Zé Celso: o que falta para o Parque do Bixiga, sonho do dramaturgo, sair do papel?


Novo projeto de lei busca aprovar criação de parque após proposta anterior ser vetada pela gestão Ricardo Nunes; terreno é ligado ao Grupo Silvio Santos

Por Priscila Mengue
Atualização:

Um grande sonho acompanhou José Celso Martinez Corrêa por quatro décadas: a criação de um parque no entorno da sede do Teatro Oficina, no centro de São Paulo. Em textos-manifesto, reuniões, entrevistas, performances artísticas e mobilizações públicas, o dramaturgo morto nesta quinta-feira, 6, aos 86 anos, juntou apoiadores diversos e até improváveis contra a construção de edifícios junto ao imóvel, projetado pela premiada Lina Bo Bardi e localizado no histórico bairro do Bixiga.

O movimento chamava a atenção não só por envolver um dos maiores ícones do teatro brasileiro e o entorno de uma construção tombada em nível nacional, mas também por envolver outro grande nome da comunicação: o apresentador e empresário Silvio Santos. Os dois chegaram a se reunir algumas vezes para tratar do caso, sem um acordo que atendesse às demandas de ambos. A situação até chegou a ser abordada em peças montadas pelo Oficina.

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Em 2020, a causa tão defendida por Zé Celso obteve uma vitória: a Câmara Municipal aprovou a criação do Parque do Bixiga em um projeto assinado por 27 vereadores e ex-vereadores de partidos diversos. A celebração foi interrompida dias depois, com o veto da então gestão Bruno Covas (PSDB), assinado pelo então prefeito em exercício e presidente da Câmara à época, Eduardo Tuma (PSDB).

Zé Celso no terreno no qual sonhava criar o Parque do Bixiga, junto ao Teatro Oficina Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A justificativa foi que a declaração de utilidade pública de bens particulares é “ato típico da gestão administrativa” e que o projeto não indicava a possível dotação orçamentária que poderia viabilizar a implementação. O veto ainda ressaltava que o espaço não está entre os parques prioritários dispostos no Plano Diretor e que não tem “vegetação significativa”. A área tem cerca de 11 mil metros quadrados.

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À época, o Oficina chamou a decisão da gestão Nunes de “covarde, autoritária e irresponsável”. Zé Celso lamentou a decisão ao Estadão e disse: “Vamos continuar lutando”. Também destacou que buscava garantir a implantação do espaço ainda em vida, como um legado para a cidade. “Já estou caminhando para ir embora, tudo que estou fazendo não é mais para mim”, declarou.

Um novo projeto de lei foi levado à Câmara e aprovado em primeira discussão, em 2022, do então vereador Eduardo Suplicy (PT). O texto ainda não foi colocado para segunda e definitiva votação. Após a morte do dramaturgo, o vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentou um substitutivo ao texto, para que espaço seja batizado de Parque Municipal do Rio Bixiga – Zé Celso Martinez Corrêa.

Também na Câmara, em 2021, ao avaliar o Plano Plurianual para o quadriênio 2022-2025, a Comissão de Finanças e Orçamentos emitiu um parecer em que sugere a criação do parque. O texto apontava se tratar da “demanda mais votada em consulta pública sobre o orçamento e antiga demanda dos moradores da região”.

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Neste ano, com a revisão, movimentos como Parque do Rio Bixiga, Rede Novos Parque e Coletivo Salve Saracura defenderam ao longo dos últimos meses a inclusão do espaço no quadro de parques previstos pelo Plano Diretor. O espaço não foi, contudo, incluído no novo quadro de parques do projeto, aprovado pelos vereadores no fim de julho.

Sem um destino definido, o terreno acabou apropriado simbolicamente por Zé Celso ao longo dos anos, com a anuência do proprietário. O dramaturgo chamava o amontoado de entulho de demolições feitas pelos proprietários de “sambaqui”, em referências aos povos indígenas brasileiros e à memória da pressão imobiliária sobre a companhia teatral. Recentemente, um movimento pelo parque também tem cultivado uma horta no local.

