Prédio do ouro da Revolução de 32 e mais: veja imóveis históricos que Santa Casa pôs à venda em SP


Objetivo é arrecadar R$ 200 milhões e quitar parte dos R$ 650 milhões em dívidas da instituição

Por José Maria Tomazela
Atualização:

Construído graças ao ouro arrecadado durante a Revolução de 32 para armar as tropas paulistas que lutavam por uma nova Constituição, o edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no centro da capital, está à venda. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma das mais tradicionais instituições paulistanas, que é dona do prédio, decidiu vender de uma só vez sete imóveis no centro da capital para pagar dívidas. Entre eles está também o antigo Colégio São José, na Rua da Glória, prédio histórico que é uma referência urbana do bairro da Liberdade.

O objetivo, segundo a Irmandade da Santa Casa, é arrecadar R$ 200 milhões e quitar parte dos R$ 650 milhões em dívidas da instituição, criando ainda um fundo patrimonial. A Santander Holding Imobiliária (SHI) está responsável por vender os ativos e já deu início às conversas com potenciais compradores.

Fachada ondulada do edifício Ouro para o Bem de São Paulo representa a bandeira do Estado, com treze listas – uma por andar. Foto: Sergio Neves/Estadão - 29/06/2010
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Alguns dos prédios, para uso residencial, comercial e misto, foram obtidos em doação há quase um século. No caso do Ouro para o Bem de São Paulo, o edifício de 13 andares foi construído com doações de alianças de casamento das senhoras paulistanas durante uma campanha para arrecadar fundos para a revolução de 1932, na qual São Paulo enfrentou as tropas federais no governo de Getúlio Vargas. Com o fim dos combates, e com receio de que a sobra de ouro fosse confiscada pelo governo federal, ela foi doada à Santa Casa de Misericórdia.

A instituição decidiu construir o prédio residencial para obter recursos com as locações. O edifício, construído em art déco no Largo da Misericórdia, no Centro Histórico, foi concluído em 1939. A fachada do prédio, com formato ondulado, representa a bandeira paulista, com treze listas – uma por andar.

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O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano por 67 famílias do Movimento Moradia Central e Regional. A Santa Casa informou que há ação judicial de reintegração de posse em andamento, sendo que foi deferida a liminar para a desocupação do imóvel. “O processo aguarda os trâmites para efetivação da desocupação”, disse, em nota. A decisão judicial dá segurança para eventual negociação do imóvel, segundo a Santa Casa.

O processo de reintegração de posse ainda tramita na 21.ª Vara Cível do Fórum Central da capital. A juíza Maria Carolina de Matos Bertoldo deu a liminar de reintegração de posse no dia 12 de março, mas condicionou a remoção dos ocupantes a uma inspeção judicial, já realizada, e à audiência de mediação, que ainda será marcada. A Polícia Militar informou que, quando solicitada, dará apoio ao cumprimento da decisão judicial.

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O advogado Willian Fernandes, que atua em favor de movimentos sociais e acompanha o caso, disse que a ocupação não impede a venda do imóvel. “Como existe a liminar, que exige uma série de providências para que seja cumprida, o novo proprietário assume também o processo de desocupação, que ainda não tem data para acontecer”, disse.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano pelo Movimento Moradia Central e Regional. Foto: Felipe Rau/Estadão

Colégio tradicional tombado

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Outro prédio histórico à venda, na Rua da Glória, nº 195, abrigou o Colégio São José, escola tradicional, fundada em 1880. O edifício foi a primeira unidade hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, sob a direção do médico e professor Caetano de Campos.

Prédio do antigo Colégio São José é uma referência no bairro da Liberdade. Foto: Felipe Rau/Estadão

Conforme o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o prédio marcou a expansão e consolidação do bairro da Liberdade, sobretudo o eixo histórico da Rua da Glória e da Rua Lavapés, antigo Peabiru (caminho indígena) e, por séculos, foi o caminho em direção à cidade de Santos.

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Projetado no início do século 20 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio foi tombado em 2016 pelo Conpresp. Historiadores dizem que, antes da escola, o espaço foi residência de Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.

O prédio da Avenida São João, número 126, que também será vendido, faz parte dos imóveis tombados do Vale do Anhangabaú. É um prédio comercial com porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. O tombamento do conjunto de imóveis que inclui o edifício levou em conta o “interesse histórico, arquitetônico e ambiental”, segundo o Conpresp.

