JARINU – Um fenômeno com a força de um tornado atingiu a cidade de Jarinu, às 22 horas deste domingo, 5, derrubando casas e galpões, virando carros e caminhões, arrancando árvores com a raiz e deixando um cenário de guerra. Conforme levantamento preliminar da prefeitura e da Defesa Civil, uma pessoa morreu e cerca de 50 ficaram feridas, quatro em estado grave. A forte rajada de vento destruiu 50 estabelecimentos comerciais, 15 casas e vários prédios públicos, inclusive o da prefeitura.
No início da tarde, quase toda a cidade, de 30 mil habitantes, estava sem água e sem energia elétrica. As aulas foram suspensas nas escolas e quatro das cinco unidades de saúde estavam sem funcionar. Os muros dos dois cemitérios desabaram, assim como a estrutura do estádio e do ginásio de esportes. O prefeito Vicente Cândido Teixeira Filho (PTB) decretou estado de calamidade pública e pediu ajuda ao governo estadual. Ele estima em três meses o prazo para recuperar a cidade.
Temporal causa morte, derruba igreja e deixa feridos em Jarinu
O motorista Adejaime Antunes de Moraes, de 48 anos, dormia na cabine de sua carreta quando o veículo começou a sacudir. “Foi rápido, coisa de 20 segundos, os vidros laterais estilhaçaram e o parabrisa dianteiro foi sugado pelo vendaval. Não tive tempo de mexer e já estava de cabeça para baixo, com a carreta tombada.”
A alguns metros, a caminhão carregado de sapatos de Itamar Escarante, 55, também tombou. Naquele momento, o telhado do hotel Danup Express, onde ele se hospedara, estava sendo arrancado. “Corri para o caminhão, mas já estava deitado, me agarrei na roda para não ser levado pelo vento.”
Na porta do hotel, à espera do filho, o agricultor Francisco de Assis Estevan não acreditou quando viu o veículo sendo deslocado pelo vento e se chocando violentamente com outro carro. Ele viu seu filho, Levy, de 22 anos, ser arrastado. “Eu e meu colega agarramos um poste e ficamos grudados nele até o vento passar”, contou Levy. Ele sofreu ferimentos nos braços e na cabeça, mas não procurou atendimento médico.
A cobertura do posto Zacan, na entrada da cidade, com estrutura metálica reforçada, dobrou como um arco. O gerente Miro Santos, 30 anos, estava no local e conta que primeiro veio um vento gelado. “Aí caíram um pingos de gelo e logo foi aumentando até virar um ronco forte e a estrutura veio abaixo, tudo em 20 ou 30 segundos.” Ele se atirou sob uma escrivaninha quando o forro do escritório veio abaixo.
O comerciante Agnaldo Candaten, de 41 anos, dono da churrascaria Galpão Gaúcho, estava em casa quando as telhas do imóvel começaram a cair. “Foi quando o funcionário ligou e disse, velho, teu restaurante está no chão.” A queda do telhado e parte das paredes destruiu mesas, pratos e equipamentos. “Por sorte, aos domingos não abrimos à noite, por isso ninguém se machucou, mas não sei como vai ser. Isso aqui era nosso ganha-pão."
O telhado e forro do Empório Catroque, um grande supermercado, desabaram sobre gôndolas e geladeiras. “Não dá nem para imaginar o prejuízo”, disse a dona Renata Catroque. O prédio vizinho, onde funcionava uma drogaria, um manicure e uma loja de roupas, ficou completamente destruído. Na avenida Angelo Bernucci, onde funciona o comércio, não ficou um estabelecimento intacto.
A mulher que morreu, Cleonice de Souza, 48 anos, estava com colegas num ponto de ônibus quando houve uma sequência de raios. “Ela foi jogada a uns cinco metros, ficou com o corpo embaixo dos escombros”, conta João Ponce Siqueira, de 63 anos, que tentou socorrer a vítima. De acordo com a Defesa Civil, ela pode ter sido atingida por um raio. Siqueira é vigia da Viação Ataliba, onde seis ônibus ficaram destruídos. “Só não fui embora com o vento porque entrei embaixo do ônibus.”
O prefeito disse que o fenômeno foi um tornado, com ventos de mais de 120 km/h. “Foram apenas 42 segundos e houve todo esse estrago. Ainda não dá para dimensionar tudo, a cidade toda foi atingida. Vamos levar três meses para por em ordem outra vez, peço a ajuda da população.” Segundo ele, pessoas doentes estão sendo levadas para outras cidades. Muitas ruas continuavam interditadas por árvores e fiação elétrica. Equipes da concessionária Elektro trabalhavam para recuperar a rede de eletricidade.
O coronel PM José Roberto, coordenador estadual da Defesa Civil, que os meteorologistas do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, ainda analisam o fenômeno acontecido em Jarinu. "Só posso afirmar que foi um fenômeno muito severo, com ventos de forte intensidade." Em Atibaia, cidade vizinha, o temporal também causou estragos, como o destelhamento de 50 casas, quedas de árvores e destruição de instalações industriais.