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Por anos, o Oficina celebrou a virada de ano naquele terreno. A apresentação da peça era encerrada minutos antes da meia-noite do dia 31 de dezembro, com o convite para o público se juntar aos artistas em uma grande roda nos fundos do teatro, com palavras em celebração ao novo ano e cânticos da canção popular brasileira, de artistas como José Miguel Wisnik, próximo de Zé Celso.

Manifestação pela criação do Parque do Bixiga, realizada em 2017 Foto: Rafael Arbex/Estadão - 26/11/2017

A história do Oficina no Bixiga e da mobilização pelo parque

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O Teatro Oficina é endereçado no Bixiga, na Rua Jaceguai, desde os anos 1960. Em 1986, ganhou o projeto atual (de Lina Bo Bardi e Edson Elito), caracterizado pelo palco-passarela e outras propostas inovadoras para a arquitetura teatral brasileira. O imóvel é tombado nas esferas municipal, estadual e federal.

Um dos argumentos de Zé Celso pela defesa do parque é que Lina e Elito já propunham uma praça pública junto ao teatro, batizada de Anhangabaú da Feliz Cidade. Além disso, os prédios poderiam obstruir a visão do janelão que ocupa grande parte de uma das fachadas laterais do imóvel, enquanto o parque traria lazer e um “respiro” à vizinhança.

A mobilização contra construções do entorno do parque cresceu especialmente após 2000, quando foi aprovado um projeto para a construção de um shopping no local. Uma outra proposta que incorporava o teatro ao shopping foi apresentada quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriormente abandonada pela iniciativa privada.

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Depois do shopping, foi a vez das torres. Em 2008, um projeto da Sisan Empreendimentos Imobiliários (ligada ao Grupo Silvio Santos) propôs a construção de um condomínio de três prédios. A obra teve entraves para a aprovação, mas chegou a obter decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte, mas não saiu do papel.

Vista do terreno a partir do Teatro Oficina Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/11/2017

O vaivém de decisões foi celebrado e criticado em textos de Zé Celso. “Vitória! Vitória! Vitória! Vitória!/vitória do respirodo vazioda sol !/ vitória da nossa paixão !”, escreveu em um deles, com o estilo de linguagem que lhe era característico.

Em 2017, por exemplo, o conselho estadual de patrimônio cultural chegou a liberar a construção de prédios no local, reacendendo a mobilização, que foi posteriormente barrada em outras esferas. Uma reunião de mediação foi então realizada entre Zé Celso e Silvio Santos, mediada pelo prefeito à época, João Doria (então no PSDB), mas não obteve acordo.

O dramaturgo comentou ao Estadão sobre o caso, em um depoimento que simboliza o seu envolvimento com essa causa. “Parece que virou guerra. Eu vou lutar pelo Bixiga, do qual muitos têm horror por ser um lugar de pobres. Vou até a ONU se for preciso para salvar o Oficina e o Bixiga. Faço isso pelas pessoas de lá”, declarou.

Um grande sonho acompanhou José Celso Martinez Corrêa por quatro décadas: a criação de um parque no entorno da sede do Teatro Oficina, no centro de São Paulo. Em textos-manifesto, reuniões, entrevistas, performances artísticas e mobilizações públicas, o dramaturgo morto nesta quinta-feira, 6, aos 86 anos, juntou apoiadores diversos e até improváveis contra a construção de edifícios junto ao imóvel, projetado pela premiada Lina Bo Bardi e localizado no histórico bairro do Bixiga.

O movimento chamava a atenção não só por envolver um dos maiores ícones do teatro brasileiro e o entorno de uma construção tombada em nível nacional, mas também por envolver outro grande nome da comunicação: o apresentador e empresário Silvio Santos. Os dois chegaram a se reunir algumas vezes para tratar do caso, sem um acordo que atendesse às demandas de ambos. A situação até chegou a ser abordada em peças montadas pelo Oficina.

