8 fatores que podem aumentar seu risco de doença cardíaca


Principais causas vão muito além do aumento das taxas de pressão arterial e colesterol; alguns fatores de risco podem ser alterados com mudanças no estilo de vida

Por Nina Agrawal

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, e tem sido assim por mais de 100 anos, apesar dos grandes avanços na saúde pública. (As doenças cardiovasculares também são a principal causa de morte entre população brasileira)

Faz tempo que os médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Em geral, eles usam esses fatores para calcular o risco dos pacientes e orientar as recomendações de tratamento. Nos últimos anos, porém, os especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco de doenças cardiovasculares.

Com o declínio do tabagismo e a disponibilidade de melhores tratamentos para o colesterol e a pressão arterial, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame caíram nos últimos 50 anos, informa Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University.

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Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar, ou até mesmo desfazer, esse progresso, como o crescimento dos problemas metabólicos, como obesidade e diabetes, e o aumento das taxas de insuficiência cardíaca.

Reconhecendo essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada PREVENT, que traz medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam o risco de insuficiência cardíaca, além do risco de ataque cardíaco e derrame.

“Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham necessariamente mudado”, comenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina de Yale. “Mas acho que há um maior reconhecimento de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, cardiologistas, pensávamos tradicionalmente”.

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Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Foto: tonefotografia/Adobe Stock

Os grandes problemas

Os problemas que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação.

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À medida que as placas crescem, elas estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Com o tempo, as placas podem se romper e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de medicina interna da Universidade de Michigan.

1- Colesterol alto

O colesterol é o principal componente da placa. Embora o colesterol seja essencial para as funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, descreve Sadiya, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.

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2- Pressão arterial elevada

A hipertensão pode danificar as artérias, forçando-as a se esforçarem e se tornarem rígidas, em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, observa Sadiya. A pressão alta também estressa o coração. Isso aumenta o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades de sangue e oxigênio do corpo.

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3- Idade

Acredita-se que a idade aumente o risco de doenças cardíacas, em parte porque os danos causados aos vasos sanguíneos pelo colesterol e pela pressão arterial se acumulam com o tempo, informa Sussman.

4- Tabagismo

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O tabagismo é como um envelhecimento acelerado, avisa Sadiya. “Para o mesmo nível de colesterol ou de pressão arterial, os vasos sanguíneos do fumante têm uma aparência pior”, diz. Isso não apenas significa mais placa, mas também aumenta a probabilidade de a placa se soltar e formar um coágulo sanguíneo.

O fumo também causa inflamação, que é um problema comum a todos os fatores de risco de doenças cardíacas, segundo os médicos. Cada vez mais pesquisas sugerem que a inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de placas e em sua ruptura.

5- Diabetes

Pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 sofrem maior probabilidade de ter colesterol alto ou desequilibrado e pressão alta – e ter diabetes e um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, ensina Sadiya.

6- Sexo

Geralmente se considera que os homens tenham maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte das mulheres americanas, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.

7- Saúde metabólica

Os fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem de forma isolada. “A maioria das pessoas não têm apenas hipertensão ou apenas diabetes”, nota Sadiya. Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e problemas metabólicos e seus mecanismos comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-renal-metabólica” para definir esse grupo de problemas de saúde relacionados.

Um fator importante no desenvolvimento da síndrome, de acordo com o artigo que a descreve, é o acúmulo de tecido adiposo em excesso e disfuncional, principalmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, à resistência à insulina e, por fim, ao diabetes, à doença renal crônica e à doença cardíaca.

Por esse motivo, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (uma medida controversa, mas amplamente utilizada) e a taxa de filtração glomerular estimada, que informa aos médicos sobre o funcionamento dos rins.

Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C, um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a relação albumina/creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para calcular o risco de forma mais granular em pacientes de alto risco.

