O assassinato do soldado militar Patrick Bastos Reis, de 30 anos, na quinta-feira passada, 27, no Guarujá, no litoral do Estado de São Paulo, desencadeou uma grande operação policial nos últimos dias para encontrar os suspeitos envolvidos no crime. Participam da ação 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar do litoral de São Paulo.
Reis e o cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya, da Rota, um dos batalhões de elite do Estado, foram baleados durante patrulhamento. Reis foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Alfaya foi atendido e permaneceu em observação na sexta-feira, 28.
Segundo informações divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) na quarta-feira, 2, subiu para 16 o número de mortos durante a Operação Escudo. Até segunda-feira, 31, eram dez óbitos. Ouvidoria e Ministério Público apuram os casos.
Mais conhecida pelas praias que atraem paulistanos nos fins de semana, a região tem visto recentemente o avanço do crime organizado.
A operação da Polícia Militar no Guarujá contra o crime organizado e o tráfico de drogas ao longo continuará por pelo menos 30 dias.
Em qual região do Guarujá os policiais foram baleados?
Os dois policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar, foram baleados quando faziam patrulhamento, na noite de quinta-feira passada, no Guarujá, no litoral do Estado de São Paulo.
De acordo com a PM, os policiais estavam próximos do túnel da Vila Zilda, por volta das 22 horas, quando foram alvos de tiros. O local é conhecido como ponto de tráfico de entorpecentes.
Os policiais faziam parte de um reforço enviado para o litoral para combater a criminalidade na região, com foco no tráfico de drogas e roubos de cargas. Guarujá viveu uma onda de violência, com roubos, arrastões e assassinatos, nos primeiros meses deste ano.
Quem são os policiais baleados no Guarujá?
O soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, foi atingido na região do tórax, mas não resistiu aos ferimentos e morreu quando recebia atendimento.
O cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya foi baleado na mão esquerda. Ele foi internado e permaneceu em observação na sexta-feira passada.
O soldado morto morava em São Paulo e praticava jiu-jitsu. O PM era o atual campeão do circuito paulista na modalidade faixa azul, categoria master médio.
A academia onde ele treinava o esporte fez uma publicação lamentando a morte do “nosso aluno e grande amigo”. Em sua página no Facebook, a Rota homenageou o policial.
O que disseram as autoridades no dia da morte do soldado?
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) lamentou a morte do policial e disse que a ocorrência foi encaminhada para a Polícia Civil.
Também em nota, a Polícia Militar do Estado de São Paulo manifestou “luto” pelo falecimento do soldado Reis, pertencente ao 1.º Batalhão da Polícia de Choque - Rota, durante “sua nobre missão de proteger a sociedade”.
A nota informou ainda que ele ingressou na PM em dezembro de 2017 e exerceu suas funções “com grande dedicação e zelo com o que lhe era confiado, sendo um profissional dedicado, amigo e exemplar”.
Os responsáveis pelo crime foram presos?
Ainda na tarde de sexta-feira, a Polícia Militar disse que prendeu dois suspeitos. Um terceiro suspeito foi morto em confronto com a Rota. Os policiais alegaram que houve resistência armada e o suspeito recebeu vários tiros. Outras pessoas com possível envolvimento no ataque foram identificadas e começaram a ser procuradas pela polícia. Posteriormente, outras pessoas foram presas, incluindo o suspeito de ser responsável pelo disparo que matou o soldado Reis e seu irmão, acusado de envolvimento no crime.
Foi iniciada operação policial para encontrar outros suspeitos?
A Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar, mobiliza um grande contingente de policiais. Acessos a bairros foram bloqueados. Participam da ação 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar do litoral de São Paulo.
Quantas mortes foram registradas durante a operação policial, inicialmente? A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo vai investigar a ação policial?
Ainda no domingo, enquanto o governo de São Paulo falava em três mortos, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo afirmava que dez pessoas tinham sido mortas durante a operação policial no Guarujá. O número aumentou nos dias seguintes.
Prisão do suspeito de atirar e matar o policial militar Reis
O suspeito foi preso no domingo, 30. Ele se entregou ao lado do Terminal Santo Amaro, na zona sul da capital paulista. Ele foi levado para Corregedoria da PM e, de lá, para a delegacia responsável pelo caso, no litoral. A prisão dele foi anunciada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas redes sociais.