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A Secretaria Municipal de Cultura explicou que a aprovação pelo Conpresp é necessária em casos de intervenção ou reformas em imóveis tombados, mas o processo de venda não depende de autorização do órgão.

Prédio no Vale do Anhangabaú é tombado e tem porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. Foto: Felipe Rau/Estadão

Outros prédios

Faz parte do pacote de vendas o prédio da Rua Major Quedinho, número 346, onde funcionou a Escola de Enfermagem da Santa Casa, no bairro da Bela Vista. A construção tem pé direito alto e fachada em formato circular.

Já o prédio da Rua São Bento, número 500, é um edifício comercial e residencial da década de 1960, com 11 andares. Completam a lista um prédio da Rua 7 de Abril, número 278 (Praça da República), e um edifício de dez andares, construído em 1944, na Rua Senador Feijó, número 115.

A expectativa é de que as operações sejam concluídas até o segundo semestre de 2025. Atualmente, os imóveis não estão alugados e deixaram de gerar receita.

Conforme Vicente Paolillo, provedor da Irmandade da Santa Casa, a venda dos prédios possibilitará que a instituição pague parte das dívidas e componha um fundo patrimonial para custear despesas. Por manter um hospital com atendimentos voltados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem atendimento particular ou de convênios médicos, a Santa Casa poderá também receber doações de empresas e pessoas físicas.

A Santa Casa informou que, em 2023, foram realizados 535 mil atendimentos ambulatoriais, 219 mil de urgência, 27 mil cirurgias, 37 mil internações e 2,7 milhões de exames de laboratório. Segundo a irmandade, os recursos públicos repassados pelo SUS são insuficientes para cobrir os custos dos serviços.

“A entidade segue firme com sua missão de cuidar da saúde da população, com equipes de profissionais comprometidas com esta instituição, reconhecida por prestar serviços de excelência na assistência, no ensino e na pesquisa”, disse, em nota.

Ainda segundo a nota, ao longo de 460 anos de história, a instituição recebeu doações de terrenos e prédios em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade. Atualmente, são 300 imóveis, dos quais obtém renda de aluguel que contribuem para o custeio dos hospitais. Como parte de um plano de eficiência aprovado na Mesa Administrativa, a instituição decidiu desmobilizar imóveis correspondentes a 20% de seu patrimônio para equacionar sua situação financeira.

Vendas individuais

A Santander Holding Imobiliária informou que avalia, juntamente com potenciais interessados – incorporadoras e investidores -, a vocação de cada edifício à venda. Alguns imóveis têm acesso a calçadões e outros possuem entrada para carros.

De acordo com Veridiana Lima, head de desenvolvimento imobiliário da SHI, o mais provável é que sejam fechadas vendas individuais, conforme o perfil de cada desenvolvedor de negócios. Há prédios que podem abrigar setores de cultura, saúde e educação, por exemplo. A SHI, responsável pela gestão da carteira de imóveis do Santander, fará a gestão dos recebimentos para a instituição.

A operação da Santa Casa e venda dos imóveis acontece no momento em que a prefeitura e o governo estadual buscam opções para estimular a ocupação e requalificação do centro urbano da capital. A Prefeitura de São Paulo informou que possui o Programa Requalifica Centro, ação que concede incentivos para a recuperação de prédios antigos. Desde 2012, foram aprovados 16 projetos de retrofit no âmbito do programa e 21 estão em análise, mas ainda não há processos referentes aos prédios à venda pela Santa Casa.

Construído graças ao ouro arrecadado durante a Revolução de 32 para armar as tropas paulistas que lutavam por uma nova Constituição, o edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no centro da capital, está à venda. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma das mais tradicionais instituições paulistanas, que é dona do prédio, decidiu vender de uma só vez sete imóveis no centro da capital para pagar dívidas. Entre eles está também o antigo Colégio São José, na Rua da Glória, prédio histórico que é uma referência urbana do bairro da Liberdade.

O objetivo, segundo a Irmandade da Santa Casa, é arrecadar R$ 200 milhões e quitar parte dos R$ 650 milhões em dívidas da instituição, criando ainda um fundo patrimonial. A Santander Holding Imobiliária (SHI) está responsável por vender os ativos e já deu início às conversas com potenciais compradores.

