "joinha" em horários que coincidem com o início e o fim dos ataques.

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"Era sobre o empréstimo de um livro de direito administrativo", justificou aos jurados. Questionado pela juíza, que disse "não conseguir entender" como aqueles sinais podiam pressupor o diálogo sobre o empréstimo, Manhanhã respondeu: "Quem tem de entender é o interlocutor". Para o advogado Abelardo da Rocha, defensor do GCM, o posicionamento da juíza não deve interferir na decisão dos jurados.

Desconforto. Antes do interrogatório dos réus, oito testemunhas de defesa foram ouvidas. Entre elas, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, que chegou a ficar quatro meses preso por suspeita de participar da chacina, e prestou depoimento sentado de frente para os jurados, que vão decidir se os réus são inocentes ou culpados.

Demonstrando desconforto, alguns jurados evitaram olhar diretamente para o PM - dois deles chegaram a pegar uma das peças do processo e começar a ler.

Arrolado como testemunha, Garcia se virou para o Conselho de Sentença após pedido dos advogados de defesa, que foi autorizado pela juíza Élia. Ele testemunhou a favor de Henklain, confirmando que o PM havia ajudado a montar os alvos na sede da companhia.

Um GCM também chegou a depor de frente para o Conselho de Sentença. Após intervalo, os jurados pediram à juíza que ninguém mais olhasse para eles.

Júri sobre chacina na Grande São Paulo chega ao terceiro dia Foto: Felipe Resk/Estadão

OSASCO - No terceiro dia do tribunal júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 mortos em agosto de 2015, os dois policiais militares e um guarda-civil, acusados pelos crimes, disseram que são inocentes. Houve momentos de tensão. Em um deles, o PM da Rota Fabrício Eleutério afirmou que teve acesso ao depoimento da vítima, sob segredo de Justiça, que o reconheceu. Chamado como testemunha, outro policial que chegou a ser preso no início das investigações prestou depoimento de frente para os jurados, que demonstraram incômodo.

"Tenho minhas provas de que eu sou inocente. A prova maior é essa testemunha protegida", disse Eleutério, que foi o primeiro dos réus a depor e afirmou em plenário que assistiu ao depoimento da vítima "Elias", que chegou a urinar de medo na audiência de instrução. Ela é considerada a principal prova contra o PM.

Na hora, a juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o júri, demonstrou insatisfação. "Eu não autorizei você, autorizei os advogados a ter acesso", disse. Vítima de disparo no braço na Rua Suzano, em Osasco, "Elias" reconheceu o PM como o atirador em todas as fase do processo, da investigação ao júri.

O réu citou a testemunha no tribunal para apontar supostas contradições no depoimento dela. Entre elas, disse que a vítima trocou nome de ruas e a dinâmica de como foi alvejada. "Somente Deus pode falar", respondeu Eleutério, ao ser questionado sobre quais motivos "Elias" teria para mentir.

Na PM há sete anos, Eleutério chegou a ser preso antes por participação em outra chacina na Grande São Paulo, ocorrida em 2013. Aos jurados, negou participação nos dois crimes. "Eu sou inocente, não tirei a vida de nenhuma dessas pessoas. Não sou culpado desses delitos."

Nervoso, ele interrompeu perguntas e se levantou da cadeira antes da hora, sendo advertido pela juíza. Também chorou brevemente ao falar da família e manteve uma Bíblia sobre a mesa durante o interrogatório.

Em sua versão sobre o dia da chacina, disse que tinha combinado de assistir a um filme com a namorada no cinema, mas o casal desistiu por causa da fila. Os dois, então, foram para a casa dela, onde adormeceram no momento dos ataques.

Na ocasião, Eleutério estava sob medida cautelar (por causa da chacina de 2013) e não podia ir para a residência da namorada. "Graças a Deus, descumpri a medida, senão não teria álibi", disse. Preso uma semana depois pela Corregedoria da PM, o policial disse que contribuiu com as investigações.

Ele chegou a prestar depoimento como testemunha protegida, mas nenhuma informação que passou aos investigadores resultou em prisão de outro agente. Para o Ministério Público, tratou-se de estratégia para "desviar as investigações".

Um episódio no Presídio Romão Gomes, em que Eleutério foi acusado de agredir e ameaçar outro policial preso, também foi explorado. Ele foi absolvido da acusação. Os advogados de Eleutério não falaram após a sessão.

