O delegado Mauro Guimarães Soares, de 59 anos, morreu na manhã de sábado, 21, vítima de um latrocínio na Vila Romana, no distrito Lapa, na zona oeste de São Paulo. Ele estava caminhando pela Rua Caio Graco com a esposa, também policial, quando foi abordado por dois homens, que anunciaram o assalto. Depois de uma troca de tiros, Soares acabou sendo baleado no peito e não resistiu.
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Segundo o Radar da Criminalidade do Estadão, o último mês de julho registrou aumento de 60% de ocorrências criminais nos entornos da rua Caio Graco, local do crime, na comparação com o mesmo período de 2023. A ferramenta agrupa, a partir dos registros policiais, os crimes de furto de celular, roubo de celular, furto de veículo, roubo de veículo, sequestro e latrocínio dentro um raio de 500 metros de uma localização escolhida pelo usuário (clique aqui para acessar a ferramenta).
Em 2024, foram registrados 32 casos em julho- ou seja, mais de um por dia -, ante 20 para o mesmo mês no ano passado. Foram sete registros de furto de celular, nove de roubo de celular, 15 de furto de veículo e um de roubo de veículo. No distrito Lapa, onde situa-se a Vila Romana, a quantidade de crimes cresceu em 15% no período, somando 228 casos ante 198 ocorrências registradas em julho de 2023.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP) informa que houve uma “redução de 8,1% nos roubos em geral” entre janeiro e julho de 2024 comparado com o mesmo período do ano passado na região do 7° Distrito Policial (Lapa).
“A SSP atua continuamente no desenvolvimento de estratégias para enfrentar todas as modalidades de crimes em São Paulo. O empenho das polícias Civil e Militar possibilitou uma redução de 8,1% nos roubos em geral nos sete meses deste ano comparado ao mesmo período de 2023 na região do 7° DP (Lapa), responsável pela área”, disse a pasta, em nota.
Sensação de insegurança
A morte do delegado Mauro Guimarães Soares aumentou a sensação de insegurança entre os moradores e trabalhadores da região.
A moradora Teresa Cristina Camargo, que vive em uma casa de frente para o local onde os criminosos avançaram sobre o delegado, comentou ao Estadão que foi vítima de um assalto há pouco mais de um mês.
Segundo ela, um criminoso teria se passado por um funcionário da Sabesp e, na conversa com Teresa no portão de sua residência, ela teve o celular levado pelo suspeito em um curto momento de distração. “Eu nem cheguei a abrir o portão, mas ele foi super rápido e quase quebrou meu braço”, conta.
A cabeleireira Nice, que preferiu não ter o sobrenome identificado, é dona de um salão de beleza no bairro. Ela comenta que escuta constantemente relatos de assaltos e furtos de suas clientes. Ela abre um grupo de WhatsApp de moradores da Vila Romana e exibe, para a reportagem, vídeos de crimes na região flagrados por câmeras de monitoramento.
Com medo, ela diz adotar alguma estratégias de segurança para evitar ser uma das vítimas. “Eu tenho trabalhado com meu portão de ferro totalmente fechado, ou meio aberto. Minhas clientes precisam tocar a campainha para poder entrar. Só assim me sinto segura”, afirma.
O jornaleiro Fernando Antônio Pesqueira, que tem a sua banca há 12 anos na Vila Romana e chegou a conversar com o delegado pouco antes do assalto, entende que a valorização do bairro nos últimos anos trouxe um público de moradores de maior poder aquisitivo para a região, o que acaba por atrair maior atenção dos criminosos.
“Por conta de obras do metrô que está chegando aqui, você tem pessoas de um custo de vida mais elevado, um padrão de vida melhor. Com isso, os marginais se aproveitam”, sugere.
Outros moradores ouvidos pela reportagem também entendem que o bairro já foi mais seguro, e afirmam conhecer amigos ou parentes que já tiveram objetos, como celulares e joias, roubados ou furtados ali nas redondezas. Um deles, que pediu anonimato, comentou que tem ficado mais atento ao sair e chegar em casa com o carro, por temer que algum criminoso o aborde enquanto espera a abertura do portão da garagem.
Scarlet Oliveira, funcionária de uma lanchonete nas imediações do local do crime, disse que se mudou há três meses para a Vila Romana com o objetivo de viver em segurança. No entanto, o que ela percebe é o oposto do que buscava. “Eu estou em um grupo de WhatsApp com a vizinhança, mas todos os dias alguém relata que foi vítima, ou que conhece alguém que foi vítima, de algum assalto”, diz.
A SSP-SP diz que Polícia Civil não localizou a ocorrência citada pela moradora Teresa Cristina. “Ressaltamos a importância do Boletim de Ocorrência, essencial para que os casos sejam devidamente investigados e os criminosos presos”, diz a pasta na nota. “O policiamento preventivo, realizado pela Polícia Militar, é constantemente reorientado na região com base nos indicativos criminais”.
O que aconteceu com o delegado Mauro Guimarães
O delegado Mauro Guimarães e a mulher, Ana Paula Batista Ramalho Soares, que também é policial, foram abordados por um dos assaltantes na Rua Caio Graco, no final da manhã do último sábado, 22. Ao anunciar o roubo, o delegado reagiu e houve trocas de tiro. Câmeras de monitoramento da rua registraram a cena.
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Caso ocorreu na manhã deste sábado, 21, na Rua Caio Graco
As imagens mostram um homem parando uma motocicleta atrás de uma van. Quando o casal se aproxima, o motociclista vai em direção à calçada e aparenta anunciar o assalto. Na sequência, há disparos. O delegado e o suspeito ficam no chão.
Ana Paula, então, remove a arma do bandido e busca imobilizá-lo. De acordo com testemunhas, a policial disparou alguns tiros no chão para evitar que o criminoso fugisse. O intuito da dupla seria roubar uma correntinha de ouro do delegado.
O suspeito de atirar contra o delegado foi identificado como Enzo Campos, que também foi atingido e precisou ser hospitalizado. O assaltante já está detido pela polícia. O outro envolvido, que ainda não teve o nome revelado, conseguiu fugir e segue foragido.
O caso foi registrado como latrocínio - roubo seguido de morte - no 91º Distrito Policial (Ceasa) e é investigado pelo Departamento de Investigações Criminais (Deic), informou a Secretaria de Segurança Pública do Estado.