Fachada ondulada do edifício Ouro para o Bem de São Paulo representa a bandeira do Estado, com treze listas – uma por andar. Foto: Sergio Neves/Estadão - 29/06/2010

Alguns dos prédios, para uso residencial, comercial e misto, foram obtidos em doação há quase um século. No caso do Ouro para o Bem de São Paulo, o edifício de 13 andares foi construído com doações de alianças de casamento das senhoras paulistanas durante uma campanha para arrecadar fundos para a revolução de 1932, na qual São Paulo enfrentou as tropas federais no governo de Getúlio Vargas. Com o fim dos combates, e com receio de que a sobra de ouro fosse confiscada pelo governo federal, ela foi doada à Santa Casa de Misericórdia.

A instituição decidiu construir o prédio residencial para obter recursos com as locações. O edifício, construído em art déco no Largo da Misericórdia, no Centro Histórico, foi concluído em 1939. A fachada do prédio, com formato ondulado, representa a bandeira paulista, com treze listas – uma por andar.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano por 67 famílias do Movimento Moradia Central e Regional. A Santa Casa informou que há ação judicial de reintegração de posse em andamento, sendo que foi deferida a liminar para a desocupação do imóvel. “O processo aguarda os trâmites para efetivação da desocupação”, disse, em nota. A decisão judicial dá segurança para eventual negociação do imóvel, segundo a Santa Casa.

O processo de reintegração de posse ainda tramita na 21.ª Vara Cível do Fórum Central da capital. A juíza Maria Carolina de Matos Bertoldo deu a liminar de reintegração de posse no dia 12 de março, mas condicionou a remoção dos ocupantes a uma inspeção judicial, já realizada, e à audiência de mediação, que ainda será marcada. A Polícia Militar informou que, quando solicitada, dará apoio ao cumprimento da decisão judicial.

O advogado Willian Fernandes, que atua em favor de movimentos sociais e acompanha o caso, disse que a ocupação não impede a venda do imóvel. “Como existe a liminar, que exige uma série de providências para que seja cumprida, o novo proprietário assume também o processo de desocupação, que ainda não tem data para acontecer”, disse.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano pelo Movimento Moradia Central e Regional. Foto: Felipe Rau/Estadão

Colégio tradicional tombado

Outro prédio histórico à venda, na Rua da Glória, nº 195, abrigou o Colégio São José, escola tradicional, fundada em 1880. O edifício foi a primeira unidade hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, sob a direção do médico e professor Caetano de Campos.

Prédio do antigo Colégio São José é uma referência no bairro da Liberdade. Foto: Felipe Rau/Estadão

Conforme o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o prédio marcou a expansão e consolidação do bairro da Liberdade, sobretudo o eixo histórico da Rua da Glória e da Rua Lavapés, antigo Peabiru (caminho indígena) e, por séculos, foi o caminho em direção à cidade de Santos.

Projetado no início do século 20 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio foi tombado em 2016 pelo Conpresp. Historiadores dizem que, antes da escola, o espaço foi residência de Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.

O prédio da Avenida São João, número 126, que também será vendido, faz parte dos imóveis tombados do Vale do Anhangabaú. É um prédio comercial com porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. O tombamento do conjunto de imóveis que inclui o edifício levou em conta o “interesse histórico, arquitetônico e ambiental”, segundo o Conpresp.

A Secretaria Municipal de Cultura explicou que a aprovação pelo Conpresp é necessária em casos de intervenção ou reformas em imóveis tombados, mas o processo de venda não depende de autorização do órgão.

Prédio no Vale do Anhangabaú é tombado e tem porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. Foto: Felipe Rau/Estadão

Outros prédios

Faz parte do pacote de vendas o prédio da Rua Major Quedinho, número 346, onde funcionou a Escola de Enfermagem da Santa Casa, no bairro da Bela Vista. A construção tem pé direito alto e fachada em formato circular.

Já o prédio da Rua São Bento, número 500, é um edifício comercial e residencial da década de 1960, com 11 andares. Completam a lista um prédio da Rua 7 de Abril, número 278 (Praça da República), e um edifício de dez andares, construído em 1944, na Rua Senador Feijó, número 115.

A expectativa é de que as operações sejam concluídas até o segundo semestre de 2025. Atualmente, os imóveis não estão alugados e deixaram de gerar receita.

Conforme Vicente Paolillo, provedor da Irmandade da Santa Casa, a venda dos prédios possibilitará que a instituição pague parte das dívidas e componha um fundo patrimonial para custear despesas. Por manter um hospital com atendimentos voltados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem atendimento particular ou de convênios médicos, a Santa Casa poderá também receber doações de empresas e pessoas físicas.

