O investigador da Polícia Civil baleado e morto durante um assalto, na terça-feira, 6, na Pompeia, zona oeste da capital, ia se casar no dia 23 de março. Paulo Enrique da Silva, de 45 anos – ele faria 46 no dia 11 de abril – , estava feliz com a mudança em sua vida, após um período de luto. Há três meses, ele perdeu um irmão em um acidente de trânsito. Colegas disseram que ele driblava o pesar pela perda se dedicando aos preparativos do casamento.
Silva trabalhava na 4ª Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), vinculada ao Departamento Estadual de Investigações Sobre Entorpecentes (Denarc). Os colegas o descrevem como um policial dedicado e experiente. Ele foi um dos sete policias atacados nesta semana.
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“Ele vinha de uma família de policiais, a família inteira é polícia. Entrou na Polícia Civil há 7 anos, mas tinha longa folha de serviços prestados à Guarda Civil Metropolitana de São Paulo. Foi guarda civil durante 17 anos e chegou a subinspetor”, conta o investigador Fabiano Pelá, chefe imediato de Silva. Além da companheira com quem se casaria, Silva deixou dois filhos, de 19 e 23 anos.
Como foi o crime?
O policial civil estava de moto, quando foi abordado pelo suspeito, em frente ao Hospital São Camilo. Segundo os colegas, ele esperava a futura esposa que passava por atendimento no local, quando o suspeito chegou também de motocicleta, usando capacete e com uma mochila nas costas.
Imagens de câmeras de monitoramento obtidas pelo Estadão mostram quando o investigador entrega o celular ao suposto ladrão. Em seguida, passa uma mulher e o policial se aproveita para tentar dominar o suspeito. Eles entram em luta corporal, mas Silva cai ao chão e é baleado. O celular e a arma do policial foram levados.
Segundo a polícia, o suspeito estava com um comparsa que não apareceu nas imagens. O policial baleado foi levado ao mesmo Hospital São Camilo, mas não resistiu.
Pressão
O presidente do Sindicato dos Investigadores do Estado de São Paulo (Sipesp), João Rebouças, lamentou a morte do policial.
“A gente sente muito quando acontece uma tragédia assim e tem por obrigação tentar melhorar a segurança desses policiais. Estamos a todo o momento discutindo isso com as autoridades. Recentemente tivemos outra morte de uma investigadora em serviço. Há um nível grande de pressão e a polícia não foi preparada como devia para enfrentar o crime organizado.”
O caso a que ele se referiu é o da investigadora da Polícia Civil Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, morta a tiros por um empresário e seu empregado que confundiu ela e seu parceiro com assaltantes, na região dos Jardins, na capital, no dia 16 de dezembro.
O outro investigador reagiu e os dois atiradores também foram mortos. Os dois policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) buscavam pistas dos autores de um assalto na região.
Conforme Rebouças, as mortes estão acontecendo em um cenário em que os quadros da Polícia Civil estão bastante defasados. Ele citou um estudo realizado pelo Sipesp mostrando que, entre 2019 e 2023, houve uma queda de 21% no número de agentes na ativa.
O estudo aponta ainda o envelhecimento da corporação, já que praticamente a metade dos policiais civis tem mais de 46 anos. “Além dessas mortes decorrentes da atividade, tivemos também muitos casos de suicídio, por isso também precisamos de maior suporte médico e psicológico para os policiais”, disse.
Pesar
O sindicato, a Polícia Civil e o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, manifestaram pesar pela morte do investigador.
Em sua página no Instagram, Derrite disse que as polícias estão empenhadas em localizar o criminoso que atirou contra o investigador do Denarc Paulo Enrique da Silva. Segundo ele, o crime é investigado como latrocínio. “Desejo meus sentimentos aos familiares e amigos e reforço que esse crime não ficará impune”, postou.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que os ataques aos policiais civis não são organizados.
“As mortes por agentes de segurança em São Paulo, capital, não apresentam nenhuma correlação, até porque ocorreram em situações distintas. Os casos ocorridos no litoral são reflexo da ousadia e do enfrentamento ao crime organizado contra as forças da segurança e contra a população”, disse, em nota.
Ainda segundo a pasta, a gestão está em luto, mas atenta a cada peculiaridade que resultou na morte dos policiais e prestará todo apoio aos familiares. “É importante ressaltar que as polícias não medirão esforços para identificar e punir os criminosos envolvidos nas ações.”