Uma festa de réveillon gratuita, com shows de bandas famosas, barraquinhas de bebida e uma grande queima de fogos em um dos cartões-postais de São Paulo. Um evento para ninguém botar defeito, certo? Bem, quando o ponto turístico é a Represa do Guarapiranga - um dos mananciais mais importantes da Região Metropolitana e um dos poucos refúgios de vida silvestre na capital -, não é bem assim. Moradores e ambientalistas estão preocupados com o primeiro réveillon organizado pela Prefeitura na orla da represa. O argumento é que o grande número de pessoas e a poluição sonora e visual nas festas em geral - que começaram a ser realizadas no local há 3 anos - poluem a represa e perturbam a fauna nativa. A maior preocupação são os fogos de artifício: a Prefeitura promete um grande espetáculo, mas ambientalistas temem os efeitos nos animais silvestres, principalmente nas 270 espécies de pássaros. "A Guarapiranga tem a maior concentração de aves e animais silvestres da cidade, sem contar os pássaros migratórios que chegam no verão. Você pode imaginar o dano ambiental que essa enorme queima de fogos pode causar onde os bichos se reproduzem", diz a diretora da ONG Fiscais da Natureza, Ângela Alves. "No ano retrasado, biólogos monitoraram os ninhos de coruja-buraqueira. Elas deixaram o ninho por vários meses. Voltaram, mas os ovos abandonados não chocaram." Para o ornitólogo Fábio Schunk, as aves migratórias correm maior risco. "Há grande possibilidade de que os fogos afetem a migração", diz Schunk. Ele afirma que é difícil avaliar os impactos, mas o barulho, a sujeira e os produtos químicos deixados na água após a queima dos fogos devem ter algum efeito negativo nas espécies. "É aquela história: se você tem uma região importante e delicada, o ideal seria causar menos distúrbio possível, para não afetá-la."Os moradores dizem ainda que houve uma tentativa de criar uma comissão com a Prefeitura e estabelecer regras para realizar eventos no local - que incluiriam a proibição de fogos de artifício. Mas a comissão nunca saiu do papel.A Prefeitura não respondeu às perguntas sobre os possíveis danos ambientais. Segundo nota da assessoria, grades impedem a aproximação de pessoas nas margens. No fim da festa, equipes de limpeza cuidam da área. A nota diz que foram realizados apenas quatro eventos na represa nos últimos 3 anos e que, independentemente disso, são feitas a limpeza da orla e a coleta de material flutuante. Segundo a Prefeitura, a comunidade montaria comissão para dar prosseguimento aos entendimentos sobre eventos na Guarapiranga, mas nunca definiu os integrantes do grupo.