A Santa Casa informou que, em 2023, foram realizados 535 mil atendimentos ambulatoriais, 219 mil de urgência, 27 mil cirurgias, 37 mil internações e 2,7 milhões de exames de laboratório. Segundo a irmandade, os recursos públicos repassados pelo SUS são insuficientes para cobrir os custos dos serviços.

“A entidade segue firme com sua missão de cuidar da saúde da população, com equipes de profissionais comprometidas com esta instituição, reconhecida por prestar serviços de excelência na assistência, no ensino e na pesquisa”, disse, em nota.

Ainda segundo a nota, ao longo de 460 anos de história, a instituição recebeu doações de terrenos e prédios em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade. Atualmente, são 300 imóveis, dos quais obtém renda de aluguel que contribuem para o custeio dos hospitais. Como parte de um plano de eficiência aprovado na Mesa Administrativa, a instituição decidiu desmobilizar imóveis correspondentes a 20% de seu patrimônio para equacionar sua situação financeira.

Vendas individuais

A Santander Holding Imobiliária informou que avalia, juntamente com potenciais interessados – incorporadoras e investidores -, a vocação de cada edifício à venda. Alguns imóveis têm acesso a calçadões e outros possuem entrada para carros.

De acordo com Veridiana Lima, head de desenvolvimento imobiliário da SHI, o mais provável é que sejam fechadas vendas individuais, conforme o perfil de cada desenvolvedor de negócios. Há prédios que podem abrigar setores de cultura, saúde e educação, por exemplo. A SHI, responsável pela gestão da carteira de imóveis do Santander, fará a gestão dos recebimentos para a instituição.

A operação da Santa Casa e venda dos imóveis acontece no momento em que a prefeitura e o governo estadual buscam opções para estimular a ocupação e requalificação do centro urbano da capital. A Prefeitura de São Paulo informou que possui o Programa Requalifica Centro, ação que concede incentivos para a recuperação de prédios antigos. Desde 2012, foram aprovados 16 projetos de retrofit no âmbito do programa e 21 estão em análise, mas ainda não há processos referentes aos prédios à venda pela Santa Casa.

Construído graças ao ouro arrecadado durante a Revolução de 32 para armar as tropas paulistas que lutavam por uma nova Constituição, o edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no centro da capital, está à venda. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma das mais tradicionais instituições paulistanas, que é dona do prédio, decidiu vender de uma só vez sete imóveis no centro da capital para pagar dívidas. Entre eles está também o antigo Colégio São José, na Rua da Glória, prédio histórico que é uma referência urbana do bairro da Liberdade.

O objetivo, segundo a Irmandade da Santa Casa, é arrecadar R$ 200 milhões e quitar parte dos R$ 650 milhões em dívidas da instituição, criando ainda um fundo patrimonial. A Santander Holding Imobiliária (SHI) está responsável por vender os ativos e já deu início às conversas com potenciais compradores.

Fachada ondulada do edifício Ouro para o Bem de São Paulo representa a bandeira do Estado, com treze listas – uma por andar. Foto: Sergio Neves/Estadão - 29/06/2010

Alguns dos prédios, para uso residencial, comercial e misto, foram obtidos em doação há quase um século. No caso do Ouro para o Bem de São Paulo, o edifício de 13 andares foi construído com doações de alianças de casamento das senhoras paulistanas durante uma campanha para arrecadar fundos para a revolução de 1932, na qual São Paulo enfrentou as tropas federais no governo de Getúlio Vargas. Com o fim dos combates, e com receio de que a sobra de ouro fosse confiscada pelo governo federal, ela foi doada à Santa Casa de Misericórdia.

A instituição decidiu construir o prédio residencial para obter recursos com as locações. O edifício, construído em art déco no Largo da Misericórdia, no Centro Histórico, foi concluído em 1939. A fachada do prédio, com formato ondulado, representa a bandeira paulista, com treze listas – uma por andar.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano por 67 famílias do Movimento Moradia Central e Regional. A Santa Casa informou que há ação judicial de reintegração de posse em andamento, sendo que foi deferida a liminar para a desocupação do imóvel. “O processo aguarda os trâmites para efetivação da desocupação”, disse, em nota. A decisão judicial dá segurança para eventual negociação do imóvel, segundo a Santa Casa.

