São Paulo, 469 anos: cinco novos cartões-postais para a cidade; conheça a lista


‘Estadão’ procurou personalidades da cultura, das artes e do entretenimento para eleger símbolos que representem uma cidade transformada no século 21

Por Priscila Mengue
Atualização:

Quando você pensa em São Paulo, quais imagens vêm à mente? O Masp, a Catedral da Sé, o Parque do Ibirapuera, as marginais engarrafadas, talvez alguma referência mais pessoal e antiga? As mudanças recentes às vezes são mais difíceis de notar em uma cidade em tão constante transformação

No aniversário dos 469 anos de fundação de São Paulo, o Estadão traz a reflexão: quais são os novos cartões-postais da cidade? Aqueles que simbolizam uma metrópole do século 21? A questão foi feita a nomes das artes, arquitetura, cultura e entretenimento ligados à capital, que indicaram até três marcos criados a partir de 2000, cujas cinco respostas mais significativas estão reunidas aqui.

A lista aponta para uma São Paulo menos “monumental”, mais na escala humana. Em parte, são intervenções que mudaram a relação dos que aqui vivem e visitam com a paisagem e o ambiente público, sem a necessidade de obras gigantescas que transformassem esses espaços.

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Distintos entre si, esses cartões-postais são referências visuais e afetivas para a população, ainda em processo de reconhecimento. Espelhos simbólicos de São Paulo: com seus problemas e, ao mesmo tempo, um sopro de renovação.

Paulista Aberta, o cartão-postal repaginado para receber as pessoas

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A Avenida Paulista foi o mais citado novo símbolo da cidade. Não a via dos casarões da alta sociedade ou o centro financeiro do País de décadas atrás, mas a Paulista Aberta, dos domingos e feriados. A que simboliza a São Paulo do agora, que troca o tráfego de veículos pelo fluxo de milhares pedestres de diferentes idades, perfis e lugares em meio a apresentações artísticas e o vaivém de ciclistas.

“É uma iniciativa pública exitosa, baseada fundamentalmente em uma nova forma de ver a cidade, apostando em sua flexibilidade”, diz o urbanista Abílio Guerra, professor da Mackenzie e editor da Romano Guerra Editora. “A Paulista Aberta é o exemplo mais notável da iniciativa (do programa Ruas Abertas, que libera vias para os pedestres aos domingos), ganhando protagonismo na vida sociocultural paulistana, tornando-se um dos mais alegres e pulsantes espaços públicos da grande metrópole.”

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A Paulista Aberta foi implementada em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT), atraindo resistência de parte do entorno e até do Ministério Público - mas prosseguiu. A abertura para pedestres foi potencializada por outras iniciativas do mesmo período, como a implantação da ciclovia, também em 2015, e a inauguração de novos centros culturais, especialmente a Japan House (2017), Instituto Moreira Salles (em 2017) e o Sesc Avenida Paulista (em 2018), que se destacam pela ampla programação gratuita e a arquitetura em diálogo com o entorno (com térreos abertos para a calçada e mirantes).

“A avenida, que abriga uma série de espaços culturais ao longo do seu eixo, transformou-se em um calçadão nos domingos e feriados. A ocupação do espaço permite e estimula práticas culturais e esportivas diversas ao longo do dia, garantindo múltiplas sociabilidades e assumindo seu caráter metropolitano como espaço público”, aponta a urbanista Sabrina Fontenele, professora na Escola da Cidade e curadora residente da última Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Paulista Aberta. Domingos e feriados, das 10h às 16h, ao longo de toda a Avenida Paulista, no centro expandido.

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IMS Paulista. De terça-feira a domingo, das 10h às 20h, na Av. Paulista, 2.424, no distrito Consolação. Entrada grátis. Mais informações em ims.com.br.

Japan House. De terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, das 9h às 19h, e domingos, das 9h às 18h, na Av. Paulista, 52, no distrito Bela Vista. Entrada gratuita. Mais informações em japanhousesp.com.br.

Sesc Avenida Paulista. De terça a sexta-feira, das 8h às 21h30, e sábados e domingos, das 10h às 18h30, na Av. Paulista, 119, no distrito Vila Mariana. Entrada grátis.

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Paulista Aberta trouxe pedestres, artistas de rua e ciclistas para as pistas dos carros Foto: Felipe Rau/Estadão

Minhocão e outras galerias a céu aberto

A arte urbana que se projetou pelos muros de São Paulo nos anos 1980 e 1990 ganhou novas dimensões neste século, com os murais gigantes. As intervenções chegam a algumas dezenas de metros de altura, ocupando especialmente as empenas cegas de edifícios, espaços vagos após a Lei Cidade Limpa entrar em vigor, em 2007, na gestão Gilberto Kassab (PSD).

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Com estilos e autorias diversos, os murais se espalham por diferentes partes, de bairros periféricos aos centrais, e, pelas grandes dimensões, são avistados a quadras de distância. A arte de rua cresceu com maior aceitação do público, deixou de ser marginalizada e hoje é até disputada por marcas patrocinadoras.

São Paulo vive 'boom' de murais gigantes, especialmente no entorno do Minhocão Foto: Felipe Rau/Estadão

Esse boom é especialmente evidente nos edifícios do entorno do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, região que virou praticamente um museu a céu aberto. Por lá, as artes também dialogam com a ampliação do horário e de dias para a circulação de pedestres e aumento do uso da via para lazer e práticas esportivas. Um dos mais simbólicos murais é do artista argentino Tec, feito em 2015 e que retrata uma cabeça com o emaranhado viário paulistano.

“Com os grafites imensos, (o Minhocão) virou uma verdadeira galeria de arte urbana a céu aberto e um ponto turístico visitado por pessoas do mundo inteiro. É a cara de São Paulo e um dos lugares mais democráticos da cidade”, descreve a chef e empresária Janaína Torres Rueda, à frente do Bar da Dona Onça.

