SÃO PAULO - Dois helicópteros, 40 homens de forças especiais da polícia e tropas de forças táticas de dois batalhões foram enviados para Presidente Venceslau, na região oeste de Sã0 Paulo, depois que a inteligência da polícia descobriu um plano de resgate da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC). Até o aeroporto da cidade foi fechado para impedir a ação dos bandidos.
A determinação para fechar a pista foi dada nesta quarta-feira, 10, pelo juiz Gabriel Medeiros, corregedor dos presídios da região. O lugar ficará fechado pelos próximos 20 dias. Ao mesmo tempo, o comando da Polícia Militar deslocou para a região um pelotão e 20 carros das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), além de um grupo do Comando de Operações Especiais (COE). O Grupamento Aéreo da Região também foi reforçado e está com duas aeronaves na cidade.
Em seu despacho, o juiz Gabriel Medeiros alega o fato de a pista estar localizada muito próxima da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (a P2), onde estão detidos, entre outros, o líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. “Há enorme preocupação com o aeroporto municipal, pois muito próximo ao estabelecimento prisional, permitindo logística para atuação da referida organização criminosa”, diz.
A inteligência da polícia havia detectado um plano para resgatar com aviões integrantes do PCC que estão no presídio. E suspeitava que entre eles estaria Marcola. A informação foi confirmada pela inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). Foi então que a Segurança Pública decidiu pôr em funcionamento o plano de contenção. Além dos policiais das tropas especiais - COE e Rota -, foram deslocados para a região homens de tropas de batalhões de Bauru e de Araçatuba.
Barreiras
Além da interdição, o juiz determinou que a prefeitura coloque barreiras físicas para impedir pousos não autorizados. O prazo de 20 dias, segundo o despacho, é considerado “necessário para eliminação dos transtornos”. A prefeitura informou que já na tarde desta quarta cumpriu a ordem judicial e interditou a pista.
O aeroporto não é comercial e acaba sendo utilizado principalmente nos fins de semana por pecuaristas. “Peço a compreensão em razão do momento em que estamos vivendo nesta cidade. A medida se mostra absolutamente necessária, pois evitará problemática maior”, conclui o despacho do juiz. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi informada sobre a situação.
Na tarde desta quarta, a prefeitura pintou a pista com a sinalização de interdição para pousos e informou que nesta quinta-feira, 11, colocaria carros e objetos de um ferro-velho para fazerem a função de barreira física.
As tropas da Polícia Militar chegaram à cidade no fim de semana. Normalmente elas são acionadas quando há suspeita de ação envolvendo a facção criminosa. Oficialmente, o Comando de Policiamento de Choque da PM informou que elas foram deslocadas para o município para um “treinamento”.
Tentativas anteriores
Não é a primeira vez que se leva a Tropa de Choque para a região. Em duas outras oportunidades, quando o PCC planejou resgates de Marcola, a Segurança Pública também enviou o COE e a Rota para a área. O primeiro caso ocorreu em fevereiro de 2014 e o segundo, em março deste ano. Os homens do COE ficam espalhados pela cercanias dos presídios de Presidente Venceslau, enquanto os carros da Rota circulam pela região.
As duas penitenciárias têm juntas cerca de 1,5 mil detentos. Mas é na P2 que está a maioria dos integrantes da chamada Sintonia Final Geral, responsável pela coordenação das atividades do crime organizado. A facção tem hoje cerca de 30 mil integrantes, dos quais 20 mil nas outras 26 unidades da Federação e em outros cinco países - Paraguai, Bolívia, Colômbia, Peru e Guiana.
A inteligência da polícia estima que a facção fature mais de R$ 400 milhões por ano, principalmente, com o tráfico de drogas no Brasil e com o envio de cocaína para a África e a Europa. Procurada pelo Estado, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) não detalhou a ação até as 19h30.
Moradores dizem estar apreensivos
“Tem algo acontecendo e a população não pode saber", postou Valéria Cristina da Silva em um grupo de discussão na internet com dezenas de mensagens de pessoas apreensivas de Presidente Venceslau. Os moradores também notaram rasantes de helicópteros, patrulhas e blindados nas ruas.
“A presença inesperada de policiamento tão forte cria curiosidade e expectativa”, disse o radialista Antônio Carlos Moré. Para ele, “não se deslocam tantos homens treinados assim da capital paulista por algum motivo fútil”. /COLABOROU RENE MOREIRA, ESPECIAL PARA O ESTADO