O processo de reintegração de posse ainda tramita na 21.ª Vara Cível do Fórum Central da capital. A juíza Maria Carolina de Matos Bertoldo deu a liminar de reintegração de posse no dia 12 de março, mas condicionou a remoção dos ocupantes a uma inspeção judicial, já realizada, e à audiência de mediação, que ainda será marcada. A Polícia Militar informou que, quando solicitada, dará apoio ao cumprimento da decisão judicial.

O advogado Willian Fernandes, que atua em favor de movimentos sociais e acompanha o caso, disse que a ocupação não impede a venda do imóvel. “Como existe a liminar, que exige uma série de providências para que seja cumprida, o novo proprietário assume também o processo de desocupação, que ainda não tem data para acontecer”, disse.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano pelo Movimento Moradia Central e Regional. Foto: Felipe Rau/Estadão

Colégio tradicional tombado

Outro prédio histórico à venda, na Rua da Glória, nº 195, abrigou o Colégio São José, escola tradicional, fundada em 1880. O edifício foi a primeira unidade hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, sob a direção do médico e professor Caetano de Campos.

Prédio do antigo Colégio São José é uma referência no bairro da Liberdade. Foto: Felipe Rau/Estadão

Conforme o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o prédio marcou a expansão e consolidação do bairro da Liberdade, sobretudo o eixo histórico da Rua da Glória e da Rua Lavapés, antigo Peabiru (caminho indígena) e, por séculos, foi o caminho em direção à cidade de Santos.

Projetado no início do século 20 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio foi tombado em 2016 pelo Conpresp. Historiadores dizem que, antes da escola, o espaço foi residência de Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.

O prédio da Avenida São João, número 126, que também será vendido, faz parte dos imóveis tombados do Vale do Anhangabaú. É um prédio comercial com porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. O tombamento do conjunto de imóveis que inclui o edifício levou em conta o “interesse histórico, arquitetônico e ambiental”, segundo o Conpresp.

A Secretaria Municipal de Cultura explicou que a aprovação pelo Conpresp é necessária em casos de intervenção ou reformas em imóveis tombados, mas o processo de venda não depende de autorização do órgão.

Prédio no Vale do Anhangabaú é tombado e tem porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. Foto: Felipe Rau/Estadão

Outros prédios

Faz parte do pacote de vendas o prédio da Rua Major Quedinho, número 346, onde funcionou a Escola de Enfermagem da Santa Casa, no bairro da Bela Vista. A construção tem pé direito alto e fachada em formato circular.

Já o prédio da Rua São Bento, número 500, é um edifício comercial e residencial da década de 1960, com 11 andares. Completam a lista um prédio da Rua 7 de Abril, número 278 (Praça da República), e um edifício de dez andares, construído em 1944, na Rua Senador Feijó, número 115.

A expectativa é de que as operações sejam concluídas até o segundo semestre de 2025. Atualmente, os imóveis não estão alugados e deixaram de gerar receita.

Conforme Vicente Paolillo, provedor da Irmandade da Santa Casa, a venda dos prédios possibilitará que a instituição pague parte das dívidas e componha um fundo patrimonial para custear despesas. Por manter um hospital com atendimentos voltados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem atendimento particular ou de convênios médicos, a Santa Casa poderá também receber doações de empresas e pessoas físicas.

A Santa Casa informou que, em 2023, foram realizados 535 mil atendimentos ambulatoriais, 219 mil de urgência, 27 mil cirurgias, 37 mil internações e 2,7 milhões de exames de laboratório. Segundo a irmandade, os recursos públicos repassados pelo SUS são insuficientes para cobrir os custos dos serviços.

“A entidade segue firme com sua missão de cuidar da saúde da população, com equipes de profissionais comprometidas com esta instituição, reconhecida por prestar serviços de excelência na assistência, no ensino e na pesquisa”, disse, em nota.

Ainda segundo a nota, ao longo de 460 anos de história, a instituição recebeu doações de terrenos e prédios em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade. Atualmente, são 300 imóveis, dos quais obtém renda de aluguel que contribuem para o custeio dos hospitais. Como parte de um plano de eficiência aprovado na Mesa Administrativa, a instituição decidiu desmobilizar imóveis correspondentes a 20% de seu patrimônio para equacionar sua situação financeira.

Vendas individuais

A Santander Holding Imobiliária informou que avalia, juntamente com potenciais interessados – incorporadoras e investidores -, a vocação de cada edifício à venda. Alguns imóveis têm acesso a calçadões e outros possuem entrada para carros.