Já a atriz Isabel Teixeira, sucesso em Pantanal e diretora da peça São Paulo, citou o elevado para além da arte urbana: “O que mais me atrai lá é isso: é essa arquitetura duvidosa ter virado uma arquitetura singular, porque é lindo caminhar ali, é lindo tomar sol ali.”

Minhocão aberto: De segunda a sexta-feira, das 20h às 22h, e sábados e domingos, das 7h às 22h, ao longo de todo o Elevado Presidente João Goulart, na região central.

Na metrópole dos carros, as ciclovias ganham espaço

Tão associada ao trânsito, São Paulo tem se aberto mais às bicicletas. Se as primeiras tentativas de espaços para o ciclismo são de décadas passadas, os maiores exemplos do avanço são deste século, como as ciclovias da Avenidas Faria Lima e Paulista, as ciclofaixas de lazer ativadas nos domingos (em pistas de veículos automotores) e a implantação de vagões para bicicletas no Metrô e na CPTM.

“Ainda que não com a devida atenção, mas a bicicleta vem se consolidando cada vez mais como transporte público. A cidade merece ainda pontes específicas para o cruzamento das marginais”, aponta Mônica Junqueira de Camargo, chefe do Departamento de História e Estética do Projeto e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Para a arquiteta, esse avanço é simbolizado especialmente pela Ciclovia do Rio Pinheiros, inaugurada em 2010, no governo José Serra (PSDB), e que passou por recente trabalho de remodelação (com uma nova passarela) em conjunto com outras iniciativas da gestão João Doria (sem partido) para a despoluição do rio. “É um marco do século 21″, descreve.

Ciclovia do Rio Pinheiros: diariamente, acessos na Estação Vila Olímpia e nas passarelas do Parque do Povo e da Cidade Universitária, das 5h30 às 18h30; acessos pela Avenida Miguel Yunes, pelas Estações Jurubatuba e Santo Amaro e pela Ponte João Dias, das 5h30 às 23h.

O projeto de Niemeyer que trouxe nova cor e forma ao Ibirapuera

O Auditório do Ibirapuera é daquelas obras recentes consolidadas na paisagem paulistana. Por vezes, é retratado em peças de suvenir da cidade e já até estampou cartões do Bilhete Único. Projetado nos anos 1950 por Oscar Niemeyer, foi inaugurado apenas em dezembro de 2004.

É caracterizado por permitir eventos culturais fechados (na área interna) e abertos (no palco externo), criando um diálogo com o restante do parque e edificações, projetadas também por Niemeyer, e atraindo o público diverso do Parque do Ibirapuera. Visualmente, chama a atenção pelo formato que lembra um triângulo ou um trapézio e a marquise ondulada, a “labareda”, cuja coloração vermelha também está presente na parte interna, em um painel da artista Tomie Ohtake. Pelo Iphan, é tombado como patrimônio nacional.

Para a cineasta Anna Muylaert, do premiado Que Horas Ela Volta?, o auditório é um dos jovens marcos paulistanos. “(É um) epicentro de beleza arquitetônica e cultural da cidade”, descreve.

Auditório do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, no Parque do Ibirapuera (aberto diariamente das 5h à 0h), no distrito Moema. Mais informações em urbiaparques.com.br/parques/ibirapuera.

As periferias que contam sua própria história

Ao se falar de cartões-postais, são raras citações fora dos centros e bairros nobres. Mas e a periferia ? Procurado para este especial, o cantor e compositor Criolo fez o que chamou de uma “sensível e doce provocação” ao indicar a estátua de Carolina Maria de Jesus, inaugurada em 2022.

De autoria de Néia Ferreira Martins, a escultura em bronze está instalada na Praça Júlio César de Campos, em frente à Igreja de Santa Cruz, no centro de Parelheiros, distrito do extremo sul paulistano onde a escritora viveu. A localização foi definida após mobilização popular, que reivindicava um lugar especial.

“Seria incrível um cartão-postal com uma foto linda, de um ângulo lindo, que apresente Parelheiros para o mundo. A grandiosidade não de um CEP, não de um visitado por conta das tecnologias e avanços de urbanismo e arquitetura, mas pela genialidade e a beleza da vida dessa mulher, que dedicou sua vida a essa literatura legitimamente, inconfundivelmente, original”, diz Criolo.

“É um jeito também de escancarar as bordas da cidade, que precisam desse olhar, que precisam dessa atenção. São Paulo é essa metrópole linda, com esses arranha-céus lindos e com essa economia forte, pulsante, mas é esse povo que, com esse trabalho de formiguinha, que faz tudo isso acontecer”, destaca o músico.

O monumento é um dos mais conhecidos entre os implementados pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para homenagear personalidades negras importantes da história de São Paulo. Os demais são estátuas dos músicos Geraldo Filme e Itamar Assumpção, do atleta Adhemar Ferreira da Silva e de Madrinha Eunice, matriarca do samba paulistano.

Estátua da Carolina Maria de Jesus: Praça Júlio César de Campos, no distrito Parelheiros.

O voto do leitor: a Ponte Estaiada

Nas vésperas do aniversário de São Paulo, o Estadão pediu aos leitores que enviassem pelo Instagram indicações de novos marcos da cidade. Sete espaços foram citados, desde os Parques Augusta e Chácara do Jockey até a novíssima roda-gigante do Parque Cândido Portinari.

O cartão-postal mais citado foi a Ponte Estaiada (oficialmente Ponte Octavio Frias de Oliveira), localizada junto ao Rio Pinheiros e inaugurada em 2008, na gestão Gilberto Kassab (PSD), em meio a protestos. De dimensões monumentais, com 144 estais, 138 metros de altura e cerca 500 toneladas, a ponte divide até hoje opiniões e é presença comum em representações gráficas da cidade.