Em 2020, a causa tão defendida por Zé Celso obteve uma vitória: a Câmara Municipal aprovou a criação do Parque do Bixiga em um projeto assinado por 27 vereadores e ex-vereadores de partidos diversos. A celebração foi interrompida dias depois, com o veto da então gestão Bruno Covas (PSDB), assinado pelo então prefeito em exercício e presidente da Câmara à época, Eduardo Tuma (PSDB).

Zé Celso no terreno no qual sonhava criar o Parque do Bixiga, junto ao Teatro Oficina Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A justificativa foi que a declaração de utilidade pública de bens particulares é “ato típico da gestão administrativa” e que o projeto não indicava a possível dotação orçamentária que poderia viabilizar a implementação. O veto ainda ressaltava que o espaço não está entre os parques prioritários dispostos no Plano Diretor e que não tem “vegetação significativa”. A área tem cerca de 11 mil metros quadrados.

À época, o Oficina chamou a decisão da gestão Nunes de “covarde, autoritária e irresponsável”. Zé Celso lamentou a decisão ao Estadão e disse: “Vamos continuar lutando”. Também destacou que buscava garantir a implantação do espaço ainda em vida, como um legado para a cidade. “Já estou caminhando para ir embora, tudo que estou fazendo não é mais para mim”, declarou.

Um novo projeto de lei foi levado à Câmara e aprovado em primeira discussão, em 2022, do então vereador Eduardo Suplicy (PT). O texto ainda não foi colocado para segunda e definitiva votação. Após a morte do dramaturgo, o vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentou um substitutivo ao texto, para que espaço seja batizado de Parque Municipal do Rio Bixiga – Zé Celso Martinez Corrêa.

Também na Câmara, em 2021, ao avaliar o Plano Plurianual para o quadriênio 2022-2025, a Comissão de Finanças e Orçamentos emitiu um parecer em que sugere a criação do parque. O texto apontava se tratar da “demanda mais votada em consulta pública sobre o orçamento e antiga demanda dos moradores da região”.

Neste ano, com a revisão, movimentos como Parque do Rio Bixiga, Rede Novos Parque e Coletivo Salve Saracura defenderam ao longo dos últimos meses a inclusão do espaço no quadro de parques previstos pelo Plano Diretor. O espaço não foi, contudo, incluído no novo quadro de parques do projeto, aprovado pelos vereadores no fim de julho.

Sem um destino definido, o terreno acabou apropriado simbolicamente por Zé Celso ao longo dos anos, com a anuência do proprietário. O dramaturgo chamava o amontoado de entulho de demolições feitas pelos proprietários de “sambaqui”, em referências aos povos indígenas brasileiros e à memória da pressão imobiliária sobre a companhia teatral. Recentemente, um movimento pelo parque também tem cultivado uma horta no local.

Por anos, o Oficina celebrou a virada de ano naquele terreno. A apresentação da peça era encerrada minutos antes da meia-noite do dia 31 de dezembro, com o convite para o público se juntar aos artistas em uma grande roda nos fundos do teatro, com palavras em celebração ao novo ano e cânticos da canção popular brasileira, de artistas como José Miguel Wisnik, próximo de Zé Celso.

Manifestação pela criação do Parque do Bixiga, realizada em 2017 Foto: Rafael Arbex/Estadão - 26/11/2017

A história do Oficina no Bixiga e da mobilização pelo parque

O Teatro Oficina é endereçado no Bixiga, na Rua Jaceguai, desde os anos 1960. Em 1986, ganhou o projeto atual (de Lina Bo Bardi e Edson Elito), caracterizado pelo palco-passarela e outras propostas inovadoras para a arquitetura teatral brasileira. O imóvel é tombado nas esferas municipal, estadual e federal.

Um dos argumentos de Zé Celso pela defesa do parque é que Lina e Elito já propunham uma praça pública junto ao teatro, batizada de Anhangabaú da Feliz Cidade. Além disso, os prédios poderiam obstruir a visão do janelão que ocupa grande parte de uma das fachadas laterais do imóvel, enquanto o parque traria lazer e um “respiro” à vizinhança.

A mobilização contra construções do entorno do parque cresceu especialmente após 2000, quando foi aprovado um projeto para a construção de um shopping no local. Uma outra proposta que incorporava o teatro ao shopping foi apresentada quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriormente abandonada pela iniciativa privada.