Henklain. Na sequência foi ouvido o soldado da PM Thiago Henklain que, pela primeira vez no júri, chorou. O interrogatório durou cerca de 30 minutos e o policial negou participação na chacina. 

"Sou inocente. Não posso me colocar no mesmo patamar de sofrimento das famílias que tiveram seus entes queridos brutalmente extirpados, mas minha família também está em sofrimento", afirmou. Aos jurados, contou que "cresceu dentro do quartel" e precisou deixar o plenário para chorar ao falar sobre o pai, que é PM reformado.

Sobre a chacina, Henklain relatou ter ajudado um policial, instrutor de tiros, a montar os alvos para uma aula do dia seguinte. Depois foi para casa, só saindo para buscar a sogra, retornando rapidamente.

Testemunhas ouvidas pela polícia relataram ter presenciado uma briga entre Henklain e a esposa, após ela reconhecê-lo em imagens de um dos ataques, divulgas na TV. O policial negou a discussão.

As testemunhas, próximas a Henklain, não voltaram a depor nas outras fases do processo, mas devem ser reveladas nesta quinta, durante a fase de debates entre promotoria e defesa. O advogado Fernando Capano, que representa o PM, classificou a prova como "disse-me-disse" e chamou as testemunhas de "fantasma".

Manhanhã. Último a depor, o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã disse aos jurados que era comandante do Gite, uma tropa de apoio da Guarda-Civil, mas que não tinha autonomia para deslocar viaturas para a região em que houve ataques. Ele é acusado de facilitar o trabalho dos matadores, afastando veículos dos locais de crime, entre eles o Bar do Juvenal, em Osasco.

Contra o GCM, pesa uma troca de mensagens com o PM Victor Cristilder, que também é réu no processo mas será julgado depois. Pelo WhatsApp, eles sinalizaram com "joinha" em horários que coincidem com o início e o fim dos ataques.

"Era sobre o empréstimo de um livro de direito administrativo", justificou aos jurados. Questionado pela juíza, que disse "não conseguir entender" como aqueles sinais podiam pressupor o diálogo sobre o empréstimo, Manhanhã respondeu: "Quem tem de entender é o interlocutor". Para o advogado Abelardo da Rocha, defensor do GCM, o posicionamento da juíza não deve interferir na decisão dos jurados.

Desconforto. Antes do interrogatório dos réus, oito testemunhas de defesa foram ouvidas. Entre elas, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, que chegou a ficar quatro meses preso por suspeita de participar da chacina, e prestou depoimento sentado de frente para os jurados, que vão decidir se os réus são inocentes ou culpados.

Demonstrando desconforto, alguns jurados evitaram olhar diretamente para o PM - dois deles chegaram a pegar uma das peças do processo e começar a ler.

Arrolado como testemunha, Garcia se virou para o Conselho de Sentença após pedido dos advogados de defesa, que foi autorizado pela juíza Élia. Ele testemunhou a favor de Henklain, confirmando que o PM havia ajudado a montar os alvos na sede da companhia.

Um GCM também chegou a depor de frente para o Conselho de Sentença. Após intervalo, os jurados pediram à juíza que ninguém mais olhasse para eles.

Júri sobre chacina na Grande São Paulo chega ao terceiro dia Foto: Felipe Resk/Estadão

OSASCO - No terceiro dia do tribunal júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 mortos em agosto de 2015, os dois policiais militares e um guarda-civil, acusados pelos crimes, disseram que são inocentes. Houve momentos de tensão. Em um deles, o PM da Rota Fabrício Eleutério afirmou que teve acesso ao depoimento da vítima, sob segredo de Justiça, que o reconheceu. Chamado como testemunha, outro policial que chegou a ser preso no início das investigações prestou depoimento de frente para os jurados, que demonstraram incômodo.

"Tenho minhas provas de que eu sou inocente. A prova maior é essa testemunha protegida", disse Eleutério, que foi o primeiro dos réus a depor e afirmou em plenário que assistiu ao depoimento da vítima "Elias", que chegou a urinar de medo na audiência de instrução. Ela é considerada a principal prova contra o PM.

Na hora, a juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o júri, demonstrou insatisfação. "Eu não autorizei você, autorizei os advogados a ter acesso", disse. Vítima de disparo no braço na Rua Suzano, em Osasco, "Elias" reconheceu o PM como o atirador em todas as fase do processo, da investigação ao júri.