Leitores do Estadão escolheram Ponte Estaiada como cartão-postal que simboliza a São Paulo do século 21 Foto: Felipe Rau/Estadão


Quando você pensa em São Paulo, quais imagens vêm à mente? O Masp, a Catedral da Sé, o Parque do Ibirapuera, as marginais engarrafadas, talvez alguma referência mais pessoal e antiga? As mudanças recentes às vezes são mais difíceis de notar em uma cidade em tão constante transformação

No aniversário dos 469 anos de fundação de São Paulo, o Estadão traz a reflexão: quais são os novos cartões-postais da cidade? Aqueles que simbolizam uma metrópole do século 21? A questão foi feita a nomes das artes, arquitetura, cultura e entretenimento ligados à capital, que indicaram até três marcos criados a partir de 2000, cujas cinco respostas mais significativas estão reunidas aqui.

A lista aponta para uma São Paulo menos “monumental”, mais na escala humana. Em parte, são intervenções que mudaram a relação dos que aqui vivem e visitam com a paisagem e o ambiente público, sem a necessidade de obras gigantescas que transformassem esses espaços.

Distintos entre si, esses cartões-postais são referências visuais e afetivas para a população, ainda em processo de reconhecimento. Espelhos simbólicos de São Paulo: com seus problemas e, ao mesmo tempo, um sopro de renovação.

Paulista Aberta, o cartão-postal repaginado para receber as pessoas

A Avenida Paulista foi o mais citado novo símbolo da cidade. Não a via dos casarões da alta sociedade ou o centro financeiro do País de décadas atrás, mas a Paulista Aberta, dos domingos e feriados. A que simboliza a São Paulo do agora, que troca o tráfego de veículos pelo fluxo de milhares pedestres de diferentes idades, perfis e lugares em meio a apresentações artísticas e o vaivém de ciclistas.

“É uma iniciativa pública exitosa, baseada fundamentalmente em uma nova forma de ver a cidade, apostando em sua flexibilidade”, diz o urbanista Abílio Guerra, professor da Mackenzie e editor da Romano Guerra Editora. “A Paulista Aberta é o exemplo mais notável da iniciativa (do programa Ruas Abertas, que libera vias para os pedestres aos domingos), ganhando protagonismo na vida sociocultural paulistana, tornando-se um dos mais alegres e pulsantes espaços públicos da grande metrópole.”

A Paulista Aberta foi implementada em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT), atraindo resistência de parte do entorno e até do Ministério Público - mas prosseguiu. A abertura para pedestres foi potencializada por outras iniciativas do mesmo período, como a implantação da ciclovia, também em 2015, e a inauguração de novos centros culturais, especialmente a Japan House (2017), Instituto Moreira Salles (em 2017) e o Sesc Avenida Paulista (em 2018), que se destacam pela ampla programação gratuita e a arquitetura em diálogo com o entorno (com térreos abertos para a calçada e mirantes).

“A avenida, que abriga uma série de espaços culturais ao longo do seu eixo, transformou-se em um calçadão nos domingos e feriados. A ocupação do espaço permite e estimula práticas culturais e esportivas diversas ao longo do dia, garantindo múltiplas sociabilidades e assumindo seu caráter metropolitano como espaço público”, aponta a urbanista Sabrina Fontenele, professora na Escola da Cidade e curadora residente da última Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Paulista Aberta. Domingos e feriados, das 10h às 16h, ao longo de toda a Avenida Paulista, no centro expandido.

IMS Paulista. De terça-feira a domingo, das 10h às 20h, na Av. Paulista, 2.424, no distrito Consolação. Entrada grátis. Mais informações em ims.com.br.

Japan House. De terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, das 9h às 19h, e domingos, das 9h às 18h, na Av. Paulista, 52, no distrito Bela Vista. Entrada gratuita. Mais informações em japanhousesp.com.br.

Sesc Avenida Paulista. De terça a sexta-feira, das 8h às 21h30, e sábados e domingos, das 10h às 18h30, na Av. Paulista, 119, no distrito Vila Mariana. Entrada grátis.

Paulista Aberta trouxe pedestres, artistas de rua e ciclistas para as pistas dos carros Foto: Felipe Rau/Estadão

Minhocão e outras galerias a céu aberto

A arte urbana que se projetou pelos muros de São Paulo nos anos 1980 e 1990 ganhou novas dimensões neste século, com os murais gigantes. As intervenções chegam a algumas dezenas de metros de altura, ocupando especialmente as empenas cegas de edifícios, espaços vagos após a Lei Cidade Limpa entrar em vigor, em 2007, na gestão Gilberto Kassab (PSD).

Com estilos e autorias diversos, os murais se espalham por diferentes partes, de bairros periféricos aos centrais, e, pelas grandes dimensões, são avistados a quadras de distância. A arte de rua cresceu com maior aceitação do público, deixou de ser marginalizada e hoje é até disputada por marcas patrocinadoras.

São Paulo vive 'boom' de murais gigantes, especialmente no entorno do Minhocão Foto: Felipe Rau/Estadão

Esse boom é especialmente evidente nos edifícios do entorno do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, região que virou praticamente um museu a céu aberto. Por lá, as artes também dialogam com a ampliação do horário e de dias para a circulação de pedestres e aumento do uso da via para lazer e práticas esportivas. Um dos mais simbólicos murais é do artista argentino Tec, feito em 2015 e que retrata uma cabeça com o emaranhado viário paulistano.

“Com os grafites imensos, (o Minhocão) virou uma verdadeira galeria de arte urbana a céu aberto e um ponto turístico visitado por pessoas do mundo inteiro. É a cara de São Paulo e um dos lugares mais democráticos da cidade”, descreve a chef e empresária Janaína Torres Rueda, à frente do Bar da Dona Onça.