8- Raça

Os negros americanos correm um risco maior de morrer de doenças cardiovasculares do que os brancos americanos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus homólogos brancos, explica Sadiya, e também têm taxas mais altas de doença renal avançada. Os sul-asiáticos e os nativos americanos também correm um risco maior de doenças cardiovasculares, avisa Nanna. (No Brasil, estudos indicam que negros também sofrem mais com doenças crônicas do que brancos)

Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para negros e brancos. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque, historicamente, havia poucos dados sobre esses grupos.

A Associação Americana do Coração removeu a raça como uma consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi feito para reconhecer que a raça é uma construção social, não um fator biológico, explica Sadiya.

A raça ainda é importante quando se trata de risco de doenças cardiovasculares, diz ela, mas ao desenvolver as equações do PREVENT, o comitê descobriu que as disparidades raciais foram capturadas por outros fatores de risco e que o modelo previu com precisão o risco em todos os grupos raciais.

A calculadora inclui o CEP em um esforço para capturar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.

As calculadoras são só uma peça do quebra-cabeça

O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.

“Definitivamente, queremos nos certificar de que estamos abordando qualquer fator de risco que seja fácil de enfrentar”, diz Nanna.

Alguns fatores de risco, como raça e histórico familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento, frisam os médicos. Alguém que tenha um histórico familiar significativo – um pai ou mãe que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários familiares próximos com doença cardíaca – pode justificar um olhar mais atento, mesmo que a pontuação de risco dessa pessoa seja baixa, exemplifica Sussman.

Estudos descobriram que a nova calculadora estima que o risco de doenças cardíacas das pessoas é cerca de 50% menor, em média, do que o previsto pelas calculadoras mais antigas, o que levanta a preocupação de que menos pessoas atingiriam o limite para a prescrição de estatina ou de algum medicamento anti-hipertensivo.

Mas Sadiya e outros defendem que as calculadoras anteriores estavam superestimando o risco porque se baseavam em dados antigos, de quando as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os limites para a medicação podem mudar à medida que a nova ferramenta for mais adotada.

Seja qual for a calculadora utilizada, os médicos apontam que precisavam ter uma visão mais clara do risco de doença cardíaca e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente. “Esperar até que as pessoas tenham alguma doença não será a solução”, afirma Sadiya. “Precisamos de prevenção”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, e tem sido assim por mais de 100 anos, apesar dos grandes avanços na saúde pública. (As doenças cardiovasculares também são a principal causa de morte entre população brasileira)

Faz tempo que os médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Em geral, eles usam esses fatores para calcular o risco dos pacientes e orientar as recomendações de tratamento. Nos últimos anos, porém, os especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco de doenças cardiovasculares.

Com o declínio do tabagismo e a disponibilidade de melhores tratamentos para o colesterol e a pressão arterial, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame caíram nos últimos 50 anos, informa Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University.

Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar, ou até mesmo desfazer, esse progresso, como o crescimento dos problemas metabólicos, como obesidade e diabetes, e o aumento das taxas de insuficiência cardíaca.

Reconhecendo essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada PREVENT, que traz medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam o risco de insuficiência cardíaca, além do risco de ataque cardíaco e derrame.

“Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham necessariamente mudado”, comenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina de Yale. “Mas acho que há um maior reconhecimento de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, cardiologistas, pensávamos tradicionalmente”.

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Foto: tonefotografia/Adobe Stock

Os grandes problemas

Os problemas que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação.

À medida que as placas crescem, elas estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Com o tempo, as placas podem se romper e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de medicina interna da Universidade de Michigan.

1- Colesterol alto

O colesterol é o principal componente da placa. Embora o colesterol seja essencial para as funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, descreve Sadiya, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.

2- Pressão arterial elevada

A hipertensão pode danificar as artérias, forçando-as a se esforçarem e se tornarem rígidas, em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, observa Sadiya. A pressão alta também estressa o coração. Isso aumenta o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades de sangue e oxigênio do corpo.

3- Idade

Acredita-se que a idade aumente o risco de doenças cardíacas, em parte porque os danos causados aos vasos sanguíneos pelo colesterol e pela pressão arterial se acumulam com o tempo, informa Sussman.

