A Prefeitura de São Paulo vai tentar pela terceira vez construir um corredor de ônibus na zona leste da capital no modelo BRT (sigla em inglês para via de trânsito rápido), mais confortável, com alta capacidade e embarque facilitado. Prometido desde 2011, o projeto foi reformulado pela gestão Ricardo Nunes (MDB) e tem custo atual de R$ 1 bilhão só para a obra, valor que deve ser dividido com o governo do Estado. Além da expectativa de reduzir o tempo de viagem, a ideia é permitir a conexão outros modais, como o metrô e o trólebus.
O anúncio está previsto para o início de novembro. Na comparação com a proposta apresentada em 2014, a atual prevê alterações significativas, como um túnel menor, de 200 metros, na chegada ao metrô Parque Dom Pedro II (a versão anterior previa um desnível de 650 m), uma estação de menos (são 12 agora) e ciclovia ao longo do eixo central.
Serão três trechos no total, com extensão de 26,1 quilômetros espalhados pela Avenida Alcântara Machado, a Radial Leste, desde o Terminal São Mateus até o centro, nas proximidades do Mercado Municipal. As conexões serão com o sistema de trólebus intermunicipais da EMTU (em São Mateus) e as linhas 3-Vermelha, 15-Prata e 11-Coral do Metrô e a da CPTM.
A Secretaria Municipal de Transportes prevê que aproximadamente 457 mil pessoas sejam atendidas diretamente pelo novo sistema viário a partir de 2024, prazo previsto para o funcionamento, se o cronograma desta vez for cumprido. Para isso, no entanto, a Prefeitura precisarálicitar novamente os projetos executivos dos dois primeiros trechos - o terceiro ainda está no projeto básico - e ainda efetivar a desapropriação de 442 imóveis pelo custo estimado de R$ 255 milhões.
No fim de setembro, Nunes já editou um decreto que declara de utilidade pública uma série de imóveis localizados no eixo que receberá a obra. Eles estão espalhados pelos distritos de Vila Matilde, Aricanduva e São Mateus.
O modelo BRT tem uma vantagem importante em relação aos corredores de ônibus. O pagamento da tarifa é feito fora do veículo, geralmente na entrada da estação, como nas linhas de metrô. Este formato costuma evitar filas e tende a tornar o embarque mais ágil. Outra característica é que a plataforma fica no mesmo nível do ônibus, o que facilita o acesso dos passageiros, especialmente os que têm dificuldades de locomoção. Hoje, a capital conta com apenas um corredor nesse modelo, o Expresso Tiradentes, que faz um percurso de 8 quilômetros entre os terminais Sacomã, na zona sul, e Mercado, no centro.
Nunes negocia empréstimo para obra na Aricanduva
Coordenador de Mobilidade Urbana no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria conhece o histórico do projeto em São Paulo, prometido pelos prefeitos Gilberto Kassab (PSD), Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB), Bruno Covas (PSDB) e agora Nunes. Ainda cético em relação à sua execução, o especialista destaca algumas vantagens da proposta trabalhada pela atual gestão, como o fato de o acesso às estações ser em nível e não por passarelas, elevadores e escadas rolantes.
"Este é um avanço importante no projeto. Além de deixar a obra mais barata (a Prefeitura fala em R$ 184 milhões a menos), também proporciona mais conforto para o pedestre, que terá mais facilidade para chegar à plataforma", afirma. Calabria, porém, considera como prioridade o BRT da Avenida Aricanduva, também prometido pela atual gestão, já que a Radial já é servida de estações de metrô. "O BRT da Aricanduva (também na zona leste) seria uma conexão totalmente nova e, por isso, acredito que teria um impacto muito grande. A zona leste não tem corredores de ônibus, só faixas exclusivas à direita", diz.
O prefeito Ricardo Nunes informou ao Estadão que o BRT da Avenida Aricanduva também está em desenvolvimento, mas depende de recursos pleiteados ao Banco Mundial, cuja negociação depende de aval do Senado. Nunes trata da aprovação diretamente com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM), e confia na concretização do empréstimo.