Já a atriz Isabel Teixeira, sucesso em Pantanal e diretora da peça São Paulo, citou o elevado para além da arte urbana: “O que mais me atrai lá é isso: é essa arquitetura duvidosa ter virado uma arquitetura singular, porque é lindo caminhar ali, é lindo tomar sol ali.”

Minhocão aberto: De segunda a sexta-feira, das 20h às 22h, e sábados e domingos, das 7h às 22h, ao longo de todo o Elevado Presidente João Goulart, na região central.

Na metrópole dos carros, as ciclovias ganham espaço

Tão associada ao trânsito, São Paulo tem se aberto mais às bicicletas. Se as primeiras tentativas de espaços para o ciclismo são de décadas passadas, os maiores exemplos do avanço são deste século, como as ciclovias da Avenidas Faria Lima e Paulista, as ciclofaixas de lazer ativadas nos domingos (em pistas de veículos automotores) e a implantação de vagões para bicicletas no Metrô e na CPTM.

“Ainda que não com a devida atenção, mas a bicicleta vem se consolidando cada vez mais como transporte público. A cidade merece ainda pontes específicas para o cruzamento das marginais”, aponta Mônica Junqueira de Camargo, chefe do Departamento de História e Estética do Projeto e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Para a arquiteta, esse avanço é simbolizado especialmente pela Ciclovia do Rio Pinheiros, inaugurada em 2010, no governo José Serra (PSDB), e que passou por recente trabalho de remodelação (com uma nova passarela) em conjunto com outras iniciativas da gestão João Doria (sem partido) para a despoluição do rio. “É um marco do século 21″, descreve.

Ciclovia do Rio Pinheiros: diariamente, acessos na Estação Vila Olímpia e nas passarelas do Parque do Povo e da Cidade Universitária, das 5h30 às 18h30; acessos pela Avenida Miguel Yunes, pelas Estações Jurubatuba e Santo Amaro e pela Ponte João Dias, das 5h30 às 23h.

O projeto de Niemeyer que trouxe nova cor e forma ao Ibirapuera

O Auditório do Ibirapuera é daquelas obras recentes consolidadas na paisagem paulistana. Por vezes, é retratado em peças de suvenir da cidade e já até estampou cartões do Bilhete Único. Projetado nos anos 1950 por Oscar Niemeyer, foi inaugurado apenas em dezembro de 2004.

É caracterizado por permitir eventos culturais fechados (na área interna) e abertos (no palco externo), criando um diálogo com o restante do parque e edificações, projetadas também por Niemeyer, e atraindo o público diverso do Parque do Ibirapuera. Visualmente, chama a atenção pelo formato que lembra um triângulo ou um trapézio e a marquise ondulada, a “labareda”, cuja coloração vermelha também está presente na parte interna, em um painel da artista Tomie Ohtake. Pelo Iphan, é tombado como patrimônio nacional.

Para a cineasta Anna Muylaert, do premiado Que Horas Ela Volta?, o auditório é um dos jovens marcos paulistanos. “(É um) epicentro de beleza arquitetônica e cultural da cidade”, descreve.

Auditório do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, no Parque do Ibirapuera (aberto diariamente das 5h à 0h), no distrito Moema. Mais informações em urbiaparques.com.br/parques/ibirapuera.

As periferias que contam sua própria história

Ao se falar de cartões-postais, são raras citações fora dos centros e bairros nobres. Mas e a periferia ? Procurado para este especial, o cantor e compositor Criolo fez o que chamou de uma “sensível e doce provocação” ao indicar a estátua de Carolina Maria de Jesus, inaugurada em 2022.

De autoria de Néia Ferreira Martins, a escultura em bronze está instalada na Praça Júlio César de Campos, em frente à Igreja de Santa Cruz, no centro de Parelheiros, distrito do extremo sul paulistano onde a escritora viveu. A localização foi definida após mobilização popular, que reivindicava um lugar especial.

“Seria incrível um cartão-postal com uma foto linda, de um ângulo lindo, que apresente Parelheiros para o mundo. A grandiosidade não de um CEP, não de um visitado por conta das tecnologias e avanços de urbanismo e arquitetura, mas pela genialidade e a beleza da vida dessa mulher, que dedicou sua vida a essa literatura legitimamente, inconfundivelmente, original”, diz Criolo.

“É um jeito também de escancarar as bordas da cidade, que precisam desse olhar, que precisam dessa atenção. São Paulo é essa metrópole linda, com esses arranha-céus lindos e com essa economia forte, pulsante, mas é esse povo que, com esse trabalho de formiguinha, que faz tudo isso acontecer”, destaca o músico.

O monumento é um dos mais conhecidos entre os implementados pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para homenagear personalidades negras importantes da história de São Paulo. Os demais são estátuas dos músicos Geraldo Filme e Itamar Assumpção, do atleta Adhemar Ferreira da Silva e de Madrinha Eunice, matriarca do samba paulistano.

Estátua da Carolina Maria de Jesus: Praça Júlio César de Campos, no distrito Parelheiros.

O voto do leitor: a Ponte Estaiada

Nas vésperas do aniversário de São Paulo, o Estadão pediu aos leitores que enviassem pelo Instagram indicações de novos marcos da cidade. Sete espaços foram citados, desde os Parques Augusta e Chácara do Jockey até a novíssima roda-gigante do Parque Cândido Portinari.

O cartão-postal mais citado foi a Ponte Estaiada (oficialmente Ponte Octavio Frias de Oliveira), localizada junto ao Rio Pinheiros e inaugurada em 2008, na gestão Gilberto Kassab (PSD), em meio a protestos. De dimensões monumentais, com 144 estais, 138 metros de altura e cerca 500 toneladas, a ponte divide até hoje opiniões e é presença comum em representações gráficas da cidade.

