Más notícias para os fãs de Angry Birds, Candy Crush Saga, viciados em Facebook e outras formas de entretenimento digital. Passar muito tempo olhando para a tela de seu smartphone ou tablet durante a noite pode prejudicar o sono e, consequentemente, a sua saúde. O alerta é do especialista Charles Czeisler, da Faculdade de Medicina de Harvard, em um artigo publicado na edição de hoje da revista inglesa Nature.O tipo de luz emitida por esses dispositivos, segundo Czeisler, é especialmente prejudicial à indução natural do sono, associada aos chamados ciclos circadianos. E em um mundo em que as pessoas já dormem tradicionalmente pouco - e mal -, isso pode ser um problema sério para a saúde. Várias pesquisas publicadas nos últimos anos revelam uma forte ligação entre privação de sono e a ocorrência de doenças como obesidade, diabete, problemas cardiovasculares, enfraquecimento do sistema imunológico e até câncer."O sono é essencial para a nossa saúde física e mental. Por isso, é vital que aprendamos mais sobre o impacto do consumo de luz e outras formas pelas quais nosso 'modo de vida 24 horas' afeta o sono, os ritmos circadianos e a saúde", afirma Czeisler.O "relógio biológico" do organismo é naturalmente controlado pela exposição à luz. Quando a única fonte de luz era o Sol, esse controle era simples: ou era dia ou era noite. Desde que a luz elétrica foi inventada, porém, criou-se uma área cinzenta - ou de penumbra - cada vez maior entre esses dois períodos, que desregula toda a fisiologia do organismo associada aos estados de alerta e sono."A exposição à luminosidade no período da noite interfere na liberação de melatonina, que é o hormônio que faz a gente ter vontade de dormir", diz a neurologista Anna Karla Smith, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ela, há sensores na retina dos olhos que, quando expostos à luz, bloqueiam a liberação do hormônio."O resultado é que muita gente continua checando e-mails, fazendo lição de casa ou vendo TV até tarde sem nem se dar conta de que já está no meio da noite", diz Czeisler na Nature.O fator complicador dos tablets, smartphones, laptops e outros gadgets luminosos, segundo ele, é que a luz do tipo LED usada para iluminar suas telas é rica em radiação azul (de menor comprimento de onda), que interfere muito mais nos ciclos circadianos do que a radiação vermelha ou laranja (de maior comprimento de onda), que prevalece nas lâmpadas incandescentes e na luz natural do entardecer - que inicia a liberação de melatonina.O período mínimo de sono recomendado pelos médicos é de sete a nove horas por dia. Nos Estados Unidos, porém, cerca de 30% das pessoas empregadas dormem menos do que seis horas, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, citados pela Nature.Na cidade de São Paulo, a população dorme em média seis horas e meia por dia, segundo pesquisa realizada em 2007 pelo Instituto do Sono da Unifesp (a mais recente disponível). Quase 80% dos paulistanos sofrem de algum distúrbio do sono e mais de 45% têm dificuldade para dormir.Diferença. Para a publicitária Nicole Bichueti, de 31 anos, a impressão é de que o tablet causa mais insônia do que o smartphones. "Em casa, uso para ler textos extensos, mas evito fazer isso antes de dormir, pois me tira o sono", afirma. "Já com o celular, no qual acesso as redes sociais, costumo ficar até antes de dormir e sinto pouca diferença."Ela afirma, porém, que quando precisa de boas horas de sono deixa o celular de lado. "Se estou cansada e preciso realmente dormir, nem olho o telefone para não cair em tentação." / COLABOROU BRUNO DEIRO