4- Tabagismo

O tabagismo é como um envelhecimento acelerado, avisa Sadiya. “Para o mesmo nível de colesterol ou de pressão arterial, os vasos sanguíneos do fumante têm uma aparência pior”, diz. Isso não apenas significa mais placa, mas também aumenta a probabilidade de a placa se soltar e formar um coágulo sanguíneo.

O fumo também causa inflamação, que é um problema comum a todos os fatores de risco de doenças cardíacas, segundo os médicos. Cada vez mais pesquisas sugerem que a inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de placas e em sua ruptura.

5- Diabetes

Pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 sofrem maior probabilidade de ter colesterol alto ou desequilibrado e pressão alta – e ter diabetes e um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, ensina Sadiya.

6- Sexo

Geralmente se considera que os homens tenham maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte das mulheres americanas, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.

7- Saúde metabólica

Os fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem de forma isolada. “A maioria das pessoas não têm apenas hipertensão ou apenas diabetes”, nota Sadiya. Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e problemas metabólicos e seus mecanismos comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-renal-metabólica” para definir esse grupo de problemas de saúde relacionados.

Um fator importante no desenvolvimento da síndrome, de acordo com o artigo que a descreve, é o acúmulo de tecido adiposo em excesso e disfuncional, principalmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, à resistência à insulina e, por fim, ao diabetes, à doença renal crônica e à doença cardíaca.

Por esse motivo, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (uma medida controversa, mas amplamente utilizada) e a taxa de filtração glomerular estimada, que informa aos médicos sobre o funcionamento dos rins.

Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C, um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a relação albumina/creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para calcular o risco de forma mais granular em pacientes de alto risco.

8- Raça

Os negros americanos correm um risco maior de morrer de doenças cardiovasculares do que os brancos americanos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus homólogos brancos, explica Sadiya, e também têm taxas mais altas de doença renal avançada. Os sul-asiáticos e os nativos americanos também correm um risco maior de doenças cardiovasculares, avisa Nanna. (No Brasil, estudos indicam que negros também sofrem mais com doenças crônicas do que brancos)

Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para negros e brancos. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque, historicamente, havia poucos dados sobre esses grupos.

A Associação Americana do Coração removeu a raça como uma consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi feito para reconhecer que a raça é uma construção social, não um fator biológico, explica Sadiya.

A raça ainda é importante quando se trata de risco de doenças cardiovasculares, diz ela, mas ao desenvolver as equações do PREVENT, o comitê descobriu que as disparidades raciais foram capturadas por outros fatores de risco e que o modelo previu com precisão o risco em todos os grupos raciais.

A calculadora inclui o CEP em um esforço para capturar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.

As calculadoras são só uma peça do quebra-cabeça

O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.

“Definitivamente, queremos nos certificar de que estamos abordando qualquer fator de risco que seja fácil de enfrentar”, diz Nanna.

Alguns fatores de risco, como raça e histórico familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento, frisam os médicos. Alguém que tenha um histórico familiar significativo – um pai ou mãe que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários familiares próximos com doença cardíaca – pode justificar um olhar mais atento, mesmo que a pontuação de risco dessa pessoa seja baixa, exemplifica Sussman.

Estudos descobriram que a nova calculadora estima que o risco de doenças cardíacas das pessoas é cerca de 50% menor, em média, do que o previsto pelas calculadoras mais antigas, o que levanta a preocupação de que menos pessoas atingiriam o limite para a prescrição de estatina ou de algum medicamento anti-hipertensivo.

Mas Sadiya e outros defendem que as calculadoras anteriores estavam superestimando o risco porque se baseavam em dados antigos, de quando as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os limites para a medicação podem mudar à medida que a nova ferramenta for mais adotada.

Seja qual for a calculadora utilizada, os médicos apontam que precisavam ter uma visão mais clara do risco de doença cardíaca e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente. “Esperar até que as pessoas tenham alguma doença não será a solução”, afirma Sadiya. “Precisamos de prevenção”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, e tem sido assim por mais de 100 anos, apesar dos grandes avanços na saúde pública. (As doenças cardiovasculares também são a principal causa de morte entre população brasileira)

Faz tempo que os médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Em geral, eles usam esses fatores para calcular o risco dos pacientes e orientar as recomendações de tratamento. Nos últimos anos, porém, os especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco de doenças cardiovasculares.