Depois do shopping, foi a vez das torres. Em 2008, um projeto da Sisan Empreendimentos Imobiliários (ligada ao Grupo Silvio Santos) propôs a construção de um condomínio de três prédios. A obra teve entraves para a aprovação, mas chegou a obter decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte, mas não saiu do papel.

Vista do terreno a partir do Teatro Oficina Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/11/2017

O vaivém de decisões foi celebrado e criticado em textos de Zé Celso. “Vitória! Vitória! Vitória! Vitória!/vitória do respirodo vazioda sol !/ vitória da nossa paixão !”, escreveu em um deles, com o estilo de linguagem que lhe era característico.

Em 2017, por exemplo, o conselho estadual de patrimônio cultural chegou a liberar a construção de prédios no local, reacendendo a mobilização, que foi posteriormente barrada em outras esferas. Uma reunião de mediação foi então realizada entre Zé Celso e Silvio Santos, mediada pelo prefeito à época, João Doria (então no PSDB), mas não obteve acordo.

O dramaturgo comentou ao Estadão sobre o caso, em um depoimento que simboliza o seu envolvimento com essa causa. “Parece que virou guerra. Eu vou lutar pelo Bixiga, do qual muitos têm horror por ser um lugar de pobres. Vou até a ONU se for preciso para salvar o Oficina e o Bixiga. Faço isso pelas pessoas de lá”, declarou.

Um grande sonho acompanhou José Celso Martinez Corrêa por quatro décadas: a criação de um parque no entorno da sede do Teatro Oficina, no centro de São Paulo. Em textos-manifesto, reuniões, entrevistas, performances artísticas e mobilizações públicas, o dramaturgo morto nesta quinta-feira, 6, aos 86 anos, juntou apoiadores diversos e até improváveis contra a construção de edifícios junto ao imóvel, projetado pela premiada Lina Bo Bardi e localizado no histórico bairro do Bixiga.

O movimento chamava a atenção não só por envolver um dos maiores ícones do teatro brasileiro e o entorno de uma construção tombada em nível nacional, mas também por envolver outro grande nome da comunicação: o apresentador e empresário Silvio Santos. Os dois chegaram a se reunir algumas vezes para tratar do caso, sem um acordo que atendesse às demandas de ambos. A situação até chegou a ser abordada em peças montadas pelo Oficina.

Em 2020, a causa tão defendida por Zé Celso obteve uma vitória: a Câmara Municipal aprovou a criação do Parque do Bixiga em um projeto assinado por 27 vereadores e ex-vereadores de partidos diversos. A celebração foi interrompida dias depois, com o veto da então gestão Bruno Covas (PSDB), assinado pelo então prefeito em exercício e presidente da Câmara à época, Eduardo Tuma (PSDB).

Zé Celso no terreno no qual sonhava criar o Parque do Bixiga, junto ao Teatro Oficina Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A justificativa foi que a declaração de utilidade pública de bens particulares é “ato típico da gestão administrativa” e que o projeto não indicava a possível dotação orçamentária que poderia viabilizar a implementação. O veto ainda ressaltava que o espaço não está entre os parques prioritários dispostos no Plano Diretor e que não tem “vegetação significativa”. A área tem cerca de 11 mil metros quadrados.

À época, o Oficina chamou a decisão da gestão Nunes de “covarde, autoritária e irresponsável”. Zé Celso lamentou a decisão ao Estadão e disse: “Vamos continuar lutando”. Também destacou que buscava garantir a implantação do espaço ainda em vida, como um legado para a cidade. “Já estou caminhando para ir embora, tudo que estou fazendo não é mais para mim”, declarou.

Um novo projeto de lei foi levado à Câmara e aprovado em primeira discussão, em 2022, do então vereador Eduardo Suplicy (PT). O texto ainda não foi colocado para segunda e definitiva votação. Após a morte do dramaturgo, o vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentou um substitutivo ao texto, para que espaço seja batizado de Parque Municipal do Rio Bixiga – Zé Celso Martinez Corrêa.

