O Escritório de Investigações e Análises para a Aviação Civil (BEA) disse ontem, em seu relatório final, que equipamentos do Airbus A-330 deram ordens erradas a pilotos para ganhar altitude - o que levou à perda de sustentação e queda do voo AF-447 (Rio-Paris), em 31 de maio de 2009, deixando 228 mortos. A informação isenta em parte a tripulação, sobre a qual vinha recaindo a culpa.O relatório, de mais de 300 páginas, ainda aponta falhas técnicas no Airbus, lacunas no treinamento da Air France e omissões de agências de aviação. Inicialmente, confirma que o congelamento dos sensores de velocidade do avião, os tubos de Pitot, foi o que "detonou" o incidente. Depois, instrumentos de navegação, como piloto automático e controle de propulsão, foram desligando ou sendo afetados por erros de informação. Pelos relatórios parciais, sabia-se que o piloto em função, Pierre-Cedric Bonin, de 32 anos, havia respondido a essas falhas puxando o joystick da aeronave, para ganhar altitude. Essa decisão errada fez o avião perder sustentação, iniciando a queda. No último ano, especialistas do BEA conseguiram reconstituir dados matemáticos do "diretor de voo", um dos instrumentos eletrônicos de navegação. E eles são reveladores. Segundo o relatório, quando o controle do avião foi "entregue" pelo piloto automático a Bonin, o diretor de voo se desligou por segundos. Quando voltou a funcionar, deu ordem para "cabrar" (ganhar altitude). Essa orientação também foi apresentada ao piloto várias vezes nos 4 minutos de queda. "Quando o avião estava em perda de sustentação, era necessário fazer o contrário, baixar o nariz", reconheceu Léopold Sartorius, chefe do grupo de trabalho de Sistemas Aviônicos do BEA. Outro fator que levou Bonin a "cabrar" foi o fato de a velocidade aferida pelos tubos de pitot (errada) estar próxima da máxima. O ruído provocado na estrutura da aeronave também poderia ser sinal de velocidade extrema, mas na realidade já era sintoma da perda de sustentação. "Mais de um fator induziu o piloto", confirmou Luís Cláudio Lupoli, da Força Aérea Brasileira. Por fim, peritos observam que, após serem induzidos ao erro, pilotos podem ter falhado ao não desligar o diretor de voo nem prestar atenção aos alarmes sonoros de perda de sustentação. As razões disso não foram esclarecidas. Nem jamais serão, segundo especialistas.
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