SÃO PAULO - As forças de segurança que ocupam o perímetro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista, detectaram na noite de desta segunda-feira, 5 o sobrevoo de dois drones na região. A suspeita é que os aparelhos tenham sido usados por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para verificar o dispositivo de segurança desdobrado nas proximidades da penitenciária que abriga a cúpula da facção criminosa.
Na tentativa de abatê-los, viaturas das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) perseguiram os drones até a cidade vizinha de Caiuá. Os policiais, no entanto, perderam o contato com os aparelhos.
O Estado apurou que a informação sobre os drones foi repassada às agências de inteligência envolvidas na operação criada para impedir o plano de resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da facção. Descoberto pela inteligência policial, o plano prevê a contratação de mercenários que usariam armas de guerra, como lançadores de foguetes e metralhadoras.
O governo paulista estuda transferir a cúpula do PCC para presídios federais diante da ameaça da facção de fazer uma ação de guerra para tomar o presídio e soltar seus líderes. O PCC é a única organização do crime organizado do País cuja cúpula não está no sistema prisional federal.
Aqueles que defendem a transferência imediata de Marcola e de seus colegas alegam que isso desmontaria o plano de resgate do grupo. Outros acreditam que a presença de Marcola em São Paulo permite ao governo combater melhor o crime organizado nas prisões.
Na tarde desta terça-feira, 6, o governador Márcio França (PSB) fez uma série de reuniões com secretários de Estado, entre eles Mágino Alves Barbosa Filho, da Segurança Pública, e Lourival Gomes, da Administração Penitenciária. Os titulares da pasta deixaram a sede do governo sem falar com a imprensa.
Oficialmente, a assessoria do Palácio dos Bandeirantes tratou a reunião como de rotina e informou que não teve acesso à pauta. Era a primeira vez que França se reunia com os secretários após a derrota na eleição e de se recuperar de pneumonia.
Exército
Com a descoberta do plano de resgate, o Comando da PM paulista pediu ao Comando Militar do Sudeste (CMSE) o empréstimo de metralhadoras de calibre .50 para que sejam usadas na segurança do presídio. A ideia era ter o equipamento para dissuadir qualquer ataque ao presídio.
Na semana passada, policiais da Rota foram treinados no 37° Batalhão de Infantaria Leve, em Lins (SP) para usar o equipamento. Mas o Comando considera difícil o empréstimo das metralhadoras por razões legais. A arma seria de guerra e, portanto, não poderia ser usada por a força policial. Por enquanto, os homens do Comando de Operações Especiais, da PM, transportaram até Presidente Venceslau metralhadoras MAG, de calibre 7,62 mm.
Segundo a investigação, o plano de resgate de Marcola foi tramado por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, um dos maiores narcotraficantes da América do Sul. Trabalhando da Bolívia e do Paraguai, Fuminho opera com o PCC para enviar cocaína para a Europa e para a Ásia.
Em Venceslau, mais polícia nas ruas e elogio da população
A população de Presidente Venceslau encara o reforço policial enviado à região como uma medida positiva e capaz de oferecer maior sensação de segurança à cidade, distante cerca de 600 quilômetros da capital paulista. “A gente não vê mais os ‘manos ou nóias’, os desocupados, perambulando pelas ruas, agora é só gente que trabalha. Estamos ainda mais protegidos”, disse o comerciante José Roberto do Nascimento, de 60 anos.
O estudante Breno Melchior também destacou a importância da presença da polícia pela cidade. “Saio nos finais de semana, volto de madrugada, sem problema algum, pois vejo que a polícia está em todos os lugares”. O bancário aposentado Jurandir Fernandes, de 63, acredita que o problema está no sistema prisional e não afeta a cidade. “Há um grande aparato na cidade e isso traz uma segurança ainda maior.”
Já o vereador da cidade João Paulo Arfelli Rondó (PV) pediu que as autoridades de segurança pública prestem informações à Câmara Municipal sobre as operações. “Venceslau nunca passou por uma situação de medo dessa, e a população não sabe como agir”, disse. /COLABORARAM JAMIL TANNOUS CHALLOUTS, ESPECIAL PARA O ESTADO E FELIPE RESK