“Atenção. O autor do disparo que matou o soldado Reis, no Guarujá, acaba de ser capturado na Zona Sul de São Paulo. Três envolvidos já estão presos, após trabalho de inteligência encabeçado pela @PMESP. A justiça será feita. Nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune”, escreveu o governador.
A Operação Escudo “tem atingido os objetivos e vai permanecer”, de acordo com os policiais.
O que disse o governador de São Paulo sobre as mortes registradas pela Ouvidoria da polícia?
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse na segunda-feira que a operação da Polícia Militar no Guarujá ao longo do fim de semana havia deixado oito pessoas mortas. A ação foi desencadeada após a morte do policial militar Reis. Os registros de mortos, no entanto, aumentaram nos dias seguintes.
Moradores relatam medo de andar na rua: ‘Pode ter confronto entre policial e bandido’
O clima é de tensão e medo no Guarujá em meio à operação que a Polícia Militar realiza na cidade do litoral paulista. Moradores relataram ao Estadão tiroteios, temor de sair de casa à noite e comércios vazios.
“Todo mundo está com medo de andar na rua à noite, porque tem muitas viaturas por aí e pode ter confronto entre policial e bandido”, disse Almir Carvalho, morador do bairro Parque Estuário, onde um homem foi assassinado na sexta-feira. “Quem sofre são as pessoas que não têm nada a ver com isso.”
“‘Tá' feia a situação. Fiquei sabendo que mataram uns aí. A gente que mora no morro ouve que nem é para ficar de bobeira na rua de noite. Sou catador e vejo muitas viaturas por todo lado. Tenho medo de acontecer alguma coisa comigo, mas tenho de trabalhar para ganhar um dinheirinho pelo menos para comer”, contou Fabiano Oliveira, morador do morro da Vila Edna.
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Número de mortes aumentou nos dias seguintes?
Subiu para 16 o número de mortos durante a Operação Escudo realizada em Guarujá, no litoral de São Paulo, segundo informações divulgadas na quarta-feira pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). Até a tarde de segunda-feira, 31, eram dez óbitos. Antes destas divulgações, os números estavam divergindo com dados da Ouvidoria da Polícia de São Paulo.
Conforme a SSP, a Operação Escudo para repressão ao tráfico de drogas e ao crime organizado segue em curso na Baixada Santista. Desde então, foram presos 58 suspeitos, segundo balanço oficial do governo do Estado. Conforme a SSP, em cinco dias de Operação Escudo, também foram apreendidos quase 400 kg de drogas e 18 armas, entre pistolas e fuzis.
Tarcísio concedeu entrevista coletiva à imprensa na manhã desta segunda-feira para falar sobre a operação.
Questionado sobre denúncias da população local, o governador disse que “não houve excesso”. “Houve atuação profissional que resultou em prisões e vamos continuar com as operações.”
“Não podemos permitir que a população seja usada, não podemos sucumbir às narrativas. Estamos enfrentando o tráfico de drogas, o crime organizado. A gente tem que ter consciência disso. A gente tem uma polícia extremamente profissional que sabe usar a força na medida que ela tem que ser usada. Não houve hostilidade, excesso, houve atuação profissional que resultou em prisões e vamos continuar com as operações”, disse ainda o governador.
Ministério Público também vai investigar operação da PM
O Ministério Público do Estado de São Paulo vai investigar a atuação da Polícia Militar durante a Operação Escudo, deflagrada após o assassinato do soldado Reis.
Na segunda-feira, o procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, designou três promotores da Baixada Santista para, ao lado do Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp), instaurar procedimentos para analisar as ações da Polícia Militar no episódio.
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O que irá ocorrer a partir de agora?
A Ouvidoria está investigando a veracidade de áudios e relatos de moradores sobre torturas e abusos de policiais. De acordo com membros da comunidade, a operação “colocou terror” na comunidade.
Moradores do município relataram ainda que policiais prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades da cidade. Ainda segundo os moradores, o foco da operação eram pessoas com antecedentes criminais e tatuagens. Os boatos tiveram o teor negado pelo governo do Estado.
Um vendedor ambulante teria sido morto com 9 tiros na sexta-feira. A família dele teria encontrado o rapaz com queimaduras de cigarro e um corte no braço.
‘Tem denúncia de invasão a casas e PMs encapuzados’, relata ouvidor das polícias
O ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Cláudio Silva, afirmou que tem recebido diversos tipos de denúncias de tortura por parte da população em relação à Operação Escudo.