Leitores do Estadão escolheram Ponte Estaiada como cartão-postal que simboliza a São Paulo do século 21 Foto: Felipe Rau/Estadão


Quando você pensa em São Paulo, quais imagens vêm à mente? O Masp, a Catedral da Sé, o Parque do Ibirapuera, as marginais engarrafadas, talvez alguma referência mais pessoal e antiga? As mudanças recentes às vezes são mais difíceis de notar em uma cidade em tão constante transformação

No aniversário dos 469 anos de fundação de São Paulo, o Estadão traz a reflexão: quais são os novos cartões-postais da cidade? Aqueles que simbolizam uma metrópole do século 21? A questão foi feita a nomes das artes, arquitetura, cultura e entretenimento ligados à capital, que indicaram até três marcos criados a partir de 2000, cujas cinco respostas mais significativas estão reunidas aqui.

A lista aponta para uma São Paulo menos “monumental”, mais na escala humana. Em parte, são intervenções que mudaram a relação dos que aqui vivem e visitam com a paisagem e o ambiente público, sem a necessidade de obras gigantescas que transformassem esses espaços.

Distintos entre si, esses cartões-postais são referências visuais e afetivas para a população, ainda em processo de reconhecimento. Espelhos simbólicos de São Paulo: com seus problemas e, ao mesmo tempo, um sopro de renovação.

Paulista Aberta, o cartão-postal repaginado para receber as pessoas

A Avenida Paulista foi o mais citado novo símbolo da cidade. Não a via dos casarões da alta sociedade ou o centro financeiro do País de décadas atrás, mas a Paulista Aberta, dos domingos e feriados. A que simboliza a São Paulo do agora, que troca o tráfego de veículos pelo fluxo de milhares pedestres de diferentes idades, perfis e lugares em meio a apresentações artísticas e o vaivém de ciclistas.

“É uma iniciativa pública exitosa, baseada fundamentalmente em uma nova forma de ver a cidade, apostando em sua flexibilidade”, diz o urbanista Abílio Guerra, professor da Mackenzie e editor da Romano Guerra Editora. “A Paulista Aberta é o exemplo mais notável da iniciativa (do programa Ruas Abertas, que libera vias para os pedestres aos domingos), ganhando protagonismo na vida sociocultural paulistana, tornando-se um dos mais alegres e pulsantes espaços públicos da grande metrópole.”

A Paulista Aberta foi implementada em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT), atraindo resistência de parte do entorno e até do Ministério Público - mas prosseguiu. A abertura para pedestres foi potencializada por outras iniciativas do mesmo período, como a implantação da ciclovia, também em 2015, e a inauguração de novos centros culturais, especialmente a Japan House (2017), Instituto Moreira Salles (em 2017) e o Sesc Avenida Paulista (em 2018), que se destacam pela ampla programação gratuita e a arquitetura em diálogo com o entorno (com térreos abertos para a calçada e mirantes).

“A avenida, que abriga uma série de espaços culturais ao longo do seu eixo, transformou-se em um calçadão nos domingos e feriados. A ocupação do espaço permite e estimula práticas culturais e esportivas diversas ao longo do dia, garantindo múltiplas sociabilidades e assumindo seu caráter metropolitano como espaço público”, aponta a urbanista Sabrina Fontenele, professora na Escola da Cidade e curadora residente da última Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Paulista Aberta. Domingos e feriados, das 10h às 16h, ao longo de toda a Avenida Paulista, no centro expandido.

IMS Paulista. De terça-feira a domingo, das 10h às 20h, na Av. Paulista, 2.424, no distrito Consolação. Entrada grátis. Mais informações em ims.com.br.

Japan House. De terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, das 9h às 19h, e domingos, das 9h às 18h, na Av. Paulista, 52, no distrito Bela Vista. Entrada gratuita. Mais informações em japanhousesp.com.br.

Sesc Avenida Paulista. De terça a sexta-feira, das 8h às 21h30, e sábados e domingos, das 10h às 18h30, na Av. Paulista, 119, no distrito Vila Mariana. Entrada grátis.

Paulista Aberta trouxe pedestres, artistas de rua e ciclistas para as pistas dos carros Foto: Felipe Rau/Estadão

Minhocão e outras galerias a céu aberto

A arte urbana que se projetou pelos muros de São Paulo nos anos 1980 e 1990 ganhou novas dimensões neste século, com os murais gigantes. As intervenções chegam a algumas dezenas de metros de altura, ocupando especialmente as empenas cegas de edifícios, espaços vagos após a Lei Cidade Limpa entrar em vigor, em 2007, na gestão Gilberto Kassab (PSD).

Com estilos e autorias diversos, os murais se espalham por diferentes partes, de bairros periféricos aos centrais, e, pelas grandes dimensões, são avistados a quadras de distância. A arte de rua cresceu com maior aceitação do público, deixou de ser marginalizada e hoje é até disputada por marcas patrocinadoras.

São Paulo vive 'boom' de murais gigantes, especialmente no entorno do Minhocão Foto: Felipe Rau/Estadão

Esse boom é especialmente evidente nos edifícios do entorno do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, região que virou praticamente um museu a céu aberto. Por lá, as artes também dialogam com a ampliação do horário e de dias para a circulação de pedestres e aumento do uso da via para lazer e práticas esportivas. Um dos mais simbólicos murais é do artista argentino Tec, feito em 2015 e que retrata uma cabeça com o emaranhado viário paulistano.

“Com os grafites imensos, (o Minhocão) virou uma verdadeira galeria de arte urbana a céu aberto e um ponto turístico visitado por pessoas do mundo inteiro. É a cara de São Paulo e um dos lugares mais democráticos da cidade”, descreve a chef e empresária Janaína Torres Rueda, à frente do Bar da Dona Onça.

