A ação policial na Casa de Detenção, em outubro de 1992, foi a última grande operação do coronel Antonio Chiari à frente das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Três dias depois da repressão violenta ao motim, ele seria um dos seis oficiais a ser afastado pelo governo paulista após a repercussão do caso. Embora não estivesse na penitenciária no momento da entrada dos policiais, homens do seu batalhão participaram do plano que resultou em 111 mortes.
Vinte e quatro anos depois, e há 16 anos na reserva da corporação, o coronel não titubeia ao ser questionado sobre a culpa por tantas vítimas. “O que aconteceu foi que os policiais estavam cumprindo uma determinação de ingressar no estabelecimento prisional e foram recebidos com violência pelos presos. Revidaram na mesma medida”, disse em entrevista ao Estado, anteontem. “Agiram em legítima defesa”, acrescentou.
Com a liderança do coronel Ubiratan Guimarães, então comandante do policiamento metropolitano, Chiari não seguiu para a cadeia nos primeiros momentos da rebelião. “Quando cheguei, já tinha acontecido a entrada. Posteriormente, os policiais voltaram ao quartel e recolhemos todas as armas, deixando-as à disposição da perícia, que não foi feita por alguma razão que eu desconheço”, disse.
Para o oficial, a falta da perícia impede até hoje que os policiais sejam devidamente julgados. Chiari entende que, já que não se pode identificar os tiros que causaram as mortes, a acusação de autoria não seria apropriada. “Se não se consegue individualizar as responsabilidades penais, o julgamento fatalmente cometerá injustiça e vai condenar pessoas que atiraram, mas não feriram nem mataram ninguém.”
Chiari contou ter acompanhado com insatisfação o desenrolar dos júris, em 2013 e 2014, que resultaram na condenação de 74 policiais envolvidos na ocorrência. Ele disse que esperava, naquele momento, um desfecho diferente, sem a condenação dos policiais militares. “Estive presente em todos os júris e, infelizmente, os promotores entenderam o caso de forma diferente e agora houve essa decisão do Tribunal de Justiça.” O oficial disse esperar um novo júri com a expectativa de que, diante da impossibilidade de individualização das acusações, a sentença possa ser de absolvição.
Ordem. Tendo comandado praças e oficiais que atuaram na operação após o caso, o coronel lembrou não ter enfrentado problemas com eles por eventuais problemas psicológicos. “Os policiais com os quais conversei não se mostraram preocupados ou tinham qualquer problema psicológico. Eles têm a ciência de que receberam a ordem e entraram, agindo de acordo com esse comando”, disse.