Com o declínio do tabagismo e a disponibilidade de melhores tratamentos para o colesterol e a pressão arterial, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame caíram nos últimos 50 anos, informa Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University.

Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar, ou até mesmo desfazer, esse progresso, como o crescimento dos problemas metabólicos, como obesidade e diabetes, e o aumento das taxas de insuficiência cardíaca.

Reconhecendo essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada PREVENT, que traz medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam o risco de insuficiência cardíaca, além do risco de ataque cardíaco e derrame.

“Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham necessariamente mudado”, comenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina de Yale. “Mas acho que há um maior reconhecimento de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, cardiologistas, pensávamos tradicionalmente”.

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Foto: tonefotografia/Adobe Stock

Os grandes problemas

Os problemas que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação.

À medida que as placas crescem, elas estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Com o tempo, as placas podem se romper e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de medicina interna da Universidade de Michigan.

1- Colesterol alto

O colesterol é o principal componente da placa. Embora o colesterol seja essencial para as funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, descreve Sadiya, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.

2- Pressão arterial elevada

A hipertensão pode danificar as artérias, forçando-as a se esforçarem e se tornarem rígidas, em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, observa Sadiya. A pressão alta também estressa o coração. Isso aumenta o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades de sangue e oxigênio do corpo.

3- Idade

Acredita-se que a idade aumente o risco de doenças cardíacas, em parte porque os danos causados aos vasos sanguíneos pelo colesterol e pela pressão arterial se acumulam com o tempo, informa Sussman.

4- Tabagismo

O tabagismo é como um envelhecimento acelerado, avisa Sadiya. “Para o mesmo nível de colesterol ou de pressão arterial, os vasos sanguíneos do fumante têm uma aparência pior”, diz. Isso não apenas significa mais placa, mas também aumenta a probabilidade de a placa se soltar e formar um coágulo sanguíneo.

O fumo também causa inflamação, que é um problema comum a todos os fatores de risco de doenças cardíacas, segundo os médicos. Cada vez mais pesquisas sugerem que a inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de placas e em sua ruptura.

5- Diabetes

Pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 sofrem maior probabilidade de ter colesterol alto ou desequilibrado e pressão alta – e ter diabetes e um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, ensina Sadiya.

6- Sexo

Geralmente se considera que os homens tenham maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte das mulheres americanas, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.

7- Saúde metabólica

Os fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem de forma isolada. “A maioria das pessoas não têm apenas hipertensão ou apenas diabetes”, nota Sadiya. Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e problemas metabólicos e seus mecanismos comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-renal-metabólica” para definir esse grupo de problemas de saúde relacionados.

Um fator importante no desenvolvimento da síndrome, de acordo com o artigo que a descreve, é o acúmulo de tecido adiposo em excesso e disfuncional, principalmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, à resistência à insulina e, por fim, ao diabetes, à doença renal crônica e à doença cardíaca.

Por esse motivo, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (uma medida controversa, mas amplamente utilizada) e a taxa de filtração glomerular estimada, que informa aos médicos sobre o funcionamento dos rins.

Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C, um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a relação albumina/creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para calcular o risco de forma mais granular em pacientes de alto risco.

8- Raça

Os negros americanos correm um risco maior de morrer de doenças cardiovasculares do que os brancos americanos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus homólogos brancos, explica Sadiya, e também têm taxas mais altas de doença renal avançada. Os sul-asiáticos e os nativos americanos também correm um risco maior de doenças cardiovasculares, avisa Nanna. (No Brasil, estudos indicam que negros também sofrem mais com doenças crônicas do que brancos)

Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para negros e brancos. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque, historicamente, havia poucos dados sobre esses grupos.

A Associação Americana do Coração removeu a raça como uma consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi feito para reconhecer que a raça é uma construção social, não um fator biológico, explica Sadiya.