Já a atriz Isabel Teixeira, sucesso em Pantanal e diretora da peça São Paulo, citou o elevado para além da arte urbana: “O que mais me atrai lá é isso: é essa arquitetura duvidosa ter virado uma arquitetura singular, porque é lindo caminhar ali, é lindo tomar sol ali.”

Minhocão aberto: De segunda a sexta-feira, das 20h às 22h, e sábados e domingos, das 7h às 22h, ao longo de todo o Elevado Presidente João Goulart, na região central.

Na metrópole dos carros, as ciclovias ganham espaço

Tão associada ao trânsito, São Paulo tem se aberto mais às bicicletas. Se as primeiras tentativas de espaços para o ciclismo são de décadas passadas, os maiores exemplos do avanço são deste século, como as ciclovias da Avenidas Faria Lima e Paulista, as ciclofaixas de lazer ativadas nos domingos (em pistas de veículos automotores) e a implantação de vagões para bicicletas no Metrô e na CPTM.

“Ainda que não com a devida atenção, mas a bicicleta vem se consolidando cada vez mais como transporte público. A cidade merece ainda pontes específicas para o cruzamento das marginais”, aponta Mônica Junqueira de Camargo, chefe do Departamento de História e Estética do Projeto e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Para a arquiteta, esse avanço é simbolizado especialmente pela Ciclovia do Rio Pinheiros, inaugurada em 2010, no governo José Serra (PSDB), e que passou por recente trabalho de remodelação (com uma nova passarela) em conjunto com outras iniciativas da gestão João Doria (sem partido) para a despoluição do rio. “É um marco do século 21″, descreve.

Ciclovia do Rio Pinheiros: diariamente, acessos na Estação Vila Olímpia e nas passarelas do Parque do Povo e da Cidade Universitária, das 5h30 às 18h30; acessos pela Avenida Miguel Yunes, pelas Estações Jurubatuba e Santo Amaro e pela Ponte João Dias, das 5h30 às 23h.

O projeto de Niemeyer que trouxe nova cor e forma ao Ibirapuera

O Auditório do Ibirapuera é daquelas obras recentes consolidadas na paisagem paulistana. Por vezes, é retratado em peças de suvenir da cidade e já até estampou cartões do Bilhete Único. Projetado nos anos 1950 por Oscar Niemeyer, foi inaugurado apenas em dezembro de 2004.

É caracterizado por permitir eventos culturais fechados (na área interna) e abertos (no palco externo), criando um diálogo com o restante do parque e edificações, projetadas também por Niemeyer, e atraindo o público diverso do Parque do Ibirapuera. Visualmente, chama a atenção pelo formato que lembra um triângulo ou um trapézio e a marquise ondulada, a “labareda”, cuja coloração vermelha também está presente na parte interna, em um painel da artista Tomie Ohtake. Pelo Iphan, é tombado como patrimônio nacional.

Para a cineasta Anna Muylaert, do premiado Que Horas Ela Volta?, o auditório é um dos jovens marcos paulistanos. “(É um) epicentro de beleza arquitetônica e cultural da cidade”, descreve.

Auditório do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, no Parque do Ibirapuera (aberto diariamente das 5h à 0h), no distrito Moema. Mais informações em urbiaparques.com.br/parques/ibirapuera.

As periferias que contam sua própria história

Ao se falar de cartões-postais, são raras citações fora dos centros e bairros nobres. Mas e a periferia ? Procurado para este especial, o cantor e compositor Criolo fez o que chamou de uma “sensível e doce provocação” ao indicar a estátua de Carolina Maria de Jesus, inaugurada em 2022.

De autoria de Néia Ferreira Martins, a escultura em bronze está instalada na Praça Júlio César de Campos, em frente à Igreja de Santa Cruz, no centro de Parelheiros, distrito do extremo sul paulistano onde a escritora viveu. A localização foi definida após mobilização popular, que reivindicava um lugar especial.

“Seria incrível um cartão-postal com uma foto linda, de um ângulo lindo, que apresente Parelheiros para o mundo. A grandiosidade não de um CEP, não de um visitado por conta das tecnologias e avanços de urbanismo e arquitetura, mas pela genialidade e a beleza da vida dessa mulher, que dedicou sua vida a essa literatura legitimamente, inconfundivelmente, original”, diz Criolo.

“É um jeito também de escancarar as bordas da cidade, que precisam desse olhar, que precisam dessa atenção. São Paulo é essa metrópole linda, com esses arranha-céus lindos e com essa economia forte, pulsante, mas é esse povo que, com esse trabalho de formiguinha, que faz tudo isso acontecer”, destaca o músico.

O monumento é um dos mais conhecidos entre os implementados pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para homenagear personalidades negras importantes da história de São Paulo. Os demais são estátuas dos músicos Geraldo Filme e Itamar Assumpção, do atleta Adhemar Ferreira da Silva e de Madrinha Eunice, matriarca do samba paulistano.

Estátua da Carolina Maria de Jesus: Praça Júlio César de Campos, no distrito Parelheiros.

O voto do leitor: a Ponte Estaiada

Nas vésperas do aniversário de São Paulo, o Estadão pediu aos leitores que enviassem pelo Instagram indicações de novos marcos da cidade. Sete espaços foram citados, desde os Parques Augusta e Chácara do Jockey até a novíssima roda-gigante do Parque Cândido Portinari.

O cartão-postal mais citado foi a Ponte Estaiada (oficialmente Ponte Octavio Frias de Oliveira), localizada junto ao Rio Pinheiros e inaugurada em 2008, na gestão Gilberto Kassab (PSD), em meio a protestos. De dimensões monumentais, com 144 estais, 138 metros de altura e cerca 500 toneladas, a ponte divide até hoje opiniões e é presença comum em representações gráficas da cidade.