O réu citou a testemunha no tribunal para apontar supostas contradições no depoimento dela. Entre elas, disse que a vítima trocou nome de ruas e a dinâmica de como foi alvejada. "Somente Deus pode falar", respondeu Eleutério, ao ser questionado sobre quais motivos "Elias" teria para mentir.

Na PM há sete anos, Eleutério chegou a ser preso antes por participação em outra chacina na Grande São Paulo, ocorrida em 2013. Aos jurados, negou participação nos dois crimes. "Eu sou inocente, não tirei a vida de nenhuma dessas pessoas. Não sou culpado desses delitos."

Nervoso, ele interrompeu perguntas e se levantou da cadeira antes da hora, sendo advertido pela juíza. Também chorou brevemente ao falar da família e manteve uma Bíblia sobre a mesa durante o interrogatório.

Em sua versão sobre o dia da chacina, disse que tinha combinado de assistir a um filme com a namorada no cinema, mas o casal desistiu por causa da fila. Os dois, então, foram para a casa dela, onde adormeceram no momento dos ataques.

Na ocasião, Eleutério estava sob medida cautelar (por causa da chacina de 2013) e não podia ir para a residência da namorada. "Graças a Deus, descumpri a medida, senão não teria álibi", disse. Preso uma semana depois pela Corregedoria da PM, o policial disse que contribuiu com as investigações.

Ele chegou a prestar depoimento como testemunha protegida, mas nenhuma informação que passou aos investigadores resultou em prisão de outro agente. Para o Ministério Público, tratou-se de estratégia para "desviar as investigações".

Um episódio no Presídio Romão Gomes, em que Eleutério foi acusado de agredir e ameaçar outro policial preso, também foi explorado. Ele foi absolvido da acusação. Os advogados de Eleutério não falaram após a sessão.

Henklain. Na sequência foi ouvido o soldado da PM Thiago Henklain que, pela primeira vez no júri, chorou. O interrogatório durou cerca de 30 minutos e o policial negou participação na chacina. 

"Sou inocente. Não posso me colocar no mesmo patamar de sofrimento das famílias que tiveram seus entes queridos brutalmente extirpados, mas minha família também está em sofrimento", afirmou. Aos jurados, contou que "cresceu dentro do quartel" e precisou deixar o plenário para chorar ao falar sobre o pai, que é PM reformado.

Sobre a chacina, Henklain relatou ter ajudado um policial, instrutor de tiros, a montar os alvos para uma aula do dia seguinte. Depois foi para casa, só saindo para buscar a sogra, retornando rapidamente.

Testemunhas ouvidas pela polícia relataram ter presenciado uma briga entre Henklain e a esposa, após ela reconhecê-lo em imagens de um dos ataques, divulgas na TV. O policial negou a discussão.

As testemunhas, próximas a Henklain, não voltaram a depor nas outras fases do processo, mas devem ser reveladas nesta quinta, durante a fase de debates entre promotoria e defesa. O advogado Fernando Capano, que representa o PM, classificou a prova como "disse-me-disse" e chamou as testemunhas de "fantasma".

Manhanhã. Último a depor, o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã disse aos jurados que era comandante do Gite, uma tropa de apoio da Guarda-Civil, mas que não tinha autonomia para deslocar viaturas para a região em que houve ataques. Ele é acusado de facilitar o trabalho dos matadores, afastando veículos dos locais de crime, entre eles o Bar do Juvenal, em Osasco.

Contra o GCM, pesa uma troca de mensagens com o PM Victor Cristilder, que também é réu no processo mas será julgado depois. Pelo WhatsApp, eles sinalizaram com "joinha" em horários que coincidem com o início e o fim dos ataques.

"Era sobre o empréstimo de um livro de direito administrativo", justificou aos jurados. Questionado pela juíza, que disse "não conseguir entender" como aqueles sinais podiam pressupor o diálogo sobre o empréstimo, Manhanhã respondeu: "Quem tem de entender é o interlocutor". Para o advogado Abelardo da Rocha, defensor do GCM, o posicionamento da juíza não deve interferir na decisão dos jurados.

Desconforto. Antes do interrogatório dos réus, oito testemunhas de defesa foram ouvidas. Entre elas, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, que chegou a ficar quatro meses preso por suspeita de participar da chacina, e prestou depoimento sentado de frente para os jurados, que vão decidir se os réus são inocentes ou culpados.