A raça ainda é importante quando se trata de risco de doenças cardiovasculares, diz ela, mas ao desenvolver as equações do PREVENT, o comitê descobriu que as disparidades raciais foram capturadas por outros fatores de risco e que o modelo previu com precisão o risco em todos os grupos raciais.

A calculadora inclui o CEP em um esforço para capturar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.

As calculadoras são só uma peça do quebra-cabeça

O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.

“Definitivamente, queremos nos certificar de que estamos abordando qualquer fator de risco que seja fácil de enfrentar”, diz Nanna.

Alguns fatores de risco, como raça e histórico familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento, frisam os médicos. Alguém que tenha um histórico familiar significativo – um pai ou mãe que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários familiares próximos com doença cardíaca – pode justificar um olhar mais atento, mesmo que a pontuação de risco dessa pessoa seja baixa, exemplifica Sussman.

Estudos descobriram que a nova calculadora estima que o risco de doenças cardíacas das pessoas é cerca de 50% menor, em média, do que o previsto pelas calculadoras mais antigas, o que levanta a preocupação de que menos pessoas atingiriam o limite para a prescrição de estatina ou de algum medicamento anti-hipertensivo.

Mas Sadiya e outros defendem que as calculadoras anteriores estavam superestimando o risco porque se baseavam em dados antigos, de quando as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os limites para a medicação podem mudar à medida que a nova ferramenta for mais adotada.

Seja qual for a calculadora utilizada, os médicos apontam que precisavam ter uma visão mais clara do risco de doença cardíaca e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente. “Esperar até que as pessoas tenham alguma doença não será a solução”, afirma Sadiya. “Precisamos de prevenção”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, e tem sido assim por mais de 100 anos, apesar dos grandes avanços na saúde pública. (As doenças cardiovasculares também são a principal causa de morte entre população brasileira)

Faz tempo que os médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Em geral, eles usam esses fatores para calcular o risco dos pacientes e orientar as recomendações de tratamento. Nos últimos anos, porém, os especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco de doenças cardiovasculares.

Com o declínio do tabagismo e a disponibilidade de melhores tratamentos para o colesterol e a pressão arterial, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame caíram nos últimos 50 anos, informa Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University.

Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar, ou até mesmo desfazer, esse progresso, como o crescimento dos problemas metabólicos, como obesidade e diabetes, e o aumento das taxas de insuficiência cardíaca.

Reconhecendo essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada PREVENT, que traz medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam o risco de insuficiência cardíaca, além do risco de ataque cardíaco e derrame.

“Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham necessariamente mudado”, comenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina de Yale. “Mas acho que há um maior reconhecimento de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, cardiologistas, pensávamos tradicionalmente”.

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Foto: tonefotografia/Adobe Stock

Os grandes problemas

Os problemas que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação.

À medida que as placas crescem, elas estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Com o tempo, as placas podem se romper e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de medicina interna da Universidade de Michigan.

1- Colesterol alto

O colesterol é o principal componente da placa. Embora o colesterol seja essencial para as funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, descreve Sadiya, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.

2- Pressão arterial elevada

A hipertensão pode danificar as artérias, forçando-as a se esforçarem e se tornarem rígidas, em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, observa Sadiya. A pressão alta também estressa o coração. Isso aumenta o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades de sangue e oxigênio do corpo.

3- Idade

Acredita-se que a idade aumente o risco de doenças cardíacas, em parte porque os danos causados aos vasos sanguíneos pelo colesterol e pela pressão arterial se acumulam com o tempo, informa Sussman.

4- Tabagismo

O tabagismo é como um envelhecimento acelerado, avisa Sadiya. “Para o mesmo nível de colesterol ou de pressão arterial, os vasos sanguíneos do fumante têm uma aparência pior”, diz. Isso não apenas significa mais placa, mas também aumenta a probabilidade de a placa se soltar e formar um coágulo sanguíneo.

O fumo também causa inflamação, que é um problema comum a todos os fatores de risco de doenças cardíacas, segundo os médicos. Cada vez mais pesquisas sugerem que a inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de placas e em sua ruptura.