Leitores do Estadão escolheram Ponte Estaiada como cartão-postal que simboliza a São Paulo do século 21 Foto: Felipe Rau/Estadão


Quando você pensa em São Paulo, quais imagens vêm à mente? O Masp, a Catedral da Sé, o Parque do Ibirapuera, as marginais engarrafadas, talvez alguma referência mais pessoal e antiga? As mudanças recentes às vezes são mais difíceis de notar em uma cidade em tão constante transformação

No aniversário dos 469 anos de fundação de São Paulo, o Estadão traz a reflexão: quais são os novos cartões-postais da cidade? Aqueles que simbolizam uma metrópole do século 21? A questão foi feita a nomes das artes, arquitetura, cultura e entretenimento ligados à capital, que indicaram até três marcos criados a partir de 2000, cujas cinco respostas mais significativas estão reunidas aqui.

A lista aponta para uma São Paulo menos “monumental”, mais na escala humana. Em parte, são intervenções que mudaram a relação dos que aqui vivem e visitam com a paisagem e o ambiente público, sem a necessidade de obras gigantescas que transformassem esses espaços.

Distintos entre si, esses cartões-postais são referências visuais e afetivas para a população, ainda em processo de reconhecimento. Espelhos simbólicos de São Paulo: com seus problemas e, ao mesmo tempo, um sopro de renovação.

Paulista Aberta, o cartão-postal repaginado para receber as pessoas

A Avenida Paulista foi o mais citado novo símbolo da cidade. Não a via dos casarões da alta sociedade ou o centro financeiro do País de décadas atrás, mas a Paulista Aberta, dos domingos e feriados. A que simboliza a São Paulo do agora, que troca o tráfego de veículos pelo fluxo de milhares pedestres de diferentes idades, perfis e lugares em meio a apresentações artísticas e o vaivém de ciclistas.

“É uma iniciativa pública exitosa, baseada fundamentalmente em uma nova forma de ver a cidade, apostando em sua flexibilidade”, diz o urbanista Abílio Guerra, professor da Mackenzie e editor da Romano Guerra Editora. “A Paulista Aberta é o exemplo mais notável da iniciativa (do programa Ruas Abertas, que libera vias para os pedestres aos domingos), ganhando protagonismo na vida sociocultural paulistana, tornando-se um dos mais alegres e pulsantes espaços públicos da grande metrópole.”

A Paulista Aberta foi implementada em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT), atraindo resistência de parte do entorno e até do Ministério Público - mas prosseguiu. A abertura para pedestres foi potencializada por outras iniciativas do mesmo período, como a implantação da ciclovia, também em 2015, e a inauguração de novos centros culturais, especialmente a Japan House (2017), Instituto Moreira Salles (em 2017) e o Sesc Avenida Paulista (em 2018), que se destacam pela ampla programação gratuita e a arquitetura em diálogo com o entorno (com térreos abertos para a calçada e mirantes).

“A avenida, que abriga uma série de espaços culturais ao longo do seu eixo, transformou-se em um calçadão nos domingos e feriados. A ocupação do espaço permite e estimula práticas culturais e esportivas diversas ao longo do dia, garantindo múltiplas sociabilidades e assumindo seu caráter metropolitano como espaço público”, aponta a urbanista Sabrina Fontenele, professora na Escola da Cidade e curadora residente da última Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Paulista Aberta. Domingos e feriados, das 10h às 16h, ao longo de toda a Avenida Paulista, no centro expandido.

IMS Paulista. De terça-feira a domingo, das 10h às 20h, na Av. Paulista, 2.424, no distrito Consolação. Entrada grátis. Mais informações em ims.com.br.

Japan House. De terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, das 9h às 19h, e domingos, das 9h às 18h, na Av. Paulista, 52, no distrito Bela Vista. Entrada gratuita. Mais informações em japanhousesp.com.br.

Sesc Avenida Paulista. De terça a sexta-feira, das 8h às 21h30, e sábados e domingos, das 10h às 18h30, na Av. Paulista, 119, no distrito Vila Mariana. Entrada grátis.

Paulista Aberta trouxe pedestres, artistas de rua e ciclistas para as pistas dos carros Foto: Felipe Rau/Estadão

Minhocão e outras galerias a céu aberto

A arte urbana que se projetou pelos muros de São Paulo nos anos 1980 e 1990 ganhou novas dimensões neste século, com os murais gigantes. As intervenções chegam a algumas dezenas de metros de altura, ocupando especialmente as empenas cegas de edifícios, espaços vagos após a Lei Cidade Limpa entrar em vigor, em 2007, na gestão Gilberto Kassab (PSD).

Com estilos e autorias diversos, os murais se espalham por diferentes partes, de bairros periféricos aos centrais, e, pelas grandes dimensões, são avistados a quadras de distância. A arte de rua cresceu com maior aceitação do público, deixou de ser marginalizada e hoje é até disputada por marcas patrocinadoras.

São Paulo vive 'boom' de murais gigantes, especialmente no entorno do Minhocão Foto: Felipe Rau/Estadão

Esse boom é especialmente evidente nos edifícios do entorno do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, região que virou praticamente um museu a céu aberto. Por lá, as artes também dialogam com a ampliação do horário e de dias para a circulação de pedestres e aumento do uso da via para lazer e práticas esportivas. Um dos mais simbólicos murais é do artista argentino Tec, feito em 2015 e que retrata uma cabeça com o emaranhado viário paulistano.

“Com os grafites imensos, (o Minhocão) virou uma verdadeira galeria de arte urbana a céu aberto e um ponto turístico visitado por pessoas do mundo inteiro. É a cara de São Paulo e um dos lugares mais democráticos da cidade”, descreve a chef e empresária Janaína Torres Rueda, à frente do Bar da Dona Onça.