Demonstrando desconforto, alguns jurados evitaram olhar diretamente para o PM - dois deles chegaram a pegar uma das peças do processo e começar a ler.

Arrolado como testemunha, Garcia se virou para o Conselho de Sentença após pedido dos advogados de defesa, que foi autorizado pela juíza Élia. Ele testemunhou a favor de Henklain, confirmando que o PM havia ajudado a montar os alvos na sede da companhia.

Um GCM também chegou a depor de frente para o Conselho de Sentença. Após intervalo, os jurados pediram à juíza que ninguém mais olhasse para eles.

Júri sobre chacina na Grande São Paulo chega ao terceiro dia Foto: Felipe Resk/Estadão

OSASCO - No terceiro dia do tribunal júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 mortos em agosto de 2015, os dois policiais militares e um guarda-civil, acusados pelos crimes, disseram que são inocentes. Houve momentos de tensão. Em um deles, o PM da Rota Fabrício Eleutério afirmou que teve acesso ao depoimento da vítima, sob segredo de Justiça, que o reconheceu. Chamado como testemunha, outro policial que chegou a ser preso no início das investigações prestou depoimento de frente para os jurados, que demonstraram incômodo.

"Tenho minhas provas de que eu sou inocente. A prova maior é essa testemunha protegida", disse Eleutério, que foi o primeiro dos réus a depor e afirmou em plenário que assistiu ao depoimento da vítima "Elias", que chegou a urinar de medo na audiência de instrução. Ela é considerada a principal prova contra o PM.

Na hora, a juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o júri, demonstrou insatisfação. "Eu não autorizei você, autorizei os advogados a ter acesso", disse. Vítima de disparo no braço na Rua Suzano, em Osasco, "Elias" reconheceu o PM como o atirador em todas as fase do processo, da investigação ao júri.

O réu citou a testemunha no tribunal para apontar supostas contradições no depoimento dela. Entre elas, disse que a vítima trocou nome de ruas e a dinâmica de como foi alvejada. "Somente Deus pode falar", respondeu Eleutério, ao ser questionado sobre quais motivos "Elias" teria para mentir.

Na PM há sete anos, Eleutério chegou a ser preso antes por participação em outra chacina na Grande São Paulo, ocorrida em 2013. Aos jurados, negou participação nos dois crimes. "Eu sou inocente, não tirei a vida de nenhuma dessas pessoas. Não sou culpado desses delitos."

Nervoso, ele interrompeu perguntas e se levantou da cadeira antes da hora, sendo advertido pela juíza. Também chorou brevemente ao falar da família e manteve uma Bíblia sobre a mesa durante o interrogatório.

Em sua versão sobre o dia da chacina, disse que tinha combinado de assistir a um filme com a namorada no cinema, mas o casal desistiu por causa da fila. Os dois, então, foram para a casa dela, onde adormeceram no momento dos ataques.

Na ocasião, Eleutério estava sob medida cautelar (por causa da chacina de 2013) e não podia ir para a residência da namorada. "Graças a Deus, descumpri a medida, senão não teria álibi", disse. Preso uma semana depois pela Corregedoria da PM, o policial disse que contribuiu com as investigações.

Ele chegou a prestar depoimento como testemunha protegida, mas nenhuma informação que passou aos investigadores resultou em prisão de outro agente. Para o Ministério Público, tratou-se de estratégia para "desviar as investigações".

Um episódio no Presídio Romão Gomes, em que Eleutério foi acusado de agredir e ameaçar outro policial preso, também foi explorado. Ele foi absolvido da acusação. Os advogados de Eleutério não falaram após a sessão.

Henklain. Na sequência foi ouvido o soldado da PM Thiago Henklain que, pela primeira vez no júri, chorou. O interrogatório durou cerca de 30 minutos e o policial negou participação na chacina. 

"Sou inocente. Não posso me colocar no mesmo patamar de sofrimento das famílias que tiveram seus entes queridos brutalmente extirpados, mas minha família também está em sofrimento", afirmou. Aos jurados, contou que "cresceu dentro do quartel" e precisou deixar o plenário para chorar ao falar sobre o pai, que é PM reformado.

Sobre a chacina, Henklain relatou ter ajudado um policial, instrutor de tiros, a montar os alvos para uma aula do dia seguinte. Depois foi para casa, só saindo para buscar a sogra, retornando rapidamente.