5- Diabetes

Pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 sofrem maior probabilidade de ter colesterol alto ou desequilibrado e pressão alta – e ter diabetes e um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, ensina Sadiya.

6- Sexo

Geralmente se considera que os homens tenham maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte das mulheres americanas, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.

7- Saúde metabólica

Os fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem de forma isolada. “A maioria das pessoas não têm apenas hipertensão ou apenas diabetes”, nota Sadiya. Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e problemas metabólicos e seus mecanismos comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-renal-metabólica” para definir esse grupo de problemas de saúde relacionados.

Um fator importante no desenvolvimento da síndrome, de acordo com o artigo que a descreve, é o acúmulo de tecido adiposo em excesso e disfuncional, principalmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, à resistência à insulina e, por fim, ao diabetes, à doença renal crônica e à doença cardíaca.

Por esse motivo, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (uma medida controversa, mas amplamente utilizada) e a taxa de filtração glomerular estimada, que informa aos médicos sobre o funcionamento dos rins.

Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C, um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a relação albumina/creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para calcular o risco de forma mais granular em pacientes de alto risco.

8- Raça

Os negros americanos correm um risco maior de morrer de doenças cardiovasculares do que os brancos americanos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus homólogos brancos, explica Sadiya, e também têm taxas mais altas de doença renal avançada. Os sul-asiáticos e os nativos americanos também correm um risco maior de doenças cardiovasculares, avisa Nanna. (No Brasil, estudos indicam que negros também sofrem mais com doenças crônicas do que brancos)

Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para negros e brancos. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque, historicamente, havia poucos dados sobre esses grupos.

A Associação Americana do Coração removeu a raça como uma consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi feito para reconhecer que a raça é uma construção social, não um fator biológico, explica Sadiya.

A raça ainda é importante quando se trata de risco de doenças cardiovasculares, diz ela, mas ao desenvolver as equações do PREVENT, o comitê descobriu que as disparidades raciais foram capturadas por outros fatores de risco e que o modelo previu com precisão o risco em todos os grupos raciais.

A calculadora inclui o CEP em um esforço para capturar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.

As calculadoras são só uma peça do quebra-cabeça

O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.

“Definitivamente, queremos nos certificar de que estamos abordando qualquer fator de risco que seja fácil de enfrentar”, diz Nanna.

Alguns fatores de risco, como raça e histórico familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento, frisam os médicos. Alguém que tenha um histórico familiar significativo – um pai ou mãe que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários familiares próximos com doença cardíaca – pode justificar um olhar mais atento, mesmo que a pontuação de risco dessa pessoa seja baixa, exemplifica Sussman.

Estudos descobriram que a nova calculadora estima que o risco de doenças cardíacas das pessoas é cerca de 50% menor, em média, do que o previsto pelas calculadoras mais antigas, o que levanta a preocupação de que menos pessoas atingiriam o limite para a prescrição de estatina ou de algum medicamento anti-hipertensivo.

Mas Sadiya e outros defendem que as calculadoras anteriores estavam superestimando o risco porque se baseavam em dados antigos, de quando as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os limites para a medicação podem mudar à medida que a nova ferramenta for mais adotada.

Seja qual for a calculadora utilizada, os médicos apontam que precisavam ter uma visão mais clara do risco de doença cardíaca e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente. “Esperar até que as pessoas tenham alguma doença não será a solução”, afirma Sadiya. “Precisamos de prevenção”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, e tem sido assim por mais de 100 anos, apesar dos grandes avanços na saúde pública. (As doenças cardiovasculares também são a principal causa de morte entre população brasileira)

Faz tempo que os médicos sabem que a pressão alta, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Em geral, eles usam esses fatores para calcular o risco dos pacientes e orientar as recomendações de tratamento. Nos últimos anos, porém, os especialistas começaram a pensar de forma mais ampla sobre o que impulsiona o risco de doenças cardiovasculares.