Já a atriz Isabel Teixeira, sucesso em Pantanal e diretora da peça São Paulo, citou o elevado para além da arte urbana: “O que mais me atrai lá é isso: é essa arquitetura duvidosa ter virado uma arquitetura singular, porque é lindo caminhar ali, é lindo tomar sol ali.”

Minhocão aberto: De segunda a sexta-feira, das 20h às 22h, e sábados e domingos, das 7h às 22h, ao longo de todo o Elevado Presidente João Goulart, na região central.

Na metrópole dos carros, as ciclovias ganham espaço

Tão associada ao trânsito, São Paulo tem se aberto mais às bicicletas. Se as primeiras tentativas de espaços para o ciclismo são de décadas passadas, os maiores exemplos do avanço são deste século, como as ciclovias da Avenidas Faria Lima e Paulista, as ciclofaixas de lazer ativadas nos domingos (em pistas de veículos automotores) e a implantação de vagões para bicicletas no Metrô e na CPTM.

“Ainda que não com a devida atenção, mas a bicicleta vem se consolidando cada vez mais como transporte público. A cidade merece ainda pontes específicas para o cruzamento das marginais”, aponta Mônica Junqueira de Camargo, chefe do Departamento de História e Estética do Projeto e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

Para a arquiteta, esse avanço é simbolizado especialmente pela Ciclovia do Rio Pinheiros, inaugurada em 2010, no governo José Serra (PSDB), e que passou por recente trabalho de remodelação (com uma nova passarela) em conjunto com outras iniciativas da gestão João Doria (sem partido) para a despoluição do rio. “É um marco do século 21″, descreve.

Ciclovia do Rio Pinheiros: diariamente, acessos na Estação Vila Olímpia e nas passarelas do Parque do Povo e da Cidade Universitária, das 5h30 às 18h30; acessos pela Avenida Miguel Yunes, pelas Estações Jurubatuba e Santo Amaro e pela Ponte João Dias, das 5h30 às 23h.

O projeto de Niemeyer que trouxe nova cor e forma ao Ibirapuera

O Auditório do Ibirapuera é daquelas obras recentes consolidadas na paisagem paulistana. Por vezes, é retratado em peças de suvenir da cidade e já até estampou cartões do Bilhete Único. Projetado nos anos 1950 por Oscar Niemeyer, foi inaugurado apenas em dezembro de 2004.

É caracterizado por permitir eventos culturais fechados (na área interna) e abertos (no palco externo), criando um diálogo com o restante do parque e edificações, projetadas também por Niemeyer, e atraindo o público diverso do Parque do Ibirapuera. Visualmente, chama a atenção pelo formato que lembra um triângulo ou um trapézio e a marquise ondulada, a “labareda”, cuja coloração vermelha também está presente na parte interna, em um painel da artista Tomie Ohtake. Pelo Iphan, é tombado como patrimônio nacional.

Para a cineasta Anna Muylaert, do premiado Que Horas Ela Volta?, o auditório é um dos jovens marcos paulistanos. “(É um) epicentro de beleza arquitetônica e cultural da cidade”, descreve.

Auditório do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, no Parque do Ibirapuera (aberto diariamente das 5h à 0h), no distrito Moema. Mais informações em urbiaparques.com.br/parques/ibirapuera.

As periferias que contam sua própria história

Ao se falar de cartões-postais, são raras citações fora dos centros e bairros nobres. Mas e a periferia ? Procurado para este especial, o cantor e compositor Criolo fez o que chamou de uma “sensível e doce provocação” ao indicar a estátua de Carolina Maria de Jesus, inaugurada em 2022.

De autoria de Néia Ferreira Martins, a escultura em bronze está instalada na Praça Júlio César de Campos, em frente à Igreja de Santa Cruz, no centro de Parelheiros, distrito do extremo sul paulistano onde a escritora viveu. A localização foi definida após mobilização popular, que reivindicava um lugar especial.

“Seria incrível um cartão-postal com uma foto linda, de um ângulo lindo, que apresente Parelheiros para o mundo. A grandiosidade não de um CEP, não de um visitado por conta das tecnologias e avanços de urbanismo e arquitetura, mas pela genialidade e a beleza da vida dessa mulher, que dedicou sua vida a essa literatura legitimamente, inconfundivelmente, original”, diz Criolo.

“É um jeito também de escancarar as bordas da cidade, que precisam desse olhar, que precisam dessa atenção. São Paulo é essa metrópole linda, com esses arranha-céus lindos e com essa economia forte, pulsante, mas é esse povo que, com esse trabalho de formiguinha, que faz tudo isso acontecer”, destaca o músico.

O monumento é um dos mais conhecidos entre os implementados pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para homenagear personalidades negras importantes da história de São Paulo. Os demais são estátuas dos músicos Geraldo Filme e Itamar Assumpção, do atleta Adhemar Ferreira da Silva e de Madrinha Eunice, matriarca do samba paulistano.

Estátua da Carolina Maria de Jesus: Praça Júlio César de Campos, no distrito Parelheiros.

O voto do leitor: a Ponte Estaiada

Nas vésperas do aniversário de São Paulo, o Estadão pediu aos leitores que enviassem pelo Instagram indicações de novos marcos da cidade. Sete espaços foram citados, desde os Parques Augusta e Chácara do Jockey até a novíssima roda-gigante do Parque Cândido Portinari.

O cartão-postal mais citado foi a Ponte Estaiada (oficialmente Ponte Octavio Frias de Oliveira), localizada junto ao Rio Pinheiros e inaugurada em 2008, na gestão Gilberto Kassab (PSD), em meio a protestos. De dimensões monumentais, com 144 estais, 138 metros de altura e cerca 500 toneladas, a ponte divide até hoje opiniões e é presença comum em representações gráficas da cidade.

Leitores do Estadão escolheram Ponte Estaiada como cartão-postal que simboliza a São Paulo do século 21 Foto: Felipe Rau/Estadão


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