Nova pesquisa do Instituto Locomotiva mostrou que 65% dos brasileiros, ou seja, pelo menos seis em cada 10, não têm nenhum momento de ócio na sua semana típica, de segunda a domingo. Trata-se de um dado preocupante que evidencia o desequilíbrio existente na quantidade de tempo dedicado ao trabalho e ao descanso.
O levantamento foi realizado em agosto de 2023 com base em entrevistas com 905 brasileiros a partir de 18 anos de todo o País. A ideia era traçar um panorama geral sobre a gestão de tempo das pessoas.
Em relação às atividade que mais frequentemente ocupam tempo da rotina diária, fora o trabalho, a liderança do ranking ficou com navegar nas redes sociais. Cerca de oito em cada 10 brasileiros citaram essa ocupação.
Em seguida, veio ficar com a família (66%) e ver televisão ou cozinhar surgiram empatados (56%). Metade dos entrevistados (50%) dedica tempo, quase que diariamente, a ouvir música. Quase metade (49%) costuma ler notícias e 43% passa tempo arrumando a casa.
Outras atividades regulares mencionadas foram: utilizar meios de transporte (35%); estudar (25%); realizar atividades físicas e jogar games (ambos com 24%), além de dedicar-se a relações amorosas e sexuais (21%).
Em contrapartida, quando analisadas as atividades consideradas mais prazerosas ou importantes, as redes sociais ficaram em baixa. Ou seja, os respondentes ocupam seu tempo diário com uma atividade que eles consideram uma das menos gostosas e relevantes da rotina.
Enquanto isso, o tempo com a família, de sono e as relações amorosas e sexuais tiveram destaque quando o foco foi prazer e importância. Nesses quesitos, vale destacar que o ócio foi mal avaliado.
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Ócio é necessário
De acordo com a psiquiatra Milena Sabino Fonseca, chefe das equipes de psiquiatria da Rede D’Or Regional Leste, em São Paulo, tratam-se de dados alarmantes e que evidenciam uma cultura perigosa de hiperprodutividade.
“Atualmente, parece que é tudo para ontem e que o descanso é tempo perdido. As pessoas, contudo, não dão conta de tantas demandas e acabam desenvolvendo burnout (síndrome do esgotamento), além de quadros de ansiedade e depressão”, avalia.
Nesse cenário, para a especialista, o ócio é fundamental. “Pausar não é perder tempo, mas otimizar tempo. O ócio é o momento de não pensar em obrigações. É nessa pausa, inclusive, que consolidamos os nossos conhecimentos e juntamos energia para desempenhar melhor as nossas atividades”, explica.
Milena destaca ainda que as redes sociais podem agravar o problema. “As redes sociais têm sido fundamentais para propagar esse ritmo frenético e inatingível de produtividade. Comparar-se com um influencer que aparentemente consegue ‘dar conta de tudo’, como malhar, cozinhar, cuidar da família e trabalhar, pode gerar muita ansiedade. Por isso, é importante lembrar que as redes sociais são um recorte da vida da pessoa, e não o todo”, completa.