Com o declínio do tabagismo e a disponibilidade de melhores tratamentos para o colesterol e a pressão arterial, as taxas de mortalidade por ataque cardíaco e derrame caíram nos últimos 50 anos, informa Sadiya Khan, cardiologista preventiva da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University.

Mas vários fatores agora ameaçam desacelerar, ou até mesmo desfazer, esse progresso, como o crescimento dos problemas metabólicos, como obesidade e diabetes, e o aumento das taxas de insuficiência cardíaca.

Reconhecendo essas mudanças, a Associação Americana do Coração lançou no ano passado uma nova calculadora de risco, chamada PREVENT, que traz medidas de saúde metabólica e renal e permite que os médicos prevejam o risco de insuficiência cardíaca, além do risco de ataque cardíaco e derrame.

“Não acho que os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares tenham necessariamente mudado”, comenta Michael Nanna, cardiologista intervencionista da Escola de Medicina de Yale. “Mas acho que há um maior reconhecimento de um conjunto mais amplo de fatores de risco do que nós, cardiologistas, pensávamos tradicionalmente”.

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Foto: tonefotografia/Adobe Stock

Os grandes problemas

Os problemas que levam ao acúmulo de placas nas paredes internas dos vasos sanguíneos são uma grande preocupação.

À medida que as placas crescem, elas estreitam o espaço disponível para o fluxo sanguíneo, o que pode causar sintomas como dor no peito. Com o tempo, as placas podem se romper e bloquear uma artéria que leva sangue ao coração ou ao cérebro, causando um ataque cardíaco ou derrame, explica Jeremy Sussman, professor associado de medicina interna da Universidade de Michigan.

1- Colesterol alto

O colesterol é o principal componente da placa. Embora o colesterol seja essencial para as funções do corpo, como a produção de hormônios e vitaminas, quando está muito alto, ele pode se acumular nas paredes das artérias, combinando-se com gordura, cálcio e outras substâncias do sangue para formar placas, descreve Sadiya, que liderou o comitê da Associação Americana do Coração que desenvolveu a nova calculadora de risco.

2- Pressão arterial elevada

A hipertensão pode danificar as artérias, forçando-as a se esforçarem e se tornarem rígidas, em vez de permanecerem elásticas. Isso pode aumentar o acúmulo de placas, observa Sadiya. A pressão alta também estressa o coração. Isso aumenta o risco de insuficiência cardíaca, que ocorre quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades de sangue e oxigênio do corpo.

3- Idade

Acredita-se que a idade aumente o risco de doenças cardíacas, em parte porque os danos causados aos vasos sanguíneos pelo colesterol e pela pressão arterial se acumulam com o tempo, informa Sussman.

4- Tabagismo

O tabagismo é como um envelhecimento acelerado, avisa Sadiya. “Para o mesmo nível de colesterol ou de pressão arterial, os vasos sanguíneos do fumante têm uma aparência pior”, diz. Isso não apenas significa mais placa, mas também aumenta a probabilidade de a placa se soltar e formar um coágulo sanguíneo.

O fumo também causa inflamação, que é um problema comum a todos os fatores de risco de doenças cardíacas, segundo os médicos. Cada vez mais pesquisas sugerem que a inflamação desempenha um papel importante no desenvolvimento de placas e em sua ruptura.

5- Diabetes

Pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 sofrem maior probabilidade de ter colesterol alto ou desequilibrado e pressão alta – e ter diabetes e um desses fatores de risco adicionais aumenta a probabilidade de doenças cardíacas, ensina Sadiya.

6- Sexo

Geralmente se considera que os homens tenham maior risco, embora as doenças cardíacas também sejam a principal causa de morte das mulheres americanas, cujo risco tende a aumentar após a menopausa.

7- Saúde metabólica

Os fatores de risco para doenças cardíacas raramente existem de forma isolada. “A maioria das pessoas não têm apenas hipertensão ou apenas diabetes”, nota Sadiya. Reconhecendo a sobreposição entre doenças cardíacas, doenças renais e problemas metabólicos e seus mecanismos comuns, a Associação Americana do Coração cunhou no ano passado o termo “síndrome cardiovascular-renal-metabólica” para definir esse grupo de problemas de saúde relacionados.

