No início da semana, um motociclista morreu após ser arrastado por uma Porsche amarela na Avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo. O motorista do carro de luxo, Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, foi preso após a Polícia Civil analisar imagens de câmera de segurança e concluir que houve perseguição e intenção ou foi assumido o risco de matar, resultando em homicídio doloso.
A defesa de Sauceda não concorda com a tipificação de homicídio doloso e diz que houve uma “fatalidade”. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) prevê usar na perícia o mesmo recurso de escaneamento e maquete 3D usado no outro caso de morte envolvendo uma Porsche, em março, no Tatuapé (leia mais abaixo).
Qual será o papel da perícia no caso da Avenida Interlagos?
Segundo Bruno Lazzari, presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado, mesmo com as imagens de câmeras de segurança mostrando a perseguição e o momento da colisão, a perícia é importante para verificar detalhes da ocorrência.
Ela pode confirmar, por exemplo, se Sauceda, que é empresário e voltava do trabalho, tentou frear ou virar o veículo para evitar o choque. Assim como mostrar a velocidade em que dirigia e se, de fato, o seu retrovisor foi quebrado antes da colisão.
Sauceda não estava alcoolizado ou sob efeito de drogas, segundo os testes. Em depoimento, ele afirma que seguiu o motoboy porque o rapaz quebrou o retrovisor da Porsche e se negou a estacionar para discutirem o dano.
Disse ainda que, ao perceber que colidiria, tentou virar o volante para a direita, sem sucesso. Sauceda afirmou que trafegava a cerca de 60km/h ou 70km/h, ou seja, acima da velocidade permitida para vias como a Avenida Interlagos, de 50km/h a 60km/h.
Já a polícia entende que, pelas imagens, a velocidade seria ainda maior. Para o delegado responsável, Edilson Correia de Lima, do 48º DP, o empresário teria agido em “ataque de fúria” após o motoboy ter supostamente quebrado o retrovisor. Por isso, teria assumido o risco ou tido a intenção de matá-lo.
Pedro Kaique Ventura de Figueiredo, 21 anos, estava de folga no dia e voltava da casa da sua irmã. Deixa a mulher, com quem havia se casado em janeiro, e um filho de três anos.
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Como funciona uma perícia criminal?
A perícia criminal começa assim que a Polícia Militar, que atende a esse tipo de ocorrência de emergência, entende que o caso é grave e necessita inquérito. Geralmente, um perito e um fotógrafo vão até o local do crime e fazem uma série de registros e medições. As imagens são feitas de diversos ângulos, para registrar as posições dos elementos da cena do crime.
Em casos de trânsito, a equipe confere se há marcas de pneu no asfalto, por exemplo, o que indica freadas. Se houver marcas de uso do freio, entende-se que o motorista tentou evitar a colisão. Os peritos medem o tamanho dessas marcas em milímetros e comparam com as medidas dos pneus. Também registram a distância entre os veículos e outros elementos da cena.
Câmeras de segurança na região, como na Avenida Interlagos, facilitam o trabalho. “Utilizando imagens de câmeras de segurança, os peritos podem identificar pontos de referência na via e estimar a velocidade do veículo. Esse cálculo é essencial para entender se o carro estava em alta velocidade, o que pode corroborar a hipótese de dolo eventual (quando não há intenção direta de matar a vítima, mas se assume o risco de produzir esse resultado ao adotar conduta perigosa)”, diz Lazzari.
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É possível medir a velocidade também pela distância das marcas de frenagem e detritos de veículos ao ponto de parada dos veículos após a colisão. “Essas evidências científicas ajudam a reconstruir a dinâmica do acidente e a entender melhor as circunstâncias que levaram à colisão, o que pode corroborar ou desmantelar depoimentos e a versão inicial dos fatos”, afirma o perito criminal.
A análise dos dados registrados pelos sistemas de bordo dos veículos dá informações adicionais. Como em caixas-pretas de aviões, muitos carros, especialmente os de luxo têm sistemas que registram dados de desempenho, como velocidade, aceleração, frenagem, entre outros parâmetros. Segundo o delegado Edilson Correia de Lima, esses dados da Porsche de Sauceda foram pedidos à fabricante.
A perícia é ainda mais importante, segundo Lazzari, quando há poucas imagens da ocorrência ou elas não são tão claras, como no outro caso de morte por colisão de Porsche, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, em 31 de março. Na ocasião, a câmera filmou a batida muito de trás e com baixa definição.
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Motorista do carro de luxo fugiu após provocar a morte do outro condutor na Avenida Salim Farah Maluf.
A perícia confirmou que a Porsche azul dirigida por Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, trafegava a 156 km/h na Avenida Salim Farah Maluf na hora da batida. O também empresário foi indiciado por homicídio doloso, pela morte do motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52 anos. Ele está preso preventivamente e aguarda o fim do julgamento.
Tecnologia 3D gera simulações da ocorrência
No caso da Porsche azul no Tatuapé, a Polícia Científica do Estado usou uma tecnologia 3D para reproduzir, em vídeo, simulaçõe, testando hipóteses de condições e eventos que levaram à colisão. O vídeo foi anexado ao processo e o mesmo deve ser feito no caso da Avenida Interlagos.
Ao Estadão, a SSP confirmou que os laudos periciais do caso Interlagos ainda estão feitos pelos institutos Médico-Legal (IML) e de Criminalística (IC) e “haverá, ainda, a reprodução simulada com uso de imagens de câmeras de segurança, drones e scanner 3D, realizada pela Polícia Técnico-Científica”.
“Ela permite realizar levantamento topográfico e apeamento do ambiente em 360°, que resultará em uma animação, posicionando cada pessoa e elemento no local correto, de acordo com o apurado no decorrer da investigação, incluindo imagens de câmeras de segurança”, diz a pasta.
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Caso aconteceu na zona leste de SP. O motorista do veículo, Fernando Sastre de Andrade Filho, está preso.
“No próprio local do crime, é utilizado um scanner. Com a emissão de um laser, ele cria uma nuvem de pontos. No lugar de uma simples fotografia, que só tem altura e largura como dimensões, é possível criar um registro de três dimensões (o que inclui também a profundidade) da cena”, explica Lazzari.
“Depois, com softwares específicos, isso é convertido em uma maquete eletrônica, garantindo uma precisão inédita”, acrescente o perito. O programa permite, ainda, incluir os outros dados: aqueles colhidos na cena e os retirados das imagens das câmeras de segurança.
Com isso, é possível criar diversas simulações sobre como pode ter ocorrido a colisão. Neste caso, em especial, deve ser feita uma simulação baseada no depoimento de Sauceda, conferindo se o que ele diz sobre a ocorrência corresponde aos dados coletados.
O tempo de elaboração dos laudos varia conforme a complexidade do caso. “A partir disso, o perito poderá analisar a dinâmica do caso pelos mais diversos ângulos, contribuindo de maneira mais assertiva no esclarecimento dos fatos.”, afirma a SSP.