De acordo com Veridiana Lima, head de desenvolvimento imobiliário da SHI, o mais provável é que sejam fechadas vendas individuais, conforme o perfil de cada desenvolvedor de negócios. Há prédios que podem abrigar setores de cultura, saúde e educação, por exemplo. A SHI, responsável pela gestão da carteira de imóveis do Santander, fará a gestão dos recebimentos para a instituição.

A operação da Santa Casa e venda dos imóveis acontece no momento em que a prefeitura e o governo estadual buscam opções para estimular a ocupação e requalificação do centro urbano da capital. A Prefeitura de São Paulo informou que possui o Programa Requalifica Centro, ação que concede incentivos para a recuperação de prédios antigos. Desde 2012, foram aprovados 16 projetos de retrofit no âmbito do programa e 21 estão em análise, mas ainda não há processos referentes aos prédios à venda pela Santa Casa.

Construído graças ao ouro arrecadado durante a Revolução de 32 para armar as tropas paulistas que lutavam por uma nova Constituição, o edifício Ouro para o Bem de São Paulo, no centro da capital, está à venda. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, uma das mais tradicionais instituições paulistanas, que é dona do prédio, decidiu vender de uma só vez sete imóveis no centro da capital para pagar dívidas. Entre eles está também o antigo Colégio São José, na Rua da Glória, prédio histórico que é uma referência urbana do bairro da Liberdade.

O objetivo, segundo a Irmandade da Santa Casa, é arrecadar R$ 200 milhões e quitar parte dos R$ 650 milhões em dívidas da instituição, criando ainda um fundo patrimonial. A Santander Holding Imobiliária (SHI) está responsável por vender os ativos e já deu início às conversas com potenciais compradores.

Fachada ondulada do edifício Ouro para o Bem de São Paulo representa a bandeira do Estado, com treze listas – uma por andar. Foto: Sergio Neves/Estadão - 29/06/2010

Alguns dos prédios, para uso residencial, comercial e misto, foram obtidos em doação há quase um século. No caso do Ouro para o Bem de São Paulo, o edifício de 13 andares foi construído com doações de alianças de casamento das senhoras paulistanas durante uma campanha para arrecadar fundos para a revolução de 1932, na qual São Paulo enfrentou as tropas federais no governo de Getúlio Vargas. Com o fim dos combates, e com receio de que a sobra de ouro fosse confiscada pelo governo federal, ela foi doada à Santa Casa de Misericórdia.

A instituição decidiu construir o prédio residencial para obter recursos com as locações. O edifício, construído em art déco no Largo da Misericórdia, no Centro Histórico, foi concluído em 1939. A fachada do prédio, com formato ondulado, representa a bandeira paulista, com treze listas – uma por andar.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano por 67 famílias do Movimento Moradia Central e Regional. A Santa Casa informou que há ação judicial de reintegração de posse em andamento, sendo que foi deferida a liminar para a desocupação do imóvel. “O processo aguarda os trâmites para efetivação da desocupação”, disse, em nota. A decisão judicial dá segurança para eventual negociação do imóvel, segundo a Santa Casa.

O processo de reintegração de posse ainda tramita na 21.ª Vara Cível do Fórum Central da capital. A juíza Maria Carolina de Matos Bertoldo deu a liminar de reintegração de posse no dia 12 de março, mas condicionou a remoção dos ocupantes a uma inspeção judicial, já realizada, e à audiência de mediação, que ainda será marcada. A Polícia Militar informou que, quando solicitada, dará apoio ao cumprimento da decisão judicial.

O advogado Willian Fernandes, que atua em favor de movimentos sociais e acompanha o caso, disse que a ocupação não impede a venda do imóvel. “Como existe a liminar, que exige uma série de providências para que seja cumprida, o novo proprietário assume também o processo de desocupação, que ainda não tem data para acontecer”, disse.

O prédio Ouro para o Bem de São Paulo está ocupado desde fevereiro deste ano pelo Movimento Moradia Central e Regional. Foto: Felipe Rau/Estadão

Colégio tradicional tombado

Outro prédio histórico à venda, na Rua da Glória, nº 195, abrigou o Colégio São José, escola tradicional, fundada em 1880. O edifício foi a primeira unidade hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, sob a direção do médico e professor Caetano de Campos.