Um fator importante no desenvolvimento da síndrome, de acordo com o artigo que a descreve, é o acúmulo de tecido adiposo em excesso e disfuncional, principalmente no abdômen. Isso pode levar à inflamação, à resistência à insulina e, por fim, ao diabetes, à doença renal crônica e à doença cardíaca.

Por esse motivo, a nova calculadora inclui dados como o índice de massa corporal (uma medida controversa, mas amplamente utilizada) e a taxa de filtração glomerular estimada, que informa aos médicos sobre o funcionamento dos rins.

Os médicos também podem usar a hemoglobina A1C, um indicador da média de açúcar no sangue em três meses, e a relação albumina/creatinina na urina, uma medida da saúde dos rins, para calcular o risco de forma mais granular em pacientes de alto risco.

8- Raça

Os negros americanos correm um risco maior de morrer de doenças cardiovasculares do que os brancos americanos. Em média, eles desenvolvem pressão alta e diabetes de quatro a seis anos antes que seus homólogos brancos, explica Sadiya, e também têm taxas mais altas de doença renal avançada. Os sul-asiáticos e os nativos americanos também correm um risco maior de doenças cardiovasculares, avisa Nanna. (No Brasil, estudos indicam que negros também sofrem mais com doenças crônicas do que brancos)

Devido a essas diferenças, uma calculadora de risco mais antiga usava fórmulas diferentes para negros e brancos. Não havia uma opção separada para pessoas de outras raças porque, historicamente, havia poucos dados sobre esses grupos.

A Associação Americana do Coração removeu a raça como uma consideração independente em sua nova calculadora de risco. Isso foi feito para reconhecer que a raça é uma construção social, não um fator biológico, explica Sadiya.

A raça ainda é importante quando se trata de risco de doenças cardiovasculares, diz ela, mas ao desenvolver as equações do PREVENT, o comitê descobriu que as disparidades raciais foram capturadas por outros fatores de risco e que o modelo previu com precisão o risco em todos os grupos raciais.

A calculadora inclui o CEP em um esforço para capturar elementos de “privação social”, como baixa renda ou desemprego, que podem afetar os resultados de saúde.

As calculadoras são só uma peça do quebra-cabeça

O colesterol alto, a pressão alta, a obesidade e o diabetes podem ser tratados com medicamentos ou mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios. Parar de fumar também pode reduzir significativamente o risco de ataque cardíaco ou derrame.

“Definitivamente, queremos nos certificar de que estamos abordando qualquer fator de risco que seja fácil de enfrentar”, diz Nanna.

Alguns fatores de risco, como raça e histórico familiar, estão fora do controle das pessoas, mas ainda são relevantes para as decisões de tratamento, frisam os médicos. Alguém que tenha um histórico familiar significativo – um pai ou mãe que teve um ataque cardíaco antes dos 50 anos ou vários familiares próximos com doença cardíaca – pode justificar um olhar mais atento, mesmo que a pontuação de risco dessa pessoa seja baixa, exemplifica Sussman.

Estudos descobriram que a nova calculadora estima que o risco de doenças cardíacas das pessoas é cerca de 50% menor, em média, do que o previsto pelas calculadoras mais antigas, o que levanta a preocupação de que menos pessoas atingiriam o limite para a prescrição de estatina ou de algum medicamento anti-hipertensivo.

Mas Sadiya e outros defendem que as calculadoras anteriores estavam superestimando o risco porque se baseavam em dados antigos, de quando as taxas de ataque cardíaco e derrame eram mais altas, e observaram que os limites para a medicação podem mudar à medida que a nova ferramenta for mais adotada.

Seja qual for a calculadora utilizada, os médicos apontam que precisavam ter uma visão mais clara do risco de doença cardíaca e dos possíveis benefícios do tratamento para cada paciente. “Esperar até que as pessoas tenham alguma doença não será a solução”, afirma Sadiya. “Precisamos de prevenção”.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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