Testemunhas ouvidas pela polícia relataram ter presenciado uma briga entre Henklain e a esposa, após ela reconhecê-lo em imagens de um dos ataques, divulgas na TV. O policial negou a discussão.

As testemunhas, próximas a Henklain, não voltaram a depor nas outras fases do processo, mas devem ser reveladas nesta quinta, durante a fase de debates entre promotoria e defesa. O advogado Fernando Capano, que representa o PM, classificou a prova como "disse-me-disse" e chamou as testemunhas de "fantasma".

Manhanhã. Último a depor, o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã disse aos jurados que era comandante do Gite, uma tropa de apoio da Guarda-Civil, mas que não tinha autonomia para deslocar viaturas para a região em que houve ataques. Ele é acusado de facilitar o trabalho dos matadores, afastando veículos dos locais de crime, entre eles o Bar do Juvenal, em Osasco.

Contra o GCM, pesa uma troca de mensagens com o PM Victor Cristilder, que também é réu no processo mas será julgado depois. Pelo WhatsApp, eles sinalizaram com "joinha" em horários que coincidem com o início e o fim dos ataques.

"Era sobre o empréstimo de um livro de direito administrativo", justificou aos jurados. Questionado pela juíza, que disse "não conseguir entender" como aqueles sinais podiam pressupor o diálogo sobre o empréstimo, Manhanhã respondeu: "Quem tem de entender é o interlocutor". Para o advogado Abelardo da Rocha, defensor do GCM, o posicionamento da juíza não deve interferir na decisão dos jurados.

Desconforto. Antes do interrogatório dos réus, oito testemunhas de defesa foram ouvidas. Entre elas, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, que chegou a ficar quatro meses preso por suspeita de participar da chacina, e prestou depoimento sentado de frente para os jurados, que vão decidir se os réus são inocentes ou culpados.

Demonstrando desconforto, alguns jurados evitaram olhar diretamente para o PM - dois deles chegaram a pegar uma das peças do processo e começar a ler.

Arrolado como testemunha, Garcia se virou para o Conselho de Sentença após pedido dos advogados de defesa, que foi autorizado pela juíza Élia. Ele testemunhou a favor de Henklain, confirmando que o PM havia ajudado a montar os alvos na sede da companhia.

Um GCM também chegou a depor de frente para o Conselho de Sentença. Após intervalo, os jurados pediram à juíza que ninguém mais olhasse para eles.

Júri sobre chacina na Grande São Paulo chega ao terceiro dia Foto: Felipe Resk/Estadão

OSASCO - No terceiro dia do tribunal júri da maior chacina de São Paulo, que terminou com 17 mortos em agosto de 2015, os dois policiais militares e um guarda-civil, acusados pelos crimes, disseram que são inocentes. Houve momentos de tensão. Em um deles, o PM da Rota Fabrício Eleutério afirmou que teve acesso ao depoimento da vítima, sob segredo de Justiça, que o reconheceu. Chamado como testemunha, outro policial que chegou a ser preso no início das investigações prestou depoimento de frente para os jurados, que demonstraram incômodo.

"Tenho minhas provas de que eu sou inocente. A prova maior é essa testemunha protegida", disse Eleutério, que foi o primeiro dos réus a depor e afirmou em plenário que assistiu ao depoimento da vítima "Elias", que chegou a urinar de medo na audiência de instrução. Ela é considerada a principal prova contra o PM.

Na hora, a juíza Élia Kinosita Bulman, que preside o júri, demonstrou insatisfação. "Eu não autorizei você, autorizei os advogados a ter acesso", disse. Vítima de disparo no braço na Rua Suzano, em Osasco, "Elias" reconheceu o PM como o atirador em todas as fase do processo, da investigação ao júri.

O réu citou a testemunha no tribunal para apontar supostas contradições no depoimento dela. Entre elas, disse que a vítima trocou nome de ruas e a dinâmica de como foi alvejada. "Somente Deus pode falar", respondeu Eleutério, ao ser questionado sobre quais motivos "Elias" teria para mentir.

Na PM há sete anos, Eleutério chegou a ser preso antes por participação em outra chacina na Grande São Paulo, ocorrida em 2013. Aos jurados, negou participação nos dois crimes. "Eu sou inocente, não tirei a vida de nenhuma dessas pessoas. Não sou culpado desses delitos."