Prédio do antigo Colégio São José é uma referência no bairro da Liberdade. Foto: Felipe Rau/Estadão

Conforme o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o prédio marcou a expansão e consolidação do bairro da Liberdade, sobretudo o eixo histórico da Rua da Glória e da Rua Lavapés, antigo Peabiru (caminho indígena) e, por séculos, foi o caminho em direção à cidade de Santos.

Projetado no início do século 20 pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio foi tombado em 2016 pelo Conpresp. Historiadores dizem que, antes da escola, o espaço foi residência de Domitila de Castro, a Marquesa de Santos.

O prédio da Avenida São João, número 126, que também será vendido, faz parte dos imóveis tombados do Vale do Anhangabaú. É um prédio comercial com porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. O tombamento do conjunto de imóveis que inclui o edifício levou em conta o “interesse histórico, arquitetônico e ambiental”, segundo o Conpresp.

A Secretaria Municipal de Cultura explicou que a aprovação pelo Conpresp é necessária em casos de intervenção ou reformas em imóveis tombados, mas o processo de venda não depende de autorização do órgão.

Prédio no Vale do Anhangabaú é tombado e tem porão, andar térreo, sobreloja e outros quatro pavimentos. Foto: Felipe Rau/Estadão

Outros prédios

Faz parte do pacote de vendas o prédio da Rua Major Quedinho, número 346, onde funcionou a Escola de Enfermagem da Santa Casa, no bairro da Bela Vista. A construção tem pé direito alto e fachada em formato circular.

Já o prédio da Rua São Bento, número 500, é um edifício comercial e residencial da década de 1960, com 11 andares. Completam a lista um prédio da Rua 7 de Abril, número 278 (Praça da República), e um edifício de dez andares, construído em 1944, na Rua Senador Feijó, número 115.

A expectativa é de que as operações sejam concluídas até o segundo semestre de 2025. Atualmente, os imóveis não estão alugados e deixaram de gerar receita.

Conforme Vicente Paolillo, provedor da Irmandade da Santa Casa, a venda dos prédios possibilitará que a instituição pague parte das dívidas e componha um fundo patrimonial para custear despesas. Por manter um hospital com atendimentos voltados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem atendimento particular ou de convênios médicos, a Santa Casa poderá também receber doações de empresas e pessoas físicas.

A Santa Casa informou que, em 2023, foram realizados 535 mil atendimentos ambulatoriais, 219 mil de urgência, 27 mil cirurgias, 37 mil internações e 2,7 milhões de exames de laboratório. Segundo a irmandade, os recursos públicos repassados pelo SUS são insuficientes para cobrir os custos dos serviços.

“A entidade segue firme com sua missão de cuidar da saúde da população, com equipes de profissionais comprometidas com esta instituição, reconhecida por prestar serviços de excelência na assistência, no ensino e na pesquisa”, disse, em nota.

Ainda segundo a nota, ao longo de 460 anos de história, a instituição recebeu doações de terrenos e prédios em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade. Atualmente, são 300 imóveis, dos quais obtém renda de aluguel que contribuem para o custeio dos hospitais. Como parte de um plano de eficiência aprovado na Mesa Administrativa, a instituição decidiu desmobilizar imóveis correspondentes a 20% de seu patrimônio para equacionar sua situação financeira.

Vendas individuais

A Santander Holding Imobiliária informou que avalia, juntamente com potenciais interessados – incorporadoras e investidores -, a vocação de cada edifício à venda. Alguns imóveis têm acesso a calçadões e outros possuem entrada para carros.

De acordo com Veridiana Lima, head de desenvolvimento imobiliário da SHI, o mais provável é que sejam fechadas vendas individuais, conforme o perfil de cada desenvolvedor de negócios. Há prédios que podem abrigar setores de cultura, saúde e educação, por exemplo. A SHI, responsável pela gestão da carteira de imóveis do Santander, fará a gestão dos recebimentos para a instituição.

A operação da Santa Casa e venda dos imóveis acontece no momento em que a prefeitura e o governo estadual buscam opções para estimular a ocupação e requalificação do centro urbano da capital. A Prefeitura de São Paulo informou que possui o Programa Requalifica Centro, ação que concede incentivos para a recuperação de prédios antigos. Desde 2012, foram aprovados 16 projetos de retrofit no âmbito do programa e 21 estão em análise, mas ainda não há processos referentes aos prédios à venda pela Santa Casa.

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