Também na Câmara, em 2021, ao avaliar o Plano Plurianual para o quadriênio 2022-2025, a Comissão de Finanças e Orçamentos emitiu um parecer em que sugere a criação do parque. O texto apontava se tratar da “demanda mais votada em consulta pública sobre o orçamento e antiga demanda dos moradores da região”.

Neste ano, com a revisão, movimentos como Parque do Rio Bixiga, Rede Novos Parque e Coletivo Salve Saracura defenderam ao longo dos últimos meses a inclusão do espaço no quadro de parques previstos pelo Plano Diretor. O espaço não foi, contudo, incluído no novo quadro de parques do projeto, aprovado pelos vereadores no fim de julho.

Sem um destino definido, o terreno acabou apropriado simbolicamente por Zé Celso ao longo dos anos, com a anuência do proprietário. O dramaturgo chamava o amontoado de entulho de demolições feitas pelos proprietários de “sambaqui”, em referências aos povos indígenas brasileiros e à memória da pressão imobiliária sobre a companhia teatral. Recentemente, um movimento pelo parque também tem cultivado uma horta no local.

Por anos, o Oficina celebrou a virada de ano naquele terreno. A apresentação da peça era encerrada minutos antes da meia-noite do dia 31 de dezembro, com o convite para o público se juntar aos artistas em uma grande roda nos fundos do teatro, com palavras em celebração ao novo ano e cânticos da canção popular brasileira, de artistas como José Miguel Wisnik, próximo de Zé Celso.

Manifestação pela criação do Parque do Bixiga, realizada em 2017 Foto: Rafael Arbex/Estadão - 26/11/2017

A história do Oficina no Bixiga e da mobilização pelo parque

O Teatro Oficina é endereçado no Bixiga, na Rua Jaceguai, desde os anos 1960. Em 1986, ganhou o projeto atual (de Lina Bo Bardi e Edson Elito), caracterizado pelo palco-passarela e outras propostas inovadoras para a arquitetura teatral brasileira. O imóvel é tombado nas esferas municipal, estadual e federal.

Um dos argumentos de Zé Celso pela defesa do parque é que Lina e Elito já propunham uma praça pública junto ao teatro, batizada de Anhangabaú da Feliz Cidade. Além disso, os prédios poderiam obstruir a visão do janelão que ocupa grande parte de uma das fachadas laterais do imóvel, enquanto o parque traria lazer e um “respiro” à vizinhança.

A mobilização contra construções do entorno do parque cresceu especialmente após 2000, quando foi aprovado um projeto para a construção de um shopping no local. Uma outra proposta que incorporava o teatro ao shopping foi apresentada quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriormente abandonada pela iniciativa privada.

Depois do shopping, foi a vez das torres. Em 2008, um projeto da Sisan Empreendimentos Imobiliários (ligada ao Grupo Silvio Santos) propôs a construção de um condomínio de três prédios. A obra teve entraves para a aprovação, mas chegou a obter decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte, mas não saiu do papel.

Vista do terreno a partir do Teatro Oficina Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/11/2017

O vaivém de decisões foi celebrado e criticado em textos de Zé Celso. “Vitória! Vitória! Vitória! Vitória!/vitória do respirodo vazioda sol !/ vitória da nossa paixão !”, escreveu em um deles, com o estilo de linguagem que lhe era característico.

Em 2017, por exemplo, o conselho estadual de patrimônio cultural chegou a liberar a construção de prédios no local, reacendendo a mobilização, que foi posteriormente barrada em outras esferas. Uma reunião de mediação foi então realizada entre Zé Celso e Silvio Santos, mediada pelo prefeito à época, João Doria (então no PSDB), mas não obteve acordo.

O dramaturgo comentou ao Estadão sobre o caso, em um depoimento que simboliza o seu envolvimento com essa causa. “Parece que virou guerra. Eu vou lutar pelo Bixiga, do qual muitos têm horror por ser um lugar de pobres. Vou até a ONU se for preciso para salvar o Oficina e o Bixiga. Faço isso pelas pessoas de lá”, declarou.

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