Nervoso, ele interrompeu perguntas e se levantou da cadeira antes da hora, sendo advertido pela juíza. Também chorou brevemente ao falar da família e manteve uma Bíblia sobre a mesa durante o interrogatório.

Em sua versão sobre o dia da chacina, disse que tinha combinado de assistir a um filme com a namorada no cinema, mas o casal desistiu por causa da fila. Os dois, então, foram para a casa dela, onde adormeceram no momento dos ataques.

Na ocasião, Eleutério estava sob medida cautelar (por causa da chacina de 2013) e não podia ir para a residência da namorada. "Graças a Deus, descumpri a medida, senão não teria álibi", disse. Preso uma semana depois pela Corregedoria da PM, o policial disse que contribuiu com as investigações.

Ele chegou a prestar depoimento como testemunha protegida, mas nenhuma informação que passou aos investigadores resultou em prisão de outro agente. Para o Ministério Público, tratou-se de estratégia para "desviar as investigações".

Um episódio no Presídio Romão Gomes, em que Eleutério foi acusado de agredir e ameaçar outro policial preso, também foi explorado. Ele foi absolvido da acusação. Os advogados de Eleutério não falaram após a sessão.

Henklain. Na sequência foi ouvido o soldado da PM Thiago Henklain que, pela primeira vez no júri, chorou. O interrogatório durou cerca de 30 minutos e o policial negou participação na chacina. 

"Sou inocente. Não posso me colocar no mesmo patamar de sofrimento das famílias que tiveram seus entes queridos brutalmente extirpados, mas minha família também está em sofrimento", afirmou. Aos jurados, contou que "cresceu dentro do quartel" e precisou deixar o plenário para chorar ao falar sobre o pai, que é PM reformado.

Sobre a chacina, Henklain relatou ter ajudado um policial, instrutor de tiros, a montar os alvos para uma aula do dia seguinte. Depois foi para casa, só saindo para buscar a sogra, retornando rapidamente.

Testemunhas ouvidas pela polícia relataram ter presenciado uma briga entre Henklain e a esposa, após ela reconhecê-lo em imagens de um dos ataques, divulgas na TV. O policial negou a discussão.

As testemunhas, próximas a Henklain, não voltaram a depor nas outras fases do processo, mas devem ser reveladas nesta quinta, durante a fase de debates entre promotoria e defesa. O advogado Fernando Capano, que representa o PM, classificou a prova como "disse-me-disse" e chamou as testemunhas de "fantasma".

Manhanhã. Último a depor, o GCM de Barueri Sérgio Manhanhã disse aos jurados que era comandante do Gite, uma tropa de apoio da Guarda-Civil, mas que não tinha autonomia para deslocar viaturas para a região em que houve ataques. Ele é acusado de facilitar o trabalho dos matadores, afastando veículos dos locais de crime, entre eles o Bar do Juvenal, em Osasco.

Contra o GCM, pesa uma troca de mensagens com o PM Victor Cristilder, que também é réu no processo mas será julgado depois. Pelo WhatsApp, eles sinalizaram com "joinha" em horários que coincidem com o início e o fim dos ataques.

"Era sobre o empréstimo de um livro de direito administrativo", justificou aos jurados. Questionado pela juíza, que disse "não conseguir entender" como aqueles sinais podiam pressupor o diálogo sobre o empréstimo, Manhanhã respondeu: "Quem tem de entender é o interlocutor". Para o advogado Abelardo da Rocha, defensor do GCM, o posicionamento da juíza não deve interferir na decisão dos jurados.

Desconforto. Antes do interrogatório dos réus, oito testemunhas de defesa foram ouvidas. Entre elas, o sargento da PM Adriano Henrique Garcia, que chegou a ficar quatro meses preso por suspeita de participar da chacina, e prestou depoimento sentado de frente para os jurados, que vão decidir se os réus são inocentes ou culpados.

Demonstrando desconforto, alguns jurados evitaram olhar diretamente para o PM - dois deles chegaram a pegar uma das peças do processo e começar a ler.

Arrolado como testemunha, Garcia se virou para o Conselho de Sentença após pedido dos advogados de defesa, que foi autorizado pela juíza Élia. Ele testemunhou a favor de Henklain, confirmando que o PM havia ajudado a montar os alvos na sede da companhia.

Um GCM também chegou a depor de frente para o Conselho de Sentença. Após intervalo, os jurados pediram à juíza que ninguém mais olhasse para eles.

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