A ação policial foi designada nos últimos dias para encontrar os suspeitos envolvidos no crime, assim como coibir o tráfico de drogas e o crime organizado na região, segundo a polícia. No entanto, moradores relatam terror nas comunidades afetadas.
“Tem denúncias de tortura e de pessoas adoecidas mentalmente. Tem denúncia de uma pessoa que estava com o filho de oito meses no colo e foi entregue para a mãe e essa pessoa foi morta. Tem denúncias de invasão a casas, de que policiais encapuzados e sem identificação invadem casas”, disse Silva em entrevista nesta quarta-feira, 2, para a Rádio Eldorado.
Por sua vez, o governador de São Paulo disse que os casos que resultaram em mortes serão investigados pela Polícia Civil. “Cada ocorrência é investigada, não há ocorrência que não seja investigada. Todas vão ser investigadas.” O governador pontuou que “a polícia quer evitar o confronto de toda forma”.
“Nós temos uma polícia treinada e que segue a risca a regra de engajamento. A partir do momento que a polícia é hostilizada, do momento que há o confronto, do momento que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto”, disse Tarcísio na manhã de segunda-feira.
Polícia apreende possível arma usada na morte de soldado da Rota no Guarujá
A Polícia Civil de São Paulo apreendeu na noite de segunda-feira a possível arma de fogo usada na morte do soldado Reis na última quinta-feira.
O equipamento, de calibre 9 mm, foi localizado desmuniciado pela polícia em um beco na região da Vila Júlia após denúncia anônima, de acordo com o delegado Antonio Sucupira, titular da Delegacia Sede da cidade. Segundo ele, ninguém foi preso com a arma. Um homem identificado como Erickson David da Silva se apresentou à polícia no domingo, como o autor do disparo contra o soldado.
De acordo com o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, até domingo a arma não tinha sido apreendida. No entanto, a perícia já tinha mostrado que seria uma pistola de calibre de 9 milímetros. O secretário informou ainda que o PM utilizava colete a prova de balas quando foi atingido, mas a bala penetrou em seu ombro em um ângulo em que foi possível chegar até o peito do agente.
“Agora será feita uma perícia pelo Instituto de Criminalística para sabermos se essa arma foi usada na morte do policial militar da Rota”, disse Sucupira. No local da morte do policial foi encontrado ao menos um projétil de calibre 9 mm, mas exames técnicos ainda são necessários para atestar se podem ter saído da arma apreendida.
Prisão do último suspeito de envolvimento na morte do soldado da Rota
A Polícia Militar de São Paulo prendeu na madrugada desta quarta-feira, 2, em Santos, o último suspeito de envolvimento na morte do soldado Reis. Trata-se do irmão do homem apontado como o autor do disparo que matou Reis e que já tinha sido preso no domingo, 30.
“O suspeito se entregou para os agentes da equipe PM Vitima da Corregedoria PM. Como havia um mandado de prisão em aberto contra ele, o homem foi preso após prestar depoimento”, disse em nota a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP). Na terça-feira, a Polícia Civil havia pedido a prisão dele.
Justificativa das mortes durante operação policial
Derrite justificou as mortes dizendo que a violência parte dos criminosos e a polícia supostamente reage de maneira proporcional a ela. De acordo com ele, serão investigadas as imagens das câmeras das fardas dos PMs que participaram da operação para averiguar se houve excessos, mas a Secretaria entende que as denúncias de tortura e excesso de força policial não passam de “narrativas”.
“Não chegou oficialmente nenhuma informação ou indício sobre caso de tortura”, afirmou.
Derrite disse ainda que o homem que se apresentou como o autor do disparo contra o soldado é a pessoa que realmente está envolvida no crime, segundo apontam indícios coletados pelos investigadores.
A polícia teria encontrado uma nota fiscal no local do crime e, a partir disso, chegou a um estabelecimento comercial em que uma uma mulher — supostamente envolvida no crime e posteriormente presa – teria comprado um salgado horas antes. A partir disso, foram investigadas câmeras de segurança na região e encontrada a suspeita, que delatou outros criminosos.
Estado tem alta de mortes pela polícia no primeiro semestre
As mortes em decorrência de intervenção policial subiram 9,4% nos seis primeiros meses do ano no Estado de São Paulo. Foram 221 registros, ante 202 no mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados na terça-feira, 25, pela SSP. Os casos foram puxados por ocorrências envolvendo agentes em serviço, que saltaram 28,57% no primeiro